Os Algoritmos de Anthony Gregory escrita por MadScientist03


Capítulo 8
Fúria


Notas iniciais do capítulo

Olá! Este capítulo foi bem trabalhoso, espero que gostem! Boa leitura e aproveite!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/668370/chapter/8

O enfermeiro do colégio, que estava na arquibancada junto dos professores, se mobilizou rapidamente até Carlos quando ele caiu. Após confirmar o nocaute, ele e o professor de Ed. Física carregaram o garoto para fora da quadra deitado em uma maca. Ouvia-se menos da metade do salão comemorando a vitória de Enzo. Em parte porque a maioria queria que Carlos ganhasse, mas principalmente porque estavam chocados com o que acabaram de presenciar. Tudo aconteceu muito rápido. Enzo não demonstrara nenhuma reação quanto à luta. Retirou-se do centro da quadra e foi se sentar na arquibancada, pelo menos um metro distante de John.

            ― Carlos Henrique se encontra bem, já está recebendo acompanhamento médico! ― anunciou o professor ao microfone. ― Com isso, Enzo avança para a etapa final! ― houve pequenos aplausos. ― Agora começaremos a série de lutas que definirá o segundo finalista. Para a próxima luta temos o aluno Antônio Mendes e John Dias!

            John mal havia percebido que já havia chegado sua luta. Estava em choque com o que acabara de ver e decididamente não poderia ganhar aquilo. Não que ele acreditasse que houvesse alguma chance de vitória. Agora estava mais nervoso que antes. Com muito esforço, levantou de seu lugar da arquibancada e caminhou até o centro da quadra junto com Antônio.

            O garoto era robusto, tinha braços bem definidos, cabeça raspada e barba volumosa. Eles se viraram para o professor e fizeram uma reverência. Repetiram o procedimento para a arquibancada e um para o outro. Antônio ergueu os punhos na altura do rosto. John entrou em guarda, com um punho esticado na frente e outro próximo ao queixo. Seus movimentos de caratê eram involuntários. Parecia calmo, mas estava muito nervoso. Suas pernas estavam inquietas. Olhava fixamente para os olhos de Antônio.

            O professor deu sinal para que começassem. Após se estudarem, Antônio avançou com um soco na direção do rosto de Dias. John reagiu rapidamente bloqueando o golpe com o antebraço. Contudo, sem que John notasse, Antônio havia feito um movimento simultâneo com seu pé, dando um chute baixo nas pernas de Dias. Sua postura não estava firme e caiu no chão como se tivesse tropeçado em algo.

            ― Um ponto! ― o professor esticou o braço na direção de Antônio.

            John estava envergonhado. Levantou-se rapidamente, mas sua vontade era de desistir e continuar no chão. Posicionaram-se e o professor deu ordem para recomeçarem. Antônio avançou no mesmo instante. Não sentia que John fosse ameaçador de alguma forma, e realmente não era. Começou com um chute médio pela direita. John bloqueou com antebraço, sentindo dor. Seu corpo não estava habituado com a experiência de luta. Parecia que o treino com Eric não adiantara de nada. Um soco de direita bloqueado por Dias. Dessa vez deu um passo para trás para garantir que não caísse novamente com um chute baixo. Uma sequência de socos da parte de Antônio eram bloqueados por Dias com muito esforço, que sempre andava para trás. Um chute médio o atingiu novamente que, embora bloqueado, não aguentou a potência do golpe e foi derrubado para o lado.

            ― Dois pontos! ― esticou o braço para Antônio novamente.

            “Estou perdido”. Não acreditava que tinha como continuar. Talvez a melhor opção fosse desistir de uma vez. Seus braços doíam. Estava suando e ofegante. Levantou com muito esforço e segurou seu braço esquerdo com a mão direita. Antônio não demonstrava nenhuma alteração na sua fisionomia. Nem mesmo uma gota de suor. Era humilhante. Embora o projeto funcionasse, não podia ganhar experiência de combate através de um download de dados.

            “Você pode fazer melhor”. Dizia uma voz na sua cabeça. Suas dores de cabeça, que nunca haviam parado, começaram a incomodá-lo agora mais do que antes. “Não vai chorar agora, vai?”. Talvez estivesse começando a delirar. Passou a mão no cabelo e tirou o excesso de suor da testa com o antebraço dolorido. Seus braços estavam vermelhos.

