Snow escrita por Rocker


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Não sei de onde tirei de escrever essa one shot, mas ela simplesmente surgiu na minha mente e eu não podia ignorá-la. É uma one shot simples, sem qualquer vilão, pois foi exatamente isso que imaginei enquanto via o filme num fim de semana tedioso sem internet. Eu tinha pensado só no início e no final, eram as únicas coisas que eu tinha certeza. Então se o meio estiver uma merda, sinto muito XDD
De qualquer maneira, vem como um especial de Natal. Estou postando agora porque ficarem um tempo sem internet, então, Feliz Natal ♥



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Snow

Capítulo Único

Written by Rocker

Era fácil me irritar com minha irmã mais nova. Extremamente fácil. Foi-se o tempo em que crianças iam à rua brincar na neve ou ter amigos imaginários. Hoje em dia, as crianças estavam ocupadas demais em seus videogames e computadores para viver a melhor parte da infância. Caitlin, porém, parecia ainda acreditar no que ela mesma chamava de Guardiões da Infância, e isso era extremamente irritante.

- Entra logo, Cat, você vai se resfriar! – gritei minha irmã pela janela, refugiada no conforto aconchegante de casa. – Se mamãe te ver aí fora quem vai levar sermão sou eu!

Caitlin parou de rir e pular sobre alguns montinhos de neve e virou-se em minha direção.

- Só mais um pouquinho, Faith, por favor! – ela pediu.

Suspirei, sabendo que por si só ela não iria retornar tão cedo. Fechei a janela rapidamente para que o vento gelado não trouxesse mais neve para a sala. Não que eu não gostasse de neve – pois eu amava –, mas não queria minha mãe reclamando comigo. Ajeitei o pesado sobretudo ao redor do meu corpo antes de enfrentar o fio que fazia do lado de fora da casa.

- Vamos, Cat! – parei há poucos metros da menina de sete anos, abraçando-me numa tentativa falha de me aquecer, enquanto meus cachos curtos batiam contra meu rosto pelo vento.

Caitlin olhou tristonha para mim, assentindo. Virou-se para algum lugar entre um grande boneco de neve perto da saída do jardim para a rua e eu.

- Desculpa, Jack, mas a gente pode brincar amanhã de novo. – ela disse, fazendo uma careta.

Respirei fundo, tentando ter paciência. Quando eu era mais nova, minha infância não foi repleta de amigos imaginários e lendas infantis, mas também não era porque eu estava ocupada jogando videogames. Eu, na verdade, ocupava meu tempo tentando esconder-me de um pai bêbado e abusivo. Caitlin teve a sorte que nossos pais se separaram pouco depois de ela ter nascido e ele nunca mais deu as caras. Mas de qualquer forma, meu passado deixou uma marca em mim, que não seria apagada tão cedo – e eu agradecia por Cat não a ter também.

- Eu posso tentar, Jack, mas você já deve saber que ela é cabeça dura. – Caitlin falou para o ar, e eu franzi o cenho. O que estava acontecendo?

- Cat? – chamei sua atenção, confusa.

- Faith, Faith! – ela veio correndo até mim, pulando alegremente. – Jack Frost quer tentar fazer você acreditar nele! Disse que tem algo importante para te dizer já tem muito tempo!

Balancei a cabeça em negação, sentindo uma repentina vontade de me jogar na neve e gritar que não aguentava mais ela falando desse Jack Frost. Ao invés disso, contei até dez.

- Caitlin. – agachei-me à sua frente, pegando suas pequenas mãozinhas. – Você tem todo o direito de criar um amiguinho imaginário, mas eu não o vejo. – tentei amenizar minhas palavras, quando o que eu na verdade queria dizer era que aquilo tudo era invenção da cabeça dela.

- Eu disse que ela era cabeça dura. – Cat falou novamente com o espaço vazio ao nosso lado. Ficou alguns segundos em silêncio, enquanto eu só sentia uma tristeza me inundando à medida que eu pensava que daqui alguns anos ela não acreditaria em mais nada disso. – Prometo que continuo tentando, Jack!

- Vamos entrar, Cat. – tentei convencê-la mais uma vez. – Antes que mamãe chegue com a tia Jenny. Não quer que ela nos deixe de castigo por estar nesse frio, quer?

