Uma Semideusa Inadequada escrita por Geek Apaixonada


Capítulo 21
Austrália




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No dia seguinte, fui fazer compras. Precisávamos abastecer nosso estoque de barras de cereais e outras coisas. Mas o que eu não esperava era que, enquanto enchia minha cesta com todo o estoque de Tic Tacs do supermercado, fosse topar com ele.

— Isso é um vício, sabia?

Reconheci a voz e olhei para o lado, para o garoto de cabelo loiro e olhos azuis usando uma camisa branca, havaianas e bermuda xadrez.

— Apolo! - olhei ao redor, mas o corredor estava vazio. – O que você está fazendo aqui?!

— Eu precisava falar com você. – disse ele, aproximando-se. – Aliás, também estou feliz em te ver querida!

Suspirei. – Espera só eu passar isso pelo caixa e depois saímos, ok?

— E o meu beijo?

Revirei os olhos e terminei de esvaziar a prateleira.

— Isso, dê mais atenção à bala do que a mim!

— Pelo raio, você pode esperar eu terminar de fazer a compra?!

Ele fez um muxoxo. – Às vezes acho que você ama mais essa bala do que eu.

Olhei para o deus grego e arquei uma sobrancelha. – Não, não é verdade. Eu amo você 20% a mais do que a bala.

Isso fez com que ele sorrisse, mostrando seus dentes extremamente brancos e perfeitos. Ele andou até mim e entrelaçou seus dedos na minha mão livre, depois inclinou o rosto lentamente até o meu, selando nossos lábios. Por um momento me senti no paraíso, então ele se afastou e fomos até o caixa.

— São cinquenta dólares.

Enfiei minha mão no bolço e tirei... dez dólares. Apolo riu. Praguejei e peguei o cartão do meu pai, mas não tive coragem de dá-lo a velhinha do caixa. Se passasse o cartão, papai me encontraria, tenho certeza.

— Eu pago. – disse meu namorado. – Guarde esse cartão.

Normalmente eu não deixaria ele pagar, mas é isso ou ficar sem meus Tic Tacs.

— Tudo bem.

Apolo tirou uma nota de cinquenta do bolço, que tenho certeza, ele materializou lá, e entregou-a a velhinha do caixa. Quando saímos do supermercado, ainda de mãos dadas, ele também tinha materializado uns óculos escuros Ray Ban. Deixei que ele me guiasse, tentando adivinhar onde estávamos indo, mas sem perguntar nada.

— Acho que aqui já está bom...

Estávamos numa ruazinha vazia e pobre. Antes que eu perguntasse “bom pra quê?”, o lugar a minha volta mudou. Reconheci as paredes amarelas, a TV de plasma e o sofá luxuoso. Estávamos na sala de nossa mansão na Austrália. Olhei para Apolo e semicerrei os olhos.

— Odeio quando você faz isso!

— Isso o que?

— Me leva magicamente pra algum lugar sem aviso prévio!

— Sinto muito. Quer dizer, não, não sinto não.

Ele deu um sorrisinho e eu larguei as sacolas do supermercado sob a mesinha para depois ir até nosso quarto, ainda mais luxuoso que a sala. Parecia o quarto mais caro de um hotel cinco estrelas.

— Raio de Sol?

Não respondi. Abri a porta do closet e entrei.

— Preciso de roupas.

Ele me olhou de cima abaixo, como se só agora houvesse reparado que eu estava com meu pijama: a calça xadrez e a camisa do Ramones.

— As roupas que lavei ontem ainda estão molhadas. – expliquei a ele. – Por isso.

Peguei um jeans skinny e uma camisa preta. Apolo ficou olhando enquanto eu me trocava. Aproveitei e calcei aquelas botas super confortáveis que comprei durante aquele final de semana em que ele me levou para a Áustria. - Bem melhor...

Voltei para o quarto, tirei meu pijama do avesso e dobrei as peças, mas achei que ainda estavam amassadas e comecei a dobrar tudo de novo.

— Tracy – falou Apolo, enquanto fechava a porta do closet. – Para.

— Parar com o que?

Ele tirou as roupas das minhas mãos e as largou em cima da cama, amassadas. Eu, sabendo que não teria jeito, me sentei meio desolada, e ele se sentou ao meu lado.

— O que aconteceu lá?

Eu sabia muito bem do que ele estava falando, mas era algo em que eu estava tentando não pensar, mesmo sabendo que era impossível. Triste, deitei com a cabeça sobre a perna dele e me deliciei com sua mão acariciando meu cabelo.

— Foi horrível. — confessei. – Ela me expulsou!

Minha voz ficou embargada e meus olhos se encheram de lágrimas. - Ela d-disse que vou engravidar e então você vai me abandonar!

Apolo parou de acariciar meu cabelo e me puxou para cima, de modo que tive de me sentar e encara-lo. Ele limpou minhas lágrimas com as mãos, e possuía uma expressão irritada no rosto. Pensei que fosse dizer “essa história de novo, Tracy...?!”, mas não. Ele disse algo que me surpreendeu bastante.

— Presta bem atenção. – falou, a voz suave e irritada ao mesmo tempo. – Você não tem ideia de como é difícil ficar perto de você, e mais difícil ainda não estar. Mas eu aguento, aguento  isso tudo pra que a gente dê certo.