            ― Pode continuar? ― perguntou o professor para o garoto que respondeu com um aceno de cabeça.

            Claro que não havia como continuar. Mas não podia deixar Victor, Kalina e Bernardo na mão. Contavam com ele para prosseguir até o fim, mesmo que isso signifique cair mais uma vez.

            “Vê se não perde seu idiota!”. Continuou a voz.

            Colocou-se em guarda novamente. Sua postura estava pior que da primeira vez. O professor deu ordem para continuarem. Antônio avança. Um chute médio pela esquerda. John bloqueou com seu antebraço dando um passo a frente. Seu braço direito contraído começou a esquentar. Um soco veloz acertou o troco de Antônio que foi jogado para trás caindo de costas no chão.

            Ouviram-se uivos da arquibancada que já parecia entediada com a luta.

            ― Um ponto! ― disse o professor esticando seu braço na direção de John.

            Algo como o som de um carro defeituoso irrompeu da arquibancada.

            ― Já estava na hora, Sr. Bartolomeu! ― disse Victor de braços cruzados e com um sorriso no rosto.

            ― Foi incrível, mas obviamente foi um golpe de sorte! ― disse Bernardo.

            ― Não mesmo! E agora que ele ativou o postatium as coisas ficarão muito mais interessantes!

            ― Postatium? ― exclamou Kalina. ― Aquela organela energética?

            ― Essa mesma! Viajei com ele para que pudesse treinar suas habilidades com ela. Bartolomeu certamente não venceria apenas do jeito que estava, mas não queria dizer isso a ele.

            ― Do que vocês estão falando? ― perguntou um Ben confuso.

            ― Coloquei organelas nas células de John que são capazes de liberar muito mais energia em seus socos. Por isso ele conseguiu fazer isso. Combinado com um Neurocomputador incompleto, essa luta será totalmente ao seu favor daqui por diante.

            ― Como assim? ― perguntou Kalina que estava confusa e irritada ao mesmo tempo.

            ― Veja você mesma, minha querida!

            John não se movera um centímetro depois do golpe que desferira em Antônio. O garoto barbudo levantou com a ajuda do professor de Ed. Física. Dias recolheu seu braço e retomou sua postura. Colocou-se em guarda. Antônio ergueu os punhos na altura do rosto e se assustou com o que viu. John Dias estava com uma expressão diferente no rosto. O garoto que demonstrava fraqueza e insegurança, agora tinha uma postura rígida e um sorriso ameaçador no rosto. Seu corpo inteiro estava aquecido. Seus cabelos estavam molhados de suor e seu rosto estava corado.

            O professor deu ordem para que continuassem. Dessa vez Antônio estudou Dias por alguns instantes. Avançou até John. Um soco pela direita. John desviou. Antônio dá um chute alto pela esquerda. John agachou e depois deu um passo para trás. Uma sequência de socos da parte de Antônio que eram desviados por Dias. John se movia levemente. Suas pupilas estavam dilatadas, sua respiração acelerada, seus músculos mais rígidos. Nem mesmo ele sabia explicar o que ocorrera, mas se sentia bem. Pela primeira vez desde a instalação do Neurocomputador, sua dor de cabeça havia se agravado, porém apenas ignorou.

            “Você já pode acabar com isso se quiser”

            Os movimentos de Antônio estavam cada vez mais lentos. Um soco pela direita foi bloqueado pelo antebraço de Dias. Estavam muito próximos um do outro. Dias deu um chute na vertical. Seu pé deu a volta nas costas de Antônio que bateu em sua nuca. O garoto robusto caiu nocauteado no chão.

            Uivos a aplausos vieram à arquibancada. Mesmo aqueles que não torciam para John pareciam ter mudado completamente de lado. Foi declarado vitorioso da primeira luta. John não esboçou expressão diferente da que estava durante toda a luta. Antônio foi retirado da quadra da mesma forma que Carlos. John saiu da quadra indo para o vestuário masculino. O torneio prosseguiu com a segunda luta.

            Entrando no banheiro foi direto a uma torneira lavar o rosto. Seu corpo estava extremamente aquecido. Sentia-se agitado com uma respiração acelerada. Estava com uma dor de cabeça pior que o normal, mas não parecia incomodado.

