Contos Yaoi escrita por Creeper


Capítulo 7
Praça


Notas iniciais do capítulo

Gostaria de agradecer (eternamente) a leitora LaidyBelli por ter recomendado minha fic,fiquei muito feliz!
Boa leitura!



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—Quem foi seu primeiro amor?—Jorge (meu irmão mais velho) me perguntou,parecia não estar muito interessado,só queria puxar assunto mesmo.
Estávamos almoçando na sala em frente a televisão, tirei meus olhos do meu prato e olhei para o teto.
"Meu primeiro amor..."
Então me veio a mente um garoto que eu tinha conhecido no primeiro ano do ensino fundamental,eu tinha apenas seis anos de idade,mas sabia muito bem da existência dos sentimentos que eu tinha por ele.
Eu confiava em Jorge para falar sobre esse assunto (já que ele entendia que eu era mais interessado em garotos),por isso lhe contei.
—Kayky.—suspirei.—Conheci ele há nove anos...—olhei para meu irmão. —Foi minha paixão por quatro anos,teria sido até hoje se...
—Se?—Jorge me olhou curioso.
—Se ele não tivesse mudado de escola.
—Por que não manteve contato?—Jorge perguntou.
—Naquela época não utilizavamos celulares ou redes sociais...
No máximo eu sabia onde Kayky morava,era entre uma lanchonete chamada "Rei do Mocotó" e a igreja que eu e minha família costumávamos ir,até fui visita-lo,porém ouvi a péssima notícia que ele não morava mais lá.
—E depois desse tal de Kayky...Você chegou a se apaixonar de novo?—meu irmão fez outra pergunta.
—Apenas simples paixonites...—eu disse levantando-me do sofá. —Sabe,Kayky sempre me chamava de "Rafazinho".—sorri com a lembrança.—Licença.—fui até a cozinha lavar meu prato.
Eu sentia muita falta do Kayky,mesmo sabendo que ele nem ligava para mim. Mesmo sendo amigos,ele deixava claro o quanto gostava de me zoar e o quanto odiava que nos vissem juntos. Houve um tempo que decidi entrar no joguinho dele e fingi que o odiava também. Um dia eu até mesmo ouvi um boato que por um lado me deixou feliz...
Uma aluna nova tinha acabado de chegar,daí uma amiga minha já foi lá e a avisou:
—É melhor você não começar a gostar do Kayky,porque ele é do Rafael.
A garota ficou meio confusa, porém somente assentiu como se tivesse entendido.
—Rafael.—Jorge me chamou,tirando-me de meus devaneios.
—Oi?—virei-me e o encarei.
—Meu chefe me pediu para tomar conta do cachorro dele...—ele disse,olhei para baixo e percebi que ele segurava uma coleira e uma guia.—Mas,você sabe que eu sou alérgico a pelo de animais,então...
—Deixa eu adivinhar...—eu disse sem animação. —Você quer que eu faça isso no seu lugar?
—Por favor!—Jorge me olhou tipo "cachorrinho que caiu da mudança".—Eu corro risco de perder o emprego,meu chefe gosta muito desse cachorro!
—Vai ficar me devendo.—eu voltei a olhar para a louça molhada dentro da pia.
—O cachorro está no quintal,você precisa leva-lo para passear.—Jorge me instruiu.
—Certo,certo...—revirei os olhos.
Agora eu virei babá de cachorro? Eu mereço...(ironia)
★★★
Fui até o quintal e lá tinha um enorme pastor alemão dormindo na casinha da nossa antiga cadela (que precisou ser doada quando Jorge começou com essa frescura de alergia).
Cheguei mais perto do animal e analisei sua coleira preta com o nome "Hunter" escrito no pingente prata que ficava pendurado.
—Até que você é fofo...—eu sussurrei ajoelhando-me e acariciando seu pelo macio.
Hunter abriu os olhos e se levantou tão rápido que me assustou,ele rosnou e mostrou todos seus dentes amarelos e pontiagudos.
—Retiro o que eu disse.—eu engoli em seco me afastando do cachorro.—Se você tentar me morder,eu te mordo!—cerrei os dentes. Quando se cuida de um cachorro,é preciso agir como um.
Hunter foi se aproximando cada vez mais,era tão cauteloso que parecia um lobo rodeando sua presa,até pular em mim e me derrubar na grama.
Por um momento achei que ele fosse me machucar,porém ele começou a lamber meu rosto com aquela enorme língua quente e cheia de saliva.
—Que nojo...—murmurei fechando os olhos.
De repente ouvi um barulho que se parecia muito com uma lata de lixo caindo e senti o peso de Hunter desaparecer,abri meus olhos sem nenhuma preocupação e encarei o cachorro correndo atrás do gato da minha velha e gorda vizinha.
