Aventuras de Jack e Branca escrita por Emmy Tott


Capítulo 15
Na cola do Olho de Osíris




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Parte II – O Olho de Osíris

Capítulo 15 – Na cola do Olho de Osíris

 

De banho tomado, Eddie estava mais apresentável, mas ainda não era nada comparado ao amigo. O pirata Kip Beicker estava infinitamente melhor que Eddie, suas feições saudáveis e bem tratadas. O cabelo negro e liso estava amarrado atrás da nuca em um rabo de cavalo e o sorriso exibia dentes brancos, muito diferentes dos amarelados de Eddie devido aos seus vícios.

Agora eles se achavam frente a frente em uma pequena mesa do casebre de Kip. O pirata a usava muito raramente, entre os intervalos de suas aventuras, mas ele gostava de ter um local seguro para ir depois que elas terminavam.

—Agora que já se recompôs me diga: O que o trouxe de volta? – Kip perguntou, curioso.

Eddie sorriu maliciosamente antes de responder:

—Nós já temos como ir atrás Daquele tesouro! – ele disse, enfatizando o “Daquele”.

Kip olhou-o ceticamente.

—O tesouro do Falcão Maltês você quer dizer?

—Exatamente! É só resolvermos umas coisinhas por aqui e logo podemos partir. – Tagarelou Eddie – Você ainda tem o Ravenge, não é? – emendou ele, repentinamente preocupado.

—É claro que eu tenho o meu navio, mas isso é impossível! Engles esteve atrás do tesouro durante anos e não encontrou nada, nem uma pista sequer. Eu estive no navio do Comodoro, Eddie, e não achei nem sombra do Olho de Osíris lá...

—E se eu te disser que sei onde ele está? E se eu te disser que ele está aqui mesmo, em Porto Bello, esperando para ser apanhado? – Especulou Eddie.

—Quê? O Olho de Osíris aqui? – duvidou Kip. – Eddie, mesmo se pudéssemos pegá-lo, você não está se esquecendo de uma coisinha? A mesma coisa que fez com que Engles fracassasse?

Eddie gargalhou em resposta.

—Eu não estou esquecendo de nada! Eu disse que Olho de Osíris está aqui, e ele não veio pra cá sozinho. – ele fez uma pausa dramática – Sabe com quem eu estive navegando de Tortuga até aqui? – disse, fazendo mistério.

—Com quem? – perguntou Kip, curioso.

—Branca Werneck! – Eddie pronunciou o nome pausadamente, fazendo um gesto amplo com as mãos, como quem abre um caminho em uma noite terrivelmente escura.

—Branca Werneck? – Duvidou Kip, levantando as sobrancelhas.

—A própria! Em carne e osso!

—Você quer mesmo que eu acredite que você esteve com Branca Werneck sem que ela arrancasse sua garganta? Eddie, por favor, eu estive em Corazón del Fuego, sei do que a moça é capaz!

—Bem, de fato ela tentou me arrancar a garganta. – ele admitiu, levando as mãos inconscientemente ao pescoço. – mas essa é uma longa história – ele apressou em dizer – Branca está com Jack Sparrow, ela roubou o Olho de Osíris do Comodoro antes de matá-lo, mas não sabe o que ele é. Ela acha que é só uma correntinha que o pai a deixou, e a guarda como se ela fosse a única lembrança do velho.

—Então ela não sabe que...? – Kip começou, agora com esperança na voz.

—Não, ela não sabe de absolutamente nada – sorriu Eddie.

—Estou começando a gostar disso. – Kip sorriu também, esfregando as mãos. – O mapa ainda está com você?

O sorriso de Eddie murchou.

—Não, está com Branca também. – ele admitiu.

—Como é que você a deixa ficar com os dois? – repreendeu-o Kip. – Isso vai ser um problema a mais...

—No fim das contas, dará no mesmo. Precisamos fazer com que Branca venha até nós, e ela trará consigo o que é necessário.

—Você tem certeza disso?

—É claro! Tudo o que temos que fazer é afastá-la de Sparrow. – Conspirou Eddie.

—E como faremos isso? – quis saber Kip.

Eddie fez um gesto com as mãos para que Kip se aproximasse.

—Eu tenho um plano... – ele sussurrou.

Kip se inclinou para o pirata, interessado, escutando atentamente.

 

***

 

—Já chega! Eu não consigo me concentrar com você resmungando atrás de mim! – Enraiveceu-se Branca, após tentar, inutilmente, decifrar o mapa de Eddie.

—Esse mapa é uma farsa, é claro. Nós nunca conseguiremos chegar a Malta antes de Barbossa nas condições em que o Pérola está! – Jack continuou, ignorando Branca.

A moça impacientou-se e levantou da mesa da taverna, enrolando o mapa novamente e o guardando. Quando o fez, sua estranha correntinha brilhou em seu pescoço, ficando momentaneamente visível.

—Aonde você vai? – Perguntou Jack, cauteloso.

—Achar um lugar que tenha menos barulho! – Ela acusou, saindo do bar.