            ― Que bela performance! ― Exclamou a voz de Victor entrando no banheiro. ― Viu só, não há ninguém aqui! Vem logo, Kalina. ― Logo atrás entrou Bernardo e uma Kalina constrangida.

            ― Obrigado, professor! ― disse o garoto ofegante.

            Victor puxou de um bolso de seu jaleco uma pequena barra de cereal com chocolate e entregou para John. ― Descanse e restaure suas energias. Vai precisar daqui pra frente.

            ― Então, vai explicar o que acabou de acontecer? ― exigiu Kalina.

            ― Mas é claro! ― disse Victor com uma voz debochada. John começou a comer a barra enquanto sentava-se no chão com as costas apoiadas na parede e seus olhos na direção do professor. ― Como eu disse, o desempenho de John é fruto da combinação do postatium com o Neurocomputador que ainda não está acostumado com as funções do corpo de John ― ele ajeitou os óculos. ― Quero que saibam que antes de seus pais pensarem em ter vocês, Anthony já havia criado essa relação entre esses dois projetos. Ele observou que as primeiras semanas de um usuário do Neurocomputador eram de extrema confusão mental. Isso acontece porque o processo de adaptação do seu novo cérebro com todo o seu organismo e suas funções é muito lento. Dessa forma, podem ocorrer alguns erros de funcionamento. Dentre os muitos que não vou citar agora, um deles está ligado à temperatura do corpo. Quando o postatium libera energia em forma de movimento, parte dela é dissipada em forma de calor. Seu braço começa a queimar. Essa informação chega ao seu confuso cérebro que produz uma reação completamente errada à queimação. Ele começa a estimular a produção de adrenalina.

            ― Como é? ― exclamou John com uma voz cansada. Bernardo e Kalina ficaram boquiabertos.

            ― Exatamente o que você ouviu. Inclusive ele conseguiu criar uma relação entre os dois. A partir de uma dada temperatura, o Neurocomputador irá começar a estimular a produção do hormônio, e essa produção aumentará conforme a temperatura do corpo aumenta ― Victor pigarreou. ― Respiração e batimentos cardíacos acelerados, músculos rígidos, capacidade de perceber melhor o ambiente. Anthony chamou esse conjunto de características de Estado de Fúria. Mas isso gasta muita energia. Por essa razão coma e se hidrate bem. E tente descansar para as próximas lutas! ― finalizou sorrindo para seu aluno.

            ― Adrenalina, Victor! ― exclamou Kalina. ― Isso vai fazer mal a ele! E isso por acaso é legal?

            ― O corpo dele que está produzindo! Não tem nada de errado nisso! ― Kalina estava preocupada enquanto Victor estava rindo a toa, como uma criança que acabava de ganhar o balão da sua cor favorita. ― Agora precisamos deixá-lo descansar! Não demore muito, Sr. Bartolomeu!

            John acenou com a cabeça.

            ― Boa sorte, John! ― disse Ben sorrindo, apertando a mão do amigo que retribuiu o sorriso.

            ― Tenha cuidado, por favor! ― insistiu Kalina antes de sair.

            John permaneceu sentado por um tempo. Controlou o tempo das lutas pelo barulho da arquibancada e pela voz do professor pelo microfone. Esticou as pernas enquanto terminava de comer sua barra de cereal. Apesar da explicação de Victor tornar mais claro o que sentira há pouco tempo, ainda não sabia o que era aquela voz falando com ele. Apenas aceitou que o Neurocomputador não estava funcionando perfeitamente. Sua dor de cabeça foi abaixando, voltando a normalidade das dores constantes conforme John se acalmava.

            Estava rindo sem motivo. Sentira-se bem como não havia se sentido há semanas. Ele se lembra de ter entrado em Estado de Fúria durante a viagem toda vez que usava o postatium, mas não se sentira feliz como estava agora. O fato de ter vencido da maneira que venceu combinado com a sensação de prazer que era de estar em Fúria, fazia-o sentir muito bem.

            Passado um tempo levantou e bebeu água no bebedouro do corredor. Logo depois voltou para a quadra. Havia uma luta em andamento. Não prestou atenção em quem lutava, apenas deu a volta andando ao lado das paredes até chegar ao seu lugar. Notou que Enzo não estava mais ali. Ignorou o fato.

            Um dos competidores foi jogado ao chão e o outro foi declarado vencedor.

