Cinzas de uma Era escrita por Kris Loyal


Capítulo 19
Capítulo 19 – Lápide de madeira.


Notas iniciais do capítulo

Oi gente!
Demorei bem mais que o normal mas voltei!
Eu estava com, prova, trabalho, tudo acumulado e ainda fiquei sem internet uns dias então já viu. Mas hoje voltei e esse capítulo é pra a Bella Salles, pois hoje é o aniversário dela ~~ PALMAS ~~ e acho que ela vai ficar bem feliz pelo capítulo (apesar de que, vou avisando, está bem triste ashuahsuh). Parabéns, flor! Seja feliz :D
Preparem os corações antes de lerem este capítulo. Já prepararam? Agora vão.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/669309/chapter/19

— Katniss, você pode acertar essa droga de alvo, então por que não está acertando? – irritou-se

— Por que eu sinceramente não vejo a razão de estarmos aqui. – respondeu cansada, sentando-se no chão e largando o arco para o lado. – Devíamos estar escapando. Indo embora. Mas você é teimoso demais, e vamos acabar pagando por isso, eu sei.

— E sabe do que eu sei? – perguntou, aproximando-se dela – Sei que vamos pegar aquele filho da mãe e cortá-lo em pedaços. Sei que vamos destruir com esse grupinho de perdedores que ele está formando. – deu uma pausa antes de agarrar o arco e entregar outra vez a ela – sei que você pode acertar esse alvo, mas não está se esforçando o suficiente.

Katniss pegou o arco novamente e apontou para o alvo longe, fincado na parede. Estavam em uma rua deserta treinando e já fazia um dia e meio desde que Lily morrera. Ninguém os tinha caçado ainda. Peeta seguia obcecado.

Soltou a flecha bem posicionada vendo a mesma parar a dois centímetros do alvo.

— Se está fazendo isso por Lily, devia saber que ela diria que esse é o modo errado.

Dirigiram-se para casa. Ainda não havia comunicação direta entre os dois, a não ser quando Peeta estava exigindo algo, como na ocasião do alvo, então seguiram em silêncio.

Katniss não sabia para onde tinha ido aquele Peeta carinhoso e amável que Lily despertou, mas também não estava com forças para procura-lo. Ela não estava com forças nem para procurar a si mesma, que se encontrava perdida, em uma bagunça completa dentro de si.

Entrando no apartamento, podia sentir claramente que o ambiente que com Lily tinha um ar de lar, agora voltava a ter o mesmo mórbido e inquieto ambiente de sempre. Talvez pior agora: antes aquele lugar só presenciara duas mortes, agora três. Três sangrentas mortes.

A morena seguiu para o banheiro utilizando toda a água de um balde para se banhar. Não estava com cabeça para dividir ou economizar água. Não estava com disposição para pensar que talvez dali a alguns dias fiquem sem, não quando nem tinha certeza se sobreviveria até dali a alguns dias.

A verdade é que ela estava conformada com a possibilidade de morrer. Era isso que aconteceria em sua percepção, pela teimosia de Peeta, ambos morreriam em questão de dias. Lutando.

Porém de algum modo aquilo não mais importava tanto. Refletindo sobre a morte de Lily, Katniss percebeu que não adianta sobreviver sem possibilidade de vida. Sobreviver como um morto vivo sem sentimentos não é viver. É qualquer coisa, menos viver.  

Já vestida, entrou na cozinha e encontrou Peeta sentado à mesa, as mãos na nuca e a cabeça abaixada. Ele mastigava, mas não parecia ligar para o gosto do alimento que degustava. Sua mente estava a quilômetros dali.

Pegou qualquer coisa na dispensa e comeu, ali em pé mesmo, quase sem mastigar. Peeta não lhe lançou um olhar nem uma única vez. Ao terminar passou novamente por ele, indo em direção ao quarto, onde deitou-se na cama encolhida como um feto. Era como se o dia anterior estivesse se repetindo: O silêncio, a falta de afeto, a atmosfera fúnebre, a dor da perca. Era tudo igual, do mesmo jeito de quando ela chegara do enterro de Lily.

Em algum momento, sentiu a cama afundar a sua frente. Ela sabia que ele estava se deitando, mas fingiu não perceber o fato, prosseguindo com os olhos fechados, preferindo que ele pensasse que ela dormia.

Depois de vários minutos de silêncio e um Peeta desinquieto na cama, provavelmente sem conseguir dormir, Katniss sentiu que ele parara em uma posição, ficando mais quieto agora. Dois minutos depois sentiu seus dedos em seus cabelos, e suspirou, achando que agora sim tinha conseguido dormir e enfim estava tendo um sonho bom.

Sua mão desceu pela sua bochecha se demorando um pouco ali, fazendo um carinho suave, depois voltando-se para o cabelo, e livrando seu rosto dos fios que persistiam em continuar ali.

Katniss abriu os olhos para constatar o que imaginara: não estava sonhando.

Peeta estava perto, e observava cada movimento que sua mão fazia. Não demorou e ele percebeu que ela estava acordada e o olhando, porém não demonstrou reação, prosseguindo com o gesto.

