Escola de Guardiões - Recrutamento escrita por Tynn


Capítulo 5
Capítulo 4 - Missões, parte 1




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Galina Strosvisck encarou-se no espelho. Ela mirou intensamente os seus olhos verdes-amarelados, tentando enxergar dentro da própria alma. Precisava descobrir qual era o tal poder oculto que possuía. A menina virou-se para o caderno que estava em cima da cama e desejou que ele flutuasse. Ela ergueu a mão, no maior estilo Mister M, e fez tanta careta que temeu ficar com rugas na testa. O caderno continuou parado, sem sair um milímetro do lugar.

— Do que aquela professora doida estava falando? – Galina perguntou-se, aflita.

Ela era apenas uma manipuladora como todas as outras da escola. Sabia muito bem usar a sua lábia para que as outras pessoas obedecessem suas ordens. Aprendeu, quando era bem mais nova, que não deveria usar os seus dons para proveito próprio. Lógico que ela já havia andado de montanha-russa mesmo antes de atingir a altura mínima, apenas pedindo para que fizesse isso ao funcionário do parque. Quando a mãe dela a viu no brinquedo, Galina passou uma semana inteira sem sair de casa. Aprendeu o quanto era errado enganar os outros. Voltando para o dilema atual, a questão era mais difícil. Ela tinha algo dentro de si mesma que desconhecia. E se por acaso fizesse um mal ao outro sem querer? Galina estremeceu só de pensar nisso.

A porta do dormitório se abriu e Galina viu uma garota de cabelos negros como a noite encarando-a. Kitty fez uma careta de desgosto ao reparar que Galina estava em frente ao espelho, aparentemente se olhando como se fosse uma modelo de cinema. Ou estivesse tentando encontrar uma espinha minúscula no rosto. Tanto faz, a feiticeira não queria saber a resposta.

— Ryan me mandou uma mensagem no whatsapp. – Kitty disse simplesmente. – Ele já está na porta da sala do professor Hector Moore. E falou para a gente levar alho, porque ele acha que Hector é um vampiro.

— Alho não funciona contra vampiros. – Galina respondeu, divertida. – Acho melhor pegar uma estaca de madeira.

— Vamos, não temos tempo para piadas ruins.

Galina deu uma última olhada no espelho, ajeitando as madeixas ruivas que caiam sobre os ombros. Ela tinha passado na enfermeira antes e os curandeiros conseguiram cicatrizar o ferimento do cachorro-demoníaco-fofinho. A menina sorriu para si mesma, tentando arranjar coragem para encarar sua primeira missão.

As duas não conversaram muito enquanto andavam pelos corredores. Galina bem que tentou puxar assunto com Kitty, mas ela respondia de maneira seca e breve. Não gostava muito de conversa ou estava em um dia péssimo. A única coisa que conseguiu descobrir da nova companheira é que ela gosta de gatos. Mas não teria paciência para cuidar de nenhum.

As meninas encontraram Ryan na porta do professor. Ele estava usando duas bainhas cruzadas nas costas, assim como uma jaqueta jeans e óculos escuros.

— Quem você pensa que é? – Galina realmente queria saber. – O exterminador do futuro?

— Sou Ryan, o guerreiro bolado.

Kitty bateu na porta do professor, ignorando o diálogo entre os dois, e escutou o homem informando que a equipe poderia entrar. Ela abriu a porta e parou, em estado de choque, quando viu a sala. Ryan esticou o pescoço para ver a sala através dos ombros de Kitty. Ele contornou a garota para entrar no lugar mais legal do mundo!

A sala era repleta de artefatos antigos, como pergaminhos, livros milenares e bolas de cristais. Tudo tinha um ar místico e rústico. Uma estante estava repleta de pequenos animais mortos guardados em potes de vidro. Ele viu um escorpião de duas cabeças, uma aranha do tamanho de uma bola de basquete e uma cobra que parecia piscar os olhos a cada cinco segundos, apesar de parecer realmente morta. Galina abraçou os próprios braços, procurando uma gaiola com cachorros devoradores de dedos. Ela ficou ao lado de Kitty, que mantinha uma expressão de repulsa e nervosismo. Ryan parou diante de um aquário com peixes violetas quando a voz de Hector Moore soou.

