Aventuras de Jack e Branca escrita por Emmy Tott


Capítulo 12
A história de Eddie




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Parte II – O Olho de Osíris

Capítulo 12 – A história de Eddie

 

O sol já ia alto quando eles acabaram de embarcar todas as coisas necessárias para zarparem. Não era muito, já que Jack continuava falido e o que haviam conseguido, na verdade, fora graças à habilidade de Branca. Mas mesmo assim, Jack estava preocupado com o destino do Pérola. Não fazia nem idéia de como chegariam ao tal tesouro de Malta debilitados como estavam.

Branca ainda estava muito irritada com Jack por fazê-la aceitar Eddie na tripulação do Pérola. Apesar de a moça ter argumentado de todas as formas possíveis, Jack acabou por convencê-la, muito embora ela não se lembrasse exatamente como isso tinha acontecido. Achava realmente que teria sido bem mais útil terem o atirado em alto-mar. Agora, no convés do Navio, ela carregava mal humorada, um barril de pólvora, pretendendo levá-lo até o porão. Ao fazê-lo, porém, acabou tropeçando em uma corda solta e caindo ao chão. Ela logo se pôs de pé novamente, xingando baixinho, enquanto desamassava o vestido.

Eddie, que estava a poucos metros de distância, percebeu um brilho dourado se desprendendo do pescoço de Branca. Curioso, ele se aproximou do objeto, agachando para poder vê-lo melhor. Quase não acreditou no que os seus olhos viam. Era a mesma estranha correntinha que o velho pai de Branca morrera tentando esconder. Ele se lembrava muito bem dela. Não era muito grande, embora ele soubesse de que se tratava de ouro puro. Pendurado, havia um pingente em forma de um triângulo perfeitamente eqüilátero e, bem ao centro, tinha uma elipse com dois círculos menores em seu interior. Seus olhos brilharam de cobiça ao tomá-lo em suas mãos. Mas Branca, percebendo que algo faltava em seu pescoço, se virou para ele, os olhos cheios de fúria:

—Nunca mais ouse tocar na minha correntinha – e a arrancou das mãos de Eddie, recolocando-a em seu pescoço e escondendo por debaixo das vestes.

—Não sabia que você a tinha recuperado...

—Tem muitas coisas que você não sabe Eddie! Por exemplo, que eu liquidei o canalha do Engles quando estivemos em Corazón del Fuego – ela se aproximou dele, estreitando os olhos – e posso fazer a mesma coisa com você sem o menor esforço, basta que me dê um bom motivo para isso!

—Não precisa se preocupar, eu não vou mais me aproximar dela – ele disse, com um risinho forçado.

—Eu acho bom mesmo – tornou Branca, se afastando do pirata com o nariz empinado.

Assim que se viu livre dela, Eddie deu um de seus sorrisos maliciosos, enquanto dizia, entre dentes:

—Tem muitas coisas que você não sabe, Branquinha...

 

***

 

No alto da proa, Jack observava os piratas limparem o chão do convés. Muitas coisas andavam preocupando o Capitão ultimamente. Uma delas, porém, com mais intensidade. Assim que percebeu Lucy se levantando do chão, para ajeitar novamente os cabelos em um coque que teimava em se desmanchar, ele se aproximou dela:

—Parece que esse convés não para mais limpo – disse, esquadrinhando o chão com os olhos, mas sem muita convicção.

—Faço tudo o que está ao meu alcance, Capitão – desculpou-se a moça.

—Sei disso, você é um bom homem... digo, mulher... pirata...

Lucy riu da confusão de Jack, mas este lhe pareceu muito sério ao prosseguir a conversa:

—Você esteve sempre ao lado de Branca desde a morte do pai dela, não é?

—Estive sim...

—Então deve saber da ligação entre ela e o Eddie – ele falou, tentando manter um tom displicente na voz.

—Você está querendo saber se houve alguma coisa entre eles, não é?

—E houve? – perguntou Jack com um maior interesse. Finalmente, tinham chegado aonde ele queria.

—Hum... não sei se devia falar sobre isso... Branca não gosta de tocar nessas coisas do passado...

Dizendo isso, ela desviou seu olhar para o pano imundo esquecido ao chão. Queria que Jack parasse de atormentá-la com aquelas perguntas incômodas. Mas, para a sua infelicidade, ele estava curioso demais para deixar escapar uma oportunidade daquelas.

—Eu sou o seu Capitão, e você não pode esconder coisas de mim.

—Mas eu não estou escondendo nada!

—Então me diga a verdade – sorriu ele, encorajando-a.

—Não posso... Branca me mataria se descobrisse que eu contei isso a alguém...

—Mas ela não precisa descobrir... a menos que você lhe diga!

Lucy, insegura, o observou por um instante. Parecia ser impossível esconder alguma coisa de Jack.

—Está bem, eu vou lhe dizer – ela disse, num suspiro – mas que isso morra aqui!

