Foi como em um filme em câmera lenta, os barulhos dos rabiscos cessaram, e ela virou-se lentamente na cadeira ficando de frente para mim, estava com olheiras terríveis e olhos cansados, e olhava para mim de um forma meio... magoada.

-O que você esta fazendo aqui?- disse ela com a voz falha.

-Isso não é jeito de recepcionar um amigo, Annabeth-disse- a forma certa não seria " oi, como você está?" ou "há quanto tempo!" ou quem sabe talvez " desculpe por não me despedir quando você foi embora e por deixá-lo preocupado?!"

-Preocupado? Ah agora você se importa então? Não pensou nisso enquanto nos abandonava!- disse ela se levantando.

-Abandonava?!- disse incrédulo- você esta doida....

-Ah doida?!- disse ela sarcasticamente- você sabe tão bem quanto eu que os deuses raramente aparecem, Percy.

-Bem, eu sou diferente- disse- estou aqui agora não é?

-Pode ser, mas sumiu por uma semana.

-Está exigindo demais Annabeth, não posso ficar aqui o tempo todo.

-Não estou não, antes você ficava aqui o verão todo, todos os dias.

-Mas agora eu sou um deus, é loucura querer que as coisas fiquem como antes!

-Mas é isso que eu quero- disse ela desviando o olhar para o chão- lembra quando eu lhe disse, no mar dos monstros, que eu gostava que as coisas fossem permanentes? Eu queria que aquela época fosse permanente também.

-É muito difícil algo permanente, Annabeth- disse a ela pesaroso- as coisas estão sempre mudando, sempre... é preciso se adaptar a essas mudanças ou então não vai conseguir acompanhar o mundo, pois ele esta em constante mudança.

-Quem é você para querer me dar lição de moral, Cabeça de alga?

Respirei fundo e contei até 10, não ia adiantar nada me descontrolar com ela, só iria piorar as coisas.

-Mas então era por isso que você não queria falar comigo? Por que virei um deus?- disse calmamente- até onde eu sei, é uma decisão minha, é a minha vida!

Parece que atingi em cheio, por que ela ficou calada, de repente aquela boca da qual saiu tantas coisas ásperas ficou muda, e ela se sentou de novo em sua cadeira.

-Por que...- murmurou ela- pode me explicar por que você quis isso?

Bem, ao menos agora conversaríamos como pessoas civilizadas.

-Por vários motivos- disse- pra começar, o óbvio, imortalidade e poder são coisas tentadoras, e você sabe disso.

Ela concordou com a cabeça.

-O outro motivo é que eu queria aprender, aprender sobre tudo no mundo, me tornar sábio, e isso só seria possível com muitos anos de vida... ou a imortalidade- disse- e por último, por meu pai.

-Por seu pai?- perguntou ela

-Isso mesmo, lembra-se quando o raio de Zeus foi roubado, e eu fui entregar o raio no Olimpo?

-Sim.

-Naquela noite, depois de pegar o seu raio, Zeus deixou eu e meu pai sozinhos...

Ela olhava para mim sem conseguir esconder a curiosidade.

-Nós conversamos um pouco, e ele disse...- continuei- ele disse que lamentava meu nascimento.

Annabeth arregalou os olhos.

-Eu nunca esqueci daquilo, então era isso que eu era? Um erro de um deus? Apenas isso?- disse- desde então tudo o que quis foi que ele tivesse orgulho de mim, e que deixasse de lamentar por eu ter nascido.

-Foi por isso...- disse ela

-Sim, foi por isso que aceitei sem nem pensar, meu pai ficaria orgulhoso de mim e eu ainda poderia estar sempre ao lado dele, era bom demais para ser verdade...

Quando terminei o silêncio foi total, até que me pronunciei.

-Estou perdoado?

Ela olhou para mim com aqueles olhos cinzentos e disse.

-Não.

Suspirei cansado, qual era a dela? O que ela queria que eu fizesse?

-Compreendo os seus motivos para virar um deus, mas ainda não gosto nada disso.- disse ela

-Agora é minha vez de perguntar- disse- posso saber por que você tem tanta aversão por eu ser um deus?

Ela suspirou cansada,mas impacientemente.

-Homens... são uns lerdos.

-Como?- perguntei sem entender.

Ela apenas virou-se de volta para a sua mesa e disse.

-Já me atrapalhou demais, vá embora.

Educada ela, não?

-Certo.-disse vencido

-E só venha me ver quando tiver percebido o motivo de eu não gostar de você ter se tornado um deus.

O que ela queria? Que eu adivinhasse?

Não disse nada, apenas fui embora.

Grover tinha razão, mulheres são incompreensíveis.