—Hunter!—gritei me levantando.
O gato pulou de telhado em telhado e foi seguido por Hunter que pulou a cerca e invadiu o quintal de meu outro vizinho.
—Era só o que me faltava!—murmurei fazendo o mesmo caminho que o cachorro,lógico que sem a mesma agilidade.
★★★
Algum tempo depois perseguindo os dois animais que tinham ido parar na praça onde os idosos ficavam jogando xadrez,consegui pegar Hunter e prender a guia na coleira dele.
—Quero ver você fugir agora...—eu disse sorrindo vitorioso enquanto segurava o cachorro pela guia e o guiava pela calçada de pedras coloridas que era feita para caminhadas.
—Rafael!—ouvi alguém me chamar,virei-me e encarei Seu Manoel (o padeiro) que jogava pôquer com um "tiozinho" que vendia picolé perto de casa.
—Oi...—acenei sem animação, provavelmente ele queria me contar pela milésima vez a história de como ele ganhou a padaria numa aposta.
Eu já sei história de trás para frente! Meu cérebro iria explodir se eu a ouvisse mais uma vez.
—Quer ouvir a história... —ele começou, porém o interrompi.
—Foi mal,estou ocupado cuidando desse cachorro.
—Que cachorro?—Seu Manoel perguntou confuso.
—Ora,esse...—minhas palavras sumiram quando eu olhei para baixo e notei que o cachorro não estava lá.—CADÊ ELE?—gritei olhando de um lado para o outro desesperado.
Droga! Droga! Droga! Se eu perder esse cachorro,meu irmão perde o emprego,se meu irmão perder o emprego,eu perco minha cabeça...
—HUNTER!—gritei correndo sem direção.
Acabei entrando em uma espécie de bosque artificial enquanto corria feito um tonto,era como procurar uma palha no agulheiro.
—Vem cá,cachorrinho...—eu disse estalando os dedos e assobiando.—Hunter! Hunter!—fiz uma "concha" com as mãos em frente a boca para que o som ecoasse.
—AI!—ouvi alguém gritar perto dali.
Não que fosse de meu interesse,mas segui a voz apenas por curiosidade,meu único erro foi correr,pois acabei esbarrando em algo...Ou alguém.
—Ei,olha por onde anda!—disse um garoto me encarando.
—Foi mal...—eu disse o encarando,porém ele não me olhou nos olhos.
Olhei ao redor e fixei meu olhar no pastor alemão deitado em um monte de folhas com a barriga para cima ao lado de duas cadelas "salsicha" (N/A: sinto muito,esqueci o nome dessa raça),uma branca e uma caramelo.
—Hunter!—agachei-me até ficar a altura do cachorro.—Não fuja nunca mais!—fiz carinho em sua cabeça.
—O que você está fazendo com o cachorro do meu tio?—o garoto chamou minha atenção.
—Seu tio?—perguntei sem nem olhar para o menino.
—Ele tinha pedido para o "empregado" dele tomar conta,mas vejo que é um irresponsável...—disse o garoto com um ar metido.
—Não diga isso do meu irmão! —me levantei e encarei o garoto que estava com o rosto virado.
—De qualquer forma,não importa.—ele deu de ombros.—Vou leva-lo comigo.
—Então leve,assim você me livra de problemas!
—Tubaina! Luna!—o garoto pegou a guia das cadelas.
—Tubaina?—dei um riso abafado.—Luna?—olhei para as cadelas que abanavam o rabo alegremente.
—Algo contra?—o garoto finalmente me olhou.
Os olhos castanhos claros me pareciam tão familiares que por algum motivo meu coração começou a bater mais rápido.
—Ei! Qual o seu problema?—ele estalou os dedos em meu ouvido.
—Nenhum...—olhei para o outro lado.
—Nos vemos por aí.—o garoto disse indo em direção a saída do bosque sendo seguido por Hunter,Tubaina e Luna.
Nem passou pela minha cabeça que o garoto podia estar mentindo sobre ser sobrinho do patrão de Jorge só para roubar o cachorro.
Dei de ombros e voltei para casa. O problema não era meu.
★★★
No dia seguinte (acho que o garoto falou a verdade,pois não ouvi Jorge reclamar de nada),eu estava mofando dentro de casa,pois a semana inteira eu não teria aulas.
—Que tédio! —resmunguei apertando os botões do controle remoto com força.
—Por que não vai dar uma volta na praça? Está um belo dia!—minha mãe disse entrando na sala e abrindo a janela permitindo que os raios de sol invadissem o local.
