Escola de Guardiões - Recrutamento escrita por Tynn


Capítulo 8
Capítulo 6 - Brinquedos




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Dragão Negro (Aleka Savalas, Alwaid Draconis e Oktavia Kadnikov)

Missão: Os fugitivos!

Um círculo mágico surgiu a duas quadras da Escola de Guardiões. Dentro dele, uma garota de cabelos totalmente brancos ergueu os olhos para ver se a mágica havia funcionado. Ela tinha mandado a equipe Dragão Negro para o meio de um beco, com prédios altos e apagados encobrindo os lados direito e esquerdo do trio. Ela agradeceu por terem aparecido em um lugar vazio. Seria bem complicado se surgissem no meio de uma avenida super-movimentada.

— Certo, qual é o plano agora? – Aleka perguntou. Ela usava uma calça jeans e um moletom verde-musgo.

— Nós vamos nos esconder. – Alwaid respondeu quase que automaticamente. – Até a gente ter mais pistas de onde o rei Mael está. – Ele coçou a cabeça, nitidamente estressado com o rumo que as coisas foram tomar. – Oktavia, você está bem?

A garota albina quis ser forte. Ela queria ser capaz de passar por todas as adversidades e manter-se confiante, como sempre foi. Perdeu seus pais fazia alguns anos, aprendeu a viver ao lado de Alwaid e fazer dele o seu ponto seguro. Sabia que nada poderia atingi-la enquanto o seu namorado estivesse perto. Mesmo assim... Oktavia tinha gostado da Escola de Guardiões. A moça nunca se sentiu tão acolhida como naquele lugar. Era como se tivesse uma nova família. E, novamente, teria que deixá-la para trás. Aquilo encheu Oktavia de um sentimento de mágoa e revolta, estava condenando o próprio azar. A menina pulou nos braços de Alwaid e chorou.

— Me desculpe, meu amor! Eu não queria ser fraca assim, mas... – Ela tentou conter o próprio choro, em vão. – Nós estamos tomando a atitude certa, diga que sim!

Aleka se comoveu por a cena. Alwaid afagou os cabelos de Oktavia enquanto ela se aninhava no peito do rapaz. Toda a emoção era jorrada para o garoto que absorvia em silêncio. Os olhos de Alwaid não demonstravam remorso, raiva ou dor. Era apenas de cumplicidade.

— Nós estamos fazendo o certo para todos. O Rei Mael está me perseguindo há anos e você acabou sofrendo por isso. Não vamos deixar que a escola seja o próximo alvo do rei, tudo bem? – Ele quase que sussurrou isso no ouvido da namorada, mas Aleka foi capaz de escutar.

— Por que o Rei Mael quer tanto pegar vocês? – Aleka perguntou, querendo compreender a situação. Sabia que não era o momento mais oportuno para isso, mas se fosse começar uma nova vida com uma dupla de fugitivos, precisava saber a história completa. – O que aconteceu?

Alwaid olhou para Oktavia, perguntando se estava tudo bem falarem sobre o assunto. Eles tiveram esse diálogo apenas com o olhar, era assim que o casal estava acostumado a viver. A sintonia entre os dois era tamanha que não precisavam de muitas palavras para compartilhar a emoção. Oktavia concordou e seu namorado começou a falar:

— No mundo em que eu nasci, as pessoas costumam ter duas almas: uma dominante e uma parasita. Como você deve ter deduzido, a minha alma parasita é Rabastan. – Alwaid sentiu um impulso dentro do próprio corpo ao falar o nome dele. Era como se estivesse chamando-o, apesar de não querer a companhia do outro cara. – Entretanto, minha terra natal ficou em crise quando eu ainda era muito novo. Estávamos passando por uma guerra civil. Por isso, meus pais me mandaram para outro mundo, a fim de que eu sobrevivesse. Passei a vagar outras dimensões até encontrar o Rei Mael, aos 10 anos, que quis me usar como uma arma de guerra por causa de Rabastan. Ele me tratava como um cão de caça. – Oktavi fungou, as lágrimas parando de cair. Alwaid continuou. – Eu fugi e, a partir daí, ele passou a me perseguir como se eu fosse um grande fugitivo da lei. Usou toda a sua influência para me pegar, mas eu continuei vivendo minha vida solitária, até encontrar Oktavia...