            Começava assim a segunda etapa com a luta de John. Luiz, seu oponente, era bem mais alto que do que Dias. Não seria capaz de repetir o chute que fizeram na última luta. Ambos seguiram para o centro da quadra. Fizeram as reverências e se colocaram em guarda. O professor ordenou que começassem. Ambos se estudavam. Nesse tempo, John ativou o postatium em seu braço, porém não o moveu. Luiz começou com um chute baixo desviado por John. Ele prosseguiu, avançando para Dias com socos e um chute médio. John sempre desviava. Estava em Fúria. A ideia do garoto era desviar até cansá-lo, mas não sabia como finalizar. Por causa da estatura de Luiz não seria possível nocautea-lo facilmente.

            Um cansado Luiz deu um soco pela direita que, em vez de desviar, John o parou com a mão. Com uma joelhada, acertou a barriga de Luiz, que ficou com o corpo contraído, porém não caiu no chão. Ele olhava para o chão. John ergueu o braço livre e acertou a nuca exposta de Luiz com uma cotovelada.

            Vitória por nocaute. A comemoração do público parecia aumentar. Era o terceiro nocaute da noite. John voltou para seu lugar. Queria ir ao banheiro e descansar, mas logo seria sua luta novamente. Duas pessoas do seu lado se levantaram e foram para o centro da quadra.

Dias não prestou atenção na luta. Olhou para um ponto fixo no chão. Sua respiração estava pesada. Achou que não iria precisar usar o postatium novamente na próxima luta, pois ainda não saíra do Estado de Fúria. Passados alguns minutos, o terceiro ponto havia sido marcado por um rapaz moreno de cabelos negros e olhos ligeiramente esticados para os lados. Uivos e aplausos viam da arquibancada. Os garotos se cumprimentaram e o que havia perdido voltou para seu lugar no banco. John achou aquela cena estranha, afinal só terminara suas lutas por nocaute e viu seus oponentes sendo levados em macas.

― Certo! ― começou o professor ao microfone, após trocar algumas palavras com o vencedor da última luta. ― Agora iríamos iniciar a penúltima luta que decidiria o segundo finalista, porém Rafael decidiu desistir da sua luta, o que classifica John Dias para a final!

Aquilo foi completamente inesperado. O público ficou dividido entre comemorações e indignações. Mas John ficou muito satisfeito, pois seria uma luta a menos. O que o intrigava era o motivo da desistência. Ficava feliz em pensar que Rafael estava com medo de lutar contra ele.

― Agora daremos uma pausa de quinze minutos para que os competidores possam se preparar para a última luta! ― concluiu o professor.

No segundo salão do ginásio ficava uma grande piscina. Ao lado havia uma arquibancada, onde estavam sentados John, Kalina e Bernardo. Dias comia uma barra de cereal que Victor o dera antes de sair e buscar um sanduíche em seu carro para dá-lo a Ben. O garoto estava reclamando de fome desde cedo.

― Estava tão ansioso com essa competição que nem mesmo lanchei! ― reclamou passando a mão na barriga.

― Eu fiquei a semana toda nervosa ― comentou Kalina.

― Não sabia que tinha deixado vocês tão preocupados! ― disse John enquanto comia.

― Na verdade não é apenas por você. É por tudo! ― dizia Ben. ― Afinal estamos tão envolvidos nisso quanto você. É fruto de meses de trabalho.

― Verdade ― falou John. ― Até me sinto um pouco culpado. Quero dizer, esse projeto é meu, mas parece que fui o que menos trabalhou nele.

― Isso está longe de ser verdade! ― contestou Kalina. ― Você esteve comigo o tempo todo construindo o computador primário. Tinha dias que você passava da hora por estar tão empenhado. Além de ter se tornado cobaia de tudo isso. Com certeza ficou com a parte mais difícil.

― E se tornou cobaia duas vezes, não é? ― brincou Bernardo.

― Victor é louco! Devia guardar suas maluquices para si! ― disse uma Kalina indignada.

― Ainda assim essa loucura foi o que me salvou. Se não fosse o postatium não teria passado da primeira luta! ― havia um tom pesado na voz de Dias ― Aliás, eu queria te perguntar uma coisa, Kalina. O que você sabe sobre Enzo? Quero dizer, na forma que ele luta.