Caitlin negou com a cabeça. Levantei-me, ainda segurando sua mãozinha, e andamos juntas em direção à porta de casa. Uma rajada de vento mais forte atingiu-me e eu me encolhi dentro da minha roupa que já não parecia mais tão quentinha.

- Faith. – murmurou Cat ao meu lado e eu baixei meu olhar para ela. Ela olhou para trás antes de falar novamente. – Jack pediu para perguntar quem você acha que mandou a nevasca quando você tinha dez anos.

Estanquei no lugar e Caitlin quase foi ao chão com o solavanco.

Ninguém sabia o que tinha acontecido há dez anos, nem mesmo minha mãe e Caitlin ainda estava dentro do útero dela. Quando eu tinha dez anos, minha mãe ainda não sabia de nada que meu pai me fazia. Ela passava quase todo o dia na redação da revista e só voltava no fim do dia. Um dia, meu pai apareceu mais cedo e mais bêbado que o comum e encontrou-me no balanço do quintal dos fundos, onde era quase impossível de se ver de fora. Fora a primeira e única vez que ele passou dos limites do espancamento, quase abusando de mim sexualmente. Quando eu já estava quase completamente sem roupa, chorando e aos berros, uma nevasca surgiu em meados de outono, e meu pai estava tão bêbado que mal aguentava em pé com o vento forte. Tive tempo apenas de sair correndo e trancar-me no meu quarto até que minha mãe chegasse. Mais tarde, os noticiários afirmaram que havia tido nevasca apenas numa pequena região da cidade.

- C-Como assim? – gaguejei para Caitlin, olhando à nossa volta, assustada.

- Jack diz que te salvou mais vezes também, seja lá o que isso quer dizer. – Cat riu baixinho, tão ignorante sobre a real história quanto deveria ser.

Quando me virei para ela, relanceei uma silhueta próxima a nós duas, mas foi tão rapidamente que quando voltei meu olhar para ela, ela não estava mais ali. Abracei Caitlin contra meu corpo e inclinei-me para beijar o topo de sua cabeça, enquanto sentia uma lágrima solitária escorrendo por minha bochecha.

- Isso é história minha, Cat. – sussurrei, fechando os olhos ao sentir a dor em meu coração se intensificando e uma enorme onda de cansaço me atingia em cheio. – Conversaremos outra hora.

- Faith, mas o Jack...? – ela tentou mais uma vez, mas um soluço escapou de meus lábios.

- Por favor. – murmurei.

Ela olhou para o lugar onde pensei ter visto o vulto e abriu um sorriso triste demais para uma criança da idade dela.

- Não desista, Jack. Queria poder contar para ela, mas isso é com você.

Não discuti com ela; simplesmente entramos e deixei-a vendo algum filme qualquer das princesas enquanto acolhia-me no conforto da minha cama. Não me importava se era véspera de Natal e minha mãe e minha tia estavam chegando para a ceia, eu só queria esquecer tudo por um tempo.

~*~

Por mais que eu revirasse na cama, não conseguia pregar o olho. Tinha decidido descer e fazer a ceia com minha família, mas isso não durou muito. Como havia uma criança na casa que acreditava em Papai Noel, ela nos fez ir cedo para a cama, para não impedirmos que ele venha trazer os brinquedos dela. Em qualquer outro dia, eu reclamaria, mas minha cabeça estava tão cheia que eu apenas acatei seu pedido e fiquei no meu quarto. Não tirava a conversa que tive mais cedo com Caitlin, quando fui buscá-la do lado de fora, e isso tirava meu sono. Não havia outro jeito de saberem do que acontecera há sete anos. Ninguém além de mim sabe, pois meu pai estava tão bêbado que nunca se lembrava de quando me espancava.

Será que o que Caitlin me dizia era verdade? A expressão Jack Frost na verdade era mais do que uma expressão?

- Faith... – ouvi alguém me chamando e olhei para a porta.

Cat estava lá, em seu pijama cumprido e um pinguim de pelúcia nas mãos que havia sido meu quando mais nova.

- Não consegue dormir, meu amor? – perguntei, sentando-me na cama e indicando que viesse até mim.

Caitlin subiu em minha cama alta, mesmo com um pouco de dificuldade. Enfiou-se comigo debaixo da coberta e nos acomodamos numa pilha de travesseiros.