De repente, o barulho de aplausos foi ouvido no final do beco. Oktavia afastou-se do namorado e puxou o seu graveto da bolsa, que rapidamente se transformou em uma formosa foice. Alwaid sacou as duas espadas da bainha, encarando o estranho que caminhava lentamente em direção ao trio. Aleka, que não tinha planejado fugir da escola, havia trazido apenas uma adagada em caso de emergência.

O homem continuava a andar enquanto batia palmas, debochando solenemente da história contada por Alwaid. Ele se movia sem pressa, dando passos firmes no chão. O rosto estava coberto pela sombra do prédio, revelando-se a cada passada. O homem usava sapato social, de bico fino, uma calça preta e paletó cinza, com luvas brancas que cobria ambas as mãos. Nas costas, uma longa bainha descia até o tornozelo, enquanto os lábios eram finos e maléficos. Ele parou diante dos três, os olhos negros e calculistas se destacavam na pele levemente pálida.

— É impressão minha ou ele está usando maquiagem? – Aleka comentou ao ver que o tom da base estava muito forte para o rosto. – Você precisa melhorar isso aí!

— Querida, eu sei muito bem me cuidar. – O rapaz falou com um sotaque francês. – Vocês é que não sabem contar uma boa trama. Eu me arrependi de ter parado de assistir “A Hora Fatal” para escutar a conversa de vocês. Estou louco para saber como a amiguinha de vocês, Ann, irá morrer! Junto com aqueles outros idiotas!

O homem gargalhou durante alguns segundos. Alwaid pensou em atacá-lo naquele momento, mas precisava ser cauteloso. Quando um desconhecido caminha ameaçadoramente na direção de você, é melhor ficar atento. Além disso, ele possuía uma espada longa nas costas e parecia ser capaz de usá-la com maestria.

— Quem é você? – O mutante perguntou, ríspido. – É um dos cachorros do Rei Mael?

— Não sou cachorro de ninguém, mas sim, trabalho para o rei. – Ele encarou o trio que estava a sua frente, demorando um pouco mais de tempo em Aleka. Em seguida, balançou a cabeça como se descartasse uma ideia. – Eu sou Louis Vantur e costumava ser um Guardião, até perceber que aquele lugar era um lixo. Resolvi fazer carreira própria, trabalhando para quem me pagasse melhor. E, nesse caso, era o Rei Mael.

— Você não pode estar falando sério. – Aleka disparou, furiosa, lembrando-se de como a mãe se orgulhava por ser guardiã. Até que ela saiu para uma missão e nunca mais voltou. – Você não é um Guardião de verdade!

— Ah, querida, eu sou sim. – Ele sorriu e deu uma piscadela. – Pelo visto você ainda vive no seu conto de fadas. O mundo está em colapso, colegas! O Rei Mael, ele só quer a dama e o vagabundo aí. Mas a sua nova esposa... Ah, essa vocês precisam tomar cuidado! Ela tem planos muito maiores para o planeta Terra. Enquanto vocês perdem tempo se preocupando com um rei nojento, deveriam tomar cuidado com ela. Nunca vi uma pessoa com mente tão ambiciosa!

Oktavia segurou com mais força a sua foice. Como alguém ousaria atacar três pessoas ao mesmo tempo? Havia algo muito errado ali. Ela farejava perigo eminente. A garota se aproximou ainda mais do namorado, apesar de saber que ele iria pular para cima do inimigo assim que tivesse chance.

— O que você quer com a gente? – A feiticeira perguntou.

— Será que a ficha ainda não caiu? – Ele deu uma rápida risada. – Eu vou levá-los ao Rei Mael. Querendo você ou não, docinho.

As lâminas da espada de Alwaid zumbiram quando saíram da bainha. Ninguém chamava Oktavia de docinho. Ele disparou como um raio na direção do inimigo, batendo o par de espadas contra a lâmina negra e comprida de Louis, que gargalhou ao defender o golpe. O homem misterioso contra-atacou, fazendo Alwaid pular para trás com um salto.

