Escola de Guardiões - Recrutamento escrita por Tynn


Capítulo 6
Capítulo 4 - Missões, parte 2




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Scott estava sentado em uma cadeira na frente da sala do professor Victor Quinn. Ele passou a manhã pensando nos últimos acontecimentos; em como tudo estava se encaminhando para um futuro terrível. Durante o seu tempo no instituto, ninguém havia ameaçado a Escola de Guardiões daquela maneira. O fato do Rei Mael ter conseguido aparecer no meio da apresentação do diretor Franklin significava que alguma pessoa, aqui dentro, ajudou a fazer aquilo. Era impossível existir uma interferência como aquela apenas vinda do lado externo. A escola era bastante protegida, Scott sabia muito bem disso, mas ela tinha um ponto fraco: o instituto nunca foi bom em lidar com magia. E existiam muitos professores especialistas na área. Ele escutou a professora Clementine White falando isso em alguma de suas entediantes aulas. Scott viu Ryan passando na frente dele, com um misto de empolgação e medo.

— E aí, cara? - Scott acenou. – Acabasse de assistir um filme de terror?

— Acho que fiz a maior burrada da minha vida. – Ryan, pela primeira vez, parecia sério. Scott pediu para que o colega se sentasse ao seu lado. – Você conhece o professor Hector Moore? Aquele cara que parece o drácula?

— Ele fez alguma coisa contra você?

— Não contra mim, mas acho que ele mexeu com Kitty. Ela não quis falar nada, entretanto pareceu abalada depois que ficou alguns minutos na sala do professor. Galina me contou uma história sinistra sobre Clementine White também. – Ryan respirou fundo. Apesar do seu jeito brincalhão, ele se importava muito com os amigos. – Hector pediu para ficar alguns instantes a sós com Kitty e eu deixei. Fui um burro, um burro! A menina saiu toda molhada, parecia que tinha recebido um banho de meleca de nariz, e parecia perturbada. Cara, aconteceu algo muito ruim. E eu deixei.

— Você não teve culpa. Se um professor pede para falar a sós com um aluno, quem pode impedir? – Scott encarou o amigo, que não parecia satisfeito. – Além disso, vocês irão para uma missão juntos. Trate de proteger Kitty e impedir que ela sofra novamente. Você é bom nisso, não? E Kitty é uma gatinha, pode admitir, com aquele jeito misterioso e...

Ryan arregalou os olhos e começou a balançar a cabeça em desaprovação, pedindo para que Scott parasse de falar. O mutante olhou para trás para saber o motivo, e encontrou Ali com uma expressão de amargura e sem-graça. Será que ela escutou Scott elogiando Kitty? Aquela dúvida fez o rapaz ficar com uma pulga atrás da orelha. Mesmo se Ali tivesse escutado, isso não justificava a cara enjoada da garota. A não ser que Ali... Não, Scott decidiu não pensar sobre isso.

— Er... Tudo bem? – Scott perguntou por educação. Ela o ignorou e foi até Ryan.

— Como eu sei que você vai se meter em muita encrenca, fiz uma coisa para que leve na viagem. – Ela mostrou um anel dourado a Ryan. – Se você girar o anel no dedo, ele vai começar a ficar azul, assim.

Ela colocou o anel no dedo e o girou na própria mão. O anel adquiriu uma cor azulada, brilhante, e depois de 10 segundos voltou a ficar normal.

— Que maneiro! Eu vou poder ir para altas baladas com ele!

— Não, Ryan, você não deve usar esse anel em baladas. Só se tiver monstros ou criaturas comedoras de gente lá. Enfim, quando esse anel estiver brilhando, você pode batê-lo no chão e uma barreira mágica vai surgir. Porém o anel vai se quebrar depois disso, então use quando realmente precisar.

— Que irado! Valeu mesmo, Ali! – Ryan se levantou e deu um abraço na colega. Ela retribuiu.

— E por que só ele ganha presentes? – Scott parecia ofendido, mas Ali fez uma careta.

— Como você faz parte da minha equipe, eu não deixarei que nada aconteça contigo. – A curandeira falou a última frase em tom irônico: – Pena que eu não seja Kitty.

— É melhor eu sair de fininho daqui... – Ryan comentou e saiu em disparada pelo corredor.

Scott pensou em responder Ali, entretanto a porta da sala do professor se abriu. Deborah estava do outro lado.