—Belo ou não, ainda é um dia tedioso...—eu disse jogando o controle no sofá e me levantando.
—Então,por que não me faz um favor e vai comprar leite?—mamãe sugeriu.
—Hum...—cruzei os braços.
—Além do leite, pode comprar a besteira que você quiser...—mamãe revirou os olhos.
—Estou indo...—eu disse sem animação enquanto calçava os tênis.
A padaria do Seu Manoel não tinha nada que prestasse e já que o mercado ficava um pouco longe eu decidi cortar caminho pelo bosque da praça.
—Indo para o mercado comprar leite...—cantorolei fechando os olhos.
Bastou eu fechar os olhos que senti algo colidir contra meu corpo e me derrubar no chão com força.
—Ai...—gemi.
"Se continuar assim,meus ossos vão acabar se quebrando..."
Abri meus olhos lentamente e dei de cara com o mesmo garoto de ontem em cima de mim.
—S-sai de cima de mim!—senti minhas bochechas esquentarem.
—Desculpa.—ele disse sentando-se,eu ainda era obrigado a ficar deitado na terra.—Você é garoto de ontem,né?
—É...—murmurei tentando não olha-lo.—Você vem sempre aqui?—perguntei sem pensar. Não, isso não foi uma "cantada".
—Sim. Sempre venho passear com minhas cadelas.—ele respondeu.—A propósito... —levantou-se e bateu na roupa tirando a sujeira.—Meu nome é Kayky, e o seu?—ele estendeu a mão para que eu pegasse.
—K-Kayky...—sussurrei o encarando.
—Você também se chama Kayky?—ele me olhou confuso.
—Não...—levantei-me.—Meu nome é R-Rafael.
Poderia ser ele o mesmo Kayky que conheci há nove anos? Por isso meu coração bate mais rápido quando o vejo?
—Você me parece familiar...—dissemos ao mesmo tempo e depois sorrimos sem graça.
—Talvez já nos vimos...—eu disse coçando a nuca.
—É,talvez.—Kayky sorriu.—Tem algum compromisso?
—P-por que?—senti meu coração acelerar.
—Porque podíamos dar uma volta...—ele disse.
Queria acreditar que aquilo seria uma espécie de "encontro",porém era melhor não me iludir. Eu ando sendo meio impulsivo: entregando o cachorro pra ele,acreditando que Kayky pode ser o mesmo garoto de nove anos atrás,aceitando dar uma volta pelo bosque (ele pode muito bem ser um sequestrador!)...
—P-pode ser.—aceitei sorrindo timidamente.
Eu ainda continuava nutrindo sentimentos pelo mesmo garotinho que conheci no primeiro ano e ficava feliz ao pensar que ele estava na minha frente após tantos anos separados.
★★★
—Me conta sobre você.—eu disse enquanto caminhavamos lado a lado pela praça praticamente vazia.
—O que quer saber?—Kayky perguntou.
—Sua infância, por exemplo? Tinha algum melhor amigo?—eu tentava ser direto e discreto.
Por fora eu dizia isso,mas por dentro eu pensava: "EU SOU O RAFAEL,SE LEMBRE DE MIM!"
Mas ainda tinha a chance dele gostar de me zoar,bem,eu não me importava,o importante era estar ao lado de Kayky.
—Hum...—Kayky suspirou,seu olhar era cheio de tristeza.
—Falei algo que não devia?—arregalei os olhos.
—Pelo que meus pais dizem,após mudarmos de cidade e-eu...—ele engoliu em seco.—Sofri um acidente e perdi a memória... —ele olhou para o chão chutando algumas pedrinhas com o pé.—Não consigo me lembrar de nada.
—Nossa...—sussurrei olhando para o céu completamente azul e com poucas nuvens.
—Não importa.—ele deu de ombros.
—Bom,você me lembra a um garotinho que foi meu amigo há alguns anos.—o olhei.
—Vocês eram bons amigos?
—Posso te contar um segredo?—corei levemente,Kayky assentiu.—Ele era minha paixão. —sussurrei e sorri timidamente.
Kayky pareceu surpreso,porém também sorriu e perguntou:
—Também quero te contar um segredo...E-eu...
Ele fez uma pausa dramática, me deixando meio aflito. Finalmente ele me encarou e prosseguiu:
—Eu não perdi a memória. Estava somente te zoando,"Rafazinho".
Arregalei os olhos e parei de andar imediatamente,Kayky também parou e me olhou fixamente.
—C-como assim?!—sussurrei.
—Acho que você deveria se lembrar o quanto gosto de te zoar!—Kayky bagunçou meus cabelos.
—Ah,cara...—eu continuava assustado,tinha acabado de me confessar!
