Através do espelho escrita por Sweet Girl
Notas iniciais do capítulo
Olá amores! Quero primeiramente agradecer aos comentários lindíssimos, eu amei todos eles, obrigada mesmo. Para falar a verdade, eu estava com medo de postar essa história e ela não ser bem recebida por ter um tema polêmico, mas com o apoio de vocês eu não vou parar de escrevê-la. Não ia postar hoje, porém resolvi aproveitar a inspiração, e os comentários de vocês me incentivou. Obrigada, muito obrigada, eu amo vocês! Enfim, espero que gostem, boa leitura!
— Valentina, acorde. — a mãe chamou impaciente, parada na porta do quarto.
— Mais cinco minutinhos... — a menina murmurou sem abrir os olhos, se encolhendo na cama.
— Não vou te chamar de novo, vai perder a aula. — e então voltou para a cozinha, deixando a garota sozinha. A mesma levantou-se se arrastando não só por conta do sono e bufou, indo para o banheiro se arrumar para mais um dia infernal no colégio. Terminou em pouco tempo, não entendia porque sua mãe a chamava mais cedo se ela se arrumava rápido. Desceu a escada devagar, agarrada no corrimão, estava meio tonta e sentia que despencaria a qualquer momento. Chegou na sala e encontrou sua mochila lá, do mesmo jeito que havia deixado jogada no dia anterior, sua mãe não estava nem aí. Quando já estava na porta foi parada por uma voz:
— Aonde pensa que vai? — era a mãe de novo, a senhora Laura havia aparecido de sabe-se lá onde.
— Pra escola?! — respondeu meio irônica, deixando a mulher atrás de si nervosa.
— Eu não estou brincando Valentina.
— Nem eu, é pra onde vou ué.
— Você sabe que a pergunta foi retórica. Não vai sair sem tomar café da manhã. — disse, cruzando os braços.
— Já tomei. — falou com firmeza na voz.
— Quando que eu não vi? — Laura insistiu, desconfiada.
— Agora mesmo, por que eu mentiria sobre isso? — respondeu, desviando o olhar.
— Não sei Valentina, mas eu me preocupo.
— Não é o que parece. — a menina sussurrou. — Não tem motivo pra isso, eu já comi e estou indo, porque como você disse, vou me atrasar. — abriu a porta.
— É mentira, mãe! — uma voz acusadora ecoou na sala.
— O quê? — as duas perguntaram, a mãe confusa e Vale angustiada.
— É mentira. — repetiu Heloísa. — Ela não comeu.
— Comi sim! — exclamou Valentina, visivelmente nervosa.
— Eu acredito nela, Helô. — Laura ressaltou, tentando passar segurança para a filha.
— Mas não é verdade mãe, ela não comeu, eu estava na cozinha o tempo todo e ela não pisou lá. — Heloísa precisava convencer a mãe, estava preocupada com sua irmã.
— Vamos comer Valentina. — Laura se convenceu.
— Não mãe, eu já comi! — exclamou, quase gritando.
— Essa atitude só prova que não comeu, venha logo. — a mãe ordenou e Vale arquejou, lançando um olhar ameaçador para a irmã. Odiava o café da manhã, odiava qualquer coisa que envolvesse comida porque sabia que se descontrolaria. Porém o café da manhã era pior, ela não gostava de forma alguma, talvez pela quantidade de massa que era consumida naquela hora do dia em sua casa.
Entraram na cozinha e a garota permanecia de cara amarrada, estava com vontade de matar a irmã mais velha. Por que Heloísa sempre sabotava suas dietas? Só por que ela sempre fora naturalmente magra? Isso não era motivo para não deixar a irmã emagrecer também. Na verdade Heloísa estava tentando engordar, porém por mais que comesse isso não acontecia, Valentina achava que a menina estava ficando louca, por que alguém iria querer ser gorda?
Vale comeu apenas meio pão e tomou uma xícara de café o mais rápido que pôde enquanto tentava prestar atenção na conversa das duas mulheres a sua frente e não nas calorias que estava colocando para dentro. Quando terminou praticamente saltou da mesa e correu para a sala, indo para a porta em seguida.
— Está cedo, Vale! Vamos conversar. — Heloísa exclamou.
— Não está não, preciso ir.
— Não está na hora do seu ônibus passar. — a irmã insistiu.
— Hoje eu vou andando.
— Por quê?
— Não é da sua conta.
— Não fale assim com sua irmã, Valentina! — Laura a repreendeu e a mesma revirou os olhos. Sua mãe sempre protegia Heloísa, ela era a preferida, mesmo fazendo todas as burradas que sempre fazia. — Vai comer só aquilo?
— Sim, está de bom tamanho. Agora chega de perder tempo, tchau. — e então saiu correndo porta a fora, antes que fosse parada de novo. Demorou um bom período para chegar ao colégio, já que o mesmo era longe de sua casa, mas foi andando mesmo assim, isso ajudaria a perder um pouco do que tinha ganhado com o pão.
Chegou à escola suada, ainda estava longe do horário do primeiro sinal bater, porém já havia algumas garotas no pátio, as meninas gargalharam e soltaram piadinhas quando Vale passou por elas, a mesma só abaixou a cabeça e seguiu para o banheiro.
Entrou na primeira cabine vazia que encontrou e trancou a porta, largou a mochila no chão e desabou. Sentada no chão ainda limpo, Valentina chorava como se tivesse perdido alguém, mas isso não havia acontecido, ela apenas se sentia culpada por ter comido, se sentia exageradamente pesada e cheia, precisava se livrar daquilo.
— Ana, por que você me deixou? — a menina perguntou, sussurrando. — Nós estávamos indo tão bem, nossa amizade era tão boa. — deixou mais lágrimas caírem e continuou, como se estivesse mesmo falando com uma pessoa. — Agora vou ter que seguir mais a Mia. — completou e começou a revirar sua mochila a procura de algo: sua preciosa escova de dente.
”Mia, minha garota, mia.” — a voz em sua cabeça incentivou o que a garota já ia fazer, mas precisava de um impulso. “Mia, se não vai continuar gorda, a Ana não se importa.” — a voz continuava a assombrando e ela sabia que só se a obedecesse pararia, então foi o que fez.
Valentina colocou a escova de dente na boca e sem muito esforço colocou para fora o pouco que havia comido. Sentiu-se tonta e foi obrigada a parar, não estava saindo quase nada mais mesmo. Olhou para o vaso sanitário e viu sangue, aquilo acontecia ás vezes, quando forçava demais.
— Por que você faz isso comigo? — voltou a sussurrar. — Por que você me abandona Ana? A Mia dói mais, mas ela é melhor... Eu te odeio Ana! — praticamente gritou e usou sua pouca força para sair do banheiro e ir para a sala de aula. Mal sabia que independente de quem fosse mais sua “amiga”, de quem a ajudasse mais ou quem a abandonasse primeiro, as duas a levaria para o mesmo buraco, o fim do poço.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Caso alguém não saiba:
Ana - "Apelido" de anorexia, que as pessoas doentes usam quando as tratam como "amigas.
Mia - "Apelido" da bulimia, assim como o da anorexia, as pessoas doentes usam.
Miar - O termo que os doentes usam para denominar o ato de forçar o vômito, derivado de "Mia".
Apenas para ressaltar: anorexia e bulimia são doenças, não amigas e estou só retratando a realidade, não incentivando alguém a adquirir isso.
Perdoem qualquer erro, ás vezes passa despercebido, qualquer coisa podem me avisar.
Até o próximo, amores!