Parajás escrita por Casty Maat


Capítulo 1
Capítulo 1 - A missão literária


Notas iniciais do capítulo

A praça onde Camus conhece Bella faz muitos anos que não vou e não me recordo mais o nome, porém lembro de haver três bancas de jornal e outra sem ser exatamente uma banca. Ficava (ou fica) o supermercado Rosado e fica a poucos passos da rodoviária e também nada longe da orla.
O bairro citado fica próximo a praia do Cruzeiro, com uma ponte ligando ambas. Ainda tem muitas ruas sem asfalto e algumas pousadas.
O nome Bella vem da origem húngara e não é um apelido. O significado aqui é "nobremente brilhante" e não foi escolhido a toa.



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#01 – A missão literária

O ruivo estava sentado na praça próxima a rodoviária da cidade. Haviam algumas bancas nas esquinas e um grande supermercado. Praguejava por ter sido ele o escolhido a ir numa cidade litorânea nas terras ensolaradas, ainda que fosse o inverno brasileiro.

Não sabia onde ir, uma vez que tentaram marcar para ele uma pousada na cidade de sua missão. Foi em vão, não haviam vagas, sobrando a ele ter de buscar uma pousada na cidade vizinha, igualmente litorânea, mas em outra província.

— Feira literária de Paraty?

—Exato, Camus. Nossos olheiros em território nacional detectam uma estranha movimentação de cosmo na região fronteiriça dos estados do Rio de Janeiro e São Paulo. – explicava Atena, com o Grande Mestre Shion ao seu lado. – Como homem culto que é, creio que saberá se disfarçar melhor entre os turistas nessa época do ano.

—Farei meu melhor, minha deusa.

A deusa ainda tranquilizara que se houvesse necessidade envia um parceiro. A principio, Camus deveria sondar.

—Faz muitos séculos que perdemos contato com as divindades daquele local. – suspirou Atena ao comentar. – Infelizmente não temos como contar com eles.

O ruivo olhava ao redor, via pessoas de moletom e casacos. E aquilo só lhe dava mais calor, apesar do celular marcar claramente 18º graus, que para a região era gélido, com ventos úmidos trazidos do mar.

Olhava o celular confirmando a temperatura pelo visor e resmungou desanimado. Quando voltaram a vida com algum atraso de tempo, tiveram todos de se virar nos 30 com aqueles aparelhos estranhos. E se irritava profundamente com a mania de Milo em sair tirando selfie a torto e direito.

Agora até que ele fazia falta. Com aquela temperatura o loiro estaria choramingando pelo frio e isso o distrairia.

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Bella não era uma “barriga verde”, uma nascida em Ubatuba, porém amava aquele lugar. Era sua segunda terra natal, ainda que tivesse nascido serra acima. Era miudinha, parecia mais uma adolescente que mulher adulta. O rostinho jovial, olhos grandes e castanhos, os cabelos curtinhos e arrepiados. A pele não era pálida, mas também não morena, sendo uma palidez mestiça de quem não costuma tomar sol.

E em meio a multidão de friorentos, Bella era uma grata surpresa, com um bolero fino por cima da regata preta estampada de gatinhos e strass, o short jeans com as pontas desfiadas um pouco acima do joelho, exibindo talvez a única denúncia de sua idade acima dos 20: coxas grossas de quem dançara muito. Abraçando contra o peito, um pequeno conjunto de mangás. Calçava um chinelo simples, estilo tamanco.

Ela saia da banca de jornal, uma das três da praça, quando viu a longa cabeleira vermelha como sangue e malas. Ficou tentando entender a cena. Seria um marido expulso pela esposa de casa? Olhou melhor, o cara era pálido demais para alguém que morasse na cidade. Arrumou os óculos de aro vermelho e continuou a observar.

O homem não parecia brasileiro, mas podia ser um de todo modo. E via o olhar perdido. Se aproximou com cautela e experimentou num péssimo e preguiçoso inglês fazer um contato.

— Hello, are you lost?

Camus olhou a jovem com sua eterna apatia. Parecia ser uma simples criança perto de si.

"Qualquer um cronologicamente seria criança", pensou consigo.

— Are you ok, mister? – insistiu a brasileira.

— Eu falo sua língua. – disse o ruivo com calma, apesar de um sutil sotaque.

— Ahn, bem... Notei que está com essas malas. O senhor tem pra onde ir?

Camus continuou a encarar a garota que já tinha receios que o estrangeiro fosse um tarado.

— A ideia era estar em Paraty, mas infelizmente não há mais vagas na cidade. Então acabei vindo parar aqui neste outro fim de mundo.

Bella engoliu a vontade de soltar cobras e lagartos.

— Não é incomum virem turistas de lá e se hospedarem aqui. Sai até mais barato porque aqui em Ubatuba é baixa temporada. Bom, meu tio tem uma pousada no Perequê Açu, até dá pra ir andando mas essas malas... e essa mochila esquisita...

Camus até cogitou dizer que não tinha problemas ele levar, mas poderia soar estranho. Mesmo sendo homem e biologicamente mais forte, ele sabia que uma determinada hora um homem comum pediria arrego e iria estragar as pessoas rodinhas da mala ou desequilibrar nos paralelepípedos. Ele pesquisou um pouco a região e sabia que Ubatuba tinha calçadões de mosaico e algumas ruas judiadas, assim como Paraty tinha o centro histórico com ruas de pedras onde mesmo de chinelo, era um convite a torcer o tornozelo.

— Me interessa a pousada, se puder me ajudar.

— Tranquilo, vou chamar um táxi. – e saiu em disparada, atravessando a rua para chamar um táxi na rodoviária ali perto.

O francês ficou observando a jovem, recordando sobre Aldebaran dizer que os seus eram bem receptivos, principalmente de cidades turísticas ou pessoas do interior.

— Um certo ar bucólico. Foi o que ele falou.

Camus avistou a jovem lhe acenando, ao lado de um Voyage branco, de forma exagerada.

— Ela e Milo seriam bons amigos, certeza. – e saiu levando a mala.


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