pneumotórax escrita por themuggleriddle


Capítulo 1
nesta vida, morrer não é difícil


Notas iniciais do capítulo

Mais uma vez me apropriando da idéia da Thams (brassclaw) da Morte, que pode ser vista na fic dela "Quente e confortável como a morte". Na verdade, ela mesmo que me deu o prompt.



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"Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse [...]"

- pneumotórax, manuel bandeira

*

Respirar, de repente, pareceu ficar fácil novamente.

Há alguns minutos, cara inspiração parecia comprimir algo dentro de seu peito e Helena já estava considerando que talvez a morte fosse melhor do que aquela dor, até sentir que uma incursão de ar entrou de maneira suave, indolor. Seus pulmões se expandiram outra vez e sua visão voltou a clarear, dando-lhe espaço para ver o céu cinzento e as copas escuras das árvores.

Quando se levantou, sentia-se mais leve, quase como se a neve aos seus pés não a tocasse ou o ar frio da montanha não gelasse a ponta de seu nariz, mas o alívio que tal sensação lhe provocou durou pouco, apenas até virar-se e ver o corpo que jazia no chão, logo atrás de si.

Era ela. Mais pálida do que o normal, com os lábios já arroxeados e os olhos começando a ficar foscos. O vermelho que manchava as suas mãos e parte do seu vestido, mas que já parara de escorrer pelo corte em seu peito, era a única cor viva ali, o resto era tudo branco ou cinza. Sua respiração voltou a ficar trancada enquanto olhava em volta, em busca de alguém, já que a única coisa que parecia viva ali era a magia de sua mãe que ainda ressoava de dentro de uma das árvores ocas… Mas tudo o que viu foram pegadas na neve que sumiam por entre as árvores. Ela as teria seguido, não fosse pela figura que vira parada a alguns metros dela.

“Papa…” ela murmurou, correndo até o homem e o abraçando com força enquanto tentava se forçar a não chorar. O vento voltara a assobiar, agora com mais força.

“Está tudo bem agora,” ele sussurrou, afagando-lhe os cabelos.

“Eu morri,” a garota falou, arriscando virar o rosto para olhar o corpo no meio da neve. “Eu morri…”

“Todos nós morremos um dia, pequena. É a coisa mais natural de se acontecer depois de nascer.”

Helena ergueu o rosto, engolindo um soluço enquanto observava o rosto do homem. Sentia falta daquele rosto e daquele sorriso pequeno e daquela voz e daquele abraço… Às vezes o via em seus sonhos, mas não era a mesma coisa que tê-lo perto de si daquela forma outra vez. Ele ergueu uma mão para enxugar uma lágrima teimosa que lhe escapara do olho e então algo estalou na mente ad bruxa.

“Eu não devia ter morrido,” ela falou, respirando fundo. “Eu devia… Devia voltar para Hogwarts. Eu estava pesquisando. Iria mostrar as minhas pesquisas para o Conselho e para… Para mama…”

“Helena-“

“Se não fosse Sigfried, eu teria conseguido fazer isso,” a moça murmurou, sentindo o coração apertar no peito enquanto se esquivava do abraço e se afastava um pouco, virando-se para o próprio corpo. “Eu teria voltado e teria mostrado tudo para ela…”

“Isso tudo não importa mais, Helena,” ela ouviu alguém falando, mas aquela não era mais a voz de seu pai. Quando se virou, arregalou os olhos ao ver Rowena Ravenclaw parada no meio da neve, tão bela quanto estaria em um dos bailes do Conselho. “Nós vamos estar todos juntos logo,” a mulher falou, abrindo os braços enquanto a olhava.

A bruxa franziu o cenho. Talvez ela estivesse alucinando, mas duvidava que os mortos alucinassem, então aquele devia ser alguém (ou alguma criatura) que estava tentando enganá-la.

“Você não é minha mãe, minha mãe ainda vive,” ela falou, dando um passo para trás. “E nem meu pai…”

Rowena a observou por um momento, antes de suspirar e deixar-se perder um pouco a pose altiva de antes.

“Se você é assim, imagine se eu tivesse que buscar a sua mãe,” ela murmurou. “Por sorte, seu pai já reivindicou tal direito.”

“Como é…?”

“De vez em quando, alguma alma mortal pede para buscar os entes queridos quando estes morrem,” a mulher falou. “Acho que seu pai merece essa chance, depois de todos os anos que ficou aqui esperando por ela. Ele queria vir buscá-la também, mas eu disse que não, eu tinha que fazer o meu trabalho. Mas você logo vai encontrar com ele e Rowena… Ela já está quase indo também.”