— Vamos, papai já pode nos atender agora.

— Preciso me acostumar em você chamando nosso orientador de “papai”. – Scott sorriu antes de entrar na sala do professor. Ali foi em seguida. Deborah deu uma última olhada no corredor e fechou a porta.

O professor Victor Quinn estava em pé diante da janela. Ele olhava um grupo de alunos que caminhava pelo pátio, carregando suas armas de guerra e conversando sobre os últimos acontecimentos da escola. Aquele lugar ainda era seguro, apesar de tantas coisas estarem acontecendo. O próprio professor temia que as coisas se tornassem um caos repentinamente. Ele viu os seus três orientandos entrarem na sala, que não passava de um escritório para que o professor pudesse trabalhar. Ele pediu para que os jovens se sentassem e forçou um sorriso.

— Bom dia, equipe Lobo Roxo. – A voz de Victor Quinn saiu azeda na frase. – Vocês foram designados para uma missão muito importante e eu conto com a discrição de todos. Tudo bem? – Ali e Scott balançaram a cabeça. Deborah apenas encarou o pai, já tinha tido essa conversa antes com ele. – Essa notícia ainda não foi divulgada oficialmente, mas em breve os demais alunos irão saber do ocorrido. A nossa aluna Ann Levynsck foi sequestrada hoje de manhã, nos arredores da escola. Ela caminhava quando um homem atirou nela. Pelos registros da câmera, acreditamos que foi um dardo tranquilizante, já que o impacto não foi tão forte e não há vestígios de sangue no local.

O professor girou o notebook, que estava sobre a sua mesa, e mostrou o vídeo da câmera de vigilância. A imagem era em preto-e-branco, mas dava para ver a aluna correndo para ajudar uma menina caída no chão. Em seguida, a menina pareceu atingir a mutante com uma espécie de spray e logo um homem surgiu, com uma arma. Ann é levada no ombro do rapaz.

— Que horrível! – Ali falou, se esforçando para não emitir um grito. – Como isso pôde acontecer?

— Os nossos inimigos estão mais ousados nesses últimos dias. Acreditamos que o Rei Mael esteja por trás dessa ousadia repentina. – O professor franziu a testa, preocupado. – Nós não conseguimos identificar o homem, contudo nossas câmeras registraram o rosto da garotinha. Passamos a manhã toda procurando nas câmeras de vigilância do país algum registro da menina e encontramos um lugar que ela vai com frequência.

Victor minimizou o vídeo e procurou nas pastas de seu notebook outro material. Ali estava realmente inquieta com toda a história, ela não gostava da ideia de não ter mais segurança no lugar onde morava. Costumava pensar que estava no mundo perfeito. Talvez não em relação a tudo, mas pelo menos sabia que não precisaria se preocupar em ser atacada por algum ser sinistro. Ela olhou para Deborah e viu a expressão de angústia da garota. A mutante parecia ainda mais abalada com a cena e seus olhos estavam avermelhados. Deborah havia chorado? Ali voltou a prestar atenção no professor.

— Essa câmera é do centro de compras de Orlando. Podemos observar a menina entrar e sair da loja de brinquedos “Toys R Us”. A câmera não registra o homem que está ao lado da garotinha, ele sempre está com um chapéu. Entretanto, pode-se observar que a menina é nitidamente a garota que esteve no momento do sequestro de Ann. – Victor fez uma pausa e encarou a filha. Ela respirou fundo, olhando para o notebook. – Quero que vocês vão para a loja de brinquedos e descubra alguma pista sobre a garota. Nós temos os horários em que ela apareceu na loja, então vocês podem começar por aí. Entenderam?

O trio ficou em silêncio. Eles haviam entendido a missão, mas parecia ser difícil demais realiza-la. Eles acreditavam no potencial de cada um e sabiam do que eram capazes de fazer juntos. Entretanto, resgatar uma aluna da Escola de Guardiões exigia coragem e uma grande expectativa vinha acompanhada daquela decisão. Scott se mexeu na cadeira.

— Quando nós vamos partir?

— Imediatamente. – Victor percebeu a reação da equipe. – Pessoal, sei que é muita responsabilidade ir atrás de uma amiga de vocês, mas essa foi a melhor equipe que encontramos para a missão. Vocês têm poderes extraordinários, nada pode impedi-los juntos. Além do mais, eu conheço o potencial de cada um. Fui eu que os treinei no combate com armas, sei do que estou falando. Vocês vão se sair bem.