— Não toque em nada! – O professor avisou. Ele estava sentado no fundo da sala, tão pálido que parecia mais uma estátua do que uma pessoa. – Eu não me responsabilizo pelas suas mãos se você fizer isso.

Ryan engoliu em seco e colocou as mãos dentro da jaqueta. Ele ficou ao lado das amigas, que agora encaravam o professor.

— Você tem uma coleção legal, coroa. – O guerreiro comentou.

— Eu fico agradecido, se é que isso foi um elogio.

Galina estreitou os olhos e imaginou o professor Hector Moore dançando Thriler, do Michael Jackson. Infelizmente, nada aconteceu. Ela queria muito que seu poder oculto fosse fazer pessoas esquisitas dançarem loucamente. Ou coisa do tipo.

— Estamos aqui para falar da missão, professor Hector Moore. – Kitty falou. – Qual será a nossa?

— Você precisa aprender a ser mais paciente, feiticeira Kitty, ou terá o mesmo destino da sua mãe.

Galina teve que segurar a colega, que parecia ter recebido um golpe no estômago com aquelas palavras. Os olhos da feiticeira emanaram raiva; a manipuladora teve medo que Kitty avançasse no professor a qualquer instante.

— Por favor, só queremos saber as suas ordens. – Galina implorou.

— Tudo bem... – Hector Moore se levantou da cadeira e caminhou até uma pasta marrom. Ele era bastante magro, parecia um esqueleto humano. O professor puxou um tablet da pasta e o ergueu aos alunos. No visor, apareceu a foto de um livro antigo, com páginas amareladas e a capa feita de couro. – Este é o Livro da Magia Antiga, guardado no mausoléu de Phetimílio. A missão de vocês será ir até esse mausoléu e trazer o livro para mim.

— Parece ser bem legal invadir um mausoléu antigo e pegar um livro ainda mais antigo. – Ryan falou, coçando a cabeça. – Mas, por que você quer esse livro?

— Ele possui segredos milenares que devem ser mantidos em sigilo. Durante eras o livro continuou inalcançável. Todas as pessoas que tentaram violar a mausoléu morreram miseravelmente. Entretanto, há rumores de que o rei Mael, junto com seus novos aliados, esteja querendo pegar esse livro para aumentar seu poder. E, com isso, invadir a Terra. Vocês precisam pegar o livro antes dele e trazê-lo para a Escola de Guardiões, onde o livro ficará seguro.

Havia uma tensão latente entre Hector Moore e Kitty, Galina conseguia perceber isso. Os dois trocavam olhares nervosos, como se houvesse um grande segredo guardado que estivesse prestes a explodir. A manipuladora sabia como era estar na presença de um professor que sabia coisas demais sobre sua própria família, por isso, queria de alguma forma ajudar Kitty a sair daquela situação.

— Podemos saber onde fica esse mausoléu? – Galina perguntou. – Precisamos dessa informação para ir até lá.

— Ele está localizado no Mundo de Bubéstis. É um universo onde a magia e a tecnologia conseguiram coexistir, apesar das pessoas lá viverem em um verão constante. A água é preciosidade. Lembra bastante um deserto daqui, se não fosse pelos animais estranhos que vivem embaixo da terra. Talvez algum de vocês morra na missão.

— Ah... – Era melhor não ter perguntado, pensou Galina. Ela olhou para Ryan, que parecia empolgado com a aventura. Já Kitty mantinha aquela expressão de raiva oprimida.

— Então nós vamos para um lugar desértico, invadir um mausoléu que ninguém conseguiu sair vivo e pegar um livro de macumba? – Ryan resumiu a missão de forma engraçada. Hector Moore confirmou com a cabeça. – Legal!

— Se não tiverem mais perguntas, podem arrumar suas coisas e partir imediatamente. O portal para o Mundo de Bubéstis estará aberto em 1 hora. – Os três assentiram e começaram a sair da sala, até Hector solicitar. – Kitty Hudson, você poderia ficar aqui por mais alguns instantes?

A feiticeira encarou o professor, tentando encontrar nos olhos fundos do homem o motivo daquela pergunta. Ela tocou em sua varinha, que estava presa no cinto da calça, e certificou-se que o livro estava dentro do casaco. A moça deu dois passos em direção ao professor, mas Galina segurou sua mão.

— Não vá. – A manipuladora pediu. – Ele é perigoso. Vamos dar o fora daqui e realizar a nossa missão.