-Quíron?

Já estava no acampamento há 4 dias, e aquele era o meu último dia ali, por isso, resolvi aproveitar a oportunidade, e responder a uma dúvida que tem me incomodado.

-Sim, Percy?- disse ele

-Tenho uma dúvida que eu acho que o senhor sabe me responder...

-Que tipo de dúvida?

-É sobre a minha espada- disse

Ele levantou uma sobrancelha.

-Bem... pergunte, responderei o que puder.

Contei a ele do "pequeno" chilique que Amphitrite deu ao saber que eu portava aquela espada.

-Não entendi o por que dela ficar daquele jeito- disse- Anaklusmos foi dada a Héracles por Zoe Doce-Amarga não é?

Ele ficou em silêncio por um tempo.

-Interessante... - dizia Quiron para si mesmo- nunca havia parado para pensar no que isto significava...

-Quiron... será que poderia me explicar logo isso?

-Poderia, sim- disse- sua madrasta está ofendida com razão, meu jovem.

-E eu adoraria saber dessa razão, isso tem me incomodado muito...

-Bem, você tem o direito de conhecer a história de sua espada não é?

Quíron saiu de sua forma normal de centauro, e foi para a sua cadeira de rodas, ao lado dela, havia uma caneca que expelia vapor quente, ele ajeitou-se melhor na cadeira e disse.

-Acho melhor se sentar, a história é longa.

E foi o que eu fiz, sentei-me e olhei para ele, finalmente aquela dúvida seria esclarecida.

-Primeiramente terei que lhe falar como o nosso mundo foi criado...- disse- bem, no início de tudo, havia apenas um vazio eterno, apenas um... nada, e desse nada surgiu Caos, a personificação do vazio, mais tarde surgiu Nix- a noite e Érebo- as Trevas, os três vivem por um tempo emergidos na escuridão e no silêncio, porém surge Gaia- a Terra e Nix engravida de Érebo e tem Éter- o céu superior, e Hemera- o dia, e Gaia gera de si mesma Uranus e seus irmãos.

-Certo... mas por que me contou esse história?- perguntei

-Você a conhecia?

-Não.

-Isso já é um bom motivo...

-O senhor me entendeu, Quíron! Por que me contou essa história?

-Por que ela fala sobre as personificações, e a origem do nosso mundo- disse ele- é preciso entender as personificações para compreender sua espada.

-O que a minha espada tem haver com isso?!

-Você já vai entender, pare e escute, Percy.

E foi o que eu fiz.

-Tudo começa em uma época em que nem os deuses haviam nascido..., quando Cronos ainda era uma criança... nessa época, o mundo era governado pelas primeiras entidades divinas, as personificações de cada reino da Terra. O mundo, meu jovem, não era liderado pela Senhor do céu, e sim, pelo próprio céu.

-Uranus...- disse completando o seu raciocínio.

-Exato- disse ele- mas essa história não fala de Uranus, e sim de um de seus irmãos, Pontus.

-A personificação do mar- disse

-Sim, e foi ele, Percy, quem forjou Anaklusmos.

-Foi Pontus?!- minha espada era mais velha do que eu imaginava.

Ele fez que sim com a cabeça.

-Ele a forjou usando partes dele mesmo- disse Quíron.

Olhei para ele com os olhos arregalados.

-C-como assim?

Ele gargalhou, fiquei com raiva na hora, ele estava se divertindo as minhas custas.

-Sua expressão foi hilária Percy- disse ele quando parou de rir- sim, ele usou partes dele mesmo, ossos, dedos, pele...

Fiz uma careta de desgosto.

-Que nojento!

-É mesmo, mas vamos olhar com outros olhos certo? Foi para isso que te expliquei como nosso mundo foi criado, pense, Percy, Pontus é a personificação do mar, então uma espada feita com partes de seu corpo...

Entendi o que ele quis dizer.

-Quer dizer que ela tem partes do mar?

-Mais do que isso, ela é uma extensão do mar- disse- alguém que fica mais forte no mar, como você, fica mais forte com essa espada.

Aquilo era verdade, porém de um jeito diferente, o mar me dava, além de força, confiança, o que Contracorrente não dava.

-Pontus está morto agora, então a personificação do mar agora é seu pai, mas isso não diminui o poder desse objeto- continuou Quíron- mas a história não acaba por aí. Depois que os Titãs começaram a reinar, Oceanus, o Titã do mar, deu essa espada de presente para a sua filha, Pleione, que era a mãe de Zoe.

-Depois, Zoe deu essa espada a Héracles- concluí

-Isso mesmo, e depois que ele morreu, ela foi para as mãos de Poseidon.

