Cinzas de uma Era escrita por Kris Loyal


Capítulo 18
Capítulo 18 – A Terra.


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoal!
Voltei mais cedo, primeiro porque a querida Jeys5 deixou uma riquíssima recomendação, e me deixou muito feliz! Mais uma vez agradecida, voltei com seu capítulo Jeys! Espero que goste! :)
E o segundo motivo por ter voltado cedo é que o capítulo anterior deixou muita gente aqui revoltada. Vocês devem ter percebido que eu sempre respondo aos comentários primeiro depois posto. Hoje eu decidi fazer ao contrário pois senti a necessidade de uma explicação coletiva.
Gente, eu não quero que ninguém pense que o que aconteceu com a Lily foi por maldade minha, ou que eu a achava um personagem descartável ou coisa assim. Não. Definitivamente não.
Desde que Lily entrou na história eu falei para vocês que ela iria marcar a fanfic e que sua presença faria toda a diferença. E ela fez. Então não duvidem quando eu digo que, independentemente dela estar na história ou não, o que ela deixou e e só o fato de ter existido vai acarretar ações nos personagens principais que vão culminar no que eu considero a verdadeira missão deles.
Às pessoas que disseram que vão ficar um tempo sem comentar por causa da lily: Não façam isso por favor :( Eu sempre friso aqui o quanto preciso do apoio de vocês pra continuar. SE ME ATACA EU VOU ATACA. se não comentarem mais, passo três meses sem vir aqui ;) ASHUAHSUHAS
E pessoal, não desistam da fic. Perdas sempre podem acontecer e acho que vocês já tinham noção que isso aconteceria algum dia considerando o mundo em que Katniss e Peeta vivem aqui. Tenho certeza que vocês não deixaram de ler o resto de THG quando souberam que o Finn tinha morrido. Ou Harry Potter quando o Sirius se foi. Bons personagens se vão ás vezes.
Bem, esse capítulo é bem triste e eu espero que sintam essa atmosfera assim como eu senti. Espero que o sentimento chegue até vocês.
Vamos lá. Até as notas finais.



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LEIAM AS NOTAS INICIAS. 

A cena que Peeta encontrou ao voltar ofegante era tão igual e ao mesmo tempo tão diferente da que ele viu a algum tempo atrás. Katniss estava sentada no chão, e tinha Lily deitada em seu colo; a blusa se ensanguentava pela corrente que saía da menina, porém ela não parecia se importar. Estava concentrada em alisar o cabelo da garotinha, enquanto soluçava.

Em poucos instantes, o homem estava caído de joelhos, com as duas mãos na cabeça, parando de engolir as lágrimas que ele tivera vontade de derramar desde que percebeu o que estava acontecendo.

— Peeta. – chamou a morena, baixo – Peeta vem, ela ainda está viva.

O loiro se arrastou até o lugar sentindo um nó em sua garganta difícil de se desfazer. Chegou perto e encontrou a menina com os olhos minimamente abertos. Ela sorriu quando o viu.

— Tio Peeta.

— Oi princesa. Me desculpa... – soluçou – me desculpa você avisou... Você avisou da janela...

— Não tem problema – respondeu ela, tão baixo que só se podia ouvir se houvesse total silêncio – Não te problema, eu juro. Eu ainda amo você. Eu amo os dois.

Aquelas palavras o desarmou por completo e logo ele estava afundado nas lágrimas novamente. Pegou uma das mãos dela com cuidado, apesar de saber que não era a mão que doía.

— Eu também amo você princesa. – respondeu olhando-a e tentando ao máximo dar-lhe um sorriso. Depois disso, virou-se para Katniss – Porque não tentou tirá-la daqui? Colocá-la na cama, estancar o sangue...?

— Peeta eu não sou médica, mas eu tentei ajudar alguns feridos no começo e quando a ferida já está assim... – Ela preferiu não continuar. Apenas fechou os olhos e tentou controlar os soluços. Aquele era o último momento de Lily, não queria deixa-la apavorada por vê-la tão arrasada.

— Vai cuidar dela não vai? – perguntou a menina, dirigindo-se a Peeta – Da Tia Kat. Ela precisa de você. Você sabe, ela se faz de durona, mas não está segura quando está só.

— Não precisa se preocupar, pequena. Vou cuidar dela.

