Uma Semideusa Inadequada escrita por Geek Apaixonada


Capítulo 23
Problemas


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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☼  ❅

 

Um mês atrás

 

— Não sei se estou fazendo bem te levando pra matar aula...

Olhei para ele, estranhando. - Desde quando você se importa?

Apolo vestia jeans com alguns rasgos nos joelhos e uma camisa do Led Zeppelin. O cabelo loiro tinha um pequeno topete, e os olhos estavam mais azuis que nunca hoje.

— É diferente – ele franziu as sobrancelhas, como se travasse uma guerra mental dentro de si. – Você já matou umas vinte aulas só nesse mês.

— E desde quando você se importa? – repeti, arqueando uma sobrancelha.

— Você quer ficar reprovada?! – ele se irritou, mas sem tirar os olhos da estrada... quer dizer, do céu. – Está fazendo isso pra chamar a atenção do seu pai, não é?!

— Não.

Apolo deu uma risada sarcástica, como se dissesse “Aham, sei”.

— Não é pra chamar a atenção dele – falei suavemente. – Eu só estou de saco cheio da escola.

Ele revirou os olhos e parou o carro por um momento, para que um avião passasse.

— Quando eu estou de saco cheio das reuniões olímpicas, não começo a faltar a todas!

Suspirei. O avião terminou de passar e nós avançamos pelo céu.

— Eu vou morrer de tédio se assistir a mais uma aula – falei, cruzando os braços. – Ultimamente você tem sido a única coisa que me diverte e me alegra.

— Querida, achei isso muito fofo, mas você não pode me usar como escape. Eu não vou estar sempre disponível. Vai haver horas que eu vou estar ocupado demais salvando o mundo para entreter você.

Foi a minha vez de revirar os olhos.

— Tudo bem, me leve de volta logo, então.

— Não posso. Tenho que levar a luz do sol ao mundo, baby.

— Me manda de volta com mágica então.

Ele negou com a cabeça, ainda sem tirar os olhos do céu a nossa frente.

— Não. Não vou fazer isso. Você vai ter de ficar aqui até eu terminar o serviço, e depois vamos ao cinema, como combinamos.

— Pensei que você não me quisesse aqui.

— Tracy, meu amor, não coloque palavras na minha boca, sim? – disse, fazendo força para se manter calmo. – Se o mundo está uma bosta, não desconte no seu namorado lindo e maravilhoso. Ele é a sua única fonte de divertimento e alegria, lembra? Desconte no merda do seu pai ou na diretora da sua escola. Não me importo. Apenas não desconte em mim.

Esfreguei os olhos, irritada. Eu estava louca pra brigar com ele. Eu queria descontar minha raiva nele. Mas Apolo estava certo. Não era justo.

— Foi mal – falei. – Eu não sei mais o que está acontecendo comigo.

— Bem, eu sei – disse ele. – Você está se sentindo sufocada.

— É... talvez seja isso mesmo.

— E quer voltar pro Acampamento, mas tem medo de encarar seu passado.

— Hum... isso também.

Ergui minha mão e liguei o rádio. Começou a tocar uma música do Oasis, Wonderwal. Sorri. Aquela era a minha música favorita.

— Ok, você fez de novo.

— O que? – ele perguntou, inocente.

— Você fez macumba pro rádio tocar o que você quisesse. E era a minha vez de escolher a música.

EU?  - ele arquejou. - Macumba?

Ri da voz indignada que ele estava fazendo e deitei a cabeça em seu ombro. – Eu te amo, sabia?

— Sabia - assentiu com a cabeça. – Afinal, quem não me ama?

— Muita gente. Que tal minha mãe?

— Esse é outro assunto que precisamos resolver.

