Cinzas de uma Era escrita por Kris Loyal


Capítulo 23
Capítulo 23 - Carcará


Notas iniciais do capítulo

OIIE :D
Finalmente voltei, depois de um bom tempo, eu sei, porém não me matem. Quero começar agradecendo á Fernanda G pela recomendação que, de modo muito gentil, ela deixou. Eu aproveitei cada palavra, acredite! Como sempre faço, esse capítulo é para você.
Quero agradecer às pessoas que comentaram também. Não foram muitas, aliás já tivemos um número de comentários maior, mas eu agradeço mesmo assim, pelo esforço dos que deixaram pelo menos um "continua". E por último, encerro agradecendo à Leeh, e desejando muitos dias de praia para sua vida.
Bem, sobre o capítulo de hoje, eu falei para vocês que era o MEU preferido até agora, e necessariamente não precisa ser o de vocês. Eu só espero que gostem.
A letra da música foi tirada de "Carcará" do Chico Buarque, uma música deveras interessante, por sinal.
Então é isso. Vamos lá.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/669309/chapter/23

Carcará

Lá no sertão

É um bicho que avoa que nem avião

É um pássaro malvado, tem um bico volteado que nem gavião (...)

Quando chega o tempo da invernada

E o sertão não tem mais roça queimada

Carcará mesmo assim não passa fome

E os burrego que nasce na baixada

Carcará pega, mata e come.

Uma arma estava apontada para Peeta, mas não era ela que ele encarava. Seus olhos agora estavam fixos no homem sem camisa que saía de dentro do quarto com cara de poucos amigos, mas que depois tomou um sorriso irônico nos lábios assim que o viu. Troid.

Odioso Troid.

— Ora Ora, quem é vivo sempre aparece! Ou quase vivo, não é? Você estava meio morto quando eu te deixei em sua casa, não estava, Peeta?

O homem armado riu e depois tudo aconteceu muito rápido: aproveitando o momento de distração, Peeta sacou a arma e atirou nele em uma fração de segundos. O homem caiu ao lado da parede, manchando-a com o sangue que fluía de seu ferimento no abdômen.

Peeta fez um sinal para que Otto tirasse Katniss de lá, que logo entendeu e saiu puxando-a. Katniss só se deixou levar depois que marido afirmou que logo sairia também, pedindo para que o esperassem na estrada. Depois que os dois saíram, ele voltou-se para Troid.

— Acho que seu amigo está meio morto agora. E eu vou dar... — O loiro olhou no relógio – vinte minutos para ele ser um morto completo.

— Eu sempre achei que você era promissor, Peeta — comentou Troid, sentando-se em uma poltrona, como se a morte do companheiro não tivesse significado algum. – Dick também tinha visto o quanto você era talentoso. Mas você preferiu destruir tudo, por causa de uma cachor...

— Para de falar dela desse jeito — interrompeu-o, apontando a arma para ele. — Eu já aguentei você falando merda demais. Talvez eu devesse apenas atirar em você, aqui e agora. Ou melhor... - Peeta calou-se por um tempo olhando em direção ao quarto ao lado – eu poderia atirar na ruivinha que você guarda ali dentro.

Troid mudou de feição e levantou-se. Suas mãos fechadas e os olhos furiosos. Peeta havia achado seu ponto fraco.

— Ou você acha que seria melhor eu queimá-la no fogo como você me fez acreditar que tinha feito com Katniss?

— Mellark, eu acho melhor você parar de falar.

— Não, eu acho melhor você parar de falar. Você é um mostro! Um maldito monstro! Lily não merecia o que você fez com ela. E você vai pagar.

Quando Peeta subiu a arma para enfim atirar, a ruiva Dianna apareceu na sala aos prantos:

— Não... Por favor, não... Troid não estava pensando bem quando fez aquelas coisas... Eu falei para ele não fazer...

— Bem, você não o convenceu. Agora ele vai morrer — respondeu Peeta friamente.

A mulher cobriu os ouvidos ao ouvir sobre morte e Peeta quase teve pena dela. Mas foi só quase, porque ele mataria aquele desgraçado de qualquer maneira.

— Dianna — falou Troid pela primeira vez, ainda parecendo tenso por ela ter aparecido na sala. — Vá para o quarto e fique lá. Eu me resolvo com Peeta.

— Não... Ele vai matar você... Troid, ele vai matar você... — A mulher já chorava e ainda cobria os ouvidos com as mãos. Parecia uma louca. Peeta se sentiu familiarizado com a cena.

 — Não, ele não vai, ele...

A frase do homem não chegou a ser completa, pois o som de um tiro eclodiu. Em instantes, Dianna estava no chão, amparando seu sangue. Troid gritou, mas já era tarde demais, então apenas abaixou-se e esperou que ela morresse ali, em seus braços. Podia-se ver todos os músculos do corpo dele se enrijecendo de raiva e ódio.