Ficaram por muito tempo assim, apenas olhando nos olhos um do outro, tentando descobrir se havia algo para se fazer para diminuir a dor. Não havia.

— Você devia me escutar – sussurrou Katniss levando sua mão ao maxilar dele – essa história de eu e você contra todo mundo, isso vai dar em merda. Devíamos ir Peeta. Devíamos poupar mais sofrimento para nós. Não quero que eles te façam mal.

— Também não quero que te façam mal. – respondeu ele, falando alguma coisa pela primeira vez aquela noite. – Eu nunca quis. Mas não posso o deixar impune. Ele não pode mata-la e ir embora rindo, Katniss.

— Eu sei. Eu sei... Mas eu tenho medo que essa vingança nos destrua por completo, entende? – ele assentiu e ela continuou sussurrando tão baixo que provavelmente se houvesse outra pessoa no quarto não poderia ouvir – Já estamos tão devastados... Se você morrer eu...

— Eu não vou morrer, Kat. Nem você.

Ela calou-se deixando-se ser vencida pela teimosia dele por um tempo. Então ele continuou:

— Mas eu também entendo que o mais seguro para você não é ficar comigo. Você disse que queria ir embora. Não vou mais te impedir. Se quiser pode ir, eu não vou me irritar ou ficar ressentido.

A morena passou seus dedos por toda a extensão do rosto dele: testa, bochecha, queixo, lábios e também pelos olhos quando os viu fechar.

— Não quero te deixar. Não vou. Você é meu marido agora, lembra-se? – falou com os olhos já lacrimejando, lembrando-se da inocente celebração de Lily – Eu só espero que você não esteja fazendo a escolha errada.

Agarrou-se a ele, deitando sobre seu peito sentindo sua respiração, conseguindo dormir a partir dali.

~~ ~~ ~~

Abriu os olhos bruscamente quando ouviu o som do vidro da janela sendo quebrado. Sentiu Peeta sair debaixo de si rapidamente, e com os olhos ainda embaçados pelo sono viu sua faca brilhar ao ser tirada da bainha.

Levantou-se rapidamente, sentindo seu coração palpitar rápido e forte, pela a adrenalina. Peeta seguiu para a porta do quarto fazendo sinal para que ela fizesse silêncio e ficasse parada. Olhou pela fresta da porta e contou os invasores: cinco homens.

Bateu no batente com força, irritado e desesperado por um plano. Ele não achou que eles voltariam tão rápido. Virou-se para Katniss e a mandou se esconder, porém ela não sabia onde. Então olhou para o guarda roupa de mogno e apontou para cima dele. Em instantes, Katniss estava bem escondida, deitada entre o teto e o guarda roupas. E então o ouviu sussurrar:

— Não saia daí para nada. De jeito nenhum, entendeu? Aconteça o que acontecer, fique ai, sem ser ouvida ou notada.

Sem ter um plano para executar no momento e se sentindo burro por adiar o planejamento para o dia seguinte, Peeta viu a única solução que teria: Esperar um por um na porta, matando quantos desse.

— Vão devagar – era a voz de Troid, que soava baixa – Ele é esperto e o animalzinho doméstico dele também.

Um homem forte porém baixo foi o primeiro que empurrou a porta do quarto para entrar. Peeta então teve sua chance e não a desperdiçou quando passou sua faca pela garganta dele. O que deu errado na verdade, foi o fato dele ter tido tempo de gritar.

Katniss sentiu todas as suas carnes tremerem ao ouvir que aquele desgraçado tinha denunciado a posição deles na casa. Colocou os dois braços firmes junto ao corpo e em algum momento no movimento ela sentiu algo por baixo. Havia uma pequena faca ali, que ela imediatamente colocou na parte de trás da calça. Aquele esconderijo era premeditado por Peeta para ela, afinal.

Porém o que se seguiu a desarmou de qualquer arma que tivesse: com o grito do homem, outros dois o vieram ajudar e ao perceberem a presença de Peeta, jogaram nele um dispositivo de choque.

O loiro não teve tempo de reagir, e logo estava no chão se debatendo como um condenado. Katniss tapou a boca com as duas mãos abafando o soluço desesperado que com certeza sairia de sua boca, sentindo lágrimas grossas escapar-lhe pelos olhos.

Em um instante, Troid apareceu no quarto, dando risada enquanto via Peeta se debater como se estivesse tendo uma convulsão. Katniss fechou os olhos com força com a finalidade de não olhar mais para aquela cena, pois sabia que se continuasse, uma hora gritaria.

— Ta bom, ta bom, tira isso dele. Ainda precisaremos desse dispositivo então não é bom descarregar nele. Aliás, há outras formas de mata-lo.

Katniss abriu os olhos a tempo de ver um dos homens tirar o aparelho de choque de Peeta e vê-lo ficar  vulnerável no chão, mas ainda com consciência.

Um rapaz mais jovem entrou avisando que não tinha achado a garota em lugar algum, recebendo uma rajada de palavrões vindo de Troid.

— Está escondida, não é vadia? – gritou ele em todos os pulmões para que sua voz enchesse toda a casa. – ótimo. Você quer brincar, nós brincaremos.