― Bom, não é como se eu entendesse muito bem disso ― começou a menina. ― Tudo que eu sei é que ele gosta muito de lutar. Começou a treinar no primeiro ano do colégio, e desde então ganhou todas as competições interclasses.

― Então ele é realmente muito bom! ― disse John comendo o último pedaço de sua barra.

― Sim, mas aquilo que ele fez hoje foi surpreendente! ― continuou Kalina. ― Quero dizer, nunca o vi acabando com uma luta tão rápido. Talvez seu oponente não fosse grande coisa. Mesmo assim, acredito que ele tenha melhorado. Sempre o vejo treinar na garagem nos fins de semana.

― Não podemos esquecer que John dominou suas duas lutas. Inclusive copiou lindamente o chute do seu irmão! ― disse Ben colocando a mão no ombro do amigo. ― E pensar que conseguiu reproduzir apenas o vendo usar uma única vez! Impressionante!

― Mérito do Neurocomputador! ― sorriu Dias.

― De qualquer forma, a noite já valeu a pena por saber que funciona ― dizia Kalina. ― Ganhar de Enzo não é importante. Por isso não se esforce tanto.

― Aliás, Kalina! ― Ben se esticou para falar com a menina. John estava sentado no meio dos dois. ― Está torcendo pra quem?

― Eu? ― a menina ficou um pouco sem jeito com o rosto corado. ― Er... Eu também quero que Enzo ganhe... Mas ele já foi campeão outras vezes... Então vou torcer por você! ― John sorriu em agradecimento à amiga.

Um barulho de porta abrindo ecoou no salão. Victor entrava a passos largos e ligeiros, indo em direção a seus alunos com um embrulho de papel na mão.

― Toma, seu gordo! ― disse apressado, entregando o sanduíche a Bernardo.

― Professor! ― exclamou Ben indignado com a ofensa.

― Desculpa, foi sem querer! Não ouviu te chamarem, Bartolomeu? Estão todos de esperando pra luta começar! Anda, levanta daí!

Os três se mobilizaram em descer da arquibancada rapidamente, atravessando o corredor indo até a quadra. O sanduíche de Ben era, na verdade, um pão francês recheado com várias fatias de peito de peru. Comeu um pouco chateado com o que seu professor dissera.

Entrando na quadra, Enzo e o professor de Ed. Física estavam posicionados no centro. Todos os olhos se voltaram para Dias quando entrou. Ele atravessou a quadra, às pressas, e se colocou na frente de Enzo. Victor, Kalina e Ben atravessaram a quadra pela lateral e seguiram em direção a seus antigos lugares na arquibancada. John não notou nenhuma mudança no salão. Os outros competidores, que antes sentavam no primeiro banco da arquibancada, agora se encontravam espalhados em lugares distintos. Provavelmente próximos de seus familiares e amigos, foi o que Dias pensou.

John se posicionou a frente de Enzo, que estava olhando a arquibancada com os braços cruzados e expressões vazias. Perguntou-se onde ele estivera durante toda a competição. Poderia ter perguntado a Kalina, foi o que John pensou. Mas isso não importava mais.

― Obrigado por aguardarem! ― disse o professor à plateia. ― Em primeiro lugar gostaria de agradecer a presença de todos a esse evento. Alunos, pais, professores, funcionários. A todos vocês! ― uma chuva de aplausos encheu o salão. ― A cerimônia de premiação de todas as modalidades será feita na segunda-feira durante o intervalo! Agora, sem mais delongas, vamos a última luta entre Enzo Pazini e John Dias!

Eles fizeram as reverências ao professor, à plateia e um ao outro. Posicionaram-se em guarda. O professor ordenou que iniciassem. Ficaram se estudando durante muito tempo. John se lembrou da última vez que se encontrou com Enzo e como havia ficado nervoso com sua presença. Agora era diferente. Sentia-se calmo. Não o via como alguém a temer. Apenas mais alguém contra quem lutar. Contudo, sabia que ele era muito melhor que os outros, por isso não poderia dar nenhum vacilo. Diferente dos demais, Enzo tinha as mãos nuas, tais como as de Dias. Seu braço começou a esquentar.

“Anda! O que está esperando?”. A voz retornou a ecoar em sua mente.

