Cinzas de uma Era escrita por Kris Loyal


Capítulo 2
Capítulo 2 - Esperar e torcer com a alma




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O apartamento era frio, mesmo que pouquíssimas janelas estivessem abertas. A garota recém apresentada ao local tomou assento no canto do sofá, deixando todas as sacolas perto de seus pés, e se encolhendo como sempre fazia; na defensiva.

Peeta adentrou mais ao local e parou ante a ela, mas sem olhá-la diretamente nos olhos. Após alguns segundos de silêncio ele perguntou:

– Nome?

Não sei o porquê, mas situações de dificuldade deixam pessoas mais objetivas. Peeta havia se tornado objetivo até por demais na maioria das vezes.

A morena continuou calada, olhando algum detalhe inútil do sofá, ignorando a pergunta do rapaz loiro, como se não o tivesse ouvido. Aquilo o encabulou.

– Você é surda? Perguntei seu nome.

Agora, ao vê-lo se exaltar um pouco mais, ela moveu seus olhos de onde estavam se fixando nele, mas sem dizer uma única palavra.

– Mas que droga! Se não é surda é muda! Olha onde fui me meter... – resmungou agora virado de costas para a moça, que apenas acompanhava seus movimentos com os olhos, com quase a mesma expressão de medo que estava na loja, só que agora um pouco mais suavizada, por estar em um local fechado, aparentemente mais seguro.

– Você é mesmo muda? – perguntou ainda sem querer acreditar. Quando viu que ela apenas o encarou sem responder, ele mesmo completou – Acho que já sei a resposta.

Em poucos segundos o loiro saiu do campo de visão, adentrando um outro cômodo do lugar, sem dar mais instruções para a moça que não sabia como proceder. Então continuou lá, calada e parada.

Depois de algum tempo, ouviu-se um barulho de água no banheiro, e ela deduziu que ele estava se banhando. Não demorou muito; poucos minutos e ele já saía pela porta com cabelos ligeiramente molhados. Terminou de vestir a camisa, mesmo sem estar totalmente seco, quando foi voltando para a sala.

– Hey muda. Você pode se banhar se quiser, e eu faço votos de que queira; você está suja. Só não gaste muita água; Não a temos em abundância. – parou um pouco olhando-a tentando saber se a mesma compreendia o que ele lhe falava. Quando a viu se levantar viu que sim, ela entendia – Pelo menos não é surda. – resmungou.

A jovem andou em direção a porta que sabia ser o banheiro, mas antes que ela chegasse até lá, a voz de Peeta, que era a única que se ouvia em todo o prédio ecoou mais uma vez:

– Tem roupa de mulher no quarto à frente. Pega qualquer coisa lá.

Ela não hesitou e mudou sua rota rumando ao quarto. O obedeceria sempre, sem dúvidas. Ele a salvou; ela o devia.

Entrou no banheiro e viu alguns baldes de água; Não muitos cheios. Um pedaço de sabão descansava sobre a saboneteira; “sabonetes devem ser difíceis de conseguir” pensou.

Se banhou sem demora e economizando o que pôde no quesito água. Utilizou um pouco mais do que planejava, pois sentiu a necessidade de lavar o cabelo, que não ficou bonito por ter sido lavado com sabão, mas ficou limpo.

Ao sair do pequeno banheiro sentiu o cheiro de alguma coisa comestível que vinha da possível cozinha. “Ele tem gás para fogo, afinal” pensou. Mas não foi atrás; voltou para a sala e sentou-se timidamente no sofá mais uma vez, esperando que ele, por piedade, lhe oferecesse comida. Ela entendia que ele já havia feito muito por ela a trazendo para seu abrigo; pessoas não faziam mais esses tipos de favores. Então se ele dissesse que ela só comeria aquilo que encontrasse, ela acharia ruim, mas entenderia.

Ao que parece o loiro não era de todo mal: logo, atravessava a sala com um prato quente na mão com algo que parecia uma sopa. Não era munida de muitos legumes ou ingredientes, mas estava comestível. Na verdade, qualquer coisa é comestível quando se está realmente faminto.

Ele ofereceu o prato em silêncio. Ela agarrou entre as mãos como se fosse a coisa mais preciosa que ela tinha no momento, e na verdade era. Há dias não via comida.

Não deu para perceber qual fora a primeira colherada pois foram seguidas de outra, e outra, tão rapidamente, que em poucos minutos o prato já estava vazio. Enquanto ela comia, Peeta apenas observava, sentado na poltrona á frente. Ele a conhecia de antes do caos, tinha certeza.

Agora, de banho tomado, podia-se ver realmente como era o contorno do rosto de Katniss, o que não passou despercebido a Peeta. Ele a conhecia, mas de onde?

– Não vai me dizer seu nome, muda? – como ela só encarava o chão continuou – você é muda de nascença ou só está com frescura? – ela o olhou dessa vez, mas som nenhum saiu de sua boca.

– Mais que lástima! – reclamou ele – estou perdendo a paciência. Pois bem, se não podes falar, escreves. Você sabe escrever não é?