— Ele falou da minha mãe. – Kitty retrucou. – Eu não tenho medo de um velho patético. Vá arrumar suas coisas, daqui a pouco eu chego ao dormitório.

Galina encarou Kitty por mais alguns instantes e desistiu de convencê-la. A manipuladora virou-se para Ryan, que também estava preocupado com a colega, mas foi embora quando viu que Kitty estava disposta a ficar. A porta da sala se fechou.

Não demorou dois segundos para que Kitty puxasse a sua varinha, mas fosse arremessada por uma força sobrenatural contra uma estante de livros. O professor Hector Moore conseguia mantê-la no ar com apenas uma mão erguida, comprimindo o pescoço da feiticeira. Kitty esforçou-se para respirar.

— Você acha mesmo que eu iria deixá-la ir sem mais instruções? – Hector ficou cara a cara com Kitty, vendo o rosto da moça ficar vermelho. – Você sabe muito bem porque a escolhi para essa missão.

— Você... – A bruxa não conseguia falar. Hector Moore afrouxou os dedos e a pressão no pescoço de Kitty diminuiu. – Você precisa de uma feiticeira para sentir a presença do livro.

— Vamos, você é mais esperta que isso. – Ele moveu o braço para cima e o corpo de Kitty ergueu-se mais uns 50 centímetros. Ela já não conseguia tocar os pés no chão.

— O Livro da Magia Antiga é inútil sem a Joia do Caos. Você não quer manter o livro em segurança, mas sim usá-lo!

— Você não entende! Eu preciso da Joia do Caos porque ela também é perigosa e a maneira mais fácil de obtê-la é com o livro. Eu, como professor da Escola de Guardiões, nunca poderei abrir o livro e invocar a joia. Mas você... Ah, você fará isso para mim. E me entregará as duas relíquias!

 - Você pode me matar se quiser! Eu não farei isso!

Hector Moore sacudiu o braço, deixando Kitty bater nas estantes enquanto era levitada para a esquerda e a direita. O livro, que ela tanto guardava, caiu no chão. A moça tentou pegá-lo, mas suas mãos e braços estavam presos pelos poderes mágicos do professor. Kitty pensou em gritar, mas não queria demonstrar fraqueza. Hector caminhou até o livro e o pegou com a mão livre. A outra mão continuava erguida, mantendo Kitty presa.

— Ora, ora... Se não é um Livro da Vida? Essa magia é poderosa, a sua mãe deve ter se esforçado muito para fazê-la.

— Não fale da minha mãe!

— Hum... Eu não sabia que você tinha uma irmã. – Hector Moore abriu o livro, lendo a primeira página. – Então esse livro controla a vida da sua querida irmãzinha, certo?

Os olhos de Kitty ficaram arregalados. Ela tentou movimentar o braço com a varinha. Se conseguisse apontar o objeto na direção de Hector, talvez fosse capaz de lançar um feitiço naquele professor miserável. Entretanto, as mãos dela estavam presas contra a estante. Ela só conseguia apontar para as prateleiras dos animais mortos. Ela teve uma ideia.

— Praemium! – Kitty conjurou o feitiço e os vidros da estante começaram a explodir, como um efeito dominó. Hector Moore levou um susto, deixando a garota cair com um baque.

O chão se encheu de um líquido amarelado, com criaturas nojentas debatendo-se no solo. Alguns pareciam vivos, empolgados com a liberdade, enquanto outros murchavam em contato com o ar. Kitty segurou o livro, mas Hector continuava com os dedos cravados no objeto. Os olhos fundos e pretos do professor encararam Kitty. Ela gelou na mesma hora. Com um movimento no pulso, o professor-cadáver fez Kitty ser arremessada no teto, ficando presa a três metros do chão. Ela sentiu cordas de concreto pressionarem seus pulsos e pernas.

— Você é muito afoita. Irá me agradecer por não fazer nada com a sua irmãzinha. – Hector encarou a feiticeira. – Espero que saiba me obedecer e sempre se lembre do que eu tenho em mãos. Agora vá!

As cordas sumiram e Kitty despencou como uma manga madura. A queda foi levemente amortecida pelo professor. Mesmo assim, doeu bastante na feiticeira.

— Eu não trarei nada para você. – Kitty respondeu, levantando-se. Hector Moore parecia mais preocupado em guardar a sua coleção de animais nos vidros do que em prestar atenção a Kitty.