O próximo golpe de Louis consistiu em descer a espada no mutante. Alwaid defendeu o golpe com uma espada e deferiu outro com a segunda arma. Louis ergueu o tronco para trás, a sua coluna parecia bastante flexível, provavelmente adquiriu essa habilidade depois de anos de treinamento. O francês girou a espada e atacou novamente Alwaid, que se defendeu e passou a dar giros a cada ataque para tentar confundir o inimigo. Os olhos de Louis, entretanto, pareciam treinados para captar qualquer movimento do garoto.

Alwaid sentiu um corte atingir o seu braço direito, seguido por um chute que fez a espada dele rolar para o outro lado da calçada. Ele defendeu um golpe que seria fatal com a segunda espada, tendo dificuldade para se concentrar e não ser morto em combate. Girou o corpo, dando passos para trás a cada golpe de Louis, que agora usava apenas uma mão em tom de zombaria. Alwaid pensou em convocar Rabastan, mas se lembrou do que Ryan disse no dormitório. Talvez ele pudesse trabalhar em parceria com a sua alma parasita, talvez devesse convidar Rabastan como um bom amigo, não tratando como se fosse um monstro enfurecido. A sua linha de pensamento foi desfeita quando sentiu um chute no estômago e a lâmina de Louis cortar o seu tronco, rasgando parte da camisa de Alwaid. Ele cambaleou para trás e bateu as costas na parede de um edifício. Alguém de dentro do prédio berrou pedindo silêncio, enquanto aumentava o volume da televisão. A espada de Alwaid escapuliu de sua mão e ele viu a morte chegar com uma lâmina preta e afiada, sendo carregada por um francês engomadinho.

Enquanto a batalha prosseguida, Oktavia esperava o momento propício para combater junto com o seu namorado. Sabia que não poderia correr em direção a eles a qualquer momento, pois sua foice poderia atingir qualquer uma das partes que estivesse lutando. Ela viu a primeira espada do namorado cair e não pensou duas vezes, correndo em direção da cena. Contudo, um grito de desespero de Aleka a avisou para recuar. Oktavia estava certa: existia um perigo oculto ali.

Uma adaga voou na direção da garota. Por sorte, Aleka a puxou para trás e impediu que a lâmina atingisse o ombro da amiga. Oktavia olhou para cima assustada, a adrenalina de quase ter sido morta fazia seu coração pulsar como louco. Uma figura desceu ao chão como um gato, pegando a espada cravada nas fendas dos paralelepípedos e deferindo um segundo golpe contra a garota. Oktavia defendeu, piscando para compreender a situação melhor.

Era uma mulher de trinta e poucos anos. Usava os cabelos longos e presos em um rabo de cavalo, com a pele morena e olhos furiosos como falcão. Ela também usava terno e camisa social, o que fazia parecer que os dois eram uma dupla como a Equipe Rocket. A mulher usava duas adagas e batia com uma velocidade descomunal contra Oktavia e Aleka. Ora a mutante defendia, ora a curandeira usava sua própria adaga para defender. A desconhecida girou o corpo e, por um triz, não acertou o rosto de Oktavia. De repente, uma barreira mágica surgiu entre as duas companheiras e a assassina louca.

— Vão ficar se escondendo atrás de uma barreira ridícula? – A mulher tinha uma voz estridente. – Por isso que eu sempre odiei curandeiros!

— Você deveria pensar duas vezes antes de falar isso. – Aleka respondeu, irritada. Estava cansada de ser dada como fraca por ser curandeira. – Você não pode nos atingir daqui. Então desista!

— Isso é o que você pensa...