Peeta gemia no chão baixinho e ainda tinha espasmos pelo corpo por causa do choque, porém antes que conseguisse se recuperar, a sessão de chutes começou. Ele grunhia pela dor como um animal ferido e Katniss só conseguia tapar os ouvidos e chorar silenciosamente. 

— Está gostando, querida? – gritou Troid – Eu estou adorando! Talvez você não esteja ouvindo direito de onde você está então vou leva-lo para a sala, talvez de lá você o ouça mais claramente. – ele parou um pouco antes de sorrir e continuar – ou melhor, vamos bater nele em todos os cômodos dessa casa, ai tenho certeza que não importa onde você esteja escondida, você ouvirá esse verme gemer.

Continuaram a bater-lhe, o loiro já tinha sangue saindo pela boca e um corpo totalmente moído. Então, de repetente um dos homens tirou um alicate de algum lugar, e arrancou sem hesitação a unha do último dedo do pé dele.

Peeta gritou tão alto e desesperado que Katniss quase pôde sentir a dor excruciante.

— E então? Ouviu esse grito? – voltou a gritar o líder – se você não se apresentar, vamos arrancar uma por uma as unhas dele.

 Katniss não aguentava mais, estava decidida a descer, e quando o olhou uma última vez antes de se entregar, o viu discretamente a olhar e mexer a cabeça levemente em sinal de negação.

Voltou a chorar em silêncio. Ele não podia estar pedindo aquilo, não podia! Ela não acreditava que ele queria que ela assistisse enquanto ele era torturado só para ter uma esperança medíocre de se salvar. Não faria aquilo. Não deixaria que aquilo continuasse.

— Me desculpe, Peeta. – sussurrou para si mesmo. E assim que viu que começavam a arrastá-lo para a sala, ela desceu.

— Não acredito! Você estava aqui o tempo todo! – riu Troid e depois virou-se para os seus aliados – vocês são uns imprestáveis mesmo... Terminem de arrasta-lo para a sala!

Katniss correu em direção a Peeta, mas foi impedida pelo próprio Troid que deu-lhe um tapa forte no rosto, fazendo-a cair.

— Não me irrita. – ameaçou – se começar, meto uma bala na cabeça dele na sua frente.

Katniss se encolheu enquanto observava eles arrastarem o loiro para a sala.

— Vem. – gritou o homem a sua frente. Como ela não se mexeu, Troid a pegou pelos cabelos, levando-a até a sala e jogando-a no tapete, onde Peeta também estava deitado, respirando com dificuldade.

— Eu falei que não Katniss... Eu falei... – tentou argumentar falando com dificuldade. Katniss limitou-se a sentar perto dele, tocar seus cabelos loiros e chorar. Não podia fazer mais nada. Aquilo não era um filme em que a mocinha conseguia desarmar a todos e sair como heroína. Era uma realidade cruel e fria, em que uma mulher desesperada via seu marido meio morto no chão.

— Sabe Peeta, o plano era te matar. Você e essa idiota. Mas agora, te vendo assim, eu vejo um castigo pior para você. – Troid olhou para Katniss, aquele maldito sorriso perverso no rosto, enquanto lhe dirigia a palavra – Você pode escolher, querida. Te dou essa chance. Você fica aqui, bem e viva enquanto nós matamos seu loiro precioso aqui e agora, ou vem conosco e nós o deixamos em paz. Você escolhe.

Peeta a olhou sussurrando vários “nãos” quando compreendeu pelo seu olhar o que ela faria. Katniss apenas sorriu tristemente, enquanto aproximava-se dele e beijava-lhe a face. 

— Não Katniss... Não... – ele tentou puxá-la, mas seus braços trêmulos não tinham mais força – eu já estou morto... Já estou morto Katniss, por favor...

— Faça uma lápide de madeira para mim também, okay? – disse chorando – Eu te amo.

Sem dar chance que ele tentasse a impedir novamente, ela levantou-se, enxugou suas lágrimas e se pôs firme ao lado de Troid.

— Vamos. – falou firmemente, olhando apenas a parede a sua frente.

— Boa garota – comemorou o homem, enquanto passava seu nariz pelo pescoço dela, que se afastou. – Arisca. Gosto.

Peeta fechou os olhos ante aquela cena, sentindo lágrimas descerem de puro ódio. O fato de não poder nem se levantar o irritava tanto que ele preferia estar morto.

— Vamos. Já acabamos com ele.

Katniss seguiu os homens que saíam, mas antes que passasse o batente deu uma última olhada para Peeta, que sussurrou:

— Me perdoa.

Ela apenas sorriu, como se o que ele disse não fizesse sentido algum e seguiu seu caminho.

Ao ver a madeira da porta batendo contra o batente quando ela saiu, não pôde deixar de lembrar do pedido dela sobre a lápide de madeira.

Ela já se considerava morta.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí o coração? Enfim, saiu o "Eu te amo" da história, mas em uma situação bem trágica, né? Vamos ver como vai ficar essa loucura. Comentem, surtem, sorriam, façam alguma coisa nos reviews. Título do próximo: "Ouro nas Cinzas". bjs