“Você é… A Morte?” perguntou Helena, arqueando uma sobrancelha. Lembrava-se daquele bruxo que encontrara em Constantinopla, que lhe falara sobre a imortalidade e de como ele conseguira fugir da morte e agora se perguntava se era possível fazer aquilo ali.

“Eu devia saber que vocês, Ravenclaw, eram todos complicados de levar. Todos muito curiosos, cheios de teorias,” ela falou, parecendo irritada por um momento, mas então sorrindo, divertida. “Não que eu não goste disso. Sempre é bom ter algo mais interessante com o que trabalhar.”

“Meu pai…?”

“Eu tentei levá-lo, mas ele era teimoso e conseguiu ficar mais um tempo.”

“Mas ele está morto.”

“Nem todos os que escapam de mim continuam vivos,” disse a Morte, suspirando. “Mas, como disse, logo eles virão e todos vocês poderão se encontrar.”

A bruxa ficou em silêncio por um longo momento, apenas observando a Morte, que, no momento, usava o rosto de sua mãe. Fora tão bom quando vira seu pai ali e o abraçara, mas agora percebia que aquele não passava de um disfarce. Ela dizia que sua mãe logo se juntaria à ela e que seu pai iria junto, mas… E se não fosse verdade? E se aquela mulher quisesse apenas a iludir para depois traí-la, como Sigfried havia feito? Nas Terras Altas de Alba, as pessoas falavam dos gatos de fadas que sugavam as almas dos mortos que não eram enterrados… E se aquela mulher fosse algo parecido com isso?

“Eu não devia ter morrido,” a garota murmurou, olhando outra vez para o próprio corpo e sentindo a garganta apertar. Estava tão perto de mostrar para a sua mãe e ao Conselho tudo o que podia fazer e agora… Agora tudo fora jogado no lixo.

“Não diga isso, Helena,” a Morte falou, tocando-a no ombro e fazendo a garota se arrepiar. “A morte é o fim de tudo. No final, todos irão se reencontrar pelas minhas mãos… Não é algo ruim. Eu não vou lhe machucar.”

A moça se lembrava de como seus pais diziam que palavras tinham mais poder do que muitos imaginavam. Às vezes, palavras simples imbuídas de poder suficiente marcavam promessas que duravam toda uma vida…

“Eu não quero morrer,” ela falou, tentando colocar o máximo de convicção possível em cada palavra, tentando torná-las tão mágicas quanto as fórmulas de feitiços.

“Helena…”

“Eu não quero morrer,” Ravenclaw repetiu. “Eu não devia ter morrido agora.”

“Muito bem,” disse a Morte, em um sussurro, apertando o seu ombro de leve. “Desejo-lhe sorte, Lady Ravenclaw.”

A garota continuou olhando para o próprio corpo, perguntando-se o que iria acontecer com ele. Será que alguém iria encontrá-la? Será que os animais dariam conta daquilo? Ou… Ou será que ela iria conseguir voltar para ele?

Quando virou-se, estava sozinha outra vez. Olhou para si mesma, no meio da neve, e se aproximou com cuidado, abaixando-se ao lado do corpo e esticando as mãos para tocá-lo, com a esperança de algo acontecer. Mas a única coisa que viu foi as próprias mãos, agora parecendo translúcidas, atravessarem o peito do seu corpo. Alarmada, Helena se afastou, olhando as próprias mãos e sentindo a garganta fechar com os soluços que estavam começando a querer se fazerem presentes.

Um fantasma. Ela virara um fantasma. Ela havia lido e visto o suficiente para saber que fantasmas estavam presos em uma vida quase amaldiçoada. Não era aquilo que queria, não era…

“Morte!” ela gritou, virando-se e tentando achá-la por perto, mas nem mesmo o som do vento assobiando se fazia presente. “Mama?” ela chamou outra vez, odiando-se por sentir sua voz tremer. “P-Papa?”

Talvez o pior ainda fosse tentar chorar e não poder derramar nenhuma lágrima.


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Notas finais do capítulo

Não sei se ficou muito bom, foi meio complicado escrever... Talvez porque o encontro da Morte com a Helena, pra mim, não tenha sido exatamente assim, mas hey, estou seguindo o prompt -q meu headcanon original está por vir (dentro de alguns anos -q).

Espero que tenham gostado :3



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