Escola de Guardiões - Recrutamento escrita por Tynn


Capítulo 11
Capítulo 8 - Ruriam


Notas iniciais do capítulo

Ryüjin Azul (Ryan, Kitty e Galina)

Missão: Pegar o Livro da Magia Antiga no mausoléu de Phetimílio, no mundo de Bubéstis



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A taverna do Senhor Poporo estava movimentada naquela tarde de Túr, o melhor dia da semana no mundo de Bubéstis. As dançarinas de cancan fazia um número extra ao fundo da taverna, com seus vestidos coloridos e os rabos triangulares a fascinar os homens e mulheres que apreciavam àquela dança. Eram três dançarinas, todas com cores de pele diferentes: a do meio tinha um tom esverdeado, a dançarina da esquerda era vermelha como o terceiro Sol e a dançarina da direita tinha tons violetas no corpo, bastante raro naquele mundo. Um bardo tocava um instrumento de sopro sentado na cadeira. Suas quatro mãos moviam-se com velocidade no instrumento, que era tão grande e espaçoso como se fossem formados por quatro acordeões terrestres. O bardo deu uma fungada no ar ao sentir um cheiro peculiar, subindo-lhe nas narinas. Os olhos de felino do homem varreram o local automaticamente. Aquele cheiro era delicioso demais. Ele parou a música, para a decepção de todos (alguns bateram os copos de bebida na mesa, inconformados; outros vaiaram) e apoiou o instrumento na cadeira.

— Vou dar uma pequena pausa, meus amigos. Aproveitem o momento com as dançarinas. – Ele sorriu. As dançarinas entenderam o recado e desceram do palco, fazendo gracinhas para os clientes.

Lérico, o bardo, caminhou até o bar e fez sinal para que o grande Senhor Poporo fosse até ele. Pela expressão séria do músico, o dono do estabelecimento sabia que seu amigo também tinha sentido aquele cheiro.

— Está muito perto daqui – Lérico comentou. Ele aceitou o copo com uma bebida vermelha que Poporo o entregou.

— Cheiro de Ruriam – o gordo Poporo comentou. Ele tinha quatro tentáculos no lugar dos pés e se arrastava quando precisava atender aos clientes. – Mas tem um cheiro diferente. Você também percebeu?

— Claro, eu reconheceria um Ruriam a quilômetros de distância. E este parece ser mais delicioso.

— Deve valer uma fortuna.

— Tem caçadores aqui?

— Sim.

Senhor Poporo apontou com o olhar um homem sentado na mesa próximo à entrada. Era uma criatura alta e corpulenta, com a textura da pele semelhante a um dragão. Os olhos do homem iam de um lado ao outro, como se estivesse a procura de alguma coisa.

— Esse daí já sentiu o cheiro também. – Lérico, o bardo, deduziu. – Tem outro caçador na mesa à esquerda, não é?

O homem ao qual Lérico se referiu bebericava um copo, enquanto ignorava a dançarina de cancan que se movimentava a sua frente. Ele tinha a pele azul, tão resistente quanto a pele do primeiro. As narinas deste estavam dilatadas e uma expressão de fúria passou pelo seu rosto. Seguida de uma expressão de prazer.

— Você acha que é o Ruriam lendário? – Lérico indagou, curioso.

— Eu estou mais preocupado com o estrago que a batalha trará a minha taverna.

— Não se preocupe, um Ruriam desse porte seria cauteloso. Ele não iria entrar numa taverna e muito menos chamaria atenção. Deve estar escondido sob o efeito de alguma invisibilidade mágica.

— Claro, mas não gosto desses caçadores aqui. Eles sempre me trazem prejuízo.

Senhor Poporo viu um cliente o chamando na outra ponta do balcão e foi se arrastando até lá. Lérico terminou com um gole a bebida ardente e voltou a sentar-se perto do seu instrumento musical. Quando voltou a tocar, entretanto, a porta da tarvena foi aberta por um homem humano, com uma camiseta jeans pendurada na cintura e cabelos negros penteados para trás. Ele apoiou os braços na cintura e sorriu para todos, confiante.

— E aí, moçada? Prontos para conhecer o grande...

— MUTA! – O feitiço de Kitty faiscou de sua varinha e atingiu em cheio a garganta do rapaz. Ele começou a forçar a voz, mas nada saia da boca. – Assim está melhor. Agora vamos...

Ela arrastou Ryan pela taverna até o balcão, enquanto o rapaz fazia caretas de desespero e colocava a mão na garganta, sem conseguir pronunciar um ruído sequer.