— Você promete?                                    

— Eu prometo. – finalizou ele, levando a mão dela a sua boca para que pudesse beijar.

— Está doendo muito Lily? – perguntou Katniss com voz mais embargada, por sentir que a hora da menina estava chegando.

— Não tanto. Estava doendo mais antes, mas agora... – de uma pausa para suspirar - Tia Kat você pode cantar a música da barbie?

Katniss lembrou-se de todas as vezes que ela assistira aquele filme da barbie com Lily, no tempo em que o mundo ainda era o mundo. Sempre o mesmo. Ela adorava e sempre cantava as músicas junto o que fez Katniss também aprender. Ás vezes, quando era menor, ela pedia para que Katniss cantasse. E agora pedia para que cantasse de novo.

Uma última vez.

— Claro, querida.

A menina juntou as mãos dos tios sobre a barriga e fechou os olhos para ouvir a música. Quando Katniss começou, ela sorriu um pouco.

Quando o sol se põe e finda a tarde

Vagalumes piscam sem cessar

Fique aqui, que o sonho te invade

Como é bom sonhar

Em algum momento, Lily começou a mexer os lábios, acompanhando a música.

Me faz bem te ter bem ao meu lado

Venha cá, me deixe te abraçar

E assim eu tenho o que preciso

Como é bom sonhar

Sonhar.

Katniss parou. Voltou a soluçar não conseguia prosseguir. Peeta a olhou, apertando um pouco sua mão, para que ela continuasse. De alguma forma continuasse. Ela fechou os olhos e voltou a cantar.

Com você

Posso ver

Estrelas a brilhar

Melodias

Tem magias

Doces sons no ar.

Então Lily parou de movimentar os lábios. E seu peito parou de erguer-se na respiração. Peeta sabia, ela já tinha ido. Mas não avisou a Katniss para que abrisse os olhos e visse. Deixou que continuasse a cantar.

Quando o sol se põe e finda a tarde

Vagalumes piscam sem cessar

Fique aqui, que o sonho te invade

E veja como é bom sonhar

Sonhar.

Quando Katniss abriu os olhos e percebeu que ela já havia falecido, deitou-se por cima do pequeno corpo, chorando em um silêncio aflito. Peeta observava a cena sentado ao lado, sem se atentar para limpar as lágrimas do próprio rosto. Olhava para a cena de queixo trincado e olhar duro. Até Lily morrer, a tristeza era o maior sentimento, mas agora não. Agora o que predominava era o ódio.

Ele levantou-se seguindo para o quarto ao lado do seu, onde guardava as armas. Sentou-se no chão e começou a espalhar e carregar todas elas.

Katniss sabia o que aquele metal tinindo queria dizer. Ela o ouvia sempre, desde que tinha chegado aquele abrigo. Ele sempre fazia aquilo quando estava se preparando para um conflito.

Ela levantou-se de cima do corpo da menina, juntando as mãos da mesma. Ajeitou seus cabelos e juntou seus pés. Se não fosse por todo aquele sangue, poderia facilmente pensar que ela dormia profundamente.

— Peeta – chamou da porta do quarto. Ele não respondeu nem parou de mexer nas armas, então ela continuou – Peeta o que tá fazendo?

— Troid. Foi ele. Entrou pela janela. Disse que sabia que nós tínhamos destruído o grupo dele e não os Colt’s. Eu sabia que não tinha visto aquele merda no meio da matança. Deve ter fugido como um covarde. Como o covarde que foi ao matar uma menina.

— Você foi atrás dele e...

— Fui, mas ele fugiu. Disse que estava formando um novo grupo, e me ameaçou.

— O que ele disse?

— Algo como “vamos caçar você e sua vadia”.

— E você fala isso nessa tranquilidade?! – alarmou-se ela – Nós temos que fugir daqui Peeta, antes que ele volte! Meu Deus, nós temos...

— Não vamos a lugar nenhum. – levantou-se do chão a olhando pela primeira vez desde que engataram essa conversa. Katniss percebeu que ele tinha voltado a ser o mesmo. Os mesmos olhos azuis gélidos, impassíveis. O que Lily trouxe de bom, ela inconscientemente levou.

— Peeta, pelo amor de Deus, não é hora para isso.