— Ela ficaria louca se visse você morrer primeiro que ela — explicou Peeta, ainda com a arma apontada. — Porque você sabe, é certo: você vai morrer.

O líder depositou devagar o cadáver no chão, depois voltou a se levantar.

— Eu tinha uma dívida de gratidão com ela, por ela ter cuidado de mim quando me achou ferido pela batalha contra os Colt’s, e essa dívida me fazia ter a obrigação de ter alguns sentimentos bons, não por mim, mas por ela. Mas agora ela está morta, e essa baboseira toda acabou. — Ele começou a estalar os dedos. — Eu dei comida a sua mulher e a deixei em paz, enquanto você atirou na minha, que era uma pobre louca inofensiva. Percebe, Peeta? Você também é um mostro. Só não se reconhece com um. — Ele esperou que Peeta respondesse, porém ele nada disse. — Não fala nada, não é? Porque você sabe que é verdade.

Parecendo não se importar que estava na mira de uma arma, Troid virou-se e deu as costas a Peeta, sem parar de falar, e ainda gesticulando algumas vezes.

— Acho que Katniss ficaria bem decepcionada se descobrisse o quão monstro você é. Bem, ela sabe que você é um sobrevivente, que teve que matar pessoas, mas o que ela não sabe é que você já sentiu prazer nisso. Eu sei, Peeta... Está em seus olhos.

— Cala a boca...

A frase de Peeta fora interrompida por Troid, que enquanto falava tinha se aproximado o suficiente para conseguir acertar-lhe um soco.

Peeta caiu, deixando escapar a arma das mãos, atordoado com o impacto. Ouviu os passos de Troid se aproximando de seu corpo, e conseguiu por pouco, desviar quando ele tentou, por maldade, pisá-lo.

Quando enfim conseguiu se levantar, o inimigo o imprensou contra a parede, deixando o braço firme contra seu pescoço.

— É assim que quero te matar, Mellark. Com minhas mãos. Não teria graça se fosse de outra forma, teria?

~~~~~ ~~~~~

— Meu Deus, Otto! Isso foi um tiro? Temos que voltar!

Otto e Katniss já estavam a uma boa distância do chalé, do outro lado da estrada, esperando por Peeta, como ele ordenara. O garoto permanecia sentado na guia, mexendo em uma bolsa que Katniss nem tinha percebido antes que ele carregava. A morena pelo contrário, andava de um lado para o outro sem parar, insistindo que deveriam voltar e ajudar.

— Se voltarmos pode ser pior, Katniss. Imagina se te pegam como refém? Em vez de ajudar você vai atrapalhar. Talvez esse tiro nem tenha sido no Peeta.

— Talvez? TALVEZ? — alterou-se ela. — Se você estava tentando me consolar; Otto, você falhou miseravelmente.

— ‘Tá, ‘tá. Sossega aí, mulher. Toma. — Pegou algo dentro da bolsa. — Toma um pouco de água. O Mellark é esperto, vai dar um jeito de driblar o Troid e sair de fininho.

— Esse é o problema, garoto... Ele não vai sair. Não enquanto Troid estiver vivo. Ai, eu já estou ficando desesperada novamente...

— Sabe, é a primeira vez que ouço sua voz. É bonita, Katniss.

A mulher se permitiu sorrir para Otto, lembrando-se do quanto ele a ajudou e o tamanho da paciência que teve com ela.

— Eu queria te agradecer, Otto. Você me libertou. Eu não veria Peeta ou a luz do sol de novo se não fosse por você.

— Relaxa. Você me libertou também. — Ele sorriu para ela antes de concluir. — Sinto que posso ser eu mesmo com você. 

— E você pode.

A distração pela conversa não os permitiram ver precocemente que um caminhão seguia pela estrada naquela direção. Katniss somente viu quando ele apontou na estrada e foi a primeira a se agitar.

— Corre, Otto! Temos que nos esconder!

Seguiram para o lado dos arbustos e se esconderam em meio às vegetações. O coração de Katniss saltitou de medo quando ouviram que o motor parou de roncar logo onde eles estavam momentos antes.

Katniss olhou para Otto e percebeu que ele respirava pela boca, com os olhos firmemente fechados. Ela pegou sua mão, tentando passar-lhe alguma segurança e sentiu como estava fria e suada. Ele estava com muito medo.

Todos que sobreviveram sabiam que nunca era bom ser encontrado por um grupo. Ou eles te recrutariam voluntario ou involuntariamente ou te matariam para “Limpar a área”. Otto sabia bem.

— Eu a vi por aqui! Juro que vi! Era ela, eu tenho certeza!

Katniss ouviu aquela voz e não pôde deixar de achá-la familiar. Otto a olhou em clara pergunta: Estavam falando dela?

Bem, que eles a viram não se tinha mais dúvidas, mas eles estavam falando com se “ela” fosse uma pessoa em especial.

— Cara, você tem que parar de pensar nela. É provável que já esteja morta, não a vemos desde que tudo aconteceu e você mesmo assim não para de procurar. Isso está começando a fazer mal a sua mente.

— Eu tenho certeza, Finnick! Era ela, bem aqui! Era ela!

Finnick? Katniss lembrou-se daquele nome. Finnick era o nome do irmão mais novo de seu ex-noivo. Ela e Gale tinham terminado o noivado um mês antes de tudo e...

— Gale — deixou escapar pelos lábios.

Otto arregalou os olhos e começou a fazer sinal para que ela calasse a boca, pois qualquer sussurro poderia ser ouvido, mas ela não ligou, repetindo agora um pouco mais alto:

— Gale!

Katniss fez menção de se levantar, mas foi detida por Otto que a puxou pelo braço, balançando freneticamente a cabeça, indicando que ela não fizesse isso. Ele percebeu que ela reconheceu a voz do homem, mas mesmo assim não queria que ela fosse, sussurrando para ela várias vezes a frase “as pessoas mudaram, Katniss, as pessoas mudaram”, mas Katniss deu um ultimato quando respondeu:

— Não o Gale.

Falando isso, levantou-se e sorriu ao vê-lo em pé a alguns metros, de costas para ela. O cabelo escuro um pouco maior do que de costume, as pernas esguias e os ombros mais fortes do que eram quando ainda estavam noivos. Finnick estava à frente dele com seus cabelos loiros mel e a pele mais bronzeada que o normal. Ele foi o primeiro a perceber os passos, e abriu a boca surpreso ao vê-la, e apontar para ela. Gale ao ver a reação do irmão, virou-se rapidamente seguindo seu olhar e encontrou Katniss o olhando, sorrindo como sempre fazia ao encontrá-lo.

— Eu sabia. — Ela ouviu ele sussurrar. Com passos largos, Katniss foi ao encontro dele, sentindo seus olhos pedirem liberação para deixar que as lágrimas corressem. Ela se jogou nos braços dele, sentindo o abraço conhecido e apertado de Gale, apreciando aquela segurança conhecida, enquanto ele sussurrava algo como “eu sabia que você não era tão tola para estar morta. Eu sabia, Kat.”

Ao abrir os olhos por cima dos ombros de Gale, o olhar de Katniss encontrou um Peeta coberto de sangue parado em frente a mata que levava ao chalé, observando a cena.