Aleka engoliu em seco. Ela tinha plena consciência do ponto fraco da sua barreira mágica. Diferente de muitos curandeiros, a barreira de Aleka não era fechada em cima, de tal forma que se alguém arremessasse uma bomba do alto de um prédio, Aleka teria que sair correndo ou iria se dar muito mal. A barreira dela surgia verticalmente onde a garota tocasse, formando um campo de proteção com 3 metros de altura. Se alguém conseguisse pular aquilo, ela estaria frita. Por sorte, seria impossível usar a própria barreira para escalar, já que ela era lisa como uma tábua. Mas havia outras formas de ficar alto, principalmente quando você está cercado por prédios com escadas de emergência.

O coração de Aleka disparou quando viu a mulher se apoiar em uma escada e saltar para uma plataforma de ferro, que ligava a escada a outra, pulando como um ninja para dentro da barreira de Aleka. Oktavia usou sua foice para se defender, mas era difícil fazer isso dentro da barreira e não atingir Aleka. A curandeira tratou logo de desfazer a mágica, vendo Oktavia tombar para trás com um chute e sendo desarmada pela assassina.

A mulher de rabo de cavalo derrubou Aleka no chão e encostou a lâmina fria da adaga no pescoço da curandeira. A menina tentou segurar a lágrima que queria escorrer dos olhos.

— Nós só temos que levar os namoradinhos, sabia? – A doida avisou, maliciosa.

— Aleka, não! – Oktavia berrou, tentando se recuperar do golpe.

Ao ouvir o nome, entretanto, a morena ficou pálida. As mãos dela tremeram, o que não era legal quando se está com a adaga no pescoço de alguém, e ela encarou Aleka como se fosse uma outra pessoa.

— Você se chama Aleka? – Ela perguntou incrédula. Aleka desconfiava que ela tivesse algum problema, como psicopatia, agora tinha certeza que a cabeça da assassina não girava bem. – Você é filha de Calisto?

Os olhos de Aleka se arregalaram em pranto. Calisto era o nome de sua mãe. Ela quis gritar, sair dali, mas estava em estado de choque. E sendo ameaçada por uma adaga afiada. Louis parou o golpe a centímetro do rosto de Alwaid ao escutar as palavras da sua parceira.

— Clarice, minha querida, o que você está falando? – Ele perguntou, desconfiado.

— Louis, ela é a filha de Calisto! Nós achamos a filha de Calisto!

Aleka queria saber se isso era bom ou ruim, mas continuou sentindo a lâmina na garganta. E o seu desespero só fazia aumentar.

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Lobo Roxo (Deborah Quinn, Scott Blake e Ali Hasting)

Missão: Descobrir pistas sobre os seqüestradores de Ann na loja de brinquedos “Toys R Us”.

 Deborah não se sentia confortável com o plano de Ali. O trio Lobo Roxo passou bem uma hora discutindo sobre a missão, cada um dando uma opinião diferente, quando Scott e Ali chegaram a um acordo. A mutante Deborah acabou saindo na desvantagem, afinal, eles viviam em uma democracia e a maioria votou por aquele plano ridículo e falho. A menina entrou na loja com a cabeça abaixada.

— E se os seguranças da loja me expulsarem? – Ela perguntou, apalpando o vestido azul de babados. – Eu não gosto de arrumar briga, mas acham mesmo que isso vai funcionar?

— Qual menina não é fã de Alice no País das Maravilhas? – Ali falou divertida, girando o corpo da colega que estava vestida como uma personagem do filme com Johnny Depp. – O vestido ficou ótimo em você!

— Talvez uma menina que jogue spray de pimenta nos outros não seja fã de Alice. – Deborah respondeu.

O trio avançou pela loja, se deparando com um local gigantesco, repleto de prateleiras de brinquedos, crianças correndo de um lado ao outro e funcionários mostrando os últimos lançamentos da coleção de Os Vingadores.

— Fiquem de olho! – Scott avisou. - Pelo horário que o diretor nos deu, a menininha vai chegar aqui a qualquer momento.

Os três se viraram. Era difícil focar qualquer coisa com tantas cores e brinquedos barulhentos, que vez ou outra era ativado por alguma criança travessa. Eles viram um menino apertando o boneco de Thor e fazendo o brinquedo erguer o martelo como um grito de guerra. Do outro lado, um grupo de meninas brigava pela última fantasia de Elsa, enquanto algumas choravam no colo dos pais. Parecia que uma guerra civil iria se formar naquele exato momento entre os pequenos.