- Você podia tentar acreditar no Jack. – ela disse baixinho, numa voz tristonha.

Suspirei. – Vem cá, Cat.

Sentei-me com as pernas cruzadas e coloquei minha irmã sentada sobre elas à minha frente. Abracei-a forte, apoiando meu queixo em seu pequeno ombro. Ela abraçou meus braços como reflexo, deixando Luckey, o pinguim, de lado. Eu sentia que precisava mais desse abraço do que ela.

- É um pouco difícil, mas acho que estou começando a acreditar. – murmurei para ela, e com espanto percebi que estava sendo sincera. Ela era inteligente para a idade dela, não inventaria algo um menino que controla a neve quando poderia estar fazendo algo mais produtivo.

- Mesmo?! – Cat virou-se para mim com um sorriso gigante no rosto.

- Talvez. – ri baixinho de sua animação.

Caitlin sorriu para algum ponto perto da porta. Senti que a temperatura do quarto caiu ligeiramente.

- Ele está aqui? – perguntei, olhando em volta, mas eu ainda não via nada.

- Está encostado na sua estante. – ela disse e eu imediatamente direcionei meu olhar para minha estante de livros.

Nada parecia diferente, e eu ainda não conseguia ver nada.

Mas era minha estante de livros... Ninguém chega perto dela!

- Diz pro seu amigo que se eu ver qualquer floquinho de neve nos meus livros, ele vai sofrer as consequências. – vociferei.

Caitlin riu, e por um segundo eu pensei ter ouvido uma segunda risada, que não era minha.

- Consegue vê-lo? – Cat perguntou, girando a cabeça e me olhando com os olhinhos esbugalhados e esperançosos.

Suspirei novamente. – Na verdade não, mas pensei ter ouvido ele rindo.

- O que te fez acreditar de repente? – ela perguntou.

- Não foi de repente. – respondi. – Mas ninguém sabe da nevasca de sete anos atrás.

- Ele sabe. – Cat apontou para minha estante. – O que tinha acontecido?

Senti que meus olhos marejaram.

- Prefiro te contar quando você for mais velha. – depositei um beijo no alto de seus cabelos negros. Eu não pretendia realmente contar a ela.

- Tem razão, Jack! – ela gritou, assustando-me e pulando de cima da minha cama. – Ela precisa de mais provas! – correu até a porta e a fechou. – Faz aquele negócio legal do desenho na janela!

Franzi o cenho, confusa, enquanto Caitlin voltava correndo para debaixo das minhas cobertas.

- Cat, o que está havendo? – perguntei, confusa.

- Você já vai ver! – ela exclamou, animada, mirando a janela do meu quarto.

Segui seu olhar, perguntando-me se na verdade minha irmã não estava doida e eu estava ainda mais por começar a acreditar no que ela falava. Mas enquanto olhava para a janela, algo me surpreendeu. O vidro ia congelando-se aos poucos, das beiradas até o centro. Arregalei os olhos, assustada – isso não era comum de acontecer, por mais frio que estivesse. Algo foi sendo desenhado no gelo, e quando estava pronto, percebi que era um menino segurando o que parecia ser um cajado.

- Ele está se desenhando. – murmurou Cat ao meu lado, parecendo maravilhada.

Relanceei-a rapidamente, e quando olhei novamente para o desenho, havia um buraco no gelo da janela e o boneco estava no ar, como se voasse. E ele voou. Circulou todo o quarto até parar pouco acima de mim e Caitlin e explodir finalmente em milhares de floquinhos de neve.

Eu já não sabia se ficava assombrada ou maravilhada.

- Isso é... – murmurei, sentindo a neve caindo sobre nós.

Levantei os olhos e finalmente vi.

Eu o vi.

Ele parecia ter a minha idade, vestindo uma calça marrom e um moletom azul e segurando um cajado parecido com o do boneco. Cabelos brancos como a neve e olhos azuis hipnotizantes como o gelo. Ele era encantador.

- Pode me ver agora?! – ele perguntou, abrindo um sorriso que quase me tirou o fôlego.

Sorri também, sem conseguir evitar, e acenei com a cabeça.

- Finalmente. – ele sorriu ainda mais e eu senti minhas bochechas queimando. Ele deu um passo para mais perto e estendeu-me a mão. – Posso te mostrar uma coisa?