— Não conte nada a ninguém ou eu começo a mudar a vida da sua irmã. Agora vá, eu sei que você vai mudar de ideia.

A garota respirou fundo, furiosa. Ela fez uma careta por estar melada com um líquido bizarro, mas tentou não pensar muito nisso. Kitty estava realmente furiosa com o professor Hector. E, ainda por cima, não tinha mais o livro para proteger. Ela abriu a porta e saiu de lá.

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Lana, Arthur e Ezmia estavam sentados diante do diretor Franklin. Ele digitava algumas coisas no computador e pediu para que os três esperassem um pouco. Aparentemente, o diretor tinha muita coisa para fazer além de atender os alunos, como responder mensagens no facebook. Ezmia escutou o barulho de uma notificação saindo das caixas de som do computador. Lana, com seus olhos orientais, observou Arthur.

— Você não precisa de ajuda para se curar? – Ela procurou algum ferimento no corpo do bárbaro.

— Não, eu estou bem. Aquele estressadinho não conseguiu me nocautear. Era só um amostrado.

Lana encolheu os ombros. Não gostava de se envolver em brigas, principalmente quando era com dois alunos da mesma escola. A garota sabia que iria presenciar muito isso enquanto estivesse na Escola de Guardiões, mas estava preparada para ser a garota que iria ajudar seus aliados a superar os desafios, a apartar as brigas. Lana cutucou Ezmia, que parecia perdida em seus pensamentos.

— Desculpe, eu estava viajando aqui. – A manipuladora disse.

— O que te incomoda? – Arthur quis saber.

— É sobre esse tal rei Mael. Ele disse que estava pretendendo invadir a terra com seus amigos. Eu fico pensando se nossos familiares estarão seguros.

Lana queria dizer que tudo ia ficar bem. Queria poder avisar a Ezmia que a Terra não iria ser invadida por um rei lunático e que todos iriam viver felizes para sempre. Mas sabia que a situação não era aquela. Apesar de sempre querer ver seus amigos alegres e felizes, nem toda hora era possível fazer isso. Lana reparou que o diretor tinha parado de digitar.

— Olá, queridos alunos. – Ele sorriu e, como se fosse bipolar, encarou o bárbaro. – Arthur, você exagerou no ginásio. Espero que não arrume mais nenhuma briga como aquela enquanto estiver aqui na escola, escutou?

Arthur meneou a cabeça, confirmando. O diretor voltou a sua postura calma e contente.

— Que bom! Então, eu estou diante de uma equipe incrível na minha frente. Eu e os outros professores levamos muito tempo para poder conciliar os traços de personalidade de cada aluno com suas aptidões, a fim de formar equipes incríveis. Mas estou satisfeito com o grupo que eu me deparo aqui.

— Obrigada, diretor Franklin! – Lana sorriu, animada. – Acho que vamos nos dar muito bem juntos, não é? – Ela, que estava sentada no meio, estendeu os braços e apertou os pescoços dos seus colegas de equipe, forçando um abraço coletivo. – Vamos ser demais!

— Er... Com certeza. – Ezmia tentou respirar depois de um tempo. Arthur empurrou a curandeira.

— Nunca mais faça isso comigo. – Ele encarou o professor. – Qual a nossa missão, diretor Franklin?       

Ezmia olhou o bárbaro com reprovação. Por mais que tivesse sido desconfortável o abraço de Lana, ele não tinha o direito de falar com a garota assim. Todos precisam aprender a conviver com o defeito dos outros, mesmo que seja um defeito que quase os enforque. O diretor Franklin continuou.

— Existe uma suspeita de ataque terrorista no One World Trade Center. – Eles olharam para o diretor, confusos. – Como vocês sabem, as antigas torres gêmeas foram derrubadas no atentado de 11 de setembro de 2001. Um novo prédio foi construído, não exatamente no mesmo local, e inaugurado em 3 de novembro de 2014, sendo o quarto maior edifício do mundo e o maior dos Estados Unidos. Agora, ele também está sobre ameaça. Teme-se que seja um terrorista de outra dimensão, por isso vocês devem detê-lo.

— Esse prédio deve ter milhares de policiais. – Ezmia refletiu. – Câmeras de vigilância, seguranças, detectores de metais... Mesmo se for um inimigo muito poderoso, o governo vai conseguir se virar.

