Minha cabeça anda meio bagunçada esses dias e meu pensamento mais frequente é "Brady".
Como aquele feiticeiro fez isso comigo? Como eu pude me deixar levar pelo momento e ter desperdiçado meu primeiro beijo?
—Idiota...-murmurei batendo a testa na parede do vestiário masculino.-Ou você se uni as trevas ou elas se unem a você...-sussurrei.
Se aquele jogador de basquete pensa que vai me tirar das trevas está muito enganado!
—Eai,Drew!-o infeliz disse me dando um tapa nas costas "amigavelmente".
—Oi...-disse sem encara-lo.
Havia se passado uma semana desde o beijo,nesse tempo ele anda me arrastando pra tudo quanto é canto me tratando como seu amigo.
Desde a primeira vez que o vi sabia que ele era...Como posso dizer? Homossexual. Digamos que eu tenho um sexto sentido.
Brady revelou que já ficou com todas as garotas do colégio na esperança de se sentir atraído por alguma delas e esquecer sua paixão secreta por garotos. Isso não me comoveu,nem um pouco.
—Drew! Drew!-Brady gritou estalando os dedos em meus ouvidos.-Está me ouvindo?
—O que você quer?-o encarei com os braços cruzados e ele sorriu.
—Hoje tem treino de basquete,queria saber se você vai torcer por mim...-Brady disse sem jeito.
—Ah,com certeza...-revirei os olhos.-Vou torcer pra uma bola acertar sua cabeça, isso sim...-murmurei olhando um canto aleatório.
—Você é muito difícil...-Brady sussurrou colocando o braço acima da minha cabeça,com sua mão livre segurou meu queixo me obrigando a olha-lo.
—Eu disse que não seria fácil me conquistar.
—Hum...-ele deu um sorrisinho.-Veremos...
—Por que não me esquece?-perguntei.
—Porque por mais que eu tente,não consigo te tirar da cabeça...-Brady sussurrou em meu ouvido se esforçando ao máximo para fazer a voz mais sensual que conseguia.
Revirei os olhos.
—Você acha que está apaixonado,mas na verdade não está. Isso não passa de uma ilusão que vai acabar te fazendo sofrer mais cedo ou mais tarde.-eu disse o encarando sério.
—Não importa quantas vezes eu me machuque por amor,pelo menos vou me machucar tentando. As feridas cicatrizam por bem ou por mal...-Brady me olhou fixamente.
—Você não sabe o que é o amor.-eu disse um tanto superior.
—Nem você. Por isso deveríamos conhece-los juntos.-sorriu sinceramente.
Quem o visse agora não acharia que ele era o capitão do time de basquete sedutor e pegador.
Sem dizer nada o empurrei levemente,aquilo estava ficando sufocante.
—Reles mortal.-eu disse andando em direção a saída.
—Essa paixão é maior que todo o talento do mundo,por isso vou guarda-la em meu coração!-Brady disse,o encarei somente para debochar de sua cara e ele simplesmente me mandou um beijo no ar e deu uma piscadela que faria qualquer GAROTA se derreter. Mas eu não. Eu não sou feito de manteiga que derrete com o calor desse sedutor barato.
Suspirei e andei até a quadra com as mãos dentro dos bolsos brincando com as várias embalagens vazias de chiclete.
—Por que eu estou vindo pra cá?-me perguntei.-Por acaso eu quero assistir ao treino? -balancei a cabeça negativamente.
—Seu nome é Drew,certo?-uma voz feminina perguntou atrás de mim.
—Sim.-eu disse sem me virar para trás. Pouco me importava quem queria saber meu nome.
—Meu nome é Deyzi...-a garota ficou na minha frente. Ela era o tipo de menina desenvolvida,das quais aparecem em filmes colegiais,normalmente são sempre as cobras. Na opinião dos garotos,era considerada bonita.-Sou ex-namorada do Brady...
Arregalei os olhos. Não por estar surpreso,ou algo do tipo,mas por nunca ter se passado por minha cabeça que Brady já teve uma namorada (já que todas as garotas que ele saiu eram somente ficantes).
—Sabe,vocês parecem bem amigos...-Deyzi disse colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha e me olhando desconfiada.
—E?-perguntei sem interesse.
—Bom,não posso falar aqui...-Deyzi disse.-Vem comigo até a sala de aula?
—Não.-respondi secamente.
—Vamos,por favor!-ela fez uma voz de criança.
—Por acaso você pretende me assassinar ou algo do tipo?-a olhei desconfiado.
A garota queria me levar pra sala de aula,vai saber se ela quer me matar por eu estar próximo do ex dela...
—Nada disso,bobinho...-Deyzi riu colocando o dedo indicador na ponta do meu nariz e descendo até minha boca.
☆☆☆
A contra gosto fui até a sala de aula que estava vazia já que as aulas já tinham acabado.
—O que tem pra me falar?-perguntei encostando-me na mesa da professora.
