Cinzas de uma Era escrita por Kris Loyal


Capítulo 1
Capítulo 1 - O que fazer com ela?


Notas iniciais do capítulo

Vamos lá, primeiro capítulo! Espero que curtam :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/669309/chapter/1

A escuridão sim, era um fator que incomodava; a energia elétrica do local se fora. Em alguns lugares em que geradores foram programados para situações de calamidades, ainda prosseguia em fornecer energia a quem quer que seja, porém não naquela parte da cidade. Não para qualquer beco ou rua daquele lugar.

Ainda assim, a escuridão com certeza não era o que mais causava incômodo, mas sim o cheiro. O maldito cheiro de morte que pairava por todos os lugares. Os que estavam vivos sabiam que a situação não se resolveria até que os cadáveres fossem desaparecendo por obra e ação da natureza. Ninguém os recolheria. Ninguém nem tentaria fazer tanto esforço se eles eram tantos. Tantos.

O ano era 2073 e a terra foi acometida de uma catástrofe tão grande que para todos, a esperança de voltar a ter um planeta como o de antes já era uma fantasia tão improvável quanto a fada dos dentes. Não restava nada, apenas cadáveres, construções abandonadas e cinzas. Cinzas de toda uma era, uma civilização.

Talvez a humanidade devesse ter aprendido com os Incas ou Maias. Talvez devessem ter aprendido que nenhuma sabedoria, conhecimento, arquitetura ou tecnologia faria uma civilização ser eterna. E agora cá estão, com os restos e as lembranças do que tudo isso já foi um dia.

Você pode perguntar pelos sobreviventes. Você pode argumentar que enquanto ha vida há esperança, mas não. Não há esperança, pois os mesmo citados sobreviventes já desistiram dela. Se quer saber de uma coisa;

As pessoas não são mais as mesmas.

O ser humano tem como se habituar a situações de diversas ordens e claro que os que sobraram se adaptariam á nova vida, porém essa adaptação os fizeram ser menos humanos do que costumavam ser. Seus instintos de sobrevivência agora os guia. Como bárbaros violentos, protegem seu habitat, sua comida, seus pertences. Facas em punho, ou até armas se tiver a sorte de achar alguma munição no meio dessa bagunça inteira. O que vale é a lei do mais forte.

Por isso que, no auge dos seus vinte e seis anos Peeta era um sobrevivente. Ele era forte. Não só fisicamente, mas também psicologicamente, tanto que suportou a perda de todos os que amava e agora vivia, ou melhor, sobrevivia, protegendo seu espaço, com uma conhecida faca na mão. Ela era de prata, não era curta e tinha um cabo tão bem trabalhado que era de dar inveja. Tinha valor sentimental para ele.

Entretanto mesmo sendo classificado como um dos mais fortes, Peeta era sempre vencido pela fome que sempre o fazia sair de seu abrigo (um apartamento abandonado e velho numa parte menos vista da cidade) a procura de qualquer comida que fosse. Desde animais que se pudesse caçar, á enlatados guardados em lugares abandonados que foram saqueados, mas ainda detiam algumas coisas de serventia: de comida a arame, tudo algum dia servia para alguma coisa.

E agora, passando por um beco ao qual ele sentia falta da luminosidade, ouviu-se um gemido. De dor? De fome? De choro? Não se sabe. Nos dias atuais há vários motivos para se emitir sons de sofrimento.

Porém não deu atenção. Deveria? Ele sabia que havia pessoas em piores condições que ele, mas com certeza não ajudaria. Como eu disse, é a lei do mais forte, e não se é forte sendo bondoso. Carregar pessoas feridas? Dar os alimentos que você tão pesadamente conseguiu para outros mais miseráveis? Abrigar em seu abrigo desconhecidos que não tinham onde ficar? Não, isso não era ser forte. É lamentável, mas se você parar para pensar, isso o enfraqueceria de verdade, então ajudar estava fora de cogitação.

Ele continuava a caminhar ouvindo as lamúrias chegarem mais fortes aos seus ouvidos, revelando que o indivíduo que tais sons emitia estava cada vez mais perto. Não eram palavras, apenas sons, sons de sofrimento, de angústia. Aquilo encabulou nosso jovem que mesmo sem ter a intenção de ajudar se aproximou para achar de onde vinha as ondas sonoras.

