Aventuras de Jack e Branca escrita por Emmy Tott


Capítulo 11
Uma noite em Tortuga




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Parte II – O Olho de Osíris

Capítulo 11 – Uma noite em Tortuga

 

Fazia uma noite gelada e tempestuosa. O Noiva Fiel já estava totalmente abarrotado de piratas beberrões, todos falando muito alto, cantando e brigando, como já era de costume em Tortuga. A noite prometia ser longa e o rum estava apenas começando. O barman, acostumado com aquela baderna, já se preparava para enfrentar muitas confusões, o que quase sempre lhe custava mesas e cadeiras quebradas, entre outras coisas. Mas ele não se importava, já que os vícios dos eternos bucaneiros sempre lhe rendiam um lucro exorbitante.

Alheio àquela confusão toda, um homem bebia seu rum extremamente calado. Olhando apenas para o seu copo, de cabeça baixa, parecia raciocinar sobre algo, compenetrado em seus pensamentos. Porém, ele foi despertado pela chegada de um outro sujeito, que gargalhava escandalosamente a quem quisesse ouvir e tentava se equilibrar com as mãos apoiadas na mesa.

—Olha só quem está aqui – disse o tal sujeito, em tom debochado – voltando às origens, Eddie? – ele riu com mais vontade ainda.

—Cala essa boca, Teddy! – ameaçou-o Eddie, o encarando com ódio.

—Ora, mas o que aconteceu com o “vou ficar tão rico que comprarei essa ilha toda só para mim”? O tubarão comeu o seu barco, foi? Ou será que sentiu saudades dos companheiros aqui, hein?

Eddie o encarou com ferocidade. Parecia prestes a explodir.

—Saia da minha frente! Não tenho que dar satisfações da minha vida para ninguém, muito menos a um bêbado imundo como você!

—E você vai fazer o que? Me bater? – debochou Teddy mais uma vez – estou morrendo de medo – ironizou.

Eddie deu mais um gole no seu rum, e levantou-se de um salto, com os punhos fechados, indo acertar um soco bem no centro do olho esquerdo de Teddy. Ele caiu de costas no chão, com um grande estrondo. Eddie aproximou-se dele, agachando, para que só ele pudesse ouvir:

—Sabe qual é a diferença entre nós dois? Você sempre será um miserável, vivendo de pequenas trapaças, enquanto que, eu, logo sairei dessa maldita ilha e me tornarei o pirata mais famoso dos sete mares!

—Sei! Isso se as cartas permitirem, não é?

Eddie levantou-se e o encarou com desprezo, dizendo, antes de se afastar:

—Idiota!

Teddy apenas riu novamente e se sentou, pegando a garrafa de rum mais próxima de seu alcance. Provavelmente, já estava bêbado demais para retrucar.

Totalmente irritado com a aparição de Teddy, Eddie foi se sentar junto ao balcão, onde pediu mais uma garrafa de rum para tentar esquecer-se de mais uma de suas aventuras fracassadas. Tudo o que ele queria naquele momento era um meio para sair de Tortuga o mais rápido possível e se afastar para sempre daqueles ratos imundos.

Nesse momento, do lado oposto ao balcão, a porta do bar era aberta por um antigo conhecido de muitos piratas dali. Molhado por causa da chuva, ele se aproximou do barman com o seu fiel companheiro, enquanto sacudia o corpo, tentando se secar.

—Nós estamos procurando por quartos para passar a noite – disse, se dirigindo ao balconista.

—Não temos vaga! A casa já está cheia – ele lhe respondeu, de mau humor.

—Mas... eu posso pagar bem – argumentou.

—Você está surdo ou o que? Eu disse que não temos mais vagas, cai fora!

—Amigo, você está falando com o Capitão Jack Sparrow, sabia?

O sujeito desatou a rir.

—Mesmo se fosse o Governador de Port Royal! Todos os meus quartos estão alugados graças a essa chuva repentina. Parece que ninguém está a fim de passar a noite lá fora hoje. Portanto, se você não pretende consumir nada, é melhor ir dando o fora antes eu seja obrigado a fazer isso à força!

—Bem, se você coloca as coisas dessa forma... me traga uma garrafa de rum então!

—Duas – disse Gibbs, se pronunciando pela primeira vez.

—Uma! – salientou Jack, olhando de cara feia para Gibbs.

O sujeito foi buscar a bebida, enquanto Gibbs dizia, indignado:

—Que ótimo! Uma noite como essas e você não me deixa sequer beber um pouco para esquentar os músculos!

—Devo lhe lembrar de que não dispomos de dinheiro nem para comer, quanto mais para ficar enchendo a cara, Sr. Gibbs!

