Através do espelho escrita por Sweet Girl


Capítulo 14
Nojenta


Notas iniciais do capítulo

Olá amores!
Estou muito atrasada, eu avisei no grupo, desculpem, está realmente difícil escrever alguma coisa, fiquei sem computador por um tempo e também tem a escola, então perdoem-me.
Obrigada a Princess The Blanco pela recomendação, eu adorei! Espero que gostem do capítulo, boa leitura!



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Laura chegou em casa e encontrou a filha mais velha jogada no sofá com a televisão ligada,   passou por ela e começou a subir as escadas.

— Oi, mãe. — a menina cumprimentou.

— Chame Valentina, nós vamos sair para comer. — ela disse, sem parar de subir.

— Valentina não está aqui. — Heloísa avisou.

— Como não? Onde essa garota está à uma hora dessas?! — perguntou irritada, se virando para encarar a filha.

— Ela está na casa de papai. — respondeu como se fosse super normal.

— O que ela foi fazer lá? — indagou incrédula.

— Não sei, ela só disse que ia para lá.

— E quando volta? — a mãe continuou interrogando e Heloísa deu de ombros. — Me responda direito! — exigiu brava.

— Como eu vou saber? — retrucou nervosa. — Ela levou malas. — contou.

— Por que você a deixou ir, Heloísa?! — questionou impaciente.

— O que eu ia fazer? Valentina disse que você a mandou ir. — contestou, dando de ombros novamente.

— Essa menina também, viu?! Argh! — exclamou estressada.

— Talvez seja melhor ficarmos sem ela mesmo. — a garota sugeriu.

— Vá se arrumar, ainda vamos sair. — Laura comunicou, voltando a subir os degraus.

Na praça, Marcos continuava encarando a filha, esperando que ela lhe contasse algo, porém a menina continuava receosa e se recusava a dizer qualquer coisa sobre seus transtornos.

— Psiquiatra? Pra quê? — Valentina perguntou, se fazendo de desentendida.

— Para descobrir qual é o seu problema, já que você não me conta. — o pai explicou com paciência, mesmo que a filha já soubesse de tudo.

— Eu não preciso de um psiquiatra, não sou louca. — ela disse furiosa.

— Psiquiatra não é só para loucos, Vale. — Marcos esclareceu, ainda paciente.

— É sim, não vou a um. — a garota insistiu.  

— Então me diz o que está acontecendo. — ele quase implorou.

— Não está acontecendo nada, que droga! — ela exclamou, se levantando.

— Ainda não terminamos a conversa, Valentina. — o homem declarou, segurando o braço da filha.

— Terminamos sim, eu quero ir para casa. — sacudiu o braço e Marcos se levantou. — Para a minha casa.

— Está bem, vamos. — ele a soltou.

— Você não entendeu, para a casa da minha mãe.  — ele a olhou e suspirou.

— Não vai voltar para lá, Valentina. — informou-a.

— Vou sim.  — a menina continuou com a ideia.

— Não vai, você vai ficar comigo. — o pai demonstrou sua autoridade.

— Mas eu não quero! — ela praticamente fez pirraça.

— Vamos logo. — disse bravo e os dois seguiram para o carro, Valentina emburrada e Marcos tentando achar uma nova maneira para fazer a filha falar.

Chegaram ao condomínio algum tempo depois e Vale saiu depressa do carro, caminhando até o prédio e seguindo para o elevador. Quando o mesmo parou no andar desejado, a menina esperou impaciente até seu pai abrir a porta e finalmente poder entrar, ignorando totalmente a presença de Helena, que parecia nem ter saído dali.

— Onde vou ficar? — ela indagou ainda estressada.

— Venha, vou te levar para o seu quarto. — Marcos respondeu, observando as malas da filha no mesmo lugar que ele havia deixado. A garota apenas assentiu e esperou o homem passar a sua frente para poder segui-lo. Andaram por um corredor não muito extenso e o pai abriu a porta, revelando um cômodo grande, sem muitos móveis e decoração.  — Se precisar de alguma coisa vou estar na sala. — ele avisou, deixando as malas no canto.

