Parajás escrita por Casty Maat


Capítulo 7
Capitulo 7 - Tainacam e as deusas da justiça




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/669095/chapter/7

#07 – Tainacam e as deusas da justiça

—Beraba... Tainacam... – murmurou assombrado o deus da ira ao olhar para trás.

Milo não conseguia acreditar na transformação de Bella convertida numa índia em forma de deusa. Aquilo que Xandoré tanto buscava ao sequestrar garotas, seja lá o que fosse, estava o tempo todo com a nova amiga?

Mas até fazia algum sentido, ela conseguira sobreviver a descarga elétrica de um cosmo divino. Mas afinal, quem era Beraba Tainacam?

—Uru Xandoré...

—Por que...? Por que se ocultou numa caraíba nojenta? Eles destruíram nosso povo!

—Não há povo no mundo que não seja miscigenado, principalmente no reino de Antã Tupã, Xandoré. – a voz suave e tranquila da deusa revelada passava força e mistério. – Nem mesmo essa garota. E eu não pretendia despertar, senhor da ira... Mas o fiz para proteger esses filhos das estrelas.

—São caraíbas!

—São humanos. São guerreiros. A história deles está gravada em cada brilho eterno no céu. Não é da alçada dos deuses trazer infortúnios aos humanos e meter-se em seus assuntos. Esse foi o desejo de Antã Tupã. As criaturas amadas do senhor dos trovões... Ainda que seu coração tenha sangrado, as linhas de destino são complexas... Ele sabia que era preciso ser assim.

Xandoré teve os olhos tomados pelo vermelho, elevando perigosamente o cosmo.

—Então pereça com esses humanos de pele pálida que és agora... Tainacam...

O deus investiu contra a garota que apenas levantou a mão, como se sinalizasse “pare”. O soco enfurecido do deus indígena fora contido a poucos centímetros.

—Teus atos incendiaram o desejo da justiça entre nossos irmãos em Ibiapaba. Mesmo teu irmão Una Anhanguá... – ela moveu suavemente a mão e desfez a energia negativa que vinha com o golpe. – Quando há o mal e o desiquilíbrio... As irmãs justas devem vir e julgar, devem julgar e sanar o desiquilíbrio.

Se fosse possível clarear a pele oliva do deus, este seria o momento ideal, pois Xandoré pareceu amedrontado. Algo que Milo ficou surpreso. Mas aproveitara que a divindade estava entretida no pavor que Tainacam causava e como podia, ia para atrás da deusa.

Camus permanecia esquecido, imóvel. Havia bastante sangue e Milo temia pelo pior. Com muito custo chegou ao amigo e ficou surpreso e notar que algo parecia manter o corpo dele funcionando e semivivo. Um cosmo fazia brilhar no corpo do francês os pontos estrelares de Aquário.

—Como...?

Tainacam ergueu o braço esquerdo como se suportasse algo acima da cabeça. Xandoré cogitou atacar, mas uma voz ressoou na mente de Milo.

“Ataque Xandoré”.

O grego não soube bem por que se sentira tão impelido, mas disparou uma agulha contra a divindade, motivo que o impediu de conseguir seu intento. Xandoré recuou, urrando de dor, e Milo não entendeu. Antes nem sequer conseguira fazer uma frente decente! Foi quando olhou o próprio corpo, onde brilhava os pontos estrelares do Escorpião.

Acabou por olhar a amiga convertida em deusa. Seus cabelos brilhavam com pontos brilhosos, assim como os olhos pareciam refletir o vasto universo e suas estrelas e galáxias.

—Uma deusa... estrelar...?

—Oh, guardiãs do bem, da honra e da justiça. Desçam a terra e cumpra com o dever divino de sua criação. Nossos irmãos clamam justiça divina e assim deve ser. – o cosmo se elevou, abrindo um rombo no topo da caverna e criando três feixes de luz como se fossem canos de condução. – Cumpram o julgamento e justiça... Parajás!

Milo viu acima a constelação de Órion e seu cinturão composto por Alnitak, Alnilam, Mintaka, as estrelas popularmente chamadas no Brasil de “As Três Marias” e de cada uma descia uma figura.

As três eram iguais, cabelos negros com algumas mechas prateadas. As roupas de tramas de algodão cru e penas brancas, tampavam o busto e a intimidade, na mão direita a lança e na esquerda um escudo, ambas rústicas e na cabeça o cocar, também de penas alvas, que tampavam os olhos das três deusas guerreiras.

—Uru Xandoré, senhor da ira. – diziam uníssonas. – Por crimes contra os humanos, por raiva desmedida, terá o julgamento.

Tainacam e as Parajás elevavam o cosmo e juntas entoavam mantras em uma língua que o grego era incapaz de compreender.

—NÃO! Não posso ser derrotado assim! EU O GRANDE URU XANDORÉ!

—Sejas selado nos confins do mundo inferior! – disseram as quatro.

Uma luz muito forte e potente tomou conta do local, obrigando o cavaleiro de ouro a fechar os olhos e os cobrir com os próprios braços. Seguiu-se um grito de raiva e horror da divindade falconídea e então o silêncio absoluto.

Milo então abriu os olhos e apenas havia ele, Camus e Bella, ainda convertida na deusa estrelar.

—Bella...?

Ela virou-se para Milo e deu um sorriso tranquilo.

—Está melhor, Milo? – ao que o amigo olhou o ruivo e ela explicou. – O estado dele é grave, precisará de muito cosmo cura. Estou mantendo a vida dele congelada ao usar os pontos estrelares.

—Afinal... Como?

Ela fez sinal de silêncio.

—Salvemos Camus antes. Terá o tempo que quiser de explicações depois disso.