Por algum motivo assuntos ligados ao Brady despertavam um certo interesse em mim.
—Responda-me.-Deyzi se aproximou de mim lentamente.-Brady ficaria chateado se por acaso...-ela disse pousando as mãos sobre meus ombros e descendo até o peito.-Eu e você...Nos...-deu um riso abafado me encarando.-Você sabe...-sussurrou corando levemente.
Meus olhos se arregalaram e senti um leve calor em minhas bochechas.
—Pode parar por aí!-eu a alertei,mas ela me ignorou e aproximou seus lábios dos meus na tentativa de cola-los.
Fechei meus olhos com força e cerrei os punhos. A ex de Brady estava dando em cima de mim?! Aquilo estava difícil de engolir.
Senti o corpo de Deyzi colar no meu e suas mãos abraçarem meu pescoço.
A essa altura eu prendia minha respiração. Eu era interessado em garotas,mas não há esse ponto,algo estava fazendo com que eu me senti-se culpado por estar nessa situação com Deyzi.
—Pare.-eu disse sério abrindo os olhos e encarando a garota confusa em minha frente. Delicadamente coloquei as mãos em seus ombros e a empurrei,me dando espaço.-O Brady não vai ficar chateado com você...E sim comigo.-suspirei encarando o chão. Desde quando eu me importava se Brady estava feliz ou não? Não é como se eu me importasse...
—Está me dando um fora?-Deyzi perguntou cruzando os braços e fazendo biquinho.
—Estou.-eu disse na cara dura.-E uma dica: não se venda assim. Se você for menos atirada e tarada,consegue arrumar alguém decente.-não suportei e tive que dizer isso,Deyzi me encarou incrédula e furiosa.
Assisti muitos filmes para saber disso. A popular (vaca) do colégio dá em cima de qualquer um para satisfazer sua sede de prazer. Pense comigo, ela conseguiria alguém se conquistasse por merecer e não por usar truques.
Depois desse ocorrido na sala de aula corri para a quadra de basquete na esperança de encontrar Brady,sabia que ele ficaria feliz se eu o visse treinar.
—Eu só tenho pena dele. Nada mais.-sussurrei para mim mesmo parando ao lado da arquibancada.
Olhei para o lado e vi algo que mexeu comigo de algum modo.
Brady estava conversando com Gray (um garoto da minha sala,considerado meu "amigo") enquanto as líderes de torcida estavam em um cantinho cochichando algo.
Do nada,Gray abraçou Brady,aquilo parecia ter algum significado sentimental para ambos.
Sem pensar nas consequências,eu cerrei os punhos com força e gritei indignado:
—EU DEIXEI DE TE TRAIR QUANDO TIVE A CHANCE,E O QUE VOCÊ FAZ?! ME TRAI!
Eu só sentia necessidade de gritar aquilo e deixar claro a existência da raiva que senti ao ver aquilo.
Nunca tive alguém que realmente gostasse de mim e quisesse me consquistar,por algum motivo desconhecido senti uma dor em meu peito ao ver aquele alguém nos braços de outro. Mas me livrei da dor,ou melhor, a camuflei,fingi que não existia...Eu sou um gótico trevoso,toda dor pode ser curada com a força de vontade.
Brady me encarou com os olhos arregalados e Gray parecia despreocupado.
—QUER SABER?-gritei cerrando os dentes.-SE MATA E MORRE!
Ao dizer isso simplesmente cruzei os braços e fechei a cara. Eu não iria fugir. Não iria sair correndo para me esconder. Não,eu não seria rebaixado a esse nível. Se Brady tinha algo para me falar ou não, era a hora.
As líderes de torcida ficaram enérgicas e criaram várias teorias sobre mim.
Encarei o capitão do time de basquete com desprezo,ele continuava abraçado com Gray. Sabia,aquele papo de paixão era mentira,mas quem se importa? Eu não cai em seu jogo.
☆☆☆
No dia seguinte,minha turma teria aula de educação física com a turma...Do Brady. Motivo? Nosso professor faltou,então teríamos aula com o professor do segundo colegial que só ficaria no colégio até certo horário.
Durante a aula na quadra,Deyzi e sua amiga insistiam em ficar perto de mim.
—Acho que eu te dei um fora ontem.-eu disse secamente para Deyzi.
—Drew,eu não aceito não como resposta.-ela sorriu maliciosamente.
—E o que ela tem a ver com isso?-apontei com a cabeça para a amiga de Deyzi.
—Ah,ela?-Deyzi passou o braço pelos ombros da garota.-Veio me impedir de fazer "coisas" com você.
Respirei fundo tentando não xingar Deyzi de tudo quanto é nome.
Olhei para frente e vi Gray e Brady juntinhos. O jogador de basquete me olhou de modo triste,mas pouco me importava.
O resto da aula,Gray aproximava-se cada vez mais de Brady,assim como Deyzi de mim.