— Eu sei... – Deborah sorriu. – Eu sei que vou resgatar minha amiga, não importa o que aconteça.

— Que nós vamos resgatá-la, Deborah. – Ali corrigiu, sorridente. – Não se preocupe, professor Victor Quinn. Quando pisarmos novamente nessa escola, Ann estará ao nosso lado!

O professor gostou de ouvir as palavras de Ali, percebendo que os demais do grupo se contagiaram com o pensamento da garota. Apesar de todas as adversidades, Ali ainda tinha esperança de um mundo melhor. Ela era sonhadora e gostava de desafios. Eles pegaram os últimos detalhes com o professor e saíram, rumo a uma nova jornada.

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O vento balançou os cabelos encaracolados da manipuladora Ezmia, fazendo-os bailar durante alguns instantes. A garota estava com a mente longe, olhando pela janela os muros que delimitavam os arredores da escola. Vários seguranças tinham sido contratados para vigiar o local, além de uma equipe reforçada de caras mal-encarados, que regulavam cada saída ou entrada na escola. Uma cerca elétrica estava sendo instalada. De uma hora para outra, a escola se tornou em um enorme quartel general.

A moça não estava apenas preocupada com isso. Desde que entrou na escola, Ezmia queria dar o máximo de si para ser a melhor aluna. A mãe dela vivia sozinha em uma vila na Itália, onde bruxos e humanos poderiam compartilhar uma vida comum. Entretanto, o abandono do pai causava certa amargura na mulher que criou Ezmia. A garota se lembrava de ver nos olhos da mãe a infelicidade por viver sozinha. A viagem para os Estados Unidos foi bastante melancólica, a menina sentia-se culpada por ter deixado a matriarca sozinha. Por isso, prometeu ser uma boa aluna para compensar a própria consciência. Mas até mesmo isso ela duvidava, já que a escola estava se tornando em um lugar perigoso.

A moça escutou passos vindos dos corredores dos professores. Era assim que os alunos costumavam chamar a passagem que dava para as salas dos docentes. Ezmia deu uma espiada para ver quem vinha. Vislumbrou uma senhora redonda, com um vestido florido muito jegue, e um pálido homem. Ezmia enfiou-se atrás de uma pilastra para não ser percebida pelos professores. O instinto investigativo da garota a fez querer escutar a conversa, mesmo sabendo que não era a coisa mais correta a se fazer (aprendeu com sua mãe a nunca escutar conversa dos outros); Ezmia não achava justo ser aluna da escola sem saber o que acontecia ali. Ela respirou fundo e prestou bastante atenção na conversa.

— ...eu dei o maior susto nela, mas não foi suficiente para que descobrisse o poder oculto. – A voz de Clementine White soava pelo corredor. – Galina tem uma habilidade maravilhosa! Junto com a sua manipulação, será uma criança muito importante para nós.

— Você parece fissurada naquela criança. – Hector Moore tinha uma voz rouca e seca. Os dois pararam assim que saíram do corredor, ficando ainda mais próximos de Ezmia. Ela engoliu em seco. – Temos assuntos mais importantes para tratar. Dizem que o Rei Mael está recrutando os guardiões.

A mão de Ezmia foi à boca para não soltar um grito de surpresa.

— Eu fiquei sabendo. Muitas pessoas queridas estão indo para o outro lado, eu não entendi a razão deles. Aqui é um lugar tão encantador.

— O planeta Terra está morrendo por causa da ganância do homem. Fome, miséria, destruição, guerras civis, desmatamento... Talvez outro governante pudesse colocar ordem nisso tudo. Alguém que não seja desse mundo corrupto. – Ezmia quis dar uma espiada na cara enjoada de Hector Moore. Ele parecia estar simpatizando com os inimigos.

— De que lado você está, afinal?

— Não me venha com essa insinuação. Você não é uma professora exemplar, contratando seguranças para ficar de olho no menino-demônio e seus amiguinhos. Eu que suspeito de sua conduta aqui dentro. – A curiosidade falou mais alto. Ezmia moveu o rosto lentamente até ver a cara dos dois. Hector a fitou nos olhos. – Você aí!

