Uma Semideusa Inadequada escrita por Geek Apaixonada


Capítulo 24
Ironia


Notas iniciais do capítulo

Bem, um passarinho verde me pediu pra contar sobre a primeira vez que a Tracy viu um deus sem ser a mãe dela e o Apolo. Isso meio que me deu uma ideia. Espero que gostem!



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Sete anos atrás

Eu me sentia feia. Mamãe e papai, ambos usavam roupas da marca Cavalera, e pareciam duas estrelas do Rock. O casal perfeito. Por que eles não se casam logo?!

Era nisso que eu, a criança malcriada, estava pensando, jogada na poltrona, vestindo um suéter ridículo com o desenho de uma rena sorridente, jeans largos e All Star vermelhos. Meu cabelo branco estava preso numa trança de lado que mamãe fizera e meu lábio inferior estava curvado num biquinho. Eu estava com raiva. Muita raiva.

— Querida, você está sendo infantil. – disse Despina, enquanto decorava nossa árvore natalina.

— Vocês é que estão sendo infantis!

Ao ouvir isso, papai soltou uma risada e mamãe o fuzilou com o olhar.

— Eu tenho dez anos e sou muito mais madura do que vocês! – falei, mesmo sabendo que não era verdade. – Por que vocês são tão burros?!

— Tracy! — Despina semicerrou os olhos. – Olha o respeito!

— E que tal vocês terem respeito por mim? – indaguei, cruzando os braços. – Fala sério, vocês se amam! Eu vejo como você olha pra ela, pai! E eu vejo como você olha pra ele, mãe! Por que não ficam juntos de vez?!

— Tracy – disse papai, num tom de alerta. – Não começa de novo...

— Foda-se! – falei, fazendo os dois arregalarem os olhos. Era a primeira vez que eu falava palavrão na frente deles. Uma criança de dez anos não deve dizer esse tipo de coisa. Mas bem, eu aprendi ouvindo meus pais. – Eu quero ter uma família normal! Quero que meus pais morem juntos e durmam no mesmo quarto, como os pais das outras crianças! E se não existe chance disso acontecer, por que ficam fingindo pra mim? Pra que fazer essas comemorações idiotas em família? Nós não somos uma família!

Levantei, e ainda de braços cruzados, saí batendo os pés. Mamãe tentou avançar na minha direção, mas papai disse “deixa ela”. Eles começaram a discutir e eu fugi.

Saí de casa porta afora e caminhei pelas ruas. Caminhei pelo o que pareceu uma eternidade. Nevava, mas isso não me incomodou. Pisoteei a neve, e ainda fazendo biquinho, resmunguei todos os palavrões que conhecia.

— Uma menina de dez anos falando tanta coisa suja...

Parei e olhei para a estranha a minha frente. Era uma mulher esquisita. Tinha o cabelo repicado e a pele cheia de piercings e tatuagens.

Mamãe diz que não devo falar com estranhos...

— Eu não sou uma estranha, Tracy – ela falou como se lesse meus pensamentos. – Sou da sua família, e vim aqui te dar um presente.

Não fale com estranhos nem aceite nada que eles te derem...

— Vejo que você é uma garota esperta – ela riu. – Mas você não poderá recusar esse presente.

Dei um passo para trás, com medo. A mulher se aproximou e colocou um dedo em meu peito.

— Um dia, Tracy, você vai encontrar o amor da sua vida. E isso vai destruir você. Chega a ser meio irônico, por que é disso que sua mãe tem tanto medo. Mas eu adoro uma boa ironia. – ela sorriu, me dando ainda mais medo. – E esse é o meu presente pra você, querida.

 

Oito meses atrás

— Odeio praia.

Adam olha pra mim e abre um sorriso. A uns cinco passos de nós, um segurança nos segue. Essa foi a condição que meu pai impôs para deixar que saíssemos.

— Por quê? – ele pergunta.

Eu faço uma careta. Estamos caminhando pela areia, de mãos dadas. Adam gosta de caminhar pela praia. Esse é o nosso quarto encontro, se não me engano.

— Odeio a areia, odeio o mar e odeio o sol.

Ele para de sorrir imediatamente.

— Por que você odeia o sol? Ele não fez nada pra você!

Ri e subi em cima de um banco, caminhando por cima dele, ainda de mãos dadas com Adam. Aliás, ele estava lindo. Usava bermuda, uma camisa vermelha simples e óculos escuros Ray Ban. O cabelo loiro sacudia com vento, assim como o meu. E mais uma vez pensei em como ele é o oposto dos caras com os quais eu costumo sair. Sempre namorei roqueiros e nerds bonitinhos. Adam é tão... tão parte daquele universo que eu faço de tudo pra evitar!

— Sou uma pessoa do frio. Como posso gostar do sol?

— Ele é bonito. – Adam deu de ombros. – E quente.

— Claro que é quente! É o sol! – ri, pulando do banco e voltando a caminhar na areia. – Mas ainda não gosto dele.

— Quem sabe ele goste de você?

— Hum... Acho que não. O sol deve me odiar!

— Por que ele te odiaria?

— Por que eu sou uma criatura do inverno. – empurro o ombro dele de leve. – Nós somos opostos.

— Bem, você sabe o que dizem. – ele empinou o queixo, todo convencido. – Os opostos se atraem.

— Isso é tudo uma grande bobagem! – revirei os olhos.

Ele perdeu a pose de convencido e me olhou meio decepcionado.

— Mas Raio de Sol... Nós somos opostos.

— E você se sente atraído por mim?

Adam pareceu ficar envergonhado, mas logo o efeito passou.

— Sim, me sinto. E você? Se sente atraída por mim?

Dei um sorrisinho de canto - Talvez.

Ele parou de caminhar e ergueu a mão livre, pondo-a no meu queixo.

— Talvez estejamos destinados um ao outro.

Afastei a mão dele e usei as minhas para tapar meu riso. – Desculpa! – falei, mas ele já estava suspirando e revirando os olhos. – É que eu não acredito nessa merda de destino.

— Bem, eu acredito. – ele disse, afastando minhas mãos e colocando as suas no lugar. – E acredito que eu estava destinado a conhecer você.

Dei um sorriso metidinho, e ele abriu um mais metido ainda.

— Você ainda vai se apaixonar por mim, Tracy. Escreva o que eu estou te dizendo.


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Notas finais do capítulo

Quem acham que era a deusa que falou com a Tracy? Deixem suas teorias nos comentários!