Já estava em Estado de Fúria, o que o motivou a avançar para Enzo com um soco de direita. Era apenas um soco normal, e não aquele que dera em Antônio que o jogou para trás. Enzo bloqueou o soco desviando a trajetória dele com a mão esquerda e, em sequência, desferiu um soco no rosto de Dias com a mão direita. John foi jogado no chão.

― Alto! ― gritou o professor, parando a luta.

Dias se levantou com dificuldade, com a ajuda do professor. A queda havia doído mais que o soco em si, embora sentisse uma ardência em sua bochecha. John passou a mão na região atingida. Ficou assustado, pois sentiu uma fenda profunda e úmida em seu rosto. Não parecia ser suor.

― Sangue! ― disse olhando para a palma da mão suja pelo líquido vermelho.

Ao ver aquilo, o professor se mobilizou na direção de Enzo e foi olhar suas mãos. Uma de suas juntas estava ensanguentada, mas não havia indício de nada que pudesse ter provocado aquilo.

― Dias, vai tratar isso com o enfermeiro! ― ordenou o professor, e com isso a luta teve uma breve pausa.

Enquanto o enfermeiro fazia um curativo na bochecha de John, ali mesmo na arquibancada, Dias começara a mudar de humor. Mãos nuas não poderiam fazer aquilo. Sentiu como se uma faca tivesse transpassado seu rosto. Uma faca bem afiada. Não fazia sentido. Seu ferimento foi limpo e coberto com gaze e esparadrapo. Voltou para o centro da quadra.

― Golpe na região inválida conta como uma advertência! Duas advertências e será ponto de John! Entendido? Comessem! ― disse o professor ao microfone.

John decidiu não fazer o primeiro movimento dessa vez. Pensou que sofrera aquele golpe por conta de sua audácia. Mas agora havia ganhado uma vantagem. Dessa vez iria esperar.

Enzo tirou sua regata e a atirou no chão. Ele era pálido e magro, apesar de ter músculos definidos. “Pra que isso?”, foi o pensamento de Dias e de quase todos na arquibancada. Ouviram-se gritos femininos quando ele fez isso.

― Ele quer mesmo aparecer! ― sussurrou John para si mesmo.

Ambos se colocaram em guarda. Iria continuar com a mesma estratégia que utilizou nas outras vezes. Permanecer o tempo todo na defensiva até ver Enzo se cansar. E com isso, ficaram os dois parados por um longo tempo. “Fique firme, tolinho!”. Enzo finalmente avançou. Um chute médio, seguido de socos frontais. John não conseguia ser rápido o bastante para desviar deles. Os movimentos de Enzo eram precisos e ligeiros. Dias apenas pode bloqueá-los. Mas não era simples. Os impactos eram monstruosamente fortes. Um único soco parecia que quebraria seu braço. Continuou bloqueando movendo-se sempre para trás. Estava sob pressão. O joelho de Enzo levantou e um chute frontal acertou a barriga de John, o jogando para trás. Já estava quase na porta de saída da quadra.

― Um ponto! ― disse o professor apontando para Enzo.

Não tinha forças para levantar. Seu corpo inteiro doía. Mesmo em Fúria, John estava desmotivado a continuar. Girou seu corpo lentamente e tentou se erguer lentamente. Não via mais possibilidade de vitória. Desistir era a atitude mais inteligente a se tomar. Mas porque continuava? Nem mesmo ele sabia dizer muito bem. Colocou-se de pé e andou cambaleando até o centro da quadra novamente. Seu corpo estava fervendo. Seu rosto suado e cabelos úmidos. John olhava para Enzo. Não havia nenhuma mudança em sua fisionomia. Dias se perguntava o que ainda estava fazendo naquele lugar.

Ambos se colocaram em guarda novamente. A postura de John não estava firme. A vontade do garoto era de chorar por causa da dor. O professor deu ordem para recomeçarem. Enzo avançou até John que ficou completamente sem reação. Esticando os braços para frente, Panzini segurou a nuca de John e forçou o corpo do garoto para baixo enquanto acertava sua barriga com seu joelho. Uma joelhada. Duas joelhadas. Três. Quatro...

John começou a lacrimejar com os olhos fechados. Ele forçava Enzo para trás, mas era completamente inútil. O rapaz era mais forte e Dias não tinha forças para mais nada. Enzo o girou pra trás e continuou dando joelhadas em seu tronco. Cinco joelhadas. Seis joelhadas. Sete. Oito...

