Uma Semideusa Inadequada escrita por Geek Apaixonada


Capítulo 16
Lembranças




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Seis meses atrás

 

Às vezes Apolo era um pé no saco. Apesar de ter sua enorme suíte no palácio real em cima das nuvens (ou Impire State), e de ser dono das várias mansões, hotéis e boates espalhadas pelo país, preferia passar a noite de sexta-feira tocando flauta no meu quarto do dormitório.

Ele simplesmente estava sentado de pernas cruzadas no meu banquinho em frente à escrivaninha, tocando e parando de vez em quando para anotar algo no meu caderno.

— TRACY! – falou de repente, me dando um susto. – Vou tocar algumas notas e você me diz qual fica melhor, tá bom?

— Tá...

E como sempre, ele ignorou completamente o mau humor na minha voz e começou a tocar a maldita flauta. Levantei-me da cama vaguei pelo quarto até a janela com vista para o campus do internato.

— E aí? O que você achou?

— Legal.

— Francamente, você acabou de ouvir o deus da poesia, da música, da...

— Apolo.

— O que?

Apoiei as costas na janela e olhei para ele.

— Eu tive um dia péssimo hoje, a professora de matemática me deu outro zero, peguei detenção, estou atolada de dever de casa e minha cabeça está doendo.  Tudo o que eu menos quero agora é ouvir você tocando flauta.

Apolo levantou do banco e andou até mim. Pensei que fosse me beijar, mas ao invés disso colocou três dedos na minha fonte, com seus olhos azuis fixados nos meus, cinzentos. E a dor de cabeça passou.

— Obrigada...

— Também sou o deus da medicina. – sorriu de canto – Você fez uma sábia escolha.

— Esqueceu a parte de ser o deus dos solteiros, das pragas, das...

— Não estrague. – colocou o um dedo sobre meus lábios. – Quer sair daqui?

Sorrio.

— Quero.

Presente

 

Eu queria não me importar com os olhares acusatórios de Juliet, ou a expressão confusa de Trent. Estou acostumada a não me importar com julgamentos alheios e seus olhares, mas o fato de alguém saber sobre Apolo e eu, alguém com quem convivo... Isso fazia eu me sentir exposta.

— Está acontecendo alguma coisa com vocês duas? – Trent perguntou. – Estão estranhas.

— Não. – respondi. – Estranho é o meu normal.

— Por que não paramos pra abastecer? – a filha de Afrodite estreitou os olhos até mim. – Estou coma sensação de estar menstruada de novo.

Cooper fez uma careta de nojo.

— Por que você simplesmente não sabe o dia certo?

Ela virou-se para trás, para ele.

— Algumas mulheres tem o ciclo desorganizado.

— OK, chega desse papo. Eu não quero saber. Estaciona logo, Tracy.

Obedeci, já que estávamos perto de um posto de gasolina. Juliet me lançou um olhar de “siga-me”, e eu pensei “vou precisar de mais Tic Tacs para sobreviver até o fim dessa missão”.

Enquanto Trent abastecia, fui até o supermercado vazio do outro lado da rua, me encaminhando diretamente ao caixa. Os Tic Tacs ficavam lá.

Comecei a tirá-los um por um do suporte e a colocá-los na esteira. O cara que estava no caixa ficou me olhando de olhos arregalados. Devia ter uns vinte e poucos anos, cabelo castanho claro, olhos verdes... Bonitinho. Parecia um surfista.

— São cinquenta dólares.

Abri a boca, indignada. Eu podia passar o cartão que papai me dera, mas odiava comprar as coisas por ele, já que isso o ajudava a me encontrar.

— TRACY! – gritou Juliet, na sessão de cereais.

— Só um minuto – falei. – Eu já volto.

Me virei, indo até ela. – O que foi?

Ela adentrou ainda mais sessão e me encarou, de braços cruzados. – Então?

— Então o que?

Ela descruzou os braços e enfiou a mão na minha blusa, puxando o colar para fora. Fiquei surpresa, não pelo o que ela tinha feito, mas por que o colar estava brilhando. Havia uma espécie de auréola em torno do pingente, iluminando o preto da minha camiseta.