Desta vez ouve resposta; silenciosa, mas ouve. Ela acenou com a cabeça, fazendo-o entender que sim, ela escrevia.

Peeta levantou-se e foi atrás de algum papel e um lápis. Aquelas coisa era fáceis de achar nas casas abandonadas. Bem quando se vai fugir ás pressas de um lugar você realmente não se incomoda em levar seus papéis e canetas.

Voltou e colocou o caderno, já meio rabiscado, á frente da moça. Uma caneta simples, cor vermelha repousava sobre o caderno, que não era grosso.

– Escreva seu nome aí.

A garota pegou a caneta e com delonga escreveu as palavras “Katniss Everdeen” na primeira folha.

– Katniss Everdeen!? É claro ! – recordou-se o rapaz – eu sabia que conhecia você! Você é filha de Plutarch Everdeen, dono das famosas indústrias de tecnologia de ponta. Onde está seu pai?

“Morto.” Escreveu, com pesar.

– Tudo bem, era de se esperar que alguém tão rico e sedentário morresse logo, nesse mundo difícil.

Katniss baixou os olhos. Como era possível que ele rebaixasse a morte do pai a um evento tão comum e sem importância?

– Eu sei – ele continuou – eu não deveria estar falando assim, ele era teu pai. Mas você sabe, não restou muito sentimentalismo, afinal.

Ela nada disse, mas no fundo concordava. Por ele estar sozinho deduziu que a família dele também esteja morta, e ela sentiu que se ele falasse sobre isso para ela, também seria apenas mais alguns nas pilhas que estão nas ruas.

– Quantos anos você tem, Katniss? Eu a via quando você aparecia na mídia com seu pai, mas nunca prestei a devida atenção na idade que você poderia ter.

“20”

– Nova. – concluiu – sabe, estou aqui pensando, o que você poderia me dar em troca da guarida que estou te dando aqui. Você sabe, nada nunca foi de graça, e agora, muito menos.

Katniss sentiu um frio na espinha com o olhar dele sobre ela. Seria ela alguma espécie de escrava? Teria de sair para caçar comida para ambos, nas ruas perigosas? Teria de satisfazer os desejos de homem que o loiro com certeza tinha? Ela não sabia.

Mas se você quer saber, não se importava.

Tudo isso era menos pior do que viver como rato em lixeiras, procurando por coisas podres para se alimentar, com o perigo de ser violentamente abusada a qualquer hora. E quando se fala violentamente, é no sentido literal da palavra.

Katniss havia visto outras mulheres que caíram nas mãos das gangues que se formaram. Ela nunca tinha visto tanta brutalidade e humilhação em sua vida. Era desumano. Insano.

Por isso, daria aquele homem o que ele pedisse, em troca de teto, proteção e alimento. Ela já sabia, ele não era pior que os das ruas. Se a quisesse machucar, já teria feito. Os homens deste tempo não eram do tipo que perdiam tempo para qualquer coisa.

Pensando nessas coisa, ela escreveu no papel, antes mesmo que ele continuasse sua fala:

“Faço.”

Ele de certa forma ficou surpreso. Não com a resposta, de certo ela estaria disposta a ajuda-lo em tudo em troca de abrigo, ele sabia; mas ficou surpreso pela certeza e rapidez com que ela lhe respondeu. Sem qualquer tipo de hesitação ou culpa. Não demorou e logo respondeu-lhe:

– Ótimo. Gosto de pessoas decididas. Aliás, sou Peeta Mellark.

Ficou um tempo olhando-a. Era bonita e tinha traços jovens que o sofrimento não conseguiu tirar-lhe ainda. O cabelo não estava bem tratado como com certeza era antes, mas ainda assim mantinha uma coloração bonita de se observar. Bem, qualquer pessoa estando um pouco mais limpo melhora de aparência.

– Não tenho duas camas ou dois colchões aqui , nesse momento. Você dormirá aqui no sofá até sairmos para acharmos uma coisa um pouco mais confortável pra você dormir. – ela olhou para ele aliviada: não teria que dormir ao lado dele essa noite, afinal – já está tarde e você sabe que não é nada seguro a essa hora.

Ela apenas continuou o olhando, como que prestando atenção no que ele dizia. Ele a deixaria ficar? Para sempre?

A resposta veio logo em seguida:

– Quero que saiba que não vou ficar com você apregoada a mim pelo resto de meus dias. Quando estiver melhor e mais bem preparada vai embora. Tomar seu próprio rumo. Não sou dos que tem amigos, moça.

Katniss apenas o ouviu, sem ter a intenção de responde-lo utilizando o papel. Alguma coisa dentro dela previa aquilo.

Mas talvez, só talvez, ela o fizesse mudar de opinião.

Talvez, com o passar dos dias ele a achasse útil e a permitisse ficar.

Isso era o que ela esperava e torcia com toda sua alma.


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Notas finais do capítulo

VOCÊS.NÃO.COMENTARAM.
Ah, gente assim eu fico triste :/ Se vocês não falarem se gostam como que eu vou ter ânimo para continuar postando? Um escritor publica para que pessoas leiam, se ninguém se interessa em ler não há sentido em postar. Estou esperando o parecer de vocês :)



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