Atrás do dois, Galina entrou com sua calça jeans empoeirada e o cabelo ruivo bagunçado depois de tanta caminhada. O trio havia passado pelo menos uma hora caminhando em um deserto sob três sóis. Por um momento, a manipuladora achou que eles iriam desmaiar por ali mesmo e ficar derretendo como picolés humanos. A menina carregava uma mochila nas costas onde havia suprimentos e alguns aparelhos úteis para a missão, como o tradutor simultâneo que todos colocaram no ouvido assim que chegaram na cidade. O tradutor tinha na memória mais de 10 mil dialetos de várias raças, e não passava de um fone que encaixava em um dos ouvidos e captava as vibrações sonoras do ar.

A ideia de visitarem a taverna tinha sido de Ryan. Ele sabia que nesses lugares existia uma grande troca de informações (e era onde os heróis medievais sempre iam para encontrar as suas guests). Depois de alguns minutos de discussão, os três resolveram acatar a ideia do guerreiro, chegando à taverna do Senhor Poporo.

Galina caminhou até o balcão reparando nos rostos estranhos que os observavam.

— Pessoal, acho que nós não somos bem-vindos aqui – ela falou. De repente, viu que Ryan tinha a cara vermelha e as veias da garganta pareciam prestes a explodir. – O que aconteceu com ele?

— Usei um feitiço para deixa-lo mudo – Kitty falou com desdém.

— Você não pode fazer isso! Kitty, deixe-o falar agora mesmo! Estamos em uma missão, imagina se algo acontecer e nos separarmos agora mesmo? Ele não teria você para trazer a voz novamente.

— Tá... – Kitty puxou a varinha e encarou o aliado. – Lembre-se de não falar besteira ou da próxima vez, arranco sua boca! – Ryan segurou as lágrimas e sorriu, um sorriso torto e forçado. – Disputatio!

Uma rajada de ar saiu da garganta de Ryan como um alívio. Ele começou a fazer barulhos estranhos, vendo se suas cordas vocais estavam bem, em seguida ditou o alfabeto letra por letra, porque temia que tivesse se esquecido a pronuncia de alguma letras.

— Você não poderia simplesmente pedir para eu em calar? Poxa, gata, assim a nossa relação vai ficar difícil.

— Da próxima vez que você me chamar de gata eu juro que eu...

— Com licença! – Galina estendeu os braços chamando o Senhor Poporo. Ela sabia que, se Kitty e Ryan começassem a discutir agora, eles iriam passar a eternidade falando. A manipuladora estava muito grata por Ryan ter salvado a sua vida; os poucos minutos em que ficou embaixo da terra sendo empurrada por uma minhoca gigante ainda lhe causava tremedeira. Mas o guerreiro precisava se dar bem com a feiticeira pelo menos uma vez na vida. Galina voltou a se concentrar no dono do estabelecimento. – O senhor poderia nos fornecer uma informação?

O homem atrás do balcão era grande e bastante volumoso. Ele tinha a pele roxa e quatro tentáculos, que ficavam escondidos embaixo dos balcões. O Senhor Poporo caminhou desconfiado para o trio de estranhos, fungando o nariz a cada centímetro que ficava mais próximo. Ele parou diante da menina, encarando os olhos verdes amarelados de Galina.

— Onde fica o mausoléu de Phetimílio? – a garota perguntou imediatamente, aproveitando o contato visual com o homem para usar sua manipulação. – Responda todas as minhas perguntas com sinceridade.

— Ele fica ao fim da cidade.

— Qual a maneira mais fácil de chegar lá?

— Vocês precisam sair da taverna e dobrar a esquerda, caminhando pela estrada principal da cidade até o final. Depois, terão que atravessar um deserto por mais 20 minutos até chegar no mausoléu. – Senhor Poporo não sabia porque estava falando aquilo. Ele no mínimo deveria pedir algum dinheiro em troca das informações, mas sentia uma necessidade urgente de responder àquela garota.

— É perigoso por lá?

— Sim, vocês terão que lidar com o Destruidor, uma criatura mágica que protege o mausoléu de estranhos. Vocês terão sorte se saírem de lá vivos.

— Ótimo... Fique olhando para mim.