—Ora, e como é que você pretendia pagar bem pelos quartos?

—E quem disse que eu pretendia pagar?

Gibbs revirou os olhos. No mesmo instante, Eddie virava-se para eles, com um visível interesse.

—Capitão Jack Sparrow, é?

—Em carne, osso e estilo! – disse, em uma dramática reverência.

—Ouvi dizer que o Pérola esteve recentemente em Corazón del Fuego, atrás da Água da Vida...

—Uma aventura e tanto! Só é uma lástima que a lenda seja falsa!

—Não encontraram nada, então? – quis saber Eddie, desconfiado.

—Nem um único resquício de prata! Eu mesmo revirei aquela ilha, sozinho, de cima a baixo, enfrentando em vão todos os perigos possíveis! Pode acreditar, amigo! Se tivesse mesmo algum tesouro escondido, eu já estaria à milhas de distância agora.

—Sei... bem, em todo caso, creio que, depois desse fiasco, você esteja em busca de um novo tesouro... – disse Eddie, em tom misterioso.

—E você, por acaso, saberia de algum? – quis saber Jack, interessando-se cada vez mais pela conversa.

—Por acaso, eu possuo um mapa muito confiável que indica a localização exata do tesouro de Malta – Eddie falou, baixinho, para que ninguém mais pudesse ouvir.

—Do... tesouro de Malta?

—Isso mesmo! O tesouro guardado pelo Falcão Maltês, você nunca ouviu essa história?

—Vagamente... mas prossiga!

—Acontece que eu consegui o mapa em uma das minhas últimas aventuras. Mas infelizmente ocorreu um pequeno imprevisto e eu tive que ficar sem o meu barco... não pude ir atrás do tesouro, entende?

—Interessante... então, está procurando um meio de chegar até ele, não é?

—Eu poderia ir com vocês no Pérola... claro, isso se for da vontade do Capitão!

—Como é o seu nome?

—Edward Winslow, mas pode me chamar apenas de Eddie!

—Bem... Eddie... se você aceitar trabalhar de graça, pode ir, porque não tenho como pagar pelos seus serviços...

—ah, isso não será um problema! Se você me tirar dessa ilha, já vai ser um ótimo pagamento... e poderemos dividir os lucros do tesouro...

—Ótimo, então... temos um acordo? – disse Jack, lhe estendo a mão.

—É... acordo – respondeu Eddie sorrindo, apertando a mão que Jack lhe oferecia.

Terminada a conversa, o barman finalmente trouxe a garrafa de Jack. Porém, antes que ele pudesse tomar um gole, uma voz feminina se fez ouvir às suas costas:

—Jack! Consegui os quartos na outra estalagem aqui perto!

Branca estava tão afoita que nem percebeu que Eddie tentava se esconder atrás de Jack.

—Você conseguiu? Como? – quis saber Jack, arregalando os olhos para ela.

—Ora, e você não conhece os homens? É só uma mulher dar um sorrisinho bobo e mostrar um pouco o decote que eles fazem tudo o que a gente quer! – riu Branca, se divertindo, enquanto Jack a olhava com uma cara estranha.

—Talvez fosse melhor voltarmos para o Pérola...

—Fale por você! Eu não durmo mais com aquelas goteiras na minha cabeça! O estaleiro deixou a gente passar a noite lá de graça, e depois... – ela parou de falar de súbito, assim que se deu conta do que Jack tinha nas mãos – Eu não acredito que você gastou o nosso último níquel com essa porcaria! – enfureceu-se Branca.

—Eu precisava me esquentar de alguma forma, não é?

Branca balançou a cabeça, reprovando o comportamento de Jack. Mas, ao faze-lo, ela percebeu que alguém tentava sair de cena sem ser notado. Achando o comportamento muito suspeito, ela surpreendeu-o indo se postar a sua frente. Ela levou um choque ao se dar conta de quem se tratava o tal sujeito.

—VOCÊ? – ela esbravejou, com ódio, enquanto Eddie engolia em seco.

—Branca... que surpresa! – ele disse, tentando parecer calmo. Branca estreitou os olhos. Sentia a raiva lhe subir cada vez mais.

—Uma surpresa muito desagradável – gritou, puxando sua espada com uma velocidade incrível.

—Cal... calma, Branca – gaguejou Eddie, tentando manter uma distância segura de Branca.

—É claro que eu vou me acalmar! Depois que tiver te liquidado – ameaçou Branca, avançando com ferocidade contra Eddie.