=============================================================

Aldebaran, Shaka e Aiolia estavam na sala do mestre. Haviam acabado de receber a convocação e trajando suas armaduras, estavam ajoelhados perante Atena e o Grande Mestre.

Saori Kido começava a explicar no que consistia a missão quando os três dourados se colocaram em posição de ataque ao sentir um cosmo forte e desconhecido surgindo. Então três pontos de luz surgiram e iam tomando formas humanas, descendo do teto do cômodo lentamente, enquanto revelava a sua forma.

Milo com Camus nos braços e Tainacam, que fez um gesto com a mão direita sobre o peito e se curvando levemente.

—Milo... Camus? – indagou Aiolia, desconfiado. – Mas quem é...?

—Eu sou Beraba Tainacam, deusa das constelações do panteão de Ibiapaba, comandado por Antã Tupã.

Saori se levantou e, contrariando os protestos dos três cavaleiros de ouro que queriam defende-la, ficou a frente dos mesmos.

—Há muito não há notícias dos deuses de além do mar...

—Podemos conversar depois, mas seu sagrado poder protetor é necessário. Estou mantendo Camus num estado de semimorte, mas não tenho condições de curá-lo para ao menos receber tratamento.

Atena entendeu o recado: perguntas depois, Camus era mais importante. Saori se aproximou de seus dois cavaleiros e começou a usar seu cosmo para curar Aquário. Não conseguiria curar por completo, mas era o suficiente para mantê-lo estável para os demais tratamentos para realmente recuperá-lo.

Tão logo o ruivo estava fora do estado crítico, prontamente o levaram para o hospital. Com tudo encaminhado, puderam então ouvir o que a deusa indígena tinha a dizer.

Contara que os deuses se recolheram ao céu em seu local sagrado, Ibiapaba, o “Olimpo” do panteão tupi. Continuavam a observar os filhos daquela terra, independente de sua origem.

—Mas ainda sim, por que nenhum contato? – indagou Shion. – Pela fala de Atena, dá-se a entender que havia algum tipo de cmunicação...

—De fato havia. Até alguns panteões iniciarem brigas entre si ou entre seus irmãos... Tupã preferiu o isolamento e com a colonização, muitos dos nossos enfraqueceram e preferiram o exílio total, no aguardo de algo que nos puxasse de volta. Algo parece ter puxado Xandoré, talvez a instabilidade política alimentou a ira.

—Quem é esse tal Xandoré? – indagou Shaka. – Seria ele o causador dos eventos?

—Pois é, Buda. Uru Xandoré como ele se chamava ou algo assim. Deus da Ira e que conseguiu surrar a gente bonito. – gracejou Milo, sentado no chão do salão.

—Mas por que? – Atena olhava a índia.

—Ele queria meu cosmo, meu poder. Se alimentando da raiva do povo, resolveu se erguer contra o velho continente e você. Seus guerreiros são filhos das estrelas e destruí-las iria tirar o poder deles. Te derrubar seria fácil.

—Taina...cam... – Milo parecia meio indeciso ao falar. E também estava um pouco difícil trata-la exatamente como deusa. – Mas e a Bella?

—Eu voltarei a dormir dentro dela. O que significa que precisamos voltar ao Brasil. Alguém precisa fechar a conta da pousada, certo?

—Quanto a isso, a Fundação pagará e...

—Atena... Assuntos do mundo ficam entre mundos. Quando precisarem de mim, saberão me achar, certo? – a deusa estrelar deu um sorriso gentil. Ela e Milo desapareceram dali.

—Está tudo bem, Atena? – olhando a deusa, perguntou Shion meio ressabiado.

—Está sim. Tenho certeza que temos bons olhos nas terras de Tupã.

===================================================================

Bella despertou sem memórias dentro do carro. Milo se aproximou do mesmo, estava sem armadura e foi olhado pela morena como se fosse um ET.

—Milo? – ela arregalou os olhos. – Camus?! Onde ele está?!

—Calma, calma. Eu avisei um amigo e ele foi buscar o ruivo. Ele se feriu bem na batalha.

—Mas e então?

—Vencemos. As garotas já vão voltar para casa, sã e salvas. E eu vou ter que levar as tralhas do picolé pra Grécia e fechar a conta.

A garota parece se entristecer, mas esperava por aquilo.

—Mas relaxa. Vou descolar um passe livre pra ti no Santuário. Daí vai poder falar com ele. Vocês se apegaram, né?

—De certo modo. Acho que temos sintonia suficiente para uma grande amizade.

—Amizade? – fez um muxoxo. – Só?

Ela riu.

—Ok, talvez algum beijo algo mais que amizade. Mas não vai terminar do jeito que você quer, gringo safado.

—Eu nem disse isso. – riu junto o grego. – Bem, vamos voltar, ok? Acho que fico mais um dia só pra descansar, tá?

—O cliente é quem manda! – disse a garota ligando o carro.

Tudo que é bom sempre tem final. Sempre.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Antã: forte, ágil, esperto
Ibiapaba: O "monte Olimpo" do panteão tupi.
Una: Preto
Anhanguá: deus do submundo, equivalente a Hades. Esposo de Ticê. Algumas lendas o tem como um deus maligno, e em outras como um deus justo.
Parajás: título da fic, são as deusas da honra e da justiça. Não é dito quantas são, então tomei a liberdade de fazê-las como três e serem as estrelas do cinturão de Órion em referência a "constelação" BR das Três Marias.

Agora dá pra dizer por que escolhi o nome "Bella". O nome dela viria da versão húngara que significa: "nobremente brilhante".

Findando no próximo capítulo... Quem sabe um dia sai mais fic dentro desse universo?
Até!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Parajás" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.