—Tem a minha palavra!

—Acontece que... bem, Eddie era apenas um menino quando o velho Werneck o levou para morar com ele e Branca, ainda bebê. Na época, ele disse que o havia encontrado mendigando na rua e que tinha ficado com pena do garoto. Grande homem, o Senhor Werneck!... Bom, e desde então, os dois cresceram juntos, como se fossem irmãos. Na noite em que ele morreu Eddie não estava em casa, tinha ido comprar uma remessa de couro a pedido do Sr. Werneck, e, quando ele chegou, levou um choque tremendo ao descobrir a casa toda destruída e Branca totalmente perdida e desamparada. Ela gostava muito dele, e foi realmente uma sorte que ela o tivesse por perto, caso contrário, não sei se teria agüentado...

Lucy parou de falar de repente, perdida em suas reminiscências. Parecia que estava revivendo tudo de novo.

—Continue – pediu Jack.

—Como Eddie já tinha alguma experiência, ele ensinou muitas coisas a Branca, embora ela não precisasse, de fato, de um professor. A pirataria parecia já ter nascido com ela, porque, mesmo sem nunca antes ter empunhado uma espada, ela quase o acertou pra valer logo na sua primeira tentativa. Não demorou muito até que ela conseguisse conquistar alguma fama. Branca havia se tornado uma pirata muito melhor do que Eddie, e isso o incomodava de certa forma. Nós estávamos sempre juntos, os três, e logo Branca já tinha juntado dinheiro suficiente para comprar seu próprio navio, o “Pallas Atenas”. É claro que ela só fez isso porque tinha esperanças de encontrar Engles e se vingar da morte do pai. Mas com Eddie era diferente, ele era ambicioso demais para se contentar apenas com uma vingança.

—Foi então que ele...?

—Foi sim! Mas antes disso, Branca acabou se apaixonando de verdade por ele. Na época, ele ainda era um pirata charmoso e interessante, além de inteligente, é claro, porque ele sabia que se estivesse ao lado de Branca, conseguiria tudo o que sempre almejou: ouro, poder e fama. O problema do Eddie é que ele sempre estava envolvido em jogos de azar. Ele era viciado nas cartas, por isso Branca nunca desconfiou de suas reais intenções. Ele quase nos levou à falência com esse vício. Passava noites inteiras a fio, jogando, e perdia rios de dinheiro, o que deixava Branca muito irritada. As brigas entre os dois foram se tornando cada vez mais constantes. Eddie sabia que, mais cedo ou mais tarde, Branca acabaria se enchendo dele, e eles acabariam rompendo. Precisava agir rápido, entende?

—Entendo...

—Foi então que ele planejou roubar o Pallas, passando Branca para trás. Ele pretendia se tornar Capitão do Navio para acabar de vez com aquela história maluca de vingança. O que ele queria mesmo era encontrar um tesouro realmente valioso, para gasta-lo da forma que quisesse. Uma noite, em que estávamos ancorados em Tortuga por causa de uma tempestade, Eddie resolveu colocar o seu plano em ação. Esperou até que Branca dormisse, para, depois, convencer os tripulantes a abandonar ela na ilha e o aceitarem como seu Capitão. Não foi muito difícil. Branca era mulher, e muitos piratas tinham receio de navegar ao lado de uma. Apesar de muito habilidosa e inteligente, eles achavam muito indigno e vergonhoso ter uma mulher por Capitã.

—O velho preconceito!

—Pois é... o fato é que, quando ela acordou no dia seguinte, entrou em estado de choque. Não conseguia acreditar como o homem a quem ela havia entregado o seu coração fora capaz de uma traição tão vil quanto aquela. Então, desse dia em diante, Branca prometeu a si mesma que nunca mais confiaria em ninguém, por mais gentil e amigável que esse alguém pudesse parecer, e que, dali em diante, se concentraria ao máximo em encontrar Engles e se vingar do pai.

—Então, é por isso que ela é tão dura com as pessoas?

—Às vezes, é difícil apagar as marcas deixadas pelo passado. Ainda mais quando elas são tão intensas e desoladoras...

Jack escutara toda a história sem desviar a atenção um único momento. Ao final, porém, ainda restava uma dúvida que martelava em sua cabeça.

—Você acha que ela ainda gosta dele?

—Do Eddie? – exclamou Lucy, abrindo um sorriso pela primeira vez – Não, não! Se tem uma coisa que Branca não suporta é a falsidade. O amor que Branca sentia se transformou em ódio. E ela o odeia tanto quanto odiava Engles, disso você pode ter certeza!

Jack pareceu mais aliviado ao ouvir isso de Lucy. Porém, isso não facilitava nem um pouco as coisas. Branca sempre fora muito irredutível, e agora ele sabia o por que. Se quisesse mesmo conquistá-la, Jack iria precisar de muito mais do que seu charme para isso.


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