Ele, por sua vez, desatou a correr entre os piratas bêbados, tentando se desvencilhar dos ataques proferidos por Branca. Jack e Gibbs assistiam a tudo, confusos. Não entendiam o que estava acontecendo. Eddie puxou uma mesa, tentando se proteger, enquanto suplicava para a moça:

—Não me mate! Por favor, Branca, não me mate! Em nome dos velhos tempos!

—Em nome dos velhos tempos? Em nome dos velhos tempos eu vou arrancar a sua garganta com as minhas próprias mãos, seu canalha! – bradou Branca, avançando ainda com mais fúria.

Em pânico total, Eddie voltou para junto de Jack, lhe implorando:

—Por favor! Não deixe que ela me mate! Eu não posso morrer agora!

—Vocês se conhecem? – quis saber Branca, perplexa.

Jack negou, ao mesmo tempo em que Eddie afirmava veementemente que sim. Jack o olhou, confuso. Depois, disse por fim:

—Na verdade, eu acabei de contratá-lo para tripular o Pérola!

—O quê? Você contratou esse rato?

—Pois é... contratei – disse Jack, enquanto puxava Branca para longe dali. Queria conversar a sós com ela para esclarecer aquela história.

—Jack, você não pode contratar o Eddie! Ele é um traidor de marca maior!

—Acontece que ele tem um mapa que vai nos levar até o tesouro de Malta! E, se você não se lembra, nós ainda estamos falidos!

—Nós estamos falidos graças a sua incompetência! Você podia ter vendido a taça da Água da Vida por muito mais do que aquilo!

—É mesmo? E quem mais você acha que iria se interessar por uma taça derretida como aquela?

—Você quer mesmo que eu responda?

—Não... bem, afinal, de onde é que você conhece ele? – quis saber Jack.

—Isso já faz um bom tempo... bem, ele roubou o meu navio...

—Ele roubou o seu navio? Não sabia que tinha um navio...

—É claro que você não sabia! Esse assunto me embrulha o estômago! Tirando Lucy, Eddie era um dos meus braços direitos. Mas aí, certa vez, quando estávamos atracados em um porto para reabastecer o navio, ele me apunhalou pelas costas! Quando eu dei por mim, estava sozinha, sem navio, sem os meus homens, sem nada... ele os convenceu a partirem sem mim...

Jack olhou para ela por um momento. De repente, ele se deu conta de que, apesar de terem participado de uma aventura juntos, ele pouco sabia a respeito do passado de Branca. A moça não gostava de falar sobre suas experiências passadas. Talvez fosse exatamente esse mistério todo que tanto o atraía. Sentiu vontade, então, de lhe perguntar mais coisas, de conhecer cada detalhe de sua vida, mas tudo o que fez foi dizer:

—Mas ele tem um mapa...

—Não, ele diz que tem um mapa! Mas você não o viu, viu?

—Bem... na verdade... não... mas ele pode estar dizendo a verdade!

—Pois eu só acredito vendo! Pra mim, ele continua sendo um mentiroso traidor e nada do que você disser vai me convencer do contrário!

—É fácil tirar isso a limpo!

Jack e Branca se aproximaram novamente de Eddie.

—Quero ver o mapa que você diz que tem – ordenou Branca.

—Está duvidando de mim? – perguntou Eddie, fazendo-se de indignado.

—Estou! – vociferou Branca.

—Pois então, caia para trás – dramatizou Eddie, tirando um pequeno pedaço de papel enrolado, sujo e amassado de dentro da camisa.

Branca o arrancou de suas mãos com violência e se pôs a investigar o tal papel. Por cima de seu ombro, Jack também tentava vislumbrar alguma coisa. 

—Mas não dá para entender nada! É só um monte de riscos sem sentido nenhum – disse Branca.

—É que esse não é um mapa comum...

—Você está mentindo! Isso não pode ser um mapa!

—Eu não estou mentindo! Você precisa decifrá-lo!

—Vamos ver se isso serve mesmo para alguma coisa – falou Branca, guardando o mapa em suas vestes e se preparando para sair. Eddie suspirou.

—Vocês não vão conseguir encontrar o tesouro sem mim!

—E porque não?

—Porque eu sou o único que sabe, de fato, como decifrar o mapa!

—Acho que vamos ter que levá-lo conosco se quisermos mesmo encontrar esse tesouro – ponderou Jack.

—Quê? Levar Eddie conosco? Isso é loucura, Jack! Tudo o que esse verme traidor pode fazer é acabar de nos afundar de vez!

—Nós não temos outra saída – argumentou Jack, olhando fundo nos seus olhos.

—Não! Eu não vou navegar ao lado dele, Jack! Não tem nada no mundo que faria com que eu aceitasse Eddie de novo na mesma tripulação que a minha!


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