Afundei ainda mais no sofá, toquei instintivamente Anaklusmos, passara tanta coisa com ela e nem sabia de onde viera, de repente eu a sentia pesar em meu bolso, a responsabilidade de possuir uma objeto com tanta história era enorme.

Mas, mesmo contente em saber disso, ainda não explicava a reação de Amphitrite.

-Já esta tarde Percy, não deveria já estar partindo?

-Deveria- disse- mas não saio daqui sem ter tudo explicado.

Quíron suspirou e disse.

-Eu deveria saber, tudo bem então.

Continuei a olhar para ele e Quíron começou a falar.

-Você sabe que essa espada tem um poder imenso, por ter sido feita por Pontus. Quando ela chegou em mãos de seu pai, houve uma pequena "briga" para ver quem ficava com ela- disse- Triton e Bentesicima praticamente imploraram por essa espada, mas Poseidon não a deu para nenhum dos dois, disse que iria guardá-la para uma ocasião especial.

-E por que isso irritou Amphitrite?

Quíron franziu as sobrancelhas e disse.

-Você ainda não entendeu?

Balancei a cabeça indicando que não.

-Poseidon guardou Anaklusmos para uma "ocasião especial", e depois você aparece com ela, é como se você estivesse com uma placa " favorito de Poseidon"- disse ele- isso irrita sua madrasta pois você é o filho dele com outra mulher, mas você se tornou o favorito, e não um dos filhos dela, e isso estraçalha sua honra. Além do mais, é apenas uma teoria, mas acredito que ela suspeita que essa escolha de favorito não tenha a ver com você e sim com a sua mãe, se você pensar dessa maneira, é até normal sua reação.

Favorito... favorito... de novo essa história! Eu não sou favorito coisa nenhuma! Sem chance! Não há nenhuma possibilidade disso, será que ninguém aqui considera que eu fui abandonado até meus 12 anos? E que, antes dessa semana, eu não o tinha visto mais que cinco vezes na minha vida? E ainda insistem em dizer que sou o favorito!

E ele provavelmente me deu Anaklusmos porque não havia nenhuma outra espada em seu artesanal, é isso, com certeza.

Como se estivesse lendo meus pensamentos, Quíron disse

-Ainda em negação? Tudo bem, faz parte, com o tempo você verá que é verdade... Mas olha só a hora, já esta tarde.

Olhei para a janela, como o tempo passava rápido... já era de noite!

-É melhor você ir não é? Como pretende ir embora? Em cima de um dragão?

-Acho melhor não, chamará muito a atenção, e eu já fiz isso de mais por aqui.

Era verdade,no meu segundo dia aqui, Quíron me apresentou aos campistas ( os novatos, claro, porque o resto me conhecia), e eu não tive um só minuto de sossego, para onde eu ia, sempre havia campistas atrás, seguindo-me como sombras, eu hein!

Eles também deram uma festa em minha homenagem, no fim dela, sentamos todos em volta da fogueira e os novatos me pediram para narrar minhas aventuras, no início fiquei meio surpreso, mas depois sorri e comecei com o roubo dos raios.

Foi divertido.

-Eu vou nadando mesmo- disse- acho melhor eu ir logo embora.

Já havia me despedido de Grover, Nico e Thalia ( que já tinha ido embora com as caçadoras), faltava apenas Annabeth, mas ela pedira para eu não entrar mais lá, e foi o que eu fiz. Dando um último olhar para as escadas, como em um adeus silencioso, fui para a parte de trás da Casa Grande.

-Só mais uma coisa- disse Quíron já de volta a forma de centauro- Thalia lhe mandou esse bilhete.

Ele me estendeu um papel amassado, peguei e li imediatamente.

Como você é muito lerdo, Cabeça de alga, vou lhe dar uma dica para descobrir o que a Annabeth está sentindo.

É uma dica simples: Pense na Annabeth como uma Caçadora.

Boa sorte!

Thalia.

Pensar em Annabeth como uma caçadora? O que ela queria dizer com aquilo?

Ei gente!!!! aqui estou eu mais uma vez.

Depois do que eu fiz no cap anterior, fiquei realmente com medo de me matarem ( e quase fizeram isso)

Mas acabou que estou VIVA! E trazendo mais um cap.

A história de Anaklusmos foi uma mistura de mitologia com a minha criatividade.

Vamos separar:

Minha invenção- Pontus ter forjado a espada, e a briga de Triton e Bentesicima pela espada.

Mitologia- Todo o resto!

E vocês sabem não é?

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Enfim... vocês entenderam que é para comentar de qualquer jeito né?

By Isabelalina12.