Draco estava distraído naquele momento, lia as anotações cuidadosamente traçadas de Hermione, a letra perfeita dela se estendia por todo o pergaminho, a concentração era tanta que ele nem reparou quando Pansy Parkinson sentou-se ao seu lado.

— O que você está fazendo? – a voz dela soou depois de um tempo.

 Malfoy se assustou minimamente, porém não deixou transparecer.

— Deveres – ele respondeu simplesmente.

— Você anda muito estranho ultimamente, até mesmo Blásio comentou isso comigo.

— Ser filho de um ex-comensal não é nada fácil – ele disse rudemente.

— Eu também sou filha de um ex-comensal, Draco, e nem por isso me afastei de meus amigos – ela comentou em um tom apaziguador.

— Eu sou um ex-comensal também! Carrego comigo a Marca Negra e isso é para o resto de minha vida, não me diga como devo agir – dizendo isso ele se afastou sendo seguido pelo olhar da menina.

 Parkinson suspirou voltando seus olhos para a mesa e reparando no pergaminho que Draco deixara sobre ela, a jovem não pôde conter sua curiosidade e o pegou. O pergaminho estava repleto de palavras e rabiscos, alguns distinguíveis outros nem tanto, mas ela pôde pegar algumas palavras:

“...é considerado uma das piores criaturas das Trevas..”

“...somente um bruxo muito poderoso é capaz de controlá-la....”

“Nenhum aluno da Lufa-Lufa atacado”

 Aquela letra com certeza não pertencia a Draco, Pansy o conhecia desde pequeno e a sua letra também, porém era de alguém que estava com ele ultimamente e alguém que estava investigando os assassinatos e ela não fazia idéia de quem.

~o~

— Ele está escondendo mais coisas do que imaginamos, Blásio! Escute o que eu estou te dizendo, alguém está fazendo Draco ficar assim e eu vou descobrir quem.

 O rapaz bufou enquanto tentava se concentrar em seu livro Quadribol Através Dos Séculos, mas a garota não parou.

— Ele está tentando virar herói, veja só, herói!

— Deixe o Draco em paz, Pansy, ele deve saber o que está fazendo.

— Mas...

— Eu quero ler agora e agradeceria se você ficasse em silêncio.

 Foi a vez da  garota bufar.

***

— Como assim você perdeu meu pergaminho? – Hermione quase gritava de tão estressada que se encontrava.

— Eu não perdi – se defendeu Draco debilmente – Eu só... não sei onde o coloquei.

— Ora, como isso fosse de grande diferença – a garota desdenhou – O encontre Malfoy, quero ele em minhas mãos até amanhã.

 O garoto só suspirou, tinha certeza de que deixara o pergaminho na biblioteca, mas quando voltou para buscá-lo nem ele nem Pansy estavam mais lá, o garoto imaginou que fora a amiga que pegara, porém ela ainda não havia ido confrontá-lo e isso não era o jeito Pansy Parkinson de ser.

— Precisa de ajuda? – uma voz lhe perguntou, Malfoy levantou os olhos e se deparou com um aluno da Lufa-Lufa “era só o que me faltava” pensou analisando o rapaz, engolindo qualquer resposta mal criada que poderia dar, ele simplesmente revirou os olhos e deu as costas caminhando apressadamente para longe.

 Zachary ergueu uma das sobrancelhas observando as costas do sonserino, ele parecia muito estressado, quase ao ponto de explodir, o que será que havia acontecido?

~o~

 Hermione suspirou pelo que deveria ser a décima vez durante aquela aula, ouvir o professor Binns poderia ser maçante e ainda mais no estado de ansiedade em que ela se encontrava. Draco Malfoy perdera seu pergaminho com as anotações! Como ele pudera ser tão irresponsável? Ela teria que fazer tudo de novo se ele não o encontrasse e só de pensar nisso a garota sentia seu rosto esquentar tamanha a raiva.

 Uma pássaro de papel pousou suavemente a sua frente, tão suavemente que a garota mal percebera, mas ela o viu e tratou de desdobrá-lo assim que constatou o que era.

“Hermione Granger parece decididamente preocupada, ansiosa para que Binns faça alguma pergunta para que possa respondê-la?”

 Era claramente uma brincadeira, não uma brincadeira de deboche como Malfoy costumava fazer com ela, era uma brincadeira descontraída, entre amigos. Hermione levantou os olhos para encontrar um aluno da Lufa-Lufa encarando-a fixamente e com um sorriso nos lábios finos. A garota permitiu-se sorrir brevemente antes de pegar sua pena e escrever rapidamente sua resposta.

“É terrível ficar em silêncio por tanto tempo”

 Com um aceno de sua varinha o pássaro de papel voltou para seu verdadeiro dono. Uma risada contida foi ouvida logo depois, porém Hermione manteve os olhos no professor, o pássaro não demorou a pousar a sua frente novamente.

“Entendo, há muitos rumores sobre você e sua ‘maldita’ inteligência por entre esses corredores, a propósito me chamo Zachary”

“Acha que os rumores são verdadeiros? Eu até me apresentaria, porém acho que meu nome já não é mais um segredo...”

“É difícil não acreditar neles, afinal você lutou ao lado de Harry Potter durante a batalha e ele saiu campeão”

“Harry merece seus próprios méritos”

“Como queira, senhorita sabe-tudo”

 Hermione soltou uma pequena risada, pela primeira vez em todos os anos que ela estava em Hogwarts a palavra ‘sabe-tudo’ soou mais como um elogio do que como uma ofensa.

“Obrigada”

 No final da aula Zachary se atreveu ainda mais indo falar com a garota que aceitou ser acompanhada por ele até o Salão Principal onde dali alguns minutos seria servido o jantar.

— Adorei nossa pequena conversa – disse o rapaz pouco antes de se aproximarem das portas do salão.

— Eu também – admitiu Hermione.

— Bem, então fique com isso, para se lembrar – ele disse entregando o pequeno pássaro para Hermione, bem no momento em que Malfoy se aproximou.

— Granger – ele disse, sua voz fria e indiferente, mas os olhos queimando de raiva – Aqui está a droga do seu pergaminho.

 Entregando o papel para Hermione ele se afastou sem nem olhar para trás.

— Seu namorado?

 Hermione corou, surpresa com tal pergunta.

— Oh não. Desculpe-me, mas tenho que ir – tentando dar passos discretos ela se posicionou na ponta mais afastada da mesa da Grifinória.

 Os olhos negros e sombrios de Zachary a seguiram o tempo todo e ele sorriu. Agora o show iria começar e ele só tinha um único aviso:

 Prepare-se Hermione Granger.