Quando o professor disse que a aula estava quase acabando,todos os alunos foram beber água ou ir ao banheiro,ficamos somente nós quatro nos encarando com faíscas saindo de nossos olhos.
A amiga traidora de Deyzi havia se afastado.
Clima tenso.
E ficou mais tenso ainda quando Gray beijou a bochecha de Brady. Vai acontecer uma chacina aqui e eu serei o único vivo.
Deyzi me surpreendeu ao também beijar minha bochecha e se aproximar muito além do limite de três metros.
Nós quatro nos encaramos de modo desafiador.
—ISSO DAQUI VIROU AULA DE TRAIÇÃO FÍSICA?!-gritei sem pensar.
—Eu é que te pergunto!-Brady se aproximou de mim com um olhar de dar medo. Não em mim,mas em outros.
—Não sou eu que estou seduzindo o amigo da pessoa que eu gosto!-eu disse com um ar superior,como se quisesse faze-lo sentir-se culpado.
—Está com ciúmes?-Brady disse sarcástico arqueando uma sobrancelha.
—Nem morto.-eu disse frio. Ciúmes seria a última coisa que eu sentiria por ele.
—Acho importante eu deixar uma coisa bem clara...-Brady disse e sorriu.-Foi tudo armação.
—Hã? -arqueei uma sobrancelha.
—Ora,claro que foi tudo planejado para que Brady pudesse provar que você sente ciúmes dele.-Deyzi disse apoiando-se em Gray que lhe deu uma piscadela.
Arregalei os olhos e Brady sorriu vitorioso. Outra vez ele conseguiu tirar uma com a minha cara. Eu deveria saber,ele sempre está brincando. Provar que eu tinha ciúmes? Até onde ele vai para conseguir a mínima prova que eu sinto algo por ele?
Fiquei sem reação por alguns minutos,durante esse tempo Deyzi e Gray se retiraram do local para nos deixar a sós.
—Você pode não me amar,mas sei que no fundo gosta de mim.-Brady segurou meu queixou e o acariciou com o polegar.
—Vá achando.-revirei os olhos.
—Drew,admita que você não quer aceitar que eu estou te conquistando.
Me conquistando?
Na maioria das vezes eu tentava não levar Brady a sério, com medo dele só me usar e depois me jogar fora. Queria acreditar que eu gostava de garotas e não dele. Eu queria...Queria poder saber o por que de eu ser tão fechado e achar que as trevas me confortam. Por que eu não consigo aceitar meus sentimentos? Por que eu não permito que eles me consumam? Talvez por medo. Medo de provar o gosto amargo da desilusão. Medo de ser excluído. Medo de após um tempo deixar de ser amado.
Senti algo molhado brotar no canto de meus olhos e escorrer por minhas bochechas que ferviam.
No próximo segundo Brady me envolveu em seus braços e confortou minha cabeça em seu peito.
—Calma...-ele sussurrou.
—O q-que é isso?-sussurrei.
Passei tanto tempo me escondendo de meus próprios sentimentos que esqueci a sensação de chorar. Afinal,por que eu estava chorando? Porque...Porque eu me sentia triste ao saber que tinha medo da vida por isso decidi formar um mundo só meu. Depois que conheci Brady,passei a fazer algo que não fazia a muito tempo: viver.
—Não me abandone.-sussurrei apertando a regata molhada de Brady.
Não queria ser abandonado por Brady assim como fui por meus pais na infância.
—Não vou.-Brady sussurrou limpando minhas lágrimas.-Por que eu te amo. Você é meu gótico.
Nunca pensei que palavras tão simples pudessem me deixar tão tranquilo e feliz.
Eu e Brady nos olhamos fixamente por um tempo,ele aproximou nossos rostos fazendo nossas testas se tocarem e nossos lábios ficarem próximos.
—T-te...-eu disse sem firmeza nas palavras,não pude completar a frase pois Brady juntou sua boca com a minha,dando início ao meu segundo beijo.
Era diferente do outro. Aquele parecia ter algo especial,algo que eu e Brady compartilhavamos. Fechei meus olhos no decorrer do beijo,me acostumando com nossa proximidade e desejando mais. Passei a pensar que ele não era uma exceção...Eu o amava?
Não sabia ao certo,pois nunca amei ou fui amado. Mas,com certeza aquilo era o que chegava mais perto de ser "amor".
Eu e Brady nos separamos,eu estava envergonhado e ele com um sorriso estampado no rosto.
—Isso não muda nada...-eu disse virando o rosto meio vermelho.-Foi um momento de fraqueza.
—Drew...-Brady sussurrou passando a mão em meus cabelos pretos e lisos.-Um dia você será meu.-sorriu ainda mais.
Sem que eu quisesse acabei deixando um sorriso pequeno e sincero se formar em meus lábios e meu coração bateu mais rápido ao repassar as palavras de Brady em minha mente.
Odeio admitir isso,mas...Talvez Brady esteja me conquistando...Só um pouquinho!