— Tá. — a garota concordou, ansiosa para ficar sozinha. Marcos suspirou e saiu, indo conversar com Helena na esperança de que ela tivesse um pingo de bom senso para ajuda-lo.  

Valentina agradeceu mentalmente quando ficou só e caminhou até uma de suas malas, a abrindo e pegando seu notebook. Sentou na cama e o ligou, entrando em seu Facebook rapidamente e procurando por Clarisse, sua amiga não estava online, o que a irritou ainda mais, ela nunca estava ali quando Vale precisava, que tipo de amiga ela era? A garota tentou relevar, aliás, como Clari poderia saber quando ela iria precisar de algo?

Ela suspirou e saiu do Facebook, pesquisou “Thinspiration” e abriu o primeiro site Pró-Ana que surgiu, aquele devia ser o maior. Passou a observar as fotos, que iam de modelos magras, que nem sabiam que serviam para aquele tipo de “incentivo”, a garotas esqueléticas que tinham orgulho de ser daquela forma, uma mais doente que a outra.

Vale observou as imagens por algum tempo com lágrimas nos olhos e foi ler informações dadas por pessoas doentes, umas ensinavam os novatos a como ficar sem se alimentar por mais tempo e outras instruíam os mesmos a como disfarçar melhor as doenças que não assumiam ter. Valentina apesar de não ser nova nesse mundo, resolveu abrir as “instruções” e ler um pouco, a fim de descobrir variados métodos para enganar seu pai.

A garota leu e releu as páginas, mas não encontrou nada novo, tudo ela já sabia e vinha tentando fazer, mas mesmo assim Marcos percebia, talvez ela não fosse tão boa atriz quanto os outros. Cansou de ver tudo aquilo, passou por uns relatos de “vitoriosos” que haviam conseguido alcançar suas metas e viu suas fotografias, sentiu seus olhos marejarem novamente, por que ela não era um deles? Por que ela não conseguia alcançar sua meta? Por que só ela era gorda daquele jeito? Aquela gorda nojenta!

A menina se levantou e foi até o armário que havia em seu quarto. Abriu as portas e encontrou um espelho grande, que mostrava seu corpo inteiro. Tirou a roupa, ficando apenas de calcinha e sutiã e observou toda aquela gordura, os braços grossos, a barriga enorme, as pernas nem se fala.

 Ao notar sua péssima aparência não conseguiu mais segurar as lágrimas, elas rolaram abundantemente por seu rosto, deixando-o encharcado e inchado em pouco tempo. Valentina pegou em sua barriga e ao sentir as banhas nauseantes seu ódio de si mesma cresceu, ela sentia repulsa de seu próprio corpo e mal podia acreditar que o reflexo no espelho era mesmo dela, não importava o que fizesse para emagrecer, aquela obesidade continuaria ali, da mesma forma que sempre esteve.

Ainda chorando Valentina voltou para perto de suas malas e procurou seu estojo, encontrando dentro dele a lâmina que havia usado poucos dias antes, ela não queria fazer aquilo, diferente da obsessão pela magreza, ela sabia que os cortes a fazia mal, porém não tinha outro jeito, era os machucados ou ficar se sentindo infeliz, e a segunda opção não era o que a menina queria, apesar de passar a maior parte do tempo assim, já que tinha como aliviar, era o que faria.

Com o objeto cortante em mãos, Vale caminhou até o banheiro que descobriu ter em seu quarto e com as bochechas molhadas trancou a porta, indo se render mais uma vez ao seu novo vício.


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Notas finais do capítulo

Anorexia, bulimia e automutilação são doenças e precisam ser tratadas.
Como avisei no grupo, os capítulos serão postados uma vez por mês, todo dia 10 — a partir do próximo mês. Caso atrase, será porque provavelmente ocorreu um imprevisto, contudo tentarei não demorar novamente.
Se houver algum erro, me avise.
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Até mais!