Olhei para Caitlin, como se perguntasse se estava tudo bem eu ir com ele e deixá-la sozinha.

- Vai logo, Faith! – só faltou Caitlin quase me empurrar de cima da minha cama.

- Calma, calma, estou indo! – ri para ela, aceitando a mão que Jack estendia-me. O toque gelado de seus dedos em minha pele fez-me estremecer e torci para que nenhum dos dois tivesse percebido.

Jack levou-me até a janela, mas impedi-o de continuar e virei-me para minha irmã, que veio conosco, ainda maravilhada.

- Cat, eu vou tentar não demorar. – prometi.

- Só tenta acreditar nele, por favor. – ela implorou e eu dei um beijo em sua testa. Eu não sabia o que ele me diria, mas eu tentaria acreditar. – Vou estar te esperando aqui.

- Tudo bem. – eu disse por fim.

- Ei, pequena. – Jack chamou a atenção dela. – Feliz Natal, e não se esqueça de deixar os biscoitos com um copo de leite. Norte gosta daqueles com muitas gotas de chocolate.

Os olhos de Caitlin brilharam e ela assentiu fervorosamente. Jack sorriu para mim e eu senti meu coração acelerando. Ele abriu mais a janela, o suficiente para dois corpos passarem sem problema nenhum. Envolveu minha cintura com o braço livre, puxando-me mais contra seu corpo, e eu abracei seu pescoço, com medo do que viria.

- Jack, o que você... – ele alcançou voo antes que eu completasse minha frase.

Olhei para baixo, percebendo que estávamos muito longe do chão, e abracei-o mais forte. Ouvi sua risada ao meu ouvido, uma risada que quem apronta. Pouco depois ele fez algumas manobras no ar. Em uma delas, Jack jogava-me para cima, ainda segurando minha mão, e por um segundo eu sentia como se estivesse voando por mim mesma – até que eu começava a cair e segundos depois eu já estava sobre o corpo dele, segura com seu braço novamente à minha volta. Em momento algum eu deixava de gritar para que ele parasse de me assustar.

- Você, Jack Frost, definitivamente não sabe o significado de um voo seguro! – bradei, mas sem estar realmente irritada com ele, e ouvi sua gargalhada mais uma vez.

- Mas essa é a parte mais divertida! – ele abriu um sorriso infantil e travesso.

- Não quando eu quase morro do coração! – exclamei.

- Nem foi para tanto. – ele ainda mantinha o sorriso nos lábios. – Mas já estamos chegando.

Não demorou e Jack pousou sobre o telhado de uma das casas altas numa região da cidade que eu pouco tinha passado. Acomodou-se assentado e indicou que eu sentasse entre suas pernas. Um pouco sem graça e com a bochechas possivelmente mais vermelhas que um nariz de palhaço, sentei-me onde ele pediu e acomodei-me contra seu peito. Deixando o cajado ao lado, ele envolveu seus braços ao meu redor. Mal importei-me com o frio que senti após isso.

- Está quase na hora. – ele sussurrou contra meu ouvido e eu estremeci.

- De quê? – perguntei.

Jack riu baixinho. – Você já vai ver. Confie e acredite nas histórias de sua irmã.

Fechei os olhos com força, obrigando-me a acreditar em tudo o que eu pensava ser imaginação de Caitlin, e finalmente abri os olhos.

E então eu vi.

Areia dourada surgindo no horizonte e espalhando por todo o céu. Fiquei confusa num primeiro momento, mas logo minha mente se iluminou.

- Sandman? – perguntei, virando-me para Jack e vendo-o sorrindo para mim.

- Ele mesmo. – ele respondeu e murmurou algumas coisas que eu mal entendi. - ... 3... 2... 1! Feliz Natal, Faith!

Eu sorri e senti os lábios gélidos de Jack depositando um beijo demorado em minha bochecha – ele abraçando-me um pouco mais forte. Ao longe, vi algo que eu esperava ainda menos – um trenó puxado por renas.

- Jack, aquele era... – virei-me para Jack, de olhos arregalados e quase sem palavras.

- Era o Norte, sim. – eu via em seus olhos azuis que ele queria rir de mim.

- Como ele é?! – perguntei, sem conseguir me segurar.