— Explique isso!

Suspirei cansada. Não estava a fim de ouvir mais alguém me dizendo que eu iria morrer por namorar o deus mais canalha do Olimpo e blá-blá-blá...  Esse tipo de coisa.

— Olha, você sabe muito bem quem me deu isso, Ok? Mas já que insiste tanto, eu digo: Apolo, o deus grego, também conhecido como meu namorado.

Esperei que Juliet me desse aquele olhar de pena já previsível, mas ela sorriu animada.

— Mas eu quero que você me conte! Que me conte como o conheceu e como se apaixonaram!

Franzi a testa. Essa filha de Afrodite deve ser maluca...

— Você está falando sério? Não vai me dizer que vou acabar morrendo por causa dele?

— Ah, eu acho isso tão romântico! É um amor proibido!

Ri, incrédula. – Se você fizer um favor pra mim, eu te conto tudo.

— Que favor?

 

❅❅❅

 

Estávamos caminhando para o carro, eu com uma sacola cheia de Tic Tacs e Juliet com um ar sonhador no rosto. – E ele conseguiu ficar um ano sem sexo por você?!

— Bem, ele é um deus grego. Não acho que deva incomodar tanto.

— Claro que incomoda! Ainda mais se você o provoca!

— Mais alguma pergunta?

— Oh sim, me conte sobre o primeiro eu te amo de vocês dois!

Sorri, me lembrando.

— Raio de Sol? – chamou Apolo – Anda logo e sai desse banheiro!

— Calma! – reclamei. – Pra quem tem toda a eternidade pela frente, você é muito apressado!

— Bem, você não tem toda a eternidade, então eu tenho que aproveitar...

— Apolo, não começa. Não vamos entrar nesse assunto de novo.

— Por quê?!

Saí do banheiro, usando um vestido preto com mangas de renda, formal e simples.

— Por que a minha resposta ainda é não. – respondi.

— Isso não faz sentido.  Quem em sã consciente recusaria uma proposta dessas? Eu deveria ir até o Mundo Inferior procurar Jacinto! Ele não recusaria!

Aquilo foi como um soco na minha cara.

— Ah é? - me irritei - Vá atrás dele então!

Apolo suspirou. Eu realmente odiava seus suspiros. Cruzei os braços, irritada. Ele levantou da cama e caminhou até mim, mas eu virei de costas e ele me abraçou por trás. Aproximou a boca do meu ouvido e recitou:

Tracy é gostosa

Seu cabelo é lilás

Eu gosto tanto dela

Que até brilho mais

Não contive um sorriso. As poesias de Apolo eram mesmo horríveis, mas sempre me faziam sorrir.

— Por que você não diz sim logo e acaba com meu sofrimento? – sussurrou atormentado.

Me virei para ele, pondo minhas mãos em suas bochechas e mergulhando no azul de seus olhos. A expressão triste em seu rosto era tão linda e fofa que fazia com que eu me sentisse mal.

 – Não.

Ele suspirou, e eu senti vontade de enfiar uma meia suja em sua boca.

— Eu amo você. Quero te ter pra toda a eternidade.

Engoli em seco.

— Apolo... – murmurei nervosa. – Tem certeza do que você está dizendo? Amar é uma coisa bem profunda. E diferente de gostar ou estar apaixonado.

— Eu tenho certeza. – ele assentiu. – Amo você.

Arfei, mas logo balancei a cabeça, incrédula.

— Por que você me ama?

 — Por que ninguém nunca me fez ficar assim. Você consegue me deixar louco, Tracy. Eu não consigo te fazer mal, e quando tento me afastar, acabo sempre voltando pra você. – roçou seu nariz no meu. – A eternidade perderia a graça sem você me xingando e sorrindo maliciosa pra mim.

Meu coração estava acelerado e o quarto estava congelando, mas Apolo o fazia se aquecer. Fiquei na ponta dos pés e encostei meus lábios nos dele. Bastou isso e todo o gelo se derreteu.

— TRACY!

Olhei para onde ela estava olhando e vi o carro explodir.

 


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