O coração da moça disparou. Ela pensou em sair correndo e pular pela janela, mas se emborracharia no chão como uma boneca de pano. Para seu pânico, uma força invisível tirou seus pés do piso e ela se viu grudada na parede, de cabeça para baixo. Ezmia encarou Hector Moore erguendo os braços, usando sua sinistra magia para deixá-la naquela situação desconfortável. Clementine fazia uma careta de reprovação, apesar de que olhando pelo ângulo de Ezmia, parecia mais uma careta de dor de barriga.

— Que coisa feia, menina, escutando conversa escondida! – A professora repreendeu-a. – Você pode receber uma punição por causa disso.

— Eu só estava olhando a janela! – A garota disse, torcendo para ser uma ótima mentirosa. Ela não podia usar a manipulação dentro da escola. – Não escutei nada!

— O que devemos fazer com ela? – Hector parecia empolgado com a pergunta. – Eu posso leva-la a minha sala. Ela vai adorar conhecer minha coleção de criaturas de outros mundos.

Passos pesados foram ouvidos ao final de outro corredor, que dava para o hall da escola. Hector pressionou um corpo de Ezmia mais um pouco na parede, avisando-a silenciosamente de que aquela conversa não tinha chegado ao final. Em seguida, despencou a menina no chão. A manipuladora teve sorte de não ter quebrado o pescoço, já que embolou e bateu a cabeça no piso. Apesar de estar pouco distante no chão, aquilo machucou. Clementine virou-se para a direção dos passos e fez um sorriso simpático, extremamente doentio. Ela foi respondida com uma cara fechada e rancorosa.

— Ora, ora... Se não é Kitty Hudson! – Hector moveu os olhos fundos na direção da feiticeira, que estava com um vestido de seda azul-marinho e a varinha em mãos. A moça arregalou os olhos ao ver Ezmia no chão.

— O que você fez com ela? – Berrou por impulso. Hector fez menção de atacar a aluna, mas Clementine o segurou.

— Foi só um mal-entendido. A manipuladora tropeçou no próprio cadarço e acabou caindo. Nós viemos acudi-la! – A velhinha foi até Ezmia e estendeu o braço. Ezmia levantou-se sozinha. – O que você deseja, querida bruxa?

— Eu só vim avisar a Hector Moore que eu irei fazer o que ele me pediu. Ao final da missão, o professor terá tudo! E eu irei querer a minha recompensa.

— Acordo fechado. – Hector tentou esboçar um sorriso, mas era como se seu rosto não aceitasse aquela atitude. – Fico agradecido com a ajuda.

— Vamos, Ezmia. Não é bom ficar aqui.

A manipuladora olhou para trás quando Kitty a puxou pelo braço e começou a marchar em direção ao corredor para o hall da escola.

— Até mais, querida! – Clementine gritou. – Saiba que eu não me esquecerei do que você fez!

As duas se enfiaram num amplo espaço cheio de alunos caminhando de um lado ao outro, preocupados com suas missões e paqueras. A cada parede existiam várias portas que davam para as mais absurdas salas de aula. Uma delas dizia: “Aula de Montagem em Dragões”. Ezmia nunca teve oportunidade de entrar ali, para sua tristeza. Kitty continuava a andar como se estivesse sendo seguida por espiões do mal.

— O que ele te pediu? – Ezmia quis saber. – Me conte agora!

Kitty só parou quando as duas desceram vários lances de escadas e foram para um lugar isolado, fora do prédio principal. Existia uma árvore com uma frondosa sombra e, logo á frente, o local de treinamento de tiro-ao-alvo.

— Eu não posso te contar, mas preciso que você saia da escola. – Kitty falou com urgência. – Esse lugar não é seguro, saia imediatamente!

— Eu escutei Hector e Clementine falarem que o Rei Mael está recrutando os próprios guardiões! Kitty, isso é muito sério! Eu não vou fugir...

— Vá para a vila da sua mãe, lá é um lugar pacífico, certo? Eles não devem atacar aquele lugar. – A bruxa mordeu a boca, mania que tinha ao ficar nervosa. – Você precisa me prometer.

— Eu prometo que irei investigar toda essa bagunça! – Ezmia apontou para o prédio. – Eu irei descobrir quem está do nosso lado e quem não está. E iremos enfrentar o rei Mael e toda essa gentalha que está ao lado dele.

