Através do espelho escrita por Sweet Girl


Capítulo 17
Abandonar suas amigas?


Notas iniciais do capítulo

Ei, meus amores! Meu Deus, que saudade de vocês!
Me desculpem mesmo por toda essa demora, não queria ter deixado a história parada por tanto tempo, mas avisei no meu grupo. Eu estava - e ainda estou - com alguns problemas, além de ter entrado num bloqueio criativo que parecia eterno.
Nem sei se esse capítulo está bom, mas fiquei tão ansiosa para postá-lo, que não consegui esperar.
Espero que gostem e vou tentar não sumir de novo.



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Valentina acordou algum tempo depois, ouvindo barulhos. Ela estava confusa, tentando entender o que estava fazendo naquele chão frio. 

Se levantou com dificuldade, procurando algum apoio e encarou o reflexo no espelho. Suspirou, buscando a garota feliz que era até alguns anos atrás, mas ela não estava ali. Forçou um sorriso, balançando a cabeça em seguida. Vale queria resgatar aquela menina, trazê-la de volta para esse mundo, mas ela havia se perdido na escuridão dentro de si mesma. 

A garota apertou os olhos. Não queria chorar, não ia chorar. Ela era fraca, mas não podia demonstrar isso para si mesma, jamais aceitaria que estava naquele estado. Por que foi se render à Ana e a Mia? Estava tão bem sem elas... Agora não pode deixá-las. Por que deixaria? Ainda estava gorda, mas se esforçou tanto, aquilo tudo não podia ser em vão. 

Enquanto pensava se devia pedir ajuda para se livrar delas, Ana e Mia tentavam convencê-la do contrário. Dentro da sua mente, as vozes gritavam. Ela queria engordar mais? Queria voltar a ter todos aqueles quilos que já havia perdido? Não, Valentina não queria. Mas também não queria continuar sendo uma prisioneira dentro dela mesma. Precisava fazer uma escolha, e responder a sua própria pergunta: deixar suas amigas ou continuar com elas até atingir sua meta, até conseguir o corpo perfeito? Só existia uma resposta certa e Vale sabia muito bem qual era. 

Ela precisava continuar com as suas amigas, até porque só tinha elas. Ainda por cima, necessitava delas. Haviam passado tantos anos juntas, que Valentina não saberia o que fazer sem as vozes lhe dizendo. Como ela sobreviveria? Aliás, como tinha sobrevivido antes de encontrá-las? Ela realmente não tinha essas respostas, sem aquelas duas a guiando, estaria completamente perdida. Ana e Mia estavam certa, elas não podiam se separar, se não, nada valeria a pena, elas estavam progredindo tanto, Vale voltaria a ser aquela baleia, e nenhuma delas queria isso. 

Valentina abaixou a cabeça e saiu do banheiro com as pernas trêmulas. Não fazia o menor sentido ficar encarando aquela garota, porque aquele reflexo não era o seu, muito menos da menina que havia se perdido. Vale não era mais uma criança medrosa, ela tinha coragem agora e lutaria contra tudo o que fosse preciso para alcançar o corpo perfeito. Aquela do espelho podia até ser ela, mas não quem queria ser, não como é por dentro. Ela tem a alma de uma garota jovem, feliz e magra e o reflexo não é assim. A menina conseguiria ser por fora como é por dentro, mesmo que precisasse estar a beira da morte para isso. 

Sentou-se na cama ao ouvir seu celular apitar. Bateram na porta de seu quarto, a abrindo em seguida, revelando seu pai. O homem se aproximou, segurando a mão da menina e a levantando. 

— Pensei que tivesse acontecido algo com você, Vale. — a abraçou apertado. 

— Por quê? O que a Helena te disse? — se encolheu contra o peito de seu pai, preocupada. 

— Que não havia te visto a tarde inteira, que você deve estar com algum garoto. — soltou a menina, a encarando. Valentina balançou a cabeça, xingando Helena mentalmente. 