Ao lado de Galina, Ryan recolocava a jaqueta sobre o corpo. Não gostava de deixar as cicatrizes nos braços expostas, já que usava apenas uma camiseta branca embaixo da jaqueta. Por sorte, nenhuma das meninas perguntaram sobre aquelas marcas. Ele tocou levemente nos seus sabres para ter certeza de que estavam ali. Kitty o cutucou com a varinha, deixando-o extremamente nervoso, mas ela só queria chamar a atenção do guerreiro. E Ryan descobriu logo o porquê.

Desde que entraram, várias pessoas haviam saído da taverna. O bardo que tocava uma música animada para as dançarinas de cancan agora guardava o instrumento apressado, como se quisesse sair o mais rápido possível de lá. As dançarinas pegavam o dinheiro de alguns clientes e guardavam nas roupas, saindo de fininho pela porta dos fundos. Algo de muito sinistro estava ocorrendo ali.

— Galina... – Ryan falou para a amiga. – Pergunte ao senhor cheinho se estamos em perigo.

— Por quê?

— Pergunta logo! – Kitty sibilou.

— Senhor, nós estamos em perigo aqui dentro? – Galina indagou, ainda encarando o Senhor Poporo.

— Sim, vocês têm cheiro de Ruriam e essa raça é caçada por toda a cidade. Existem pessoas que dariam uma bela quantia de dinheiro por um Ruriam vivo.

Os olhos de Ryan se arregalaram. Ele segurou com força os seus dois sabres, nitidamente preocupado com a informação. Lógico que o trio tinha cheiro de Ruriam, afinal, Ryan era um Ruriam. Ele virou o corpo e viu um homem com pele de dragão se ergue da cadeira. Ele era vermelho, como um tomate - um tomate que passou dez anos na academia e tomou algumas doses de anabolizantes. Tinha armadura no peito e nos braços, além de um rabo que derrubou metade das cadeiras atrás dele.

— Pessoal, vamos dar o fora daqui. AGORA!

Ryan puxou os dois sabres para defender os golpes do guerreiro vermelho. O homem-dragão havia retirado, da sua coluna, uma espada muito nojenta do próprio osso. A arma tinha como punhal a vértebra da criatura e a lâmina era formada de um branco-amarelado. Ryan defendeu o golpe do inimigo com seus dois sabres, fazendo impulso para arremessa-lo para o outro lado.

— Er, obrigada! – Galina disse ao Senhor Poporo, abaixando-se para Kitty sacar sua varinha e lançar um feitiço no segundo guerreiro, um homem tão grande quanto o primeiro, mas mais magro e azul.

— EXITIUM! – a feiticeira berrou, mais o jato violeta ricocheteou na espada do inimigo (também feita de ossos do mesmo) e destruiu um armário de bebidas.

— Meu armário não! Vocês vão acabar com tudo! – O Senhor Poporo choramingou do outro lado do balcão e foi até o armário tentar salvar as bebidas, como se nada estivesse acontecendo ao seu redor.

Ryan deu alguns golpes contra o inimigo vermelho, vendo que ele conseguia defender todos com a sua espada. O homem-dragão parecia ser bastante habilidoso, deferindo golpes sempre que encontrava uma brecha nos ataques do guerreiro Ruriam. Ryan defendi-a se com um dos sabres, tentando reparar na maneira em que o outro se comportava na luta.

O homem vermelho era forte, mas não ágil. Ryan percebeu que em nenhum momento ele tentou se esquivar de suas investidas, sempre se defendendo e dando passos para trás. O rabo do rival tratava de derrubar as mesas e cadeiras, servindo como um sensor de ré. Dessa forma, o caçador tinha mobilidade por toda a área ao redor. Ryan girou o sabre e atingiu o peito do homem, que não se feriu devido à armadura.

— Do que essa armadura é feita? – Ryan perguntou, atônito. – Adamantium?

O inimigo não respondeu, para a tristeza de Ryan, e segurou o braço do rapaz com a mão livre. Aquele movimento pegou Ryan de surpresa. O caçador puxou o menino para frente e o lançou contra várias cadeiras. Ryan sentiu as costas doerem ao quebrar algumas madeiras; e viu um homem de 100 quilos de puro músculo saltar sobre si.

Kitty embolou para ao lado, escapando por um triz da espada nojenta do homem azul. Ele destruiu parte do balcão (Senhor Poporo berrou) e encarou com ódio a feiticeira. Kitty engoliu em seco.

— IAPI! – Ela apontou a varinha para cima e uma rocha, de um metro de diâmetro, despencou sobre o guerreiro. Mas ele era rápido e conseguiu se esquivar.