Ezmia queria decifrar o que os olhos de Kitty diziam, mas era impossível. A feiticeira parecia enfrentar um conflito interno, como se guardasse um segredo que quisesse muito revelar, mas não podia. Kitty respirou fundo.

— Quando a minha missão acabar, coisas ruins vão acontecer. Você precisa ficar longe daqui ou vai sobrar para todo mundo, entendeu? Eu preciso fazer isso.

— Kitty, você não precisa fazer o que Hector Moore pediu! Aquele cara é um idiota!

De repente, a feiticeira fitou uma janela acima das duas. Ezmia virou-se e encarou o rosto retangular do professor Moore do outro lado do vidro. Kitty baixou a cabeça, indefesa.

— Preciso ir. Espero que você se cuide.

A feiticeira saiu com fortes pisadas no chão. Ela entrou na escola e deixou Ezmia sozinha do lado de fora. A manipuladora queria ir atrás daquele professor idiota e dar um murro na cara dele, mas não conseguiria nem chegar perto sem ser arremessada contra uma parede ou ficar rodopiando no ar. A moça jogou fora toda a raiva que tinha e resolveu ir até o dormitório, onde se prepararia para a sua missão.

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Ryan abriu a porta do dormitório e levou um susto quando viu Alwaid girando duas espadas no ar. O mutante guardou as armas nas bainhas que usava na cintura, pegou uma mochila muito pesada e colocou-a nas costas. Ryan bem que queria ser mais próximo do colega de quarto, mas o olhar frio de Alwaid era bastante intimidador. De repente, o guerreiro lembrou-se da cena no ginásio, percebendo que existia uma criatura bem mais perigosa dentro do rapaz.

— Beleza, brother? – Ryan cumprimentou divertidamente. A cabeça ainda martelava por causa de Kitty, mas não era o momento para se preocupar com isso. A sua mente agora focava em outro contratempo. – Você precisa tomar cuidado com a sua orientadora, Clementine White. Ela é uma doida vestida de vovozinha simpática.

— Eu sei me virar sozinho, obrigado. – Ele respondeu simplesmente. O rapaz abriu uma gaveta e pegou um canivete, colocando no bolso.

— Cara, você precisa ser mais de boa com a vida. Existem pessoas maneiras aqui na escola, não custa nada dar uma chance para elas.

— Não sou mais aluno daqui.

— Você foi expulso?

— Não... – Alwaid, com seus cabelos negros na altura da nuca, se virou para encarar Ryan. – Eu irei embora. Dessa forma, o Rei Mael não irá querer destruir esse lugar e ninguém vai ter que se preocupar com Rabastan. Será melhor para todo mundo.

O mutante caminhou até a porta, certificando-se de que tudo estava em ordem. Tinha pego os materiais necessários para viver algum tempo nas ruas: barrinhas de cereais, caixas de suco, roupas, canivete, bússola, espadas e celular. Ele não tinha nenhum plano em mente, mas sempre viveu assim com Oktavia. Os dois passaram anos fugindo de lugar em lugar, viajando entre dimensões para ficarem livres do Rei Mael. Já havia conversado com a namorada sobre isso e ela concordou. Os dois não passariam nem mais um minuto naquela escola. Quando estava chegando perto da porta, a mão de Ryan segurou seu braço.

— Cara... Eu preciso te falar uma coisa. – Os olhos vermelhos de Alwaid encararam o guerreiro. – Você não o único com esse lance de Hulk dentro de si. Eu também tenho uma parte de mim que costuma me ajudar nas missões, mas eu descobri como controla-la. Na verdade, tive um treinamento pesado com a minha mãe desde a pré-adolescência, ela ensina melhor do que o Yoda. O mais importante é que você não pode continuar fugindo de Rabastan só porque ele dá problemas. – Ryan deu uma pausa, parecia estar desabafando sobre seus próprios medos. Ele soltou o mutante, coçando a nuca. – Eu tento ser engraçado para que as pessoas não se assustem quando me virem da outra forma. Mas não deixo que o outro “eu” se torne um problema. Você deveria fazer o mesmo.