Fiquei calada. Despina havia me criado até que eu fizesse seis anos, então me deixou com meu pai para que eu vivesse meu lado humano também. Ela fazia visitas mensais e nas férias, eu ia para seu palácio. Quando papai tinha turnês, ela vinha para nossa casa cuidar de mim, e ia embora quando ele voltava. Ela até ia nas minhas reuniões escolares. Minha mãe é foda. Mas se ela souber que eu estou namorando Apolo... eu a desapontarei. Ela sempre me ensinou que eu não devia me envolver com deuses e jamais aceitar missões, a não ser que haja uma profecia se referindo especificamente a mim. Eu devia ter lhe dado ouvidos. Quer dizer, sobre a missão, não sobre os deuses.

— Ela vai me deserdar.

— Querida, você é a namorada do deus sol. O incrível e maravilhoso Apolo, filho de Zeus! Não tem que se preocupar com herança.

— Bem, você pode se cansar de mim a qualquer momento.

E eu não queria admitir, mas aquele era um dos meus maiores medos.

— Eu já quis que isso acontecesse – disse ele, fazendo com que eu arregalasse os olhos e levantasse a cabeça de seu ombro. – Quis que você me traísse. Que fizesse algo, qualquer coisa, que me fizesse gostar menos de você. Eu não queria estar preso a você.

Senti meu coração se despedaçar. Por que ele está dizendo essas coisas horríveis?!

— Seria tão mais fácil... – murmurou. – Mas não, você tinha que ser toda perfeitinha! Eu faria qualquer coisa por você... Droga, acho que estou ficando inspirado. Tracy, pega o papel e vai anotando. Onde eu estava mesmo? Ah, sim... eu faria qualquer coisa por você! Eu te amo tanto que às vezes até esqueço de mim (o que é bem estranho, mas não, não copia essa parte). E eu prometi a mim mesmo que não tentaria novamente, mas então você apareceu... E olha a merda que eu fui me meter? Amo uma semideusa e nem posso transar com ela. Você é minha tortura, Tracy Stone. Ei, por que você não está anotando?

Ele olhou pra mim, percebendo meus olhos cheios de lágrimas.

Desculpa. — choraminguei.

Apolo praguejou e apertou o botão do piloto automático. Se virou para mim e tomou meu rosto entre as mãos.

— Desculpa, por quê? Eu escolhi isso. Eu que escolhi você. Se alguém tem que se sentir culpado aqui, esse alguém sou eu.

Comecei a chorar. – Você se sente culpado?! Se sente arrependido de ter me conhecido?

— O que? Não, Tracy, não é isso!

— Você acabou de dizer que se sente culpado!

— Não, não falei! Eu disse que se alguém tem que se sentir culpado, esse alguém sou eu. Mas em momento algum eu admiti que me sentia culpado.

Tirei as mãos dele de mim, furiosa, e me afastei ficando o mais longe possível.

— Ei... o que foi?

— Você está arrependido, não é? Admita, Apolo! Vamos, pode falar, eu não vou ficar magoada!

Ele suspirou e passou a mão pelo cabelo.

— Olha, desculpa, mas eu não quis dizer isso. Você entendeu tudo errado.

— E o que eu deveria entender?!

— Que eu sou louco por você! – falou irritado. – Tracy, se eu estivesse arrependido, por que estaria tentando me explicar agora? Olha, ás vezes eu até penso... sabe? Mas é só olhar pra você, e eu sei que tudo isso vale a pena.

Funguei e ele se aproximou, limpando minhas lágrimas com as mãos.

— Você foi a melhor coisa que já aconteceu na minha imortalidade. Isso é, depois de mim. E da música. E do arco e flecha. E da poesia. E da...

Apolo.

— Ok, acho que você entendeu. Quer que eu seja romântico? Serei romântico. Quer que eu seja meloso? Posso ser meloso. Se quiser que eu seja um Ares da vida, também posso ser um Ares da vida. Serei aquilo que você quiser que eu seja. Eu faço tudo pra não perder você. Então tudo bem, nós esquecemos sua mãe, esquecemos sexo, e eu te levo pra matar aula quando você quiser. Eu só preciso que você... Pelo raio, por que nós temos tantos problemas?!

— Eu não sei. – ri.

— Enfim, como eu ia dizendo. Eu só preciso que você fique comigo. E... ei, por que você não está anotando nada?!


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