— O WTC 1, como é conhecido, tem 104 andares e é o edifício principal do novo complexo do World Trade Center.  Nele, funcionam centenas de empresas importantíssimas para a economia e o governo americano. A Escola de Guardiões, por exemplo, possui uma sede nesse prédio. Dos andares 72 ao 77, temos cientistas, engenheiros e equipes de logística trabalhando no prédio. Informações confidenciais sobre professores, alunos e seus familiares estão guardadas lá. Não queremos que o inimigo tenha acesso a isso.

A mente de Arthur explodiu com uma conclusão arrepiante: aquela missão era a forma do diretor Franklin ajuda-lo a encontrar a mãe. O diretor não podia passar acima das normas internas para descobrir o paradeiro dela, mas o próprio bárbaro poderia fazer isso. A missão no WTC 1 permitiria a ele invadir o sistema da Escola de Guardiões e descobrir onde a sua mãe estava. Arthur pensou nisso enquanto encarava o sorriso simpático do diretor.

— Como nós vamos chegar lá? – Ele perguntou.

— Vocês terão ingressos para visitar o observatório, no 103º andar, local ao qual se suspeita que o terrorista ataque. Usem suas habilidades para conseguir subir até o observatório sem serem barrados pelos seguranças, vocês não irão trabalhar junto com a polícia, lembrem-se disso.

— E quando nós iremos? – Lana estendeu a mão, como se estivesse em uma aula.

— Imediatamente. Arrumem suas bolsas e vão até o estacionamento da escola, existe um motorista esperando por vocês. Lembrem-se de serem discretos e priorizem a vida dos civis. Vocês serão os heróis. Se não tiverem mais duvidas, podem ir.

Os três se levantaram e saíram da sala do diretor. Ezmia percebeu que Arthur pareceu bastante agitado com a missão, mas ela própria estava aflita em ter que impedir o ataque de um terrorista. Se for uma pessoa normal, a missão não será complicada, mas ela desconfiava que o inimigo não seria alguém com poderes comuns. A manipuladora respirou fundo e foi arrumar as coisas para a missão.

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Ann acordou em uma maca de hospital. Ao seu lado, uma tela sinalizava os sinais vitais do corpo. Ela encarou o soro que pingava um líquido transparente para dentro de suas veias, deixando-a sonolenta. A mutante imediatamente procurou algum ferimento, encontrando apenas um pequeno furo ao qual o dardo tranquilizante a atingiu. O coração da moça ficou ainda mais disparado, porque se não estava doente, provavelmente algum mal iriam fazer-lhe com um bisturi.

Uma enfermeira entrou no quarto com um sorriso no rosto. Ela parecia incrivelmente bonita, como uma atriz de cinema. A profissional colocou o pote metálico numa mesinha ao lado de Ann, onde um jarro de flores enfeitava o ambiente perfeitamente organizado. Era como se cada objeto naquele quarto tivesse sido meticulosamente colocado. Parecia tudo artificial demais. A enfermeira enfiou a agulha em um remédio e puxou o liquido, mostrando-o para Ann.

— Bom dia, dorminhoca. – A funcionária hospitalar, de cabelos castanhos e pele morena, sorriu mecanicamente. – Você parece ser bem resistente, já aumentamos a dose do sedativo. Acredito que depois dessa medicação, volte a dormir com os anjos.

— O que vocês querem de mim? – Ann movimentou as pernas, os braços e o pescoço, tudo de forma bastante sutil. Ela sentia os seus membros e estava pronta para agir quando assim pudesse.

— Nós só queremos o seu coração. – A moça apontou a agulha em direção ao canal do soro. – Você não sentirá nada durante a cirurgia, pode ficar tranquila.

Ann não acreditou no tom de voz da enfermeira. Ela falou como se fosse uma coisa banal roubar o coração dos outros. A mutante girou o corpo na maca e deu um chute na enfermeira. A mulher tombou para trás, equilibrando-se para que a agulha não caísse no chão. Ann rapidamente puxou o soro e tirou a agulha que estava dentro do seu braço. Sentiu uma dor latente subir até a sua cabeça, mas seria capaz de suportar. A enfermeira, ajoelhada, apertou em um botão perto da mesinha.

