Flor Vermelha escrita por magalud


Capítulo 12
Capítulo 12 – Des+ilusão = realidade?


Notas iniciais do capítulo

A conclusão da história



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Como todas as coisas na vida, os dias foram passando, sem cerimônia. Severus achou que isso seria um alívio. Tempo cura tudo, dizem. Com o tempo, acreditava, a dor e a tristeza ficariam mais brandas e, com sorte, mais administráveis. Contudo, o efeito foi contrário.


Cada dia que passava era um dia longe de Remus. Cada noite era uma noite a chorar, a lembrar. A cada dia, ele se dava conta de que estava apaixonado pelo lobisomem.


Sem a mínima chance de ser correspondido.


Não pela primeira vez, ele amaldiçoou as Três Parcas, que certamente deveriam estar rindo, do alto de sua roca, diante do fio de vida de Severus Snape. Bom, pelo menos duas delas: Clothos, a fiadeira, e Láchesis, a fixadora. Ele gostaria de ter piedade de Átropos, a irremovível, e pedir-lhe que usasse a tesoura e cortasse o seu fio de vida.


Porque ele vivia num inferno permanente.


Diversas vezes Severus desejou que Proserpina pudesse ser revivida. Na verdade, ele até insinuou tocar no assunto com o Prof. Slughorn: tentar descobrir o que James Potter e Sirius Black tinham feito com ele, para tentar reproduzir o efeito. Se tivesse sucesso, sua intenção era nunca mais deixar Proserpina escapar. Mas Slughorn o proibiu de tocar naquele assunto.


Severus passava os dias tentando não olhar para Remus, tentando não pensar nele, tentando não lembrar o sorriso suave com que o aluno de Gryffindor brindava Proserpina. Era difícil não invejar a prima, pois ela tivera amor. Sim, ela tinha sido amada, mas Severus não tinha nada disso. Primeiro, Lily o rejeitara. Agora, Remus certamente o rejeitaria.


Tinha sido agradável descobrir o que o rapaz era justo, e não fazia um mau juízo de Severus. Quando Remus dizia que Severus não o conhecia, ele tinha razão. Proserpina conhecera uma parte de Remus que Severus jamais imaginara existir. Mas Severus jamais poderia conhecer esse lado de Remus. Pois Remus não o mostraria a Severus.


Num momento extremo de desespero, Severus imaginou ir até o rapaz de Gryffindor e contar-lhe tudo: o feitiço, a transformação... Mas a idéia morreu na casca feito ovo gorado. Afinal, a possibilidade de que Remus o odiasse era grande. Ele provavelmente se sentiria usado. Jamais acreditaria que Severus não estava se divertindo como Proserpina, fazendo pouco caso dele, enganando-o para rir-se dele com os demais colegas de Slytherin.


Severus poderia agüentar a indiferença de Remus, mas não a rejeição. Seu coração quebraria irreversivelmente.


Por isso ele ficou quieto. Quieto e deprimido, amargurado além do limite, cabisbaixo pelos cantos. Contando os dias para deixar Hogwarts e tentar esquecer a melhor coisa que acontecera em todos aqueles anos.


Não, tudo era inútil. Severus Snape jamais seria amado, jamais seria respeitado, jamais seria aceito. Ninguém o amaria, nunca. E o melhor a fazer era aceitar aquela realidade o quanto antes e parar de pensar em ilusões. Ele tinha uma longa e solitária vida pela frente, então era melhor começar a encarar essa solidão desde agora.


Mas esperança era algo muito duro de se perder aos 16 anos. Talvez ele pudesse viver de lembranças. Se ele colhesse outra flor vermelha nas estufas e a preservasse, talvez fosse suficiente para lembrar-se só das coisas boas e mitigar essa dor que ameaçava abrir-lhe o peito em dois.


Uma ilusão para aplacar uma desilusão. Daria certo?


Fosse como fosse, Severus foi às estufas numa tarde de sábado. Passeou entre as floreiras, mas infelizmente a única Calendula officinalis disponível era da cor laranja. Ele continuou procurando, talvez alguma outra flor vermelha pudesse substituir a que ele buscava.


Ou será que ele buscava por um sonho? Por sonhos de fumaça?


- Olá, Severus.


Ele quase deu um grito diante da surpresa.


- Você!


- Desculpe. - Remus parecia mesmo arrependido. - Não quis assustá-lo. Ingrediente?


- O que disse?


- Ingrediente. Para poção. Foi o que veio buscar?


- Hum? - Severus não entendeu a princípio, mas se recuperou rapidamente. - Oh, sim! Sim, isso mesmo, ingredientes. E você?