Deborah percebeu que as mães passavam e apontavam para ela. Isso era óbvio, uma vez que estava fantasiada de Alice. Os cabelos loiros ajudavam a manter a aparência da personagem original, assim como os olhos azuis. Ela nunca ia imaginar que Ali já tinha feito cosplay de Alice na vida dela! Deborah acenou para uma criancinha que estava nos braços do pai.

— Pessoal, olhem! – Scott avisou, apontando para uma televisão próxima ao teto onde passavam comerciais dos novos lançamentos.

Deborah e Ali ficaram atentas, pois sabiam que o mutante não costumava brincar em serviço. As imagens da televisão mudaram, mostrando um repórter na frente do One World Trade Center. Ele estava com camisa abotoada e mantinha a expressão empolgada no rosto, como se estivesse em um grande furo de reportagem. Na frente do prédio, pessoas saiam correndo desesperadas enquanto uma fumaça negra saia das portas e janelas. O repórter voltou a encarar a câmera.

— É isso mesmo, pessoal! Parece que o fantasma de 11 de Setembro nos persegue e o novo One World Trade Center está sendo atacado. Rumores falam que um grupo de jovens invadiu o prédio com uma ninja oriental. Será que tocaram fogo em algo? – O repórter voltou a olhar apavorado para o prédio, mas dava para ver que segurava a empolgação do momento. Não precisava ter superpoderes para saber o que ele pensava: “É agora que eu vou ser o âncora do telejornal!”. O repórter parou uma mulher que caminhava para fora do prédio. – Você estava lá dentro? Viu o que aconteceu?

— Ah, eu? – A mulher pareceu desnorteada, como se tivesse sido pega de surpresa. Ao olhar para a câmera, entretanto, Deborah ficou nervosa.

— Ela é a Suzana Summers, professora de Manipulação. – A mutante disse. – O que será que faz aí?

— O One World Trade Center possui salas administrativas e de pesquisa da Escola de Guardiões. – Scott explicou, ainda assimilando as informações da televisão. – Acho que isso foi consequência de uma missão.

— Olhe, ela vai falar! – Ali avisou e todos se calaram. Ela reparou que a maioria da loja tinha parado para acompanhar o documentário, com exceção de algumas crianças que ainda disputavam o vestido de Elsa.

— Eu estava lá dentro, mas posso afirmar que não foi nada. – A voz dela soou tranquila e serena. – Vocês devem voltar para a vida normal, isso não passou de um alarme falso. Deve ter sido um extintor de incêndio que foi ativado acidentalmente. Não repercutam essa notícia em outras mídias, ninguém precisa ficar em alerta. – Susana sorriu, convincente. – Por que você não procura outra reportagem incrível, senhor Flinn?

O repórter ficou frustrado ao ouvir as palavras da mulher, mas logo desistiu da empolgação com a reportagem e agradeceu o esclarecimento da moça.

— Vocês ouviram, pessoal! Temos aqui um alarme falso. Voltarei assim que tiver uma reportagem que me tire do anonimato. Tenham todos um ótimo dia!

A televisão voltou a mostrar propagandas de brinquedos. Os adultos da loja deixaram de se preocupar com um suposto atentado terrorista e tudo voltou a ser como era antes. Deborah, Ali e Scott se entreolharam, chocados com a mudança de comportamento das pessoas. Eles sabiam que Susana era uma manipuladora, mas não tinham noção do poder persuasivo dela. De uma hora para outra, uma notícia que poderia ter uma grande repercussão mundial não passou de um acidente sem valor. Era assim que a Escola de Guardiões conseguia manter tudo sobre controle: usando a manipulação para impedir que a notícia sobre os portais e os inúmeros mundos paralelos vazasse.

Deborah estava absorta em seus pensamentos quando sentiu uma garotinha puxar a borda de seu vestido azul. Ao olhar para o rosto da pequena, Deborah sentiu seu coração parar de bater.