Alwaid passou um instante refletindo. Ninguém nunca tinha falado daquela forma com ele; todos viviam evitando Alwaid e sempre se referiam a Rabastan como um monstro maligno. O rapaz passou a sentir simpatia por Ryan. O garoto era confiável, talvez Alwaid pudesse contar com ele nas horas mais difíceis. Por um momento, o mutante pensou em revelar todo o seu passado para o garoto, comentar sobre os dias em que ficou preso no castelo de Mael como um cão de caça, de como foi explorado por causa de suas habilidades até finalmente fugir e encontrar Oktavia. Ele sentiu que estava prestes a fazer uma nova amizade, quando o celular tocou.

— É Oktavia. – Alwaid falou por fim. – Eu tenho que ir. Adeus, colega.

O mutante saiu com passadas largas pelo corredor. Ryan encarou o rapaz ir embora, perguntando-se por que falou todas aquelas coisas sobre si próprio. A única pessoa com quem tinha compartilhado isso antes era com Scott, seu amigo de longas datas, mas Ryan se sentia na obrigação de dividir o momento com Alwaid, já que o mutante parecia passar por problemas parecidos com o do guerreiro. Ryan balançou a cabeça e arrumou suas coisas, pois tinha um livro de feitiços para resgatar.

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Oktavia estava inquieta. Ela andava de um lado ao outro na frente da porta principal do prédio da escola, com a sua mochila nas costas. A mão direita estava dentro do bolso da calça jeans, onde se certificava que a sua pena mágica estava lá. Ela não saia para canto nenhum sem seu objeto místico, principalmente se fosse fugir e morar nas ruas. Lógico que ela e o namorado descobririam alguma forma de se manter vivos, nem que seja pedindo esmola ou fazendo coisas não muito lícitas. Quando se está fugindo de um general extra-dimensional, roubar pão de um mercadinho com outros um milhão de produtos parecia aceitável.

A moça discou para o celular de Alwaid novamente, torcendo para que ele fosse rápido. Desde que se dirigiu até o portão e soube que nenhum aluno tinha permissão para sair sem a autorização do diretor, os novos seguranças de paletó preto ficavam encarando-a. Era como se eles previssem a fuga. Oktavia usava um casaco de lã cinza e uma camisa azul embaixo. Ela esboçou um sorriso quando avistou o namorado caminhando com uma calça de couro preta.

— Onde está a sua foice? – Ele perguntou imediatamente. Oktavia segurou a mão do namorado.

— Ela está dentro da bolsa. – A garota avisou. A sua foice era mágica e se transformava em um pequeno graveto para poder ser transportada sem chamar atenção. A menina albina puxou o namorado para dentro do prédio. – Eles não estão permitindo que os alunos saiam. Ordens do diretor.

— Depois do que aconteceu no ginásio, era de se esperar. Você consegue nos tirar daqui?

— Sim, mas precisa ser em um lugar próximo ao muro. A magia de teleporte não alcança uma distância muito longa. Se eu usá-la aqui dentro, o máximo que vamos conseguir chegar é na quadra de basquete.

— Não podemos perder tempo.

Os dois caminharam entre os adolescentes da Escola de Guardiões, no hall. A cara fechada de Alwaid assustava a maioria das pessoas que ainda se lembrava da batalha com imenso pavor. Alguns apontavam para o casal, como se eles fossem uma espécie de celebridade indesejada. Oktavia olhou para trás e viu que um par de guardas seguia-os. Ela tentou manter a calma, mas não estava dando muito certo. A moça se aproximou do namorado.

— Eles estão nos seguindo. – Ela sussurrou. – Precisamos ser mais rápidos.

— Vamos para a quadra de futebol. Agora!

Eles começaram a correr no meio do hall. Os alunos que foram empurrados por Alwaid faziam cara feia e xingavam o casal. Oktavia pedia desculpa a cada esbarrão, apesar de saber que essa era a única forma dos dois conseguirem sair daquele lugar. Por mais que gostasse da escola, ela achava um absurdo os alunos serem mantidos presos dentro dali. Mais dois guardavam surgiram no corredor a direita, agora tinham 4 seguindo-os. Os olhos de Oktavia varriam o hall a procura de novas ameaças quando cruzou com o olhar de espanto de Aleka, que viu seus companheiros fugirem como loucos pelo hall. A curandeira não pensou duas vezes antes de segui-los para saber o que os dois tinham na cabeça.

— Precisamos passar na sala da professora White! – Aleka berrou em desespero, sabendo que o casal iria ignorá-la de toda a forma. Os seguranças apressaram o passo.