O homem apoiou o pé no chão e pulou sobre a feiticeira. Galina arremessou a adaga no mesmo instante, atingindo em cheio o braço do guerreiro-dragão. Ele soltou um berro de dor quando o sangue roxo saiu do ferimento, parando a meio caminho de Kitty. Os olhos ferozes do guerreiro encararam Galina.

— Fique paradinho aí – ela ordenou. O homem dobrou a cabeça para o lado, confuso, e arremessou a espada na direção de Galina.

— EXITIUM! – Kitty apontou para a espada e ela explodiu antes de atingir Galina, fazendo a manipuladora sofrer apenas com os estilhaços da arma. A feiticeira correu até a amiga. – Nós não podemos contra eles, são guerreiros muito fortes.

— Eu sei... – Galina sussurrou, reparando que seu braço estava machucado. Ela encarou Senhor Poporo, que tentava colocar uma cadeira quebrada em pé. – Senhor...

— Não precisa fazer aquele negócio em mim. Tem uma saída aos fundos, do lado direito do bar. Saíam daqui o quanto antes. Quero que sobre algo da taverna no fim da tarde.

Elas passaram pelo homem azul correndo, que ainda estava parado, sem conseguir sair do canto. Ele fazia caretas e erguia os braços tentando aperta o pescoço das meninas, mas sem alcança-las.

— A sua manipulação dura quanto tempo?

— Cinco minutos, no máximo.

Mais ao fundo da taverna, as pupilas dos olhos de Ryan ficaram verdes e, ao redor dos glóbulos oculares, tudo preto. Os músculos dos braços e das pernas de Ryan se tencionaram; ele girou o corpo e saltou no ar, escapando do guerreiro vermelho a segundos de vantagem. Os pés de Ryan bateram nas costas do rival, empurrando-o para frente. O guerreiro trombou a cabeça na parede. Ryan aproveitou e chutou com força as pernas do homem, fazendo-o cair. O guerreiro Ruriam bateu com o punhal da espada na cabeça do infeliz rival.

— Ryan, por aqui! – Galina gritou pelo amigo. Ao ver os olhos dele, a menina tentou conter a surpresa. – Er... Vamos.

Ele chutou a barriga do guerreiro vermelho uma última vez, pegou a espada do rival e a arremessou com força para o outro lado da taverna. Em seguida, girou o corpo, saltando em direção às amigas. À medida que corria para a porta dos fundos, os olhos de Ryan voltaram ao normal.

— Eu acho que me esqueci de comentar, mas eu sou um Ruriam, uma raça alienígena que ganha mais reflexos e resistência quanto está em perigo, além de ficar com os olhos doidões.

— Que bom! Então vamos ser mortos por causa de você – Kitty falou sarcástica.

— Dá para vocês ficarem dois minutos sem brigar? – Galina bufou e abriu a porta a porta. Dessa vez, não tentou conter a cara de espanto. – Pessoal, estamos ferrados.

A porta dava para uma rua pouco movimentada da vila. Existia uma feira à frente, onde criaturas das mais variadas raças e cores vendiam sem produtos bizarros e exóticos. Havia armaduras para guerreiros, animais pendurados em tábuas de madeira e vendedores de bebidas. O que fazia Galina se preocupar, entretanto, eram os guerreiros-dragões que surgiam ao longe, cada qual saltando barracas e correndo na direção do trio. Existiam dezenas deles.

— O que vocês estão esperando? – Ryan perguntou, sorridente. Ele puxou os dois sabres e posicionou-os em frente ao corpo. A adrenalina da última batalha ainda pulsava no sangue do rapaz. – Vamos correr, cambada! Bora!

E ele disparou na frente, seguido por Galina e Kitty naquela que parecia a fuga mais sem noção de todos os tempos.


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Notas finais do capítulo

Pessoal, muito obrigado por vocês continuarem lendo a história mesmo depois de tanto tempo parada.

Desculpa pela demora pelo hiato, mas aqui estou eu novamente.

E venho dizer que a trilha sonora de Escola de Guardiões - Recrutamento agora é uma playlist no Youtube! Só usar o link:

https://www.youtube.com/playlist?list=PLqr42rVqMr-P6NASjwJK33qvSHGeLXG9E

Na descrição da playlist tem o nome de cada personagem e qual a música dele. Obrigado novamente por todos!

Ah, e aqui está o link para download:

https://www.4shared.com/rar/Cq5MGOdiei/Trilha_Sonora_-_Escola_de_Guar.html