— Chamando reforços? – Ann levantou-se e bateu o pote metálico, com algodão e esparadrapo, na cabeça da enfermeira. – É melhor chamar o batalhão inteiro se quiser me deter.

O golpe na cabeça da mulher não pareceu ter muito efeito. Ann acreditava que aquilo seria suficiente para que qualquer pessoa normal desmaiasse, mas a enfermeira tinha uma cabeça incrivelmente dura. E isso não era uma piada. De repente, a enfermeira ergueu-se e tentou socar o rosto de Ann. Ela moveu o tronco para o lado; segurou o braço da profissional de saúde e deu um chute na barriga dela. A morena contorceu-se com o golpe, entretanto não expressou nenhuma sensação de dor no rosto. Ann resolveu ser mais agressiva, acertando um murro no rosto da oponente. O sorriso tosco da enfermeira ficou ainda mais esquisito, apesar dela parecer imortal.

— Que tipo de droga você toma? – Ann deu mais um soco e nada, a enfermeira continuava sorridente como uma artista de programa de televisão.

De repente, duas mãos puxaram os braços de Ann por trás e ela se viu presa por um enfermeiro. A moça girou o corpo para frente e forçou o enfermeiro a cair no chão, em frente a ela. Ela girou para defender o próximo ataque, quando percebeu que existia pelo menos metade do plantão médico entrando no seu quarto. Todos eles eram bonitos demais para serem trabalhadores do hospital. Parecia que ela estava dentro de um episódio de Grey’s Anatomy.

Ann defendeu um golpe de um médico, atingiu-o com um murro no olho. Em seguida, girou o corpo e chutou dois enfermeiros com fraldas geriátricas na mão. Ainda bem que não tinham sido usadas. Ela puxou o jarro, mas a primeira enfermeira, que tinha um sorriso perfeito, empurrou-a pela barriga. Ann caiu no chão, sendo esmagada pela enfermeira maluca. O restante do plantão médico pareceu empolgado com a iniciativa, jogando-se em cima de Ann. A menina tentou se erguer, mas seria impossível com tantos modelos com uniforme de médico em cima de si. De repente, a porta do quarto se fechou com um estrondo.

Você pensa?!— Uma voz soou na cabeça de Ann, como se alguém estivesse falando diretamente em seu cérebro.

— Lógico que eu penso! Quem está aí? – Ela tentou olhar para os lados, mas só encontrou um bando de médicos tentando esmaga-la. O pânico surgiu quando viu um enfermeiro trocar a fralda geriátrica por uma seringa sinistra. – Cadê você?

Uau, alguém que pensa!— A voz continuava dentro da cabeça de Ann. – Como você chegou aqui?

— Não importa, eles vão me matar. – Ann era bastante orgulhosa para pedir ajudar, mas não via alternativa. Ela engoliu a própria saliva. – Por favor, preciso de uma ajuda aqui!

O enfermeiro, com uma seringa enorme, repentinamente voou contra a parede, como se uma força invisível o tivesse empurrado com toda a força. A seringa caiu no chão sem mais nem menos e o médico recebeu um golpe que fez o estômago de Ann revirar. O pescoço dele girou quase que completamente e ele caiu no chão. Entretanto, não existiu gritos, nem choro ou dor. O médico continuava com o seu sorriso simpático, tal um modelo. Os demais funcionários ficaram alarmados, soltando Ann pouco a pouco.

A criatura invisível, com poderes bizarros, atingiu o outro médico com um golpe impactante no pescoço.

Eles são manequins.— A voz continuou na mente de Ann. – Quebre o pescoço deles e a conexão entre a cabeça e o resto do corpo acaba. Eles caem no chão como verdadeiros manequins de loja deveriam cair.

Ao escutar a explicação, Ann esforçou-se para sair debaixo da enfermeira e chutou com força a cabeça dela. A mutante girou o pescoço da morena até pifar o mecanismo estranho daquela manequim. Ann se levantou e começou a atacar os outros modelos de jaleco, quebrando seus pescoços como se fossem bonecas barbie. Sorte que uma pessoa invisível fazia o mesmo trabalho e, em poucos minutos, todos os bonecos estavam no chão, desanimados.

— Agora, se mostre! – Ann berrou, cerrando os punhos das mãos. – Não gosto de auxílios sobrenaturais. E nem pense que eu lhe pouparei só porque me ajudou.

