Uma Semideusa Inadequada escrita por Geek Apaixonada
Seis meses atrás
Às vezes Apolo era um pé no saco. Apesar de ter sua enorme suíte no palácio real em cima das nuvens (ou Impire State), e de ser dono das várias mansões, hotéis e boates espalhadas pelo país, preferia passar a noite de sexta-feira tocando flauta no meu quarto do dormitório.
Ele simplesmente estava sentado de pernas cruzadas no meu banquinho em frente à escrivaninha, tocando e parando de vez em quando para anotar algo no meu caderno.
— TRACY! – falou de repente, me dando um susto. – Vou tocar algumas notas e você me diz qual fica melhor, tá bom?
— Tá...
E como sempre, ele ignorou completamente o mau humor na minha voz e começou a tocar a maldita flauta. Levantei-me da cama vaguei pelo quarto até a janela com vista para o campus do internato.
— E aí? O que você achou?
— Legal.
— Francamente, você acabou de ouvir o deus da poesia, da música, da...
— Apolo.
— O que?
Apoiei as costas na janela e olhei para ele.
— Eu tive um dia péssimo hoje, a professora de matemática me deu outro zero, peguei detenção, estou atolada de dever de casa e minha cabeça está doendo. Tudo o que eu menos quero agora é ouvir você tocando flauta.
Apolo levantou do banco e andou até mim. Pensei que fosse me beijar, mas ao invés disso colocou três dedos na minha fonte, com seus olhos azuis fixados nos meus, cinzentos. E a dor de cabeça passou.
— Obrigada...
— Também sou o deus da medicina. – sorriu de canto – Você fez uma sábia escolha.
— Esqueceu a parte de ser o deus dos solteiros, das pragas, das...
— Não estrague. – colocou o um dedo sobre meus lábios. – Quer sair daqui?
Sorrio.
— Quero.
Presente
Eu queria não me importar com os olhares acusatórios de Juliet, ou a expressão confusa de Trent. Estou acostumada a não me importar com julgamentos alheios e seus olhares, mas o fato de alguém saber sobre Apolo e eu, alguém com quem convivo... Isso fazia eu me sentir exposta.
— Está acontecendo alguma coisa com vocês duas? – Trent perguntou. – Estão estranhas.
— Não. – respondi. – Estranho é o meu normal.
— Por que não paramos pra abastecer? – a filha de Afrodite estreitou os olhos até mim. – Estou coma sensação de estar menstruada de novo.
Cooper fez uma careta de nojo.
— Por que você simplesmente não sabe o dia certo?
Ela virou-se para trás, para ele.
— Algumas mulheres tem o ciclo desorganizado.
— OK, chega desse papo. Eu não quero saber. Estaciona logo, Tracy.
Obedeci, já que estávamos perto de um posto de gasolina. Juliet me lançou um olhar de “siga-me”, e eu pensei “vou precisar de mais Tic Tacs para sobreviver até o fim dessa missão”.
Enquanto Trent abastecia, fui até o supermercado vazio do outro lado da rua, me encaminhando diretamente ao caixa. Os Tic Tacs ficavam lá.
Comecei a tirá-los um por um do suporte e a colocá-los na esteira. O cara que estava no caixa ficou me olhando de olhos arregalados. Devia ter uns vinte e poucos anos, cabelo castanho claro, olhos verdes... Bonitinho. Parecia um surfista.
— São cinquenta dólares.
Abri a boca, indignada. Eu podia passar o cartão que papai me dera, mas odiava comprar as coisas por ele, já que isso o ajudava a me encontrar.
— TRACY! – gritou Juliet, na sessão de cereais.
— Só um minuto – falei. – Eu já volto.
Me virei, indo até ela. – O que foi?
Ela adentrou ainda mais sessão e me encarou, de braços cruzados. – Então?
— Então o que?
Ela descruzou os braços e enfiou a mão na minha blusa, puxando o colar para fora. Fiquei surpresa, não pelo o que ela tinha feito, mas por que o colar estava brilhando. Havia uma espécie de auréola em torno do pingente, iluminando o preto da minha camiseta.