— Eu só não tinha motivos para ficar lá embaixo, não significa que estou com alguém, só que não quero ficar com ela. 

— Ela queria a sua companhia, vai ser bom se vocês forem amigas. — caminhou até a porta.

— Eu não gosto dela, já tenho as minhas amigas. — cruzou os braços.

— Sua irmã também tem e mesmo assim não a trata mal. 

— Eu não sou a Heloísa. — emburrou. 

— Eu sei bem disso — saiu do quarto — estamos te esperando para o jantar. 

— Não precisa esperar, eu não vou jantar hoje. — elevou a voz, imaginando que o pai já estava longe. 

Vale fechou a porta e voltou a sentar na cama. Pegou seu celular na mesinha de cabeceira e o olhou para ver de quem era a mensagem que havia recebido há alguns minutos. A palavra 'mãe' piscava na tela. 

Respirou fundo e desbloqueou a tela. Abriu a mensagem, esperançosa e começou a ler. 

"Ainda não acredito que me abandonou" — a mensagem dizia. 

"Eu não te abandonei, mãe, foi você quem me mandou embora" — digitou, se sentindo triste por lembrar daquele dia.

"Não me chame de mãe, garota. Não me lembro de ter dito isso" — Vale quase podia ouvir a voz de sua mãe, já havia escutado aquela ordem tantas vezes que nem se abalava mais.

"Não se lembra porque estava bêbada, como deve estar agora" — respondeu com raiva. 

"Olha como fala comigo, eu sou sua mãe" — a menina revirou os olhos. Realmente estava bêbada, super contraditória.

"Mas acabou de me mandar não te chamar assim, então não tenho motivo para te respeitar" — assumir aquilo doía, apesar de ela não saber o porquê. 

"Eu não quero saber, fui que que te criei, mesmo não querendo" 

"Criou bem mal, por sinal" — ela estava decidida a falar tudo o que segurava há tanto tempo.

"Não cuspa no prato em que comeu" — seu corpo se arrepiou só de imaginar a voz da mãe.

"O que você quer comigo?" — Valentina estava começando a ficar estressada, mais que antes. 

"Só te lembrar que você é uma péssima filha. Você nunca será como a Heloísa, Valentina, nunca chegará aos pés dela" 

"Eu não quero ser como a Heloísa, mãe. Ela é uma péssima filha, não eu" — odiava ser comparada com a irmã. Ela sabia que eram muito diferentes, isso era bem claro, ninguém precisava a lembrar. 

"Helô está em casa, você não. Quem é ruim agora?" — Valentina suspirou, tentando segurar as lágrimas, mas já era tarde demais. 

"Desculpe, mãe. O que você quer que eu faça?" — perguntou, sabendo que se arrependeria.  

"Vem pra casa, filha. Estou sentindo sua falta. Vem cuidar da sua mãe" 

Um soluço alto escapou de sua garganta. Vale levantou, indo até o banheiro e voltou a se olhar no espelho. Os olhos já estavam vermelhos e logo inchariam. Lavou o rosto, mordendo o lábio e pensando em sua decisão. Devia mesmo fazer aquilo? 

Controlou seu choro e saiu do quarto devagar, caminhando até o de seu pai. Bateu na porta com as mãos trêmulas e lágrimas nos olhos. Escutou um resmungo de Helena e a voz de seu pai a autorizou a entrar. 

Abriu a porta calmamente e parou na frente dela, os encarando. Respirou fundo, sentindo vontade de chorar novamente, mas se segurou e disse firme: 

— Eu quero voltar para casa. 


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Notas finais do capítulo

Anorexia, bulimia e automutilação são doenças e precisam ser tratadas.
Só lembrando que eu não apoio nada disso, só estou reproduzindo o que a personagem doente pensa, mas isso não é certo.
Espero que tenham gostado, amores, e que não tenham me abandonado.
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Até o próximo!