Jack ainda ficou ali, se concentrando em pensar em algo que pudesse lhe dar alguma vantagem com Barbossa. Ele se recusava a pensar na idéia de Barbossa sair mais uma vez vitorioso, enquanto Jack afundava cada vez mais. Mas para isso, ele sabia que tinha que arranjar um jeito de consertar o Pérola antes de partir de Porto Bello.

O que Jack não percebeu era que alguém o observava atentamente do outro lado da taverna. Vendo o desespero nos olhos do capitão, o sujeito se aproximou, ocupando o lugar que era de Branca. Jack se empertigou na cadeira, lançando um olhar questionador para ele.

—Olá, meu nome é Kip Beicker. – Ele se apresentou, com um sorriso amigável e uma mão estendida para Jack.

—Capitão Jack Sparrow. – Jack disse, aceitando a mão estendida antes de hesitar por um momento. – Então...? – acrescentou ele com curiosidade.

—Ah, sim! Por acaso eu estava naquela mesa – ele apontou – e não pude deixar de notar a belíssima corrente que aquela moça estava usando.

Jack estreitou os olhos. Não era possível que uma pessoa pudesse achar belíssima uma jóia tão estranha.

—Ela está com você, certo? – Continuou Kip.

—Sim – respondeu Jack, ainda cauteloso. – Qual o seu interesse na corrente?

—Acontece que eu sou um colecionador inveterado de artefatos raros e a sua corrente despertou a minha cobiça... Me diga – ele se inclinou para Jack, abaixando a voz para que ninguém mais pudesse ouvir – Quanto quer pelo objeto?

—O que? – Jack disse, confuso – Você quer comprar a correntinha?

—Isso mesmo! É só me dizer o preço que eu pago. Qualquer valor! – Insistiu Kip.

—Mas... a correntinha não está a venda... eu sinto muito, mas acho que não será possível... – Gaguejou Jack, balançado pela oferta do desconhecido.

Ele sabia que se vendesse a correntinha, Branca jamais o perdoaria, afinal, como ela dizia, “a correntinha é a única lembrança que eu tenho de meu pai”, e para Branca nada era mais importante do que o pai. Por outro lado, porém, aquela poderia ser a chance que ele esperava para reformar o Pérola e passar Barbossa para trás. Talvez, com um tesouro valioso em mãos, ele pudesse convencer Branca...

—Pense bem, Jack! Eu estou realmente muito interessado no artefato e poderia lhe oferecer um valor muito a cima do que você conseguiria em qualquer outro lugar. – Kip não iria desistir tão facilmente.

—Olha – Jack riu, mas a sua expressão dizia que não era verdade – eu realmente não posso... ela não é minha...

Mas ele parou porque, Kip, mudando de estratégia, depositou uma enorme saca de moedas de ouro à frente de Jack. Ele olhou boquiaberto, sacudindo a cabeça para colocar os pensamentos em ordem.

—Muito bem, quando você vai querer pegá-la? – falou Jack, batendo nervosamente na mesa. Ele não poderia recusar tantas moedas como aquelas...

Kip sorriu, satisfeito.

—Eu volto à noite! – garantiu ele, reguardando o saco em suas vestes enquanto de retirava do local.

 

***

 

—Eu não vou voltar para aquele lugar horroroso, Jack! – Indignou-se Branca, ao ouvi-lo dizer que precisava voltar na taverna.

—Eu tenho alguns contatos lá que poderão nos ajudar com o Pérola, é só uma questão de preço. – Ele se apressou em explicar.

—Preço? – ela ironizou – e com o que você pretende pagá-los?

—Com o tesouro, é claro!

—Mas nós nem sabemos se ele existe mesmo!

Jack revirou os olhos.

—Você vai me ajudar ou não? Todos os outros vão, mas se você quiser ficar aqui... sozinha... – ele disse.

Branca olhou a sua volta rapidamente. Ficar sozinha no Pérola não seria muito confortável com todos os buracos e infiltrações. E além de tudo, o navio ainda parecia assombrado. Ela considerou isso por um momento.

—Está bem, eu vou! – resolveu ela, já andando em direção a balaustrada.

—Eu deixaria a sua correntinha aqui se fosse você. – Insinuou Jack.

—Por quê? – Branca perguntou, se virando novamente para ele com a mão em seu pescoço, segurando o pingente.

—Porque vai haver muitas pessoas estranhas lá hoje, muitos ladrõezinhos baratos querendo se dar bem a qualquer custo. Eu não acho que você queria arriscar a única lembrança de seu pai assim. – Ele argumentou.

Branca hesitou por um momento. O navio ficaria vazio, a corrente estaria a salvo quando voltasse...

—É, você tem razão! – Ela decidiu, tirando a correntinha por cima da cabeça. – Vou guardá-la lá dentro e podemos ir.

Jack sorriu por dentro. Seu plano estava dando certo. Se tudo terminasse bem, logo ele estaria zarpando rumo a Malta, com Branca se lamentando pelo roubo de sua preciosa e inútil correntinha.

Num piscar de olhos ela já estava de volta.

—Vá na frente, eu acho que esqueci minha bússola... – ele desculpou-se.