—Então...—ele sorriu se aproximando além do "limite".—Continuo sendo sua paixão?
—S-sim.—corei.—Você ainda é dono do meu coração.—sussurrei olhando para o lado,envergonhado.
—Sabe,Rafael...—Kayky suspirou e se afastou um pouco.—Todas as viradas de ano eu observava os fogos de artifício enquanto me lembrava de você, sentia-me triste ao pensar que havia te perdido,eu sentia como se nunca mais fosse encontrar alguém como você, sabe por que?—ele fez uma pausa olhando para o céu. —Porque você é único.
Fiquei pasmo com o que ele disse,pois era exatamente o que eu sentia,Kayky me compreendia tão bem que era até impossível acreditar...
—Está me zoando?—perguntei sério,o encarando.
—Eu nunca falei nada tão sério a minha vida toda.—Kayky me encarou.
—Se é verdade,então prove.
—Pode deixar.
Ao dizer isso,Kayky puxou meu braço bruscamente fazendo com que eu ficasse próximo dele.
"Ainda bem que essa parte da praça é pouco frequentada!"
O garoto segurou meu queixo e me obrigou a olhar em seus olhos,antes que ele pudesse fazer qualquer coisa,eu o surpreendi pressionando meus lábios contra os dele delicadamente. Só faltava meu coração sair pela boca de tão rápido que batia.
"Meu primeiro beijo..."
Kayky não parecia nem um pouco surpreso,para falar a verdade ele até mesmo demonstrava estar esperando aquilo,sei disso pois durante o beijo ele me abraçou calorosamente me passando tanta tranquilidade e conforto que senti uma enorme vontade de ficar daquele jeito para sempre.
Nos separamos meio que a contra gosto e sorrimos como uma criança que acabou de comer um doce.
—Você não sabe quanto tempo eu esperei por isso.—sussurrei.—Senti tanto a sua falta!—acariciei seu rosto.
—Eu não quero te largar nunca mais!—Kayky me apertou mais forte,porém de modo carinhoso.
—Ainda guardo um pouco de receio por você me ignorar nas aulas e dar em cima das minhas amigas...—fiz biquinho fingindo estar bravo.
É verdade,Kayky sempre estava paquerando (mesmo sendo criança) minhas amigas (ele era meu único amigo garoto,o resto eram todas garotas).
—Não se preocupe.—ele riu me soltando.—Vou te recompensar muito bem!—ele deu uma piscadela,me fazendo corar.
Kayky me fitou por mais um tempo,depois deu leves selinhos no canto de minha boca,aquilo era ótimo,porém...
—Espera aí...—sussurrei olhando para baixo.—KAYKY,CADÊ SUAS CADELAS?—gritei.
Kayky se assustou com meu grito e ao olhar para baixo percebeu que não estava acompanhado de Luna e Tubaina.
—AI MEU DEUS!—ele colocou as mãos na cabeça desesperado e correu de volta para o bosque.
—ME ESPERA!—gritei o seguindo.
Ei,se parar para pensar foi Hunter que fez com que eu encontrasse Kayky aquele dia...
Só acho que eu amo aquele cachorro (não tanto quanto eu amo o Kayky)!
Eu estava tão feliz por ter reencontrado o amor da minha vida que eu só queria saber de sorrir e gritar,sentia como se fosse uma necessidade o mundo saber sobre minha alegria. Palavras não conseguem expressar esse sentimento...
O que é isso que eu sinto? É como se a felicidade e o amor tivessem sido misturados por um liquidificador e eu tivesse bebido essa mistura até dizer chega.
—Kayky...—suspirei parando de correr e observando o garoto procurando Luna e Tubaina.
Senti meus olhos arderam e minha visão ficou embaçada por conta da água que se formava.
Sem que eu notasse uma lágrima discreta rolou por minha bochecha,rapidamente a limpei com a costa da mão e sorri. Eu não chorava porque estava triste,eu chorava porque estava emocionado,era um choro de felicidade.
Porém não podia deixar Kayky ver aquilo,não queria preocupa-lo.
Só sei que passei muitos anos pensando nele e tendo a impressão de que eu nunca mais voltaria a vê-lo (até tentei esquece-lo,mas era impossível, afinal ele fazia parte do meu ser),mas agora ele está aqui e sempre estará... Eu espero.


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Notas finais do capítulo

Confissão:
Esse capítulo foi inspirado na minha vida (eu seria o Rafael). A maior parte é verdade. Mas,infelizmente minha "história" não terminou com um final feliz assim. Somente fantasiei como seria se eu reencontrasse o Kayky.
Bom,espero que tenham gostado! Comentem o que acharam!