Por trás de uma grande lixeira de ferro, encolhida em um lugar onde não bateria luz nem se tivesse eletricidade, podia-se perceber que havia um pequeno ser, o qual era responsável pelos sons. Ele se aproximou, tirando uma lanterna do bolso da calça (lanterna esta que não utilizava muito para preservar sua bateria para situações de mais necessidades) e ligou-a na direção do ser vivo ali encolhido.

Era uma garota. Para ele, apesar de suja, faminta e esfarrapada ela não aparentava ter mais que 19. A citada mulher olhou-o com enormes olhos cor cinza aparentemente assustada, encolhendo-se mais sobre a parede, porém quando percebeu que ele não faria nada mostrou-lhe um olhar suplicante. Talvez, se a sorte estivesse com ela, ele a ajudaria. Mas não, ela não estava com sorte, pois já foi aqui dito: Peeta não era dos que ajudavam.

Confirmando tudo isso, ele somente desligou a lanterna, antes de dar meia volta para seguir com seu caminho. A garota ainda tentou sensibilizá-lo com um pouco mais de lamúrias, pois via que, pelo seu estado físico, ele tinha comida, porém foi em vão.

Após Peeta dar duas ou três passadas ele ouviu outros sons. Se fossem nos dias normais da terra diriam ser arruaceiros, mas hoje, eram criminosos, sanguinários, estupradores e alguns até canibais. Ele já vira um grupo como este agindo, quando observava as coisas de longe.

Sua mente logo o alertou para que corresse, para que não entrasse em conflito com um bando de marginais. Mas antes que seus pés se acelerassem, a garota outra vez, soltou um outro som, agora um pouco mais desesperado. Ela sabiam quem eles eram.

Peeta tentou ignorar o que sabia que fariam com ela; tentou ignorar que a estupraria e a matariam e talvez até guardassem sua carne para comê-la depois, mas não, não conseguiu. Pareceu mais que injusto deixa-la sabendo que, mesmo estando em perfeitas condições não teria chances contra os caras, imagine no estado deplorável que se encontrava.

Resolveu que não pensaria mais; se pensasse, a deixaria, imaginando as complicadas consequências que uma companhia lhe traria, então tratou de voltar os poucos passos que dera, e pegar a garota pelo braço.

Ela voltou a ficar assustada, não sabendo se teria que temer mais o grupo que vinha ou o homem que agora a olhava com olhos intensos. Estava começando com os sons de medo quando Peeta a impediu:

– Fique calada, se não lhe deixo para que seja morta. Você quer ser morta?

Ela apenas balançou a cabeça freneticamente querendo dizer que não, desesperadamente não. Na verdade não era tanto a morte que lhe assustava, pois essa era até uma amiga nesses dias de calamidade, mas sim o que podiam fazer com ela enquanto ainda estivesse viva, enquanto ainda poderia sentir as dores.

Saíram pela parte de trás do beco, ela se enrolando em conseguir acompanhar os passos dele pela fraqueza, e ele ainda segurando fortemente em seu braço. Não reclamou; ele a estava ajudando, não sabia com que propósito, ou por quanto tempo, mas estava.

Ao chegarem a uma determinada loja abandonada, se esconderam, e viram quando o bando passou, gritando coisas, abalando o silêncio que era de praxe na cidade. O silêncio mórbido que era de praxe em muitos lugares.

Peeta logo se levantou e começou a procurar suprimentos, orientando a mulher a fazer o mesmo. Não acharam muita coisa nesta loja, então passaram para uma próxima onde encontraram algumas outras coisas, totalizando algumas dúzias que eram carregadas por ambos, em sacolas.

A mulher estava fraca, mas levava as sacolas pesadas de enlatados com resignação, seguindo o homem por onde ele passava.

Chegaram ao prédio, onde se encontrava o apartamento velho onde Peeta se escondia, ele abriu o portão quebrado e enferrujado, e começou a subir as escadas, até que chegasse ao quarto andar.

Lá, tirando uma chave do bolso abriu a porta, e deu sinal com a cabeça para que a moça entrasse, ordem que a pobre miserável acatou sem delongas.

Ao entrar após ela e fechar a porta, olhando-a analisar o local passando seus olhos por todo o lugar, somente um pensamento lhe vinha a cabeça: O que fazer com ela?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então? O que acharam? Continuo? Comentem, deixem suas opiniões, isso é importante :)Um abraço.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Cinzas de uma Era" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.