E isso só me fez chorar mais ainda.

— Você não sabe o medo que eu tenho de perder você – ele continuou, materializando um lencinho e enxugando minhas lágrimas. – É por isso que eu estou me esforçando tanto pra que dê certo dessa vez.

Afastei o lencinho e abracei o pescoço dele, enterrando o rosto em seu ombro. Acho que nunca vou entender o que foi que fez Apolo se apaixonar por mim. Ás vezes chego a desconfiar que Eros acertou outra flecha nele.

— Eu te amo. – ele sussurrou. – Te amo muito.

Foi aí que eu não consegui mais parar de chorar. Soltei-o e peguei o lencinho, enxugando eu própria minhas lágrimas.

— O que foi? – Apolo perguntou preocupado. – Eu disse alguma coisa errada?

— Não! – choraminguei. – É que eu fiquei feliz.

— Ah...

Ele sorriu, mas ainda parecia preocupado.

— Eu adoraria continuar te deixando feliz, mas... tenho que te dar uma noticia ruim.

Funguei e apertei o lenço em minha mão. Lá vem. (Pelo menos eu tinha conseguido parar de chorar).

— Éris mentiu pra você. Hades não roubou os pomos. Você... não necessariamente precisava ter contado pra sua mãe de nós dois.

Senti vontade de começar a chorar outra vez.

— Mas eu estou feliz que tenha feito isso! – ele se apressou em dizer. – Considerei uma prova de amor!

Desolada, deixo o peso do meu corpo cair para trás e me deito na cama, cobrindo o rosto com as mãos. Fiz tudo por nada! Fui enganada pela deusa da discórdia e usada como uma marionete. Eu me deixei usar. E agora minha mãe me odeia!

— Raio de Sol – Apolo se curvou sob o meu corpo. – Ainda tem mais.

— O que? – baixei as mãos, encarando seus olhos azuis. – O que pode ser pior do que isso?

Ele fez uma careta.

— Prometa que não vai até o Mundo Inferior.

— E por que eu faria isso? Você acabou de dizer que não foi Hades quem roubou os malditos pomos!

— Mesmo assim. – disse ele. – Não vá lá.

— Bem, você precisa me dar um motivo.

— Tenho medo de que ele nunca mais te deixe sair. Ele sabe de nós.

— Esse é um bom motivo. – ponderei. – Mas não é por isso que não vou lá.

— Não? – ele franziu as sobrancelhas. – Pelo o que então?

— Nós já decidimos que vamos seguir com a lista. Acho que a sétima ou a nona amante mora perto de onde estamos. Eu e Juliet iremos lá nesta tarde.

— Hum... — Apolo pareceu desconfortável. – E o filho de Ares?

— Ele vai procurar outra, sozinho. Nós queremos sair logo daquela cidade e apesar de não ser uma boa ideia, vamos nos separar pra que isso acabe mais rápido.

— Eu acho uma ótima ideia – disse ele, fingindo pensar. – Sério, quem teve essa ideia é um gênio!

— Foi o Trent.

— Retiro o que disse!

Pela primeira vez no dia, eu ri. Abracei o pescoço do meu namorado e ele inclinou o rosto pra perto do meu. Pensei que fosse me beijar, mas ao invés disso ele roçou o nariz ao longo do meu pescoço, me causando arrepios. Mordi o lábio. Da última vez que nos vimos, no hotel, o máximo que fizemos foi trocar uns beijinhos e dormir abraçados.

Abri a boca pra dizer que Trent e Juliet estavam me esperando, mas ele levantou o rosto do meu pescoço e depositou um beijo em meus lábios. Beijou minha testa, minhas bochechas, meu queixo e a ponta do meu nariz.

Meu coração rapidamente se acelerou. Juliet e Trent podem esperar. De boa.

Apolo me beijou na boca e mordeu meu lábio inferior, puxando-o. Eu sorri e ele voltou a selar nossos lábios. Quando a língua dele encontrou a minha foi uma explosão de felicidade. Fazia bastante tempo. Comecei a puxar a blusa dele, mas não queria separar nossas bocas, então ao invés de tirá-la, rasguei tudo.

— Semideusas... — ele murmurou, jogando os restos de pano no chão. – Ainda bem que sou um deus e posso materializar quantas roupas qui...

— Meu amor, será que você poderia parar de se gabar apenas por um momentinho?

— OK, vou tentar... Mas parece um desafio extremamente complicado!

Ele voltou a me beijar. Ficamos assim por um tempo até que eu senti o volume na calça dele e imediatamente o empurrei de cima de mim. Ele rolou e ficou deitado ao meu lado, olhando pro teto.

— Sabe, eu poderia tirar fora antes...

 Não. — interrompi. Ele já tinha sugerido essa antes, tipo assim, umas mil vezes. – Muito arriscado.

Apolo suspirou e eu me sentei, ajeitando o cabelo. – Me leva de volta. Preciso terminar essa missão.

 

 


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Notas finais do capítulo

Esse capítulo foi pra vocês entenderem um pouquinhos dos problemas entre o Apolo e a Tracy. Espero que tenham gostado (não me matem!), beijos!