— Eu gostei de você! – A menina com cabelos loiros e cacheados, olhos cinzentos e nariz afilado, sorriu. Um sorriso perverso. – Venha comigo!

Ela puxou a mão de Deborah e saiu correndo pela loja. Aquela criança tinha sido a mesma que atacou Ann, a mutante tinha certeza. Ali se virou a tempo de ver Deborah sumindo na prateleira dos brinquedos da Marvel e passou a correr na mesma direção, sendo seguida por Scott.

— O que você quer comigo? – Deborah perguntou, passando por um boneco de tamanho real do homem de ferro. Ela sabia que não deveria se separar dos aliados, mas o que uma menina de 6 anos poderia fazer? A mutante não iria cair novamente no truque do spray de pimenta e essa era a melhor forma de descobrir onde Ann estava.

— Eu? Eu quero só ser sua amiga. – A menina respondeu e aquilo não parecia ser muito bom. Por onde as duas passavam, Deborah tinha a sensação de que os brinquedos seguiam-nas com o olhar. A mutante engoliu em seco e percebeu a burrice daquela ação.

— Só se for no Mundo das Maravilhas! – Deborah gritou, soltando a mão da garota. – Eu quero saber o que você fez com minha amiga!

A menina pareceu chocada com a desobediência da nova coleguinha. Ela encarou com raiva os olhos azuis de Deborah e esboçou um sorriso.

— Ela foi presente do meu pai. Você, será o meu!

Subitamente, um par de braços fofinhos prendeu Deborah por trás, deixando-a quase sufocada. A mutante tentou se mover, percebendo que estava sendo atacada por um urso de pelúcia de 2 metros de altura. Deborah cambaleou para trás, mas não conseguiu se desvencilhar daquele abraço de urso (literalmente). Tentou chutar o monstro peludo, o que foi bastante inútil já que o seu pé afundou no brinquedo e voltou para frente. O urso a ergueu no chão. Precisava ser rápida, pensar em algo. Não tinha fogo para manipular, não tinha água, estava longe do chão... O ar! Deborah soprou com toda a força que podia e um vento gélido girou ao redor do seu corpo, batendo no ursinho e arremessando-o contra uma prateleira de outros animais fofos. O urso soltou a mutante, que foi atacada por uma multidão de ursinhos de pelúcia enfurecidos.

Ali e Scott corriam na direção de Deborah, já suspeitando o perigo que a amiga estava passando, quando um boneco de Tony Stark de armadura esmurrou o peito de Scott. O mutante cambaleou para o chão, caindo mais pelo susto do que pelo golpe. Em seguida, o homem-de-ferro atacou Ali com um chute, que também foi pega desprevenida. Ela bateu contra um castelo da Rapunzel.

O homem de armadura apontou para Scott e lançou seu feixe de luz. O garoto cambaleou para o lado, conseguindo se safar. Por que um boneco do homem de ferro tinha uma arma letal instalada dentro dele? Vai saber! O que restava para Scott era tentar defender-se dos golpes do brinquedo, que voou em sua direção e tentou dar um soco na cara dele. Scott girou para o lado e atingiu a peito do boneco em tamanho real, percebendo que esmurrar uma armadura de verdade só faz a mão ficar doendo. Se Tony Stark estivesse ali, com certeza faria uma piadinha sobre a inutilidade de Scott. A armadura chutou Scott e ele caiu no chão com um baque.

Ali estava desesperada. Ela amava brinquedos, mas estava começando a cogitar a possibilidade de jogar sua coleção de pokémon no lixo. A menina viu Scott apanhando do homem de lata e tentou se levantar, entretanto uma corda amarela segurou o seu braço e a puxou para o chão. Ela olhou para trás e viu uma boneca de olhos diabólicos sorrindo. A corda era o cabelo de Rapunzel.

— Eu preferia você nos filmes da Disney. – Disse, tentando puxar o braço em vão.

