Através do espelho escrita por Sweet Girl


Capítulo 15
Prazo de validade


Notas iniciais do capítulo

Amoores! Aproveitando o feriado, resolvi postar mais cedo, espero que não se incomodem.
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/668453/chapter/15

Valentina acordou assustada, havia tido um sonho terrível: no início ela era magra, esquelética e bonita, podia comer o quanto desejasse e seu corpo não mudava, continuava esbelta da mesma forma. Já no fim estava gorda, enorme, não conseguia parar de comer por um segundo sequer e só engordava cada vez mais.

A menina começou a chorar desesperadamente, era aquilo que aconteceria se ela abandonasse suas “amigas”, por isso não podia deixa-las, mesmo se quisesse. Escutou as vozes em sua cabeça, elas ainda estavam ali, podia ficar aliviada, ou não.

“Está vendo por que precisa de nós?! Se se afastar vai continuar essa gorda, vai ficar ainda pior, é por isso que tem que continuar nos servindo, se não vira uma baleia, você é inútil, não consegue nada sozinha.”

Mais lágrimas escorreram pelo rosto da garota, ela sabia que a voz estava certa. Olhou as horas e resolveu ir tomar banho, mais cedo ou mais tarde teria que ir para a escola mesmo.

Era sempre o mesmo sacrifício, alguns dias mais difíceis que outros, como aquele estava sendo. Provavelmente uma das coisas que Valentina mais odiava fazer era tomar banho, não pelo ato em si, mas sim por ter que aguentar ver seu corpo, aquele corpo horrível que havia adquirido com o tempo e do qual não conseguia se livrar de forma alguma.

Ela chorou um pouco mais enquanto se ofendia mentalmente na frente do espelho por ser daquela forma e entrou no box, olhando suas gorduras e pensando nos dias que ficaria sem comer para perde-las; era duro, porém necessário.

A garota terminou seu banho e foi se arrumar, por um momento cogitou a ideia de passar uma maquiagem para disfarçar que havia chorado, contudo desistiu, ninguém tinha nada a ver com sua vida e não se importava com o que os outros pensariam.

Valentina saiu logo de casa e seguiu para o colégio, não queria ver seu pai, não queria falar com ele e muito menos ser obrigada a comer.

Chegou ao colégio ainda vazio por estar muito cedo e foi para o banheiro, ao menos não teria que ver aquelas pessoas que não gostavam dela fora da sala de aula.

Demorou bastante tempo até que o sinal tocasse, porém Valentina não se importou. Assim que ele tocou, a menina saiu da cabine onde estava trancada e caminhou lentamente no meio da multidão até sua sala. Não havia muita gente lá dentro, ela sentou num canto mais afastado das outras carteiras e ficou com a cabeça baixa até ouvir a voz do primeiro professor.

(...)

O sinal para o intervalo tocou e Valentina abaixou a cabeça novamente, passaria seu intervalo ali dentro, não tinha motivo para sair. Ela ainda estava brava com Ethan e mesmo com o garoto a observando o tempo inteiro não falaria com ele.

Poucos minutos depois, a menina escutou uma cadeira ser arrastada e em seguida sentiu um carinho em seu cabelo.

— Vale? — o garoto a chamou, ela sabia quem era, mas se recusava a respondê-lo. — Vale? — ele repetiu.

— O que foi? — ela indagou estressada, quase imóvel.

— Está tudo bem? — ele perguntou aflito, a observando.

— Sim. — ela continuou respondendo seca.

— Então por que não está falando direito comigo? — questionou aborrecido.

— Não quero conversar, Ethan.

— Por favor, Vale. O que aconteceu? — o menino insistiu.

— O que aconteceu, Ethan? — ela levantou, irritada. — Aconteceu que você foi encher a cabeça do meu pai com suas ladainhas e agora ele fica me entediando com isso também. — gritou.

— Do que você está falando, Vale? — ele se fez de desentendido.

— Você sabe, o que você disse para ele, hein? — indagou, ainda nervosa.

— Eu só estou muito preocupado com você, e você não me diz nada, talvez se... — o garoto tentou se explicar, mas foi interrompido.

— Talvez nada! — gritou. — Você não tem que se meter na minha vida! — continuou com a voz elevada.

— Calma, Valentina, nós somos amigos, quero te ajudar. — acariciou o braço da menina, em uma tentativa de passar segurança a ela.

— Eu não preciso de ajuda. — ralhou, fazendo algumas lágrimas molharem suas bochechas. — Me deixa sozinha... — pediu quase num sussurro.

 — Não, Valentina, vamos conversar. — ele suplicou.

— Me deixa sozinha! — a garota exigiu, Ethan suspirou e com os olhos marejados saiu da sala.

Valentina soltou um berro quando se viu só. Não estava sozinha apenas ali, estava sozinha na vida, brigou com seu único amigo, o único que realmente se importava, aliás, Ethan se importava até demais, já estava cansando. Nem mesmo sua mãe a queria por perto, por que ele ficaria por muito tempo? Não tinha motivo para isso, ninguém a aguentava o suficiente, era como se tivesse um prazo de validade, nunca alguém ficava por um período maior que aquele, o garoto a suportou mais que o esperado.

“Ninguém te suporta porque está gorda desse jeito, você não precisa dele, ele só quer te deixar pior, não vê que ele quer te engordar? Você só precisa de nós duas, você só precisa chegar a perfeição.”

Outra vez a voz tinha razão, ela não precisava de ninguém mais além de Ana e Mia, não tinha motivo para estar sofrendo daquele jeito por Ethan. Com suas “amigas” ela conseguiria tudo o que precisava, ou a única coisa que precisava para ter todas as outras: ser magra, o que era mais importante, o que traria todas as pessoas que a abandonaram de volta.

Ao menos era isso que a garota esperava, afinal todos os seus problemas estavam relacionados à sua gordura, não é mesmo? Era por isso que ninguém gostava dela e todos se afastavam. Por qual outra razão sua mãe gostaria mais de Heloísa do que dela? As duas eram suas filhas, o que as diferenciava era o corpo, e Valentina o conquistaria de qualquer maneira. Por que Alice não gostava dela e gostava das outras garotas? Por culpa de seu corpo. Por que todas as meninas de sua idade tinham namorado e ela não? Mais uma vez a resposta se repetia: culpa de seu corpo, então era esse o problema, era isso que tinha que mudar, e mudaria, por bem ou por mal, mesmo que para isso precisasse estar sozinha e a beira da morte.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Anorexia, bulimia e automutilação são doenças e precisam ser tratadas.
Grupo no Facebook: (https://www.facebook.com/groups/122789688098517/).
Caso encontrem algum erro, avisem.
Até o próximo ♥