— Não vou sair daqui. – disse mais alto e grosso – Eu não saí quando Delly e Aya morreram, eu não deixei as coisas delas para trás. Não vou deixar Lily para trás também.

— Delly, Aya e Lily não estão mais aqui, Peeta! – agora ela já chorava. Por um momento o alarme de ser ameaçada tinha feito desfocar sua atenção do corpo sem vida da sala, mas agora com a menção do nome dela tudo voltou a tona, e Katniss soluçava tão alto quanto falava. – E logo nós também não estaremos mais aqui, pois estaremos mortos! Ou pior! – abaixou o tom -  Você tem que me ouvir, meu amor... Por favor...

Ela aproximou-se dele e tocou seu braço. Ele fechou os olhos talvez ponderando seu pedido. A olhou sem mexer-se, enquanto a via enxugar o rosto com as costas das mãos. Era a primeira vez que ela o chamava assim. Meu amor. Ele percebera.

Mas ele não tinha amor agora. Estava repleto de ódio, ódio que só se aplacaria quando pegasse Troid e o matasse pelo que ele fez com Lily.

— Nós vamos ficar, Katniss. – afirmou mais uma vez, duro e inflexível.

Ela suspirou e afastou-se dele. Terminou de limpar o rosto mais bruscamente, jogando para ele um olhar raivoso, que ele tinha visto poucas vezes.

— Então dane-se você. Vou pegar o corpo de Lily, enterrá-lo e depois vou embora. Não vou ficar aqui para ver eles te torturarem até a morte. Eu não tenho sangue frio para isso, Peeta. Já sofri demais.

Ela virou as costas, porém antes que passasse pelo batente ele a segurou pelo braço.

— Você fica.

— Quer dizer que além de se matar quer que eu morra junto? Não vou ficar com você! Não quero ficar com você! Você entendeu? Eu não quero!

— Não quero saber, eu prometi a ela. Prometi que cuidaria de você. E eu vou fazer. E o único modo que eu tenho para fazer isso é em uma batalha. – ela o olhou sem dizer uma palavra, então ele repetiu – Quando eu tiver minha vingança e você estiver segura, pode me deixar, pode ir pra onde quiser, mas por ora, você fica.

Ela soltou-se de forma brusca dele e seguiu para a sala, onde sentou-se novamente perto do corpo de Lily e voltou a lhe acariciar os cabelos, como estava fazendo nos últimos momentos dela.

~~ ~~

As facas batiam uma na outra na cintura de Peeta, enquanto ele carregava o corpo de Lily enrolado a um lençol. Katniss tentava colocar sua aljava em uma posição confortável, pois por passar vários dias sem utilizá-la já tinha começado a perder, novamente, o costume.

Depois de percorrerem um curto caminho com o carro, Peeta estacionou em uma parte da estrada que ainda continha uma rasteira vegetação verde e algumas pequeninas flores silvestres.

Sem dizer uma palavra, ele começou a retirar a pá da mala e saiu andando aparentemente escolhendo um lugar para cavar. Katniss olhava pelo retrovisor de dentro do carro, e sentia seus olhos pinicarem todas as vezes que lembrava que aquele corpinho enrolado no forro branco era o da pequena e doce Lily. A Lily inteligente, a Lily amorosa, a Lily sobrevivente.

Sentiu-se uma boba por ter imaginado que conseguiriam proteger Lily até que ela crescesse. Ela devia saber que naquele maldito novo mundo, nada novo crescia. Nada sobrevivia o bastante para crescer. Nem pequenos animais, nem plantas e muito menos pessoas.

Pulou para fora do carro quando viu Peeta enterrar a pá, começando o buraco em uma pequena sombra produzida por um tipo de árvore pequena e rasa, daquelas que sobrevivem muito tempo sem água e exposta ao excesso de calor. Não era bonita, era uma arvore desajeitada e estranha, mas traria alguma sombra para Lily. Ou para o que restou dela.

Aproximou-se enquanto o observava cavar. Seu suor escorria pela fronte, mas ele não parecia deveras incomodado. As mangas da camisa devidamente dobradas para deixarem os punhos livres, o olhar compenetrado que se formou em si desde que tudo aconteceu. Não trocaram mais uma palavra desde a última discussão.