A Rapunzel em miniatura segurou o cabelo e forçou Ali a cair no chão. Ela gritou agoniada, quando sentiu um filete de dor no braço esquerdo. Ao olhar para o lado, viu Flyn Rider fazendo corte com uma espada minúscula, mas afiada. A menina gritou de pânico, aquilo parecia com seus pesadelos depois de ter assistido Chuck, o boneco assassino. Ela girou o corpo e chutou o boneco de Flyn com força. Depois tentou se livrar de Rapunzel, que começou a cantar aquela musiquinha do filme.

— Brilha linda flor? Você pretende me deixar mais nova? É isso? – Ali tentou segurar a gargalhada até perceber que não tinha motivo para sorrir.

Em vez do cabelo da Rapunzel brilhar em dourado, ele começou a ficar escuro, causando uma dor intensa no braço de Ali. Ferimentos surgiram ao pouco, como se o cabelo de Rapunzel virasse brasa. A curandeira berrou e puxou a bolsa com a mão livre, procurando algo em seus bolsos. Precisava ser rápida se quisesse sair dali sem ter queimaduras de 3º grau. Achou uma flecha solta no bolso da frente e atravessou o boneco de Rapunzel com a flecha. A boneca se desmontou no chão instantaneamente. Ali olhou para o braço, levemente queimado, e percebeu que tinha uma loja inteira viva e querendo mata-la.

Scott conseguiu ficar em pé para ser atacado novamente pelo homem de ferro, que atingiu a barriga dele com um soco. O mutante tentou segurar o café-da-manhã que quis voltar com toda a força. Em seguida, recebeu um soco no rosto. Scott precisava pensar rápido, aquela luta parecia estar perdida desde que começou. Ele poderia tentar puxar as suas bestas de mão da bolsa, mas talvez não fosse suficiente para penetrar a armadura do homem de ferro. De alguma forma, os brinquedos que ganharam vida possuíam as mesmas características dos personagens originais, talvez até de uma forma mais acentuada. Ele conseguiu esquivar dos demais golpes, mas não poderia fazer isso para sempre. A sua única chance era o ataque a distância.

Juntando toda a força que tinha, Scott chutou a barriga do homem de ferro com a sola do pé. A armadura cambaleou para trás e Scott aproveitou a chance para correr como um louco, passando por Ali que ainda estava no chão e se dirigindo para a sessão de cadernos infantis. Aquele parecia ser o único local seguro no momento. Será que os adesivos da HelloKitty iriam atacá-lo? Scott torcia para que não. Ele respirou fundo e ficou exposto no meio do corredor, encarando Tony Stark. Esperava que os bonecos também ganhassem a personalidade dos personagens.

— Você é um bundão mesmo, Tony Stark! – Scott gritou, sem nem mesmo acreditar que estava falando aquilo. O que a adrenalina não fazia, hein? – Duvido você me acertar com esse laser nojento daí. Deve ser tão ruim de mira que nunca passou pela primeira fase de AngryBirds.

O homem de ferro não falava, ele deveria ter sido criado sem poder gesticular a boca, mas encarou o mutante e apontou o braço. Uma energia branca começou a se acumular e saiu em disparada. Scott respirou fundo, concentrando-se para usar a sua mutação. O tiro de Tony Stark atingiu o corpo de Scott e foi convertido em energia cinética. Scott apontou para a armadura e lançou um raio azul contra o rival, arremessando-a a 10 metros de distância. Scott observou os demais vingadores, em miniatura, pulando das prateleiras para acudir o homem de ferro. O mutante esperava que eles não fossem tão vingativos quanto o próprio nome diz. Ele correu para ajudar Ali.

Se os ursinhos de pelúcia não conseguissem matar Deborah com seus socos fofinhos, com certeza seus pelos a mataria sufocada. Ela socou um urso e tentou se desvencilhar de outro, mas existiam milhares de ursos pulando em cima dela, segurando seus braços, suas pernas, todo o seu corpo. Ela tentou olhar para a menininha que parecia se divertir com aquilo. Deborah tocou no chão, pensando em como faria para combater todos esses monstrinhos. O máximo que Deborah conseguia fazer era criar pequenos terremotos.