Enzo girou novamente. Dessa vez soltou John que foi arremessado no chão.

― Dois pontos! ― indicou o professor apontando para Enzo.

Não queria mais levantar. Começou a sentir gosto de ferro em sua boca ― Isso não é bom! ― pensou consigo mesmo. Não tinha forças nem para falar. Estava com hemorragia interna. Era motivo suficiente para desistir. Então por que continuava? Certamente não era sua vontade de lutar, pois ela havia desaparecido há tempo. Também não era mais por seus amigos, pois não era mais necessário. Então, por quê? Por quê? Talvez fosse sua curiosidade como cientista. Queria ter certeza! Não sabia como aquilo podia ser verdade, mas as evidências já estavam à mostra. Agora queria ter certeza. Não deixaria aquela quadra até saber a verdade.

Levantou novamente, cambaleando. Parecia que cairia sozinho. Seu corpo inteiro doía. Sua boca com gosto de sangue estava bem fechada. Evitou olhar para a arquibancada e para o professor. Estava em péssimo estado. Enzo permanecia do mesmo jeito que no início da luta. John se colocou em guarda. Enzo balançou a cabeça, fazendo sinal de negação e se colocou em guarda também.

O professor deu sinal para que recomeçassem. Enzo avançou para John. Dias ativou o postatium por todo o seu corpo, agachando-se rapidamente. Enzo ia dar um chute médio em John, mas parou na metade do caminho quando viu que o garoto havia se abaixado. Sua velocidade superava a de Enzo e, sem que este pudesse reagir à altura, John ergueu um punho enquanto se levantava. Seu soco veloz foi arrastado ao longo do tronco de Enzo, rasgando sua carne, seguindo até o maxilar e acertando seu queixo. Enzo foi jogado para trás caindo no chão.

― Um ponto! ― apontou o professor para John. A plateia ficou eufórica.

Uma das juntas de John estava suja de sangue, mas não era o dele. Sabia que não fora exatamente o mesmo que Enzo fez com ele. John cambaleou por um instante. Mal consegui ficar de pé.

Enzo estava se levantando do chão com a barriga virada para baixo. Ele esticou o braço e pegou sua regata que estava jogando no chão. Passou a peça de roupa ao longo da barriga enquanto se levantava. Quando se virou, o ferimento ao longo de seu tronco era um corte torto e mal feito que se seguia até seu pescoço, porém parecia uma sequela de uma ferida muito antiga. A regata branca estava manchada de vermelho. Enzo a jogou no chão novamente enquanto apertava seu maxilar com a mão direita.

John estava tão feliz que tinha que segurar para não rir. O máximo que conseguiu foi esboçar um grande sorriso de satisfação no rosto enquanto olhava para o ferimento curado de Enzo Panzini. Havia matado sua curiosidade e agora sabia de tudo. Sabia o porquê de que era impossível vencer aquela luta. E ele realmente perderia. Mas não queria mais desistir. Agora sabia da verdade.

― Você é o Hominontare! ― disse essas palavras claramente em sua mente olhando para os olhos de Enzo. Este arregalou os olhos naquele momento. Logo após um sorriso de satisfação, muito similar ao de John, começou a aparecer eu seu rosto.

Ambos se colocaram em guarda. O professor deu a ordem para recomeçar. Não houve tempo para estudos. Um avançou na direção do outro. John reuniu o resto das energias que ainda tinha em um último soco carregado pelo postatium. Um soco de direita vindo de Enzo foi bloqueado pelo braço esquerdo de Dias. O impacto fraturou os ossos de seu braço, mas ignorou a dor completamente. A mão livre carregada pelo postatium seguiu em direção às costelas da esquerda de Enzo. Enquanto isso, o mais alto aproveitou a abertura de Dias para dar um chute na vertical acertando sua nuca.

Os dois golpes aconteceram simultaneamente. John caiu no chão inconsciente no mesmo instante. Porém antes que pudessem anunciar a vitória de Enzo Pazini, o rapaz mais alto cuspiu sangue da sua boca. Cambaleou e caiu inconsciente no chão. Um silêncio mortal reinou no salão. Ninguém falava mais nada.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Obrigado por lê! Até semana que vem! :3



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Os Algoritmos de Anthony Gregory" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.