Através do espelho escrita por Sweet Girl


Capítulo 16
Sussurros


Notas iniciais do capítulo

Hey amores! Que saudade!
Primeiro eu quero pedir desculpas. Pela demora e por alguns comentários sem resposta. Eu estava num bloqueio criativo e com uns problemas, agora estou sem computador e está difícil para responder os comentários, pior ainda para escrever. Perdoem-me, prometo que irei respondendo-os a medida que der.
Boa leitura!



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Valentina entrou na casa de seu pai — e consequentemente na sua — desesperada, quase que correndo. Jogou sua mochila no sofá, perto de Helena que se assustou e foi direto para a cozinha.

— Eita, garota! O que está acontecendo? — a mulher indagou, se levantando.

— Não é da sua conta. Será que tem massa para bolo nessa casa? — perguntou mais para si mesma do que para a moça na sala.

— Eu que vou saber?! — Helena respondeu rude, mesmo que a menina não estivesse realmente falando com ela.

Valentina abriu o armário e encontrou um pacote de bolachas recheadas (75 kcal — unidade), o abriu e continuou revirando os móveis da cozinha enquanto comia o conteúdo do pacote.

Os biscoitos acabaram rápido demais e ela conseguiu encontrar uma massa para bolo (371 kcal — 100 gramas), sabor chocolate. Pegou uma vasilha em um dos armários que já havia aberto e despejou o pó do saco dentro, abrindo a geladeira em seguida e pegando o leite e os ovos. Bateu a massa na mão mesmo e depois de colocar o fermento e passar para uma forma, colocou com pressa no forno.

Olhou as horas. Trinta minutos até que estivesse assado, precisava de outra coisa para comer enquanto esperava. A menina sentiu uma vontade imensa de comer uma barra de chocolate, mas não podia sair com seu bolo no forno, e provavelmente Helena o deixaria queimar, duvidava até mesmo que a mulher pisasse na cozinha.

Pegou mais alguns pacotes de bolacha no armário de antes e se jogou em uma cadeira próxima ao forno, comendo um, dois, três pacotes de biscoito, isso se não foram mais e ela perdeu a conta.

O celular apitou. Meia hora havia se passado, Valentina colocou seu telefone para despertar na hora certa, já estava cega de vontade, precisava comer aquele bolo logo.

Deixou um pacote com algumas bolachas na mesa e se levantou, pegou um garfo e enfiou no bolo: assado.

A menina pegou um pano, já que não viu luvas por perto e retirou a forma do forno, que estava com um cheiro maravilhoso. Não tinha tempo para fazer a cobertura, muito menos o recheio, então apenas colocou a forma na mesa e pegou uma faca e um prato, cortando um pedaço do bolo enquanto sua boca salivava.

O primeiro pedaço a fez queimar a língua e a ideia de esperar que esfriasse a deixava nervosa. Portanto, Valentina encheu um copo com água e sentou-se novamente, assoprando o que ia pôr na boca e tomando água de vez em quando para ajudá-la a engolir mais rápido.

Não demorou muito tempo até que o bolo acabasse, durou pouco e agora a garota estava mais satisfeita, porém se sentia capaz de comer mais uma forma daquela sozinha.

Deixou tudo lá, jogado e subiu para seu quarto com o pacote de bolachas. Sentou na beira da cama e comeu os biscoitos, agora menos afobada que antes. Deitou-se na cama e fechou os olhos, só então se deu conta do que estava acontecendo, do que havia feito. Era como se a palavra piscasse em sua mente, como se algo sussurrasse o que ela mais temia: compulsão.

As lágrimas começaram a descer sem que a menina notasse e ela não tentava controlar. Por mais que chorar não fosse mudar o que havia feito, o que mais ela poderia fazer agora?

Miar. A palavra também acendeu em sua cabeça e ela se levantou mais que depressa. A voz que sussurrava "compulsão" agora gritava palavras diversas, como "Mie!", "Gorda", e várias outras que só ajudavam a aumentar seu choro.

Ela foi para o foi para o banheiro, tinha sorte de estar sozinha com Helena e de ter um para si mesma em seu novo quarto. Pegou a primeira escova de dentes que encontrou na pia, já que não conseguia forçar o vômito com os dedos e se abaixou em frente ao vaso. Nada. Ela sabia porque não estava saindo nada de sua boca.

Escancarou a porta de seu quarto e desceu as escadas correndo, indo novamente para a cozinha. Ouviu Helena murmurar alguma coisa, mas ignorou e tomou o máximo de água que conseguiu, voltando para seu quarto em seguida e entrando no banheiro outra vez.

Valentina praticamente se jogou em frente a privada e abaixou a cabeça, enfiando a escova garganta abaixo até sentir o gosto ácido arrepiar seu corpo inteiro.

Segundos depois, sua cabeça estava quase no meio do vômito e os jatos saíam quase sem dar tempo para ela respirar um pouco.

Quando tudo deu uma pequena trégua, a menina levantou a cabeça e suspirou. Amarrou seus cabelos o mais alto possível, apesar de suspeitar que já estavam sujos e voltou a olhar para o vaso, havia muita coisa ali, mas sentia que precisava de mais.

Outra vez a escova entrou em sua boca, fazendo um gosto quase pior que o outro subir por sua garganta e mais jatos de vômito caíram no vaso. Sua garganta ardia, o nariz escorria junto com as lágrimas e dava para notar um pouco de sangue no meio de tudo aquilo, o que já não assustava a garota.

Muito tempo depois, o vômito cessou. Valentina não aguentava mais a dor em sua garganta, era como se alguém estivesse a rasgando, a abrindo com as próprias mãos e já não saía quase nada, não valeria a pena ficar se esforçando e sangrando se não havia mais comida para ser eliminada.

Vale precisou de muito esforço para conseguir se erguer, segurou com força na pia e ficou a usando de apoio até que se sentisse firme. Abriu a torneira e encheu a mão com água, molhando o rosto e fazendo um bochecho para tirar o gosto ruim da boca, aquilo não trazia muito efeito, porém era tudo que podia fazer no momento.

Olhou-se no espelho. Em meio aos borrões que enxergava, conseguia identificar uma garota, uma garota cada vez pior. Gorda, quase com a aparência de uma baleia, uma baleia pálida, com o rosto quase transparente.

A visão de Valentina embaçou ainda mais e ela imaginou que era por conta das lágrimas. Só notou que algo não estava certo quando a pia em que ainda estava agarrada começou a girar, porém era tarde demais. Suas pernas falharam e no instante seguinte, a menina estava de volta ao chão, desacordada, quem a visse poderia jurar que estava morta.


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Notas finais do capítulo

Anorexia, bulimia e automutilação são doenças e precisam ser tratadas.
Vamos mudar a data de postagem de novo. Me desculpe por isso também. Ao invés de postar uma vez por mês, postarei quando conseguir escrever, já que estou tendo bloqueios muito frequentes.
Qualquer erro, me avise e consertarei.
Até o próximo!



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