Alwaid e sua namorada passaram pela porta que dava para a quadra de futebol e, antes que fechassem a porta, Aleka saltou e conseguiu chegar ao outro lado. Oktavia puxou uma pena do bolso enquanto Alwaid segurava a porta com força, sentindo a pressão dos guardas que tentavam arrombar a madeira. Oktavia fez uma circulo na fechadura, com a sua pena mágica, capaz de riscar qualquer superfície com uma tinta preta. A moça fez um rápido desenho com alguns símbolos retangulares e encostou a ponta da pena no centro do circulo. Uma luz branca emanou da figura. Quando Alwaid soltou a porta, o objeto nem balançava mais com o impacto dos seguranças. Oktavia tinha transformado a porta em uma tranca blindada.

— Isso não vai segurá-los por muito tempo. – A feiticeira admitiu. – Irei fazer o circulo de teleporte aqui mesmo, não temos tempo para chegar até o campo de futebol.

— O que vocês estão fazendo? – Aleka perguntou desesperada. – Será que não podem passar um minuto sem fazer confusão?

— Ninguém te chamou aqui. – A voz de Alwaid era firme. – Se afaste.

Oktavia foi para o gramado, entre o campo de futebol e a porta de saída. Eles escutaram os guardas discutindo de dentro do prédio, berrando alguns palavrões. Aleka reprimia uma vontade intensa de pular em cima do pescoço de Alwaid e estrangulá-lo até ele falar a verdade e parar de metê-los em encrenca.

— Oktavia, o que está acontecendo? – A curandeira perguntou, contendo seus impulsos.

A moça, que fazia um círculo de mais de um metro de raio no chão, demorou um tempo para responder. 

— Nós vamos fugir daqui. - Um grupo de seguranças surgiu após o campo de futebol, apontando para o trio e fazendo comentários em seus comunicadores. Oktavia tentou se concentrar no desenho. - A escola não é mais segura, além disso precisamos tirar a atenção do Rei Mael para cá. Se fizermos isso, talvez ele desista de atacar a Terra e todos viverão em paz.

— E quanto a vocês? Vão viver peregrinando por aí sem rumo?

— Nós sempre fizemos isso. – Alwaid respondeu. – E sempre nos damos bem.

— Isso não é vida! Por favor, parem um minuto para pensar que vocês estão fazendo a maior besteira do mundo! Não podem continuar assim para sempre.

— Uma hora eu vou arrancar a cabeça do Rei Mael. – Aquela frase deixou Aleka com ânsia de vômito. Alwaid continuou falando com determinação. – E ele irá parar de nos seguir.

Oktavia fez círculos menores dentro do principal, desenhando detalhes de penas em cada um dos traços. Um pingo de suor desceu de sua testa e atingiu o gramado. Ela olhou de relance para frente e viu os guardas apontando armas para os três. Em seguida, a feiticeira encarou os amigos.

— Temos problemas.

Uma bala atingiu o chão próximo a garota. Era um dardo tranquilizante, que perfurou o solo e afundou com o impacto. Existiam pelo menos dois seguranças que abriam a grade para o campo de futebol enquanto os outros apontavam suas armas, em tom ameaçador. Todos usavam óculos escuros e tinham fones de ouvido ligados aos seus celulares. A porta do prédio voltou a se mexer, significando que o feitiço de tranca de Oktavia havia acabado. Alwaid puxou as espadas.

— Você não vai conseguir fazer nada contra um bando de seguranças armados. – Aleka avisou, impaciente. – Eu sei que vou me arrepender muito disso depois, mas vocês são minha equipe. 

A garota caminhou até Oktavia, que terminava de fazer o circulo aos seus pés. Alwaid fez o mesmo e, assim que pisou em cima do circulo da namorada, uma barreira azul surgiu ao redor dos três. Aleka sorriu quando viu sua barreira.

— Tem certeza disso? – Oktavia, finalizando o circulou, estava preocupada. – Quando eu terminar aqui, nós três vamos ser enviados para fora da escola.

Tiros ricochetearam na barreira de Aleka. A garota soltou o ar com susto, vendo a porta do prédio se abrir com um estouro e pelo menos seis guardas saírem em disparada na direção deles. A curandeira alisou uma mexa de seus cabelos negros.