Em meia hora a cavidade estava feita, e ele soltou a pá para ir ao carro em busca do corpo. Katniss se sentou ao lado da cova, imaginando como poderia deixar Lily ali, naquele buraco tão fundo.

Peeta chegou, e depositou o corpo da menina ao lado do buraco, descobrindo seu rosto e deixando-a visível por uma última vez. Abaixou-se, e Katniss conseguiu perceber quando ele cochichou algo no ouvido da garota, agora pálida e fria. Ao se afastar, beijou-lhe a testa, limpando o rosto dela, que estava molhado com algumas lágrimas que ele mesmo derrubou e ao terminar seu ritual, passou-lhe as mãos pelos cabelos e sussurrou um “obrigado” um pouco mais audível, antes de se afastar e deixar Katniss sozinha com o cadáver.

— Espero que não esteja decepcionada comigo, Lily. Eu realmente não queria... Você sabe. – falou baixo, encostando-se ao corpo da falecida – Não quero que se preocupe comigo, eu ficarei bem. Ou não, mas isso não importa. – parou esperando que talvez ela respondesse. Esperou que ela abrisse seus olhos e seu sorriso em uma resposta animada e criativa. Era completamente estranha aquela situação: Lily estava ali, era ela, era seu corpo, mas na verdade, não estava. Katniss desejava desesperadamente saber para onde tinha ido aquele sorriso, aquela alegria. Ela não queria aceitar aquela troca: Uma menina feliz por um corpo inerte. Era impensável e injusto demais. – Quero minha menininha de volta. – concluiu enquanto voltava a deitar-se sobre o peito da menina e se permitia chorar. – Te amo, querida.

Em alguns minutos, que Katniss não saberia dizer quantos, Peeta retornou e ela sabia que era porque era chegada a hora. Saiu de cima da menina, sem dizer uma palavra, apenas depositando-lhe um beijo na testa.

Peeta entrou na cova e puxou o corpo para si. Deitou-a no chão frio recém cavado e ajeitou-lhe os cabelos e a posição das mãos antes de cobri-la novamente. Quando subiu e jogou a primeira pá de areia, sentindo seu coração apertar por definitivamente não ter mais volta, percebeu Katniss cair no chão, em estado de choque. Por um momento, pensou que ela tivesse desmaiado, mas seus olhos fixados no chão, molhados e sem vida e o rosto em contato com a terra, denunciavam seu estado.

Ele fingiu não notar, enquanto continuou a jogar a terra vez por outra livrando o rosto de algumas lágrimas que insistiam em cair. Quando terminou de fechar com a terra, foi até o carro e trouxe uma placa de madeira, ao qual colocou bem fundo sobre a terra, para que não se perdesse do local.

Olhou seu trabalho por um tempo, depois virou-se e pegou Katniss nos braços, que nem protestou ou ao menos se mexeu. Talvez ela nem tenha percebido que não estava mais no chão, pois seus olhos estavam fixos na placa de madeira com letras feitas com a ponta de uma faca, que dizia:

Lily Everdeen.

Boa filha, sobrinha e amiga.

E bispo.

Sentiremos saudades para sempre.

Katniss foi colocada no banco, e só se mexeu para tirar do seu rosto a terra que se alojou ali quando ela deitou-se no chão.

A terra do cemitério de Lily.

A terra.

Tão presente no momento quanto a própria morte.


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Notas finais do capítulo

Gente, quero deixar claro que agora a coisa voltou a ficar louca, então apertem os cintos ai e não me culpem por absolutamente nada do que aconteça! ha ha
Eu costumo dizer que eu não tenho controle sobre minhas histórias, elas vêm na minha cabeça, já com um enredo pré pensado e eu só faço escrever. Quando eu tento mudar o roteiro original (já aconteceu de eu poupar algum acontecimento em uma outra história), sempre dá errado pois eu fico sem ideia de como preceder pra chegar ao final e na maioria das vezes a história morre. Como não quero que Cinzas de uma era morra, eu vou escrevê-la como me veio a cabeça, tendo as provações que tiver. Mesmo com tudo o que esses personagens passam, eu considero essa como sendo uma das mais queridas fanfics que eu já escrevi, e me orgulho muito dela ♥
Bem, o Título do próximo capítulo é: "Lápide de Madeira" e eu digo que esta de apertar o coração.
Vamos torcer por Katniss e Peeta. Eles vão precisar.