— Explique isso!
Suspirei cansada. Não estava a fim de ouvir mais alguém me dizendo que eu iria morrer por namorar o deus mais canalha do Olimpo e blá-blá-blá... Esse tipo de coisa.
— Olha, você sabe muito bem quem me deu isso, Ok? Mas já que insiste tanto, eu digo: Apolo, o deus grego, também conhecido como meu namorado.
Esperei que Juliet me desse aquele olhar de pena já previsível, mas ela sorriu animada.
— Mas eu quero que você me conte! Que me conte como o conheceu e como se apaixonaram!
Franzi a testa. Essa filha de Afrodite deve ser maluca...
— Você está falando sério? Não vai me dizer que vou acabar morrendo por causa dele?
— Ah, eu acho isso tão romântico! É um amor proibido!
Ri, incrédula. – Se você fizer um favor pra mim, eu te conto tudo.
— Que favor?
❅❅❅
Estávamos caminhando para o carro, eu com uma sacola cheia de Tic Tacs e Juliet com um ar sonhador no rosto. – E ele conseguiu ficar um ano sem sexo por você?!
— Bem, ele é um deus grego. Não acho que deva incomodar tanto.
— Claro que incomoda! Ainda mais se você o provoca!
— Mais alguma pergunta?
— Oh sim, me conte sobre o primeiro eu te amo de vocês dois!
Sorri, me lembrando.
— Raio de Sol? – chamou Apolo – Anda logo e sai desse banheiro!
— Calma! – reclamei. – Pra quem tem toda a eternidade pela frente, você é muito apressado!
— Bem, você não tem toda a eternidade, então eu tenho que aproveitar...
— Apolo, não começa. Não vamos entrar nesse assunto de novo.
— Por quê?!
Saí do banheiro, usando um vestido preto com mangas de renda, formal e simples.
— Por que a minha resposta ainda é não. – respondi.
— Isso não faz sentido. Quem em sã consciente recusaria uma proposta dessas? Eu deveria ir até o Mundo Inferior procurar Jacinto! Ele não recusaria!
Aquilo foi como um soco na minha cara.
— Ah é? - me irritei - Vá atrás dele então!
Apolo suspirou. Eu realmente odiava seus suspiros. Cruzei os braços, irritada. Ele levantou da cama e caminhou até mim, mas eu virei de costas e ele me abraçou por trás. Aproximou a boca do meu ouvido e recitou:
Tracy é gostosa
Seu cabelo é lilás
Eu gosto tanto dela
Que até brilho mais
Não contive um sorriso. As poesias de Apolo eram mesmo horríveis, mas sempre me faziam sorrir.
— Por que você não diz sim logo e acaba com meu sofrimento? – sussurrou atormentado.
Me virei para ele, pondo minhas mãos em suas bochechas e mergulhando no azul de seus olhos. A expressão triste em seu rosto era tão linda e fofa que fazia com que eu me sentisse mal.
– Não.
Ele suspirou, e eu senti vontade de enfiar uma meia suja em sua boca.
— Eu amo você. Quero te ter pra toda a eternidade.
Engoli em seco.
— Apolo... – murmurei nervosa. – Tem certeza do que você está dizendo? Amar é uma coisa bem profunda. E diferente de gostar ou estar apaixonado.
— Eu tenho certeza. – ele assentiu. – Amo você.
Arfei, mas logo balancei a cabeça, incrédula.
— Por que você me ama?
— Por que ninguém nunca me fez ficar assim. Você consegue me deixar louco, Tracy. Eu não consigo te fazer mal, e quando tento me afastar, acabo sempre voltando pra você. – roçou seu nariz no meu. – A eternidade perderia a graça sem você me xingando e sorrindo maliciosa pra mim.
Meu coração estava acelerado e o quarto estava congelando, mas Apolo o fazia se aquecer. Fiquei na ponta dos pés e encostei meus lábios nos dele. Bastou isso e todo o gelo se derreteu.
— TRACY!
Olhei para onde ela estava olhando e vi o carro explodir.
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