~~~~~ ~~~~~

Dez minutos antes.

Com um chute no meio das pernas, Peeta conseguiu afastar Troid, que urrou de dor. A partir daí, uma dura luta corporal se deu: Socos, pontapés, chutes e tentativas de estrangulamento.

— Você acha que essa vadia merece tanto de você, Mellark? Acha que ela merece uma luta até a morte?

— Cala a boca — respondeu Peeta, acertando-lhe outro soco no queixo.

Troid era maior, porém sua especialidade claramente não era luta corpo a corpo. Depois de receber vários socos, ele conseguiu reagir, prensando Peeta contra a parede mais uma vez.

 Se você quer saber, Mellark, foi até divertido matar aquela pirralha. Ela ainda tentou gritar por você, acredita?

Peeta fechou os olhos sentindo todo o ódio daquele dia infeliz voltar à tona. Toda a dor e a raiva que sentiu ao ver Lily se esvaindo de sangue no tapete da sala voltando com força a ele, que sentia que ia explodir de ódio por aquele homem.

Tentou livrar seus braços para empurrá-lo e voltar a espancá-lo, mas dessa vez Troid o tinha prendido firme. Então ele fez a primeira coisa que veio a sua cabeça na hora.

Foi desumano, claro. Se ele pensasse muito naquele ato, saberia que Troid tinha razão, que ele era mesmo um mostro como ele. Mas não pensou, apenas fez.

Sem perder mais um milésimo de tempo, cravou seus dentes no pescoço do inimigo, furando sua jugular, sentindo o sangue maldito lhe banhar a face. O cheiro do sangue bem diante de si, o líquido viçoso passando de seu rosto para o seu pescoço e descendo por sua camisa. O gosto de sangue por toda a sua boca. Então isso era saciar a fome de vingança? Era esse o gosto?

Em instantes, Troid estava no chão agoniando e esperando dolorosamente a morte vir lhe buscar, enquanto seu sangue encharcava o tapete da sala.  

Carcará

Pega mata e come

Carcará

Não vai morrer de fome

Carcará

Mais coragem do que home

Carcará

Pega, mata e come.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

HAHA! Personagens novos, muito sangue, Peeta perplexo vendo uma cena que não esperava... Uffa! uahsuhasu
Bem, no próximo capítulo já teremos Peeta e Katniss enfim livres do Troid, porém agora com pessoas novas. Como vai ser?
O título do próximo capítulo é: Pode ir. (tirem suas conclusões HAHAHA)
Comentem, falem, mandem sinal de fumaça, mas falem do capítulo comigo, okay?
Beijos, até breve!