A mutante olhou para o lado e viu uma prateleira de “bonecas que choravam de verdade”. Bingo! Deborah sentiu o seu corpo ser esmagado pelo urso maior, que a atacou de início, e conseguiu erguer a mão na direção da prateleira de bonecos chorões. A menina realmente estava ficando sem ar, por isso se esforçou ao máximo para aquilo dar certo. De repente, uma multidão de bonecas começou a berrar ao mesmo tempo, lançando jatos de água nos ursinho. Deborah usou sua manipulação para aumentar a pressão dos jatos, arremessando os ursinhos contra a parede. Os brinquedos batiam na parede e formavam marcas engraçadas com a água. Ela conseguiu se mexer enfim, ficando meio zonza depois do que aconteceu.

Ali e Scott correram até a mutante, ajudando-a a recobrar o controle do próprio corpo. Usar seus poderes sempre a deixava meio lerda, principalmente quando inventava de manipular vários elementos seguidos. A menina, de cachos loiros e sorriso do mal, encarou o trio.

— Vocês serão tão divertidos na minha coleção! – Ela berrou e correu na direção oposta.

A equipe não pensou duas vezes antes de disparar na direção da criança, que passava por várias prateleiras. De repente, ela entrou em uma caixa de presentes gigante, que caberia vários adultos lá dentro e era uma das atrações principais dali, e sumiu da vista dos três. Eles correram e entraram no local, que era extremamente escuro e parecia não ter saída.

Ali foi a primeira a bater do outro lado, tendo certeza que aquela caixa de presentes só tinha uma passagem para entrada e saída. Ela virou-se a tempo de ver a menina saindo pela porta que eles entraram e trancando a porta. Então a pestinha tinha se escondido e esperou que os três entrassem ali?

Quando a porta se fechou, o cômodo todo ficou em um breu profundo. Scott apalpou as paredes e percebeu que eles estavam em um quadrado perfeito de no máximo dois metros de lado.

— Estamos presos. – Scott avisou, percebendo que nem maçaneta existia. Naquela escuridão, era impossível encontrar até mesmo a porta. – Isso foi uma armadilha.

— Ótimo! – Deborah disparou, frustrada. – Enganados por uma garotinha de 6 anos.

— Calma, pessoal, ainda estamos vivos e unidos. – Ali conseguia ver esperança inclusive nos casos mais extremos. Até que tudo começou a se mexer como uma batedeira enlouquecida.

— Eu não estou gostando disso... – Scott avisou. – Acho melhor a gente ficar mais próximos.

E as paredes do cômodo começaram a se encolher, como uma enorme compressora para humanos.


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Notas finais do capítulo

Equipes:

Grifo Violeta
Orientador: diretor Franklin
Arthur Bone - bárbaro
Lana Mizuki - curandeira
Ezmia Mauntravani - manipuladora
Missão: Impedir o atentado ao One World Trade Center.

Dragão Negro
Orientadora: Clementine White
Aleka Savalas - curandeira
Alwaid Draconis - mutante
Oktavia Kadnikov - mutante
Missão: Os fugitivos!

Ryüjin Azul
Orientador: Hector Moore
Ryan - guerreiro
Kitty Hudson - mutante (feiticeira)
Galina Strosvisck - manipuladora
Missão: Pegar o Livro da Magia Antiga no mausoléu de Phetimílio, no mundo de Bubéstis

Lobo Roxo
Orientador: Victor Quinn
Deborah Quinn - mutante
Scott Blake - mutante
Ali Hastings - curandeira
Missão: Descobrir pistas sobre os sequestradores de Ann na loja de brinquedos "Toys R Us".

A Hora Fatal
Ann Levynsck - mutante
Sarah Watson - mutante
Pietro Del Mar - mutante
Matheus Antony - guerreiro
Missão: Encontrar as Pedras da Habilidade e sobreviver ao reality show A Hora Fatal.

PS: Pessoal, me desculpem pela demora para atualizar. As aulas na faculdade voltaram e puxou um pouco. Peço perdão! Mas, espero que estejam gostando. Comentem aí o que eu estou acertando, o que estou errando... Essas coisas. Muito obrigado!