—Bússola? Nós não vamos precisar de bússolas lá – desconfiou Branca, com as sobrancelhas franzidas.

Jack correu até a cabine de Branca e se apressou em esconder a correntinha em uma dobra interna de sua camisa. Ele não conseguia entender como uma coisa tão feia podia ser tão interessante para alguém, ainda mais a ponto de causar uma briga.

Em meio minuto ele já havia se juntado com Branca e os outros e agora eles caminhavam até a taverna. Jack fez sinal para que se sentassem a uma mesa no centro. Sentado de costas na região leste do bar, Jack reconheceu Kip. Dizendo que ia pedir algumas garrafas de rum, ele se distanciou do grupo. No segundo seguinte, uma mão já cutucava o ombro de Branca. Virando-se para ver de quem se tratava, ela levou um choque.

—Eddie? O que você está fazendo aqui? – sua voz estava surpresa e áspera ao mesmo tempo.

—Eu não disse que você ainda ia se arrepender por confiar no Jack Sparrow? – Falou Eddie prazeroso e com um sorriso de satisfação no rosto.

—Do que você está falando? – ela se levantou com raiva, já se preparando para avançar sobre ele.

—Calma, Branca, eu apenas vim te alertar. – ele esclareceu, mas deu dois passos para trás, por garantia.

—Pois então explique! – exigiu a moça.

—Está vendo aquele sujeito conversando com o seu querido Jack? – apontou ele. – Sabe o que ele está fazendo? – disse, fazendo mistério.

—O que? Diga de uma vez! – impacientou-se Branca.

—Ele está discutindo sobre venda da sua correntinha! A correntinha do seu pai que você tanto venera. O que acha disso? – Divertiu-se Eddie.

—Se isso for mesmo verdade... – disse Branca, já se afastando de Eddie.

Eddie, por sua vez, saiu de fininho com um sorriso que ia de orelha a orelha estampado em sua face. O plano estava indo muito bem. Agora só restava esperar pelo desfecho...

Assim que se aproximou dos piratas no balcão, Branca viu sua correntinha refletindo com a fraca luz das velas nas mãos de Jack, pronta para ser passada adiante.

—Eu acho que isso aqui é meu! – ela disse asperamente, arrancando o cordão de ouro das mãos de Jack.

Ele engoliu em seco.

—Branca... – gaguejou Jack, procurando alguma desculpa em sua mente.

—Me desculpe, eu não queria que o meu interesse causasse discussões. – interferiu Kip.

Os olhos de Branca ainda estavam cravados em Jack, fuzilando-o violentamente. Eles logo se levantaram, percebendo o perigo iminente.

—Então era assim que você pretendia pagar pela reforma do Pérola, não é? À custa da minha correntinha! – Branca disparou, tirando a espada da bainha e brandindo-a furiosamente para Jack.

—Espere, Branca! Vamos conversar um pouco primeiro... – Barganhou Jack, tentando ganhar tempo. Disfarçadamente, ele levou a mão direita até a cintura, só para se dar conta de que tinha deixado a sua espada na sua cabine do Pérola Negra.

—Eu não converso com traidores como você! – explodiu Branca, avançando com fúria para Jack.

Ele afastou em tempo. A espada de Branca atingiu em cheio o balcão de madeira do bar, fazendo estremecer a sua volta. Enquanto ela se recuperava do golpe fracassado, Gibbs já tinha chegado para auxiliar Jack, a espada em punho.

—Você não tem escapatória, Jack! – Ela gritou, lutando com Gibbs, que se achava entre os dois.

Logo Lucy também veio, com a vantagem de que ela não podia ser vista por Jack, que se concentrava na arma de Branca. Um bêbado ao seu lado a empurrou, fazendo-a errar o  alvo. A espada avançou ameaçadoramente e lançou longe o chapéu de um sujeito próximo. Este, por sua vez, virou-se, revoltado, atirando para cima com sua pistola.

—Quem foi o idiota que roubou o meu chapéu? – ele gritou.

A confusão já estava armada. A taverna explodiu em brigas, socos e xingamentos. Era difícil encontrar alguém em meio daquela algazarra. Jack se aproveitou disso para escapar da fúria de Branca. Assim que ela o descobriu, ele soube que ela jamais o perdoaria. Aquilo era o fim! Sem Branca ao seu lado, Jack jamais conseguiria chegar até o tesouro, e Barbossa, mas uma vez, sairia vitorioso.

Amaldiçoando a sua sorte de todas as formas possíveis que ele sabia, Jack foi se afastando da confusão e da barulheira da taberna. Ele só percebeu que alguém o seguia quando uma voz feminina o chamou:

—Jack! – Ela gritou. – Espere, Jack!

Uma linda moça acenava em sua direção, enquanto corria até ele. Jack teve que estreitar os olhos por causa da claridade, até que, finalmente, reconhecera a moça.

—Elizabeth? – Engasgou-se Jack, os olhos arregalados.

A última pessoa que ele esperava encontrar naquela ilha era ela.

—Olá, Jack! – Elizabeth cumprimentou com um sorriso. Ela ainda estava ofegante.


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