- Na verdade, eu vim atrás de você.


- Estava me seguindo?


- Preciso de ajuda. Achei que poderia me ajudar.


- E por que...


- Olhe, é uma coisa simples. Eu queria que me ajudasse a encontrar essa flor. - Remus tirou o objeto de dentro das roupas. - Queria saber se tem outra nas estufas.


Severus ficou encarando a fivela com a flor preservada, a mesma que Proserpina tinha dado a Remus antes que ele ficasse isolado por causa da lua cheia. Ele guardara. Severus ficou emocionado ao notar que o objeto era precioso para Remus.


Mais uma ilusão, seu cérebro alertou. Proserpina nunca existiu. Só existe Severus. Solitário, sozinho Severus.


Ele tentou soar relaxado:


- Sabe qual é a espécie?


- Você não sabe? Afinal, foi sua prima que colheu. Qual é a flor preferida dela?


- Como eu vou saber?


- Pelo que ela falou, vocês eram bem amigos. Praticamente contavam tudo um para o outro. Não eram?


Severus se incensou:


- Que quer saber, Lupin? Se ela está chorando à noite de saudades de você? Ou está se perguntando por que ela não escreveu mais?


Remus deu aquele sorrisinho, aquele aberto e tranqüilo de quem está sereno.


- Não. Só quero saber se você algum dia vai me dizer.


- Dizer o quê?


- Dizer aquilo que eu já sei.


Severus empalideceu. Na verdade, ficou petrificado, pálido como uma estátua de mármore.


Ainda mais quando Remus avançou para cima dele.


E ajeitou o prendedor com a flor vermelha em seus cabelos.


Os olhos de Severus se arregalaram, a respiração parecia falhar.


Remus sorriu, os dedos ainda nos cabelos de Severus, admirando-o.


- Fica mesmo muito bem em você. É um crime que não possa usá-lo.


Severus não sabia dizer de onde tirou voz para perguntar:


- Você... sabe?


Remus continuava com os dedos nos cabelos de Severus.


- Oh, sim. Sim, eu sei, Severus.


- C-como...? Quando?


- Desde aquela tarde no lago. Quando nos conhecemos.


- Desde... - Severus tinha imensa dificuldade de encontrar ar. - Então...


- Então eu sempre soube que Proserpina era você. - Remus não deu tempo para Severus reagir. - Antes que você comece a pensar coisas que não existem, saiba que não contei para ninguém, jamais comentei sequer com meus amigos, e nunca menti para você.


- Como?!


- Bom, criaturas como eu têm um olfato mais do que requintado. Geralmente não suporto ficar perto de garotas porque elas se encharcam de perfume. Mas Proserpina tinha um cheiro maravilhoso.


- E você se aproximou por causa... do cheiro?


- Bom, olfato se localiza na área mais primitiva do cérebro. Detona instintos extremamente antigos. Mas, no meu caso, a explicação é mais simples.


- Mais simples do que instintos primitivos?


Remus ainda sorria, mas o sorriso deu arrepios a Severus:


- Proserpina cheirava a Severus. Para mim, cheirava a fim de solidão. Na verdade, cheirava a outras coisas também. Mas eu não queria outras coisas com Proserpina. - Remus chegou perto de Severus, jamais parando de acariciar os cabelos pretos. As mãos dele de repente começaram a acariciar os braços dele também. - Ela era uma garota, afinal de contas.


- Então você continua gay?


- Oh, sim. - Agora Remus estava envolvendo os braços nele. - Muito gay.


Severus sentia algo dentro do coração, como se um sol estivesse nascendo dentro de seu peito.


- Você não se sente um pouco confuso? Quero dizer, você é um cara gay que namorava uma garota que na verdade era um rapaz gay que não sabia que você era gay mas de repente você se interessou por aquela garota. Entende?


Remus sorriu, sereno, e falou:


- Severus?


- Sim?


- Você quer me beijar?


- Er... Sim.


- Então cala a boca.


Severus ficou mais do que alegre em obedecer. Ele ainda não acreditava completamente no que estava acontecendo, não entendia direito tudo que tinha se passado, mas não estava nem perto de se preocupar com isso naquele instante.


Ele estava mais do que feliz. Por dentro, prometeu-se jamais tirar o prendedor com a flor vermelha dos cabelos.


Oh, e também cuidar mais dos cabelos, para Remus poder trançar os dedos neles.


The End




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Notas finais do capítulo

Pois é. Acabou. Espero que tenham gostado. Se gostaram, que tal um revew? Please?