— Calma, eu estou aqui. – A moça falou finalmente, revelando-se. Ela tinha o cabelo loiro-escuro, com madeixas encaracoladas que desciam até a cintura. Os olhos eram castanhos e ela usava uma calça boca-de-sino e camisa hippie.  – Sou Sarah Watson.

Ann encarou a garota. Parecia vagamente familiar, mas não era capaz de se lembrar de onde. De repente, várias batidas na porta do quarto começaram a soar. Os demais funcionários do plantão pareciam irritados e querendo matar alguns pacientes.

— Precisamos dar o fora daqui. – Ann avisou. Ela olhou para os lados, procurando uma saída, mas não existia uma janela sequer no quarto. A frente delas, a televisão ligou-se sozinha. As palavras “A HORA MORTAL” apareceram brilhantes na tela e uma voz de locutor de rádio soou.

— Parabéns, competidoras! Vocês se saíram muito bem juntando forças para sobreviver a “A Hora Mortal”, o Reality Show mais sensacional da TV Multiplanetária. Pena que a probabilidade das duas saírem vivas daí são bem remotas. Vocês precisam encontrar uma Pedra da Habilidade para terem passe-livre de situações como essas. No Hospital existe a Pedra da Medicina, mas sinto informar que o competidor Matheus Antony já conseguiu pegá-la, sacrificando a vida do jovem Pietro Del Mar. Como consequência, vocês duas vão morrer, porque apenas aquele com a Pedra da Medicina poderá sair vivo do hospital. Boa sorte!

A televisão se desligou automaticamente. Sarah e Ann se entreolharam, aflitas, e as batidas na porta ficaram mais insistentes. As duas não seriam capazes de enfrentar um hospital inteiro apenas com as mãos. Ann ficou em posição de luta e Sarah voltou a ficar invisível.

— Você tem algum poder mais útil além de ler a mente de manequins sem cérebro?

— Salvar a vida de aliados educados. – Sarah falou, divertida. – E usar o banheiro público sem enfrentar fila, apesar de eu não me orgulhar muito disso.

— Só não me atrapalhe, okay?

— Nós vamos morrer, mas tudo bem. Eu já passei por situações piores que essas.

A porta se abriu e os manequins entraram como uma avalanche assassina.


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Notas finais do capítulo

Equipes:

Grifo Violeta
Orientador: diretor Franklin
Arthur Bone - bárbaro
Lana Mizuki - curandeira
Ezmia Mauntravani - manipuladora
Missão: Impedir o atentado ao One World Trade Center.

Dragão Negro
Orientadora: Clementine White
Aleka Savalas - curandeira
Alwaid Draconis - mutante
Oktavia Kadnikov - mutante
Missão: Não definida.

Ryüjin Azul
Orientador: Hector Moore
Ryan - guerreiro
Kitty Hudson - mutante (feiticeira)
Galina Strosvisck - manipuladora
Missão: Pegar o Livro da Magia Antiga no mausoléu de Phetimílio, no mundo de Bubéstis

Lobo Roxo
Orientador: Victor Quinn
Deborah Quinn - mutante
Scott Blake - mutante
Ali Hastings - curandeira
Missão: Não defnida.

A Hora Fatal
Ann Levynsck - mutante
Sarah Watson - mutante
Pietro Del Mar - mutante (morto?)
Matheus Antony - guerreiro
Missão: Encontrar as Pedras da Habilidade e sobreviver ao reality show A Hora Fatal.

PS: Aeeew, galera! Estão curtindo? Digam aí como está a história. Eu precisei dividir o capítulo em dois se não ele ficaria GIGANTE! Espero que estejam gostando. Comentem aí o que acharam!

PS²: Eu quero que TODOS me mandem por mensagem privada como os seus personagens agem em combate. Ele fica mais na defensiva? É mais racional? Dá logo uma voadora? Digam para mim, eu precisarei dessa informação! E contem por mensagens privadas porque eu gosto de segredos hahahaha Além disso, quero que vocês me mandem uma música que represente o seu personagem. Não precisa ser uma música que fale sobre o personagem, pode ser alguma que ele goste! Mandem por mensagem privada também :D

PS³: A música tema de Escola de Guardiões - Recrutamento é Heroes (we could be), de Alesso. Costumo escutar essa música enquanto penso na aventura de Escola de Guardiões.