- Ele é um russo impulsivo, um pouco assustador e as listas dos comportados ou não são tatuagens nos braços dele.

- Uau! – era tudo o que eu conseguia falar. Depois de vários minutos em silêncio, finalmente tive coragem de dizer. – O que era aquilo que Cat disse que você tinha que me falar?

Jack suspirou, e por um minuto pensei que ele não diria.

- Queria que você soubesse que eu sempre estive ao seu lado, te protegendo do seu pai.

Estremeci à menção dele. – Por que se eu nem mesmo acreditava em vocês?

Percebi que ele engolia em seco.

- Porque eu quebrei uma das regras mais importantes de se ser um espírito. – ele murmurou, e eu virei-me para ele, confusa. Seus olhos azuis faiscaram quando ele analisou meu rosto. – Apaixonei-me por uma humana.

Abaixei a cabeça, confusa, assombrada e envergonhada. Eu não tinha a menor ideia do que poderia falar.

- Sandy! – Jack exclamou, e eu percebi alguém à nossa frente. Era baixinho e gordinho, com cabelos dourados espetados. Ele era muito fofo. – Pode fazer aquilo novamente?!

Sandman assentiu, acenando para mim. Acenei também e ele mexeu as mãos, fazendo surgir areia dourada. A areia foi até o alto e explodiu em fogos de artifício.

Era lindo.

~*~

Jack deixou-me na janela do meu quarto perto da uma da manhã. Eu não sentia sono, mas ele disse que tinha medo de minha mãe surgir no meu quarto e percebesse minha ausência. Entrei em silêncio, pensando que Caitlin ainda estivesse dormindo. Quando pisei no assoalho, porém, a luz do abajur se acendeu.

- Cat? – murmurei.

- Vocês demoraram muito. – ela resmungou, com Luckey nos braços. Deu alguns passinhos até nós e abraçou minha cintura com força. Abracei-a de volta, depositando um beijo no alto de sua cabeça.

- Ficou acordada esse tempo inteiro? – perguntei, e ela assentiu. – Conseguiu vê-lo?

- Não, mas vi quando os biscoitos não estavam mais lá. – Caitlin disse, e nós rimos. – Podemos abrir os presentes?!

- Por que não deixa para abrirmos amanhã mesmo? – perguntei.

- Caitlin, Faith, eu preciso ir. – interrompeu Jack, e eu virei-me para ele imediatamente.

- Já?! – eu e Cat perguntamos, e ignorei o ardor em minhas bochechas.

- Infelizmente sim. – ele respondeu, olhando diretamente para mim enquanto balançava seu cajado.

- Podemos brincar amanhã?! – Cat foi saltitante até ele, abraçando-o logo em seguida.

Apesar de um pouco surpreso, ele retribuiu.

- Claro, eu tinha prometido, não é?! – ele abriu outro sorriso que pareceu clarear todo o meu humor.

Caitlin soltou-o e veio para meu lado. Jack olhou para mim com um olhar que não consegui decifrar e acenou. Quando já estava com metade do corpo para fora, resolvi tomar uma atitude, qualquer que fosse.

- Jack! – exclamei e ele voltou seu olhar para mim.

Eu corri até ele e envolvi seu pescoço com meus braços antes de selar nossos lábios. Ele pareceu surpreso de início, mas circundou minha cintura com o braço livre e puxou-me para perto. Quando entreabri os lábios dando permissão, eu me senti quente. Não importava o quão frio era seu toque e seu beijo – tudo em mim parecia ferver. Enterrei meus dedos em seus fios macios e arranhei de leve sua nuca, quase sorrindo ao senti-lo estremecer sob meu toque. Por mais que eu soubesse – por mais que eu sentisse – que aquele era seu primeiro beijo, ele beijava bem, era algo que eu tinha que admitir. Relaxava-me por completo e eu me sentia eu mesma.

Quando eu já sentia falta de ar, percebi que alguma coisa caía sobre nós.

Afastei-me, um pouco ofegante, e Jack juntou nossas testas, rindo levemente.

- Desculpe por isso, não pude controlar. – ele murmurou contra meus lábios.

Afastei-me levemente, ainda nos braços dele, e olhei em volta.

Neve.

- Tá brincando que sempre que beijar minha irmã você vai soltar neve?! – perguntou Caitlin, indignada, não muito longe de nós