— Eu não sei vocês, mas quando uma escola manda guardas atirar contra os alunos, eu acho melhor sair dela. Além disso... – Aleka olhou para o chão, envergonhada. Um dos guardas deu um murro na barreira; o trio estava cercado por homens furiosos. – Minha mãe, Calisto, era uma guardiã e eu nunca mais tive notícias dela. Eu acho que fora daqui ficará mais fácil de descobrir algo sobre ela e vocês podem me ajudar nisso. Será uma espécie de troca.

Os guardas começaram a bater desesperadamente na barreira. Alguns chegaram a aproximar a pistola no campo de força e atirar, vendo o projétil ser repelido do campo de força como se fosse imune àquilo. Apesar de protegidos, Aleka sabia que uma hora eles iriam arrumar um jeito de furar o bloqueio. Oktavia e Alwaid se entreolharam, concordando com os termos de Aleka em silêncio.

— Então vamos dar o fora daqui. – Alwaid pediu.

Oktavia verificou se todos estavam dentro do circulo criado por ela e tocou, com a pena, no centro dele. O circulo adquiriu um brilho branco, intenso, e irradiou luz em todas as direções. Em poucos segundos, o trio se transformou em feixes de luz e desapareceu, deixando um bando de seguranças com expressões de dúvida e desconfiança no rosto. Muitos se agacharam no chão e começaram a tatear o solo em busca de alguma explicação lógica, mas não existia nenhum túnel ou vestígio de passagem secreta ali. O trio havia desparecido como se fosse mágica. O que de fato tinha sido. Os guardas começaram a se empurrar como se fossem crianças pequenas, apesar de todos serem altos e musculosos. De repente, eles pararam ao ver uma figura andando em direção a eles.

— O que aconteceu aqui? – Clementine White berrou, impaciente. – Vocês deixaram as crianças fugirem? Eu não havia pedido para ficarem de olho naquelas pimentinhas? Eu sabia que isso ia acontecer! – A vovó gritou com sua roupa florida. – Todos para a minha sala agora! Vocês irão aprender o que é um bom castigo. Hoje em dia não se pode fazer mais nada para educar os outros, mas na minha época... Ah, vocês verão o que é bom para tosse! Andem, andem!

Os guardas baixaram a cabeça e começaram a caminhar tristonhos. Clementine bufou e seguiu os homens, irritada por ter perdido a sua equipe de orientandos. Mas ela não iria deixá-los ir tão fácil. De jeito nenhum.


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Notas finais do capítulo

Equipes:

Grifo Violeta
Orientador: diretor Franklin
Arthur Bone - bárbaro
Lana Mizuki - curandeira
Ezmia Mauntravani - manipuladora
Missão: Impedir o atentado ao One World Trade Center.

Dragão Negro
Orientadora: Clementine White
Aleka Savalas - curandeira
Alwaid Draconis - mutante
Oktavia Kadnikov - mutante
Missão: Os fugitivos!

Ryüjin Azul
Orientador: Hector Moore
Ryan - guerreiro
Kitty Hudson - mutante (feiticeira)
Galina Strosvisck - manipuladora
Missão: Pegar o Livro da Magia Antiga no mausoléu de Phetimílio, no mundo de Bubéstis

Lobo Roxo
Orientador: Victor Quinn
Deborah Quinn - mutante
Scott Blake - mutante
Ali Hastings - curandeira
Missão: Descobrir pistas sobre os sequestradores de Ann na loja de brinquedos "Toys R Us".

A Hora Fatal
Ann Levynsck - mutante
Sarah Watson - mutante
Pietro Del Mar - mutante (morto?)
Matheus Antony - guerreiro
Missão: Encontrar as Pedras da Habilidade e sobreviver ao reality show A Hora Fatal.

PS: E aí, pessoal, tudo bem? O capítulo ficou enorme, não foi? Então, quero saber se vocês estão se incomodando com o tamanho dos capítulos. Sejam sinceros: querem que eu diminua os próximos capítulos ou assim está bom? Lembrem-se que eu escrevo para vocês curtirem!

PS²: Arthur Bone, Aleka Savalas, Galina Strosvisck, Alwaid Draconis, Oktavia Kadnikov, Pietro Del Mar e Sarah Watson, eu gostaria muito que vocês mandassem por mensagem privada uma música que represente os seus personagens e como eles agem durante o combate! É importante para a história.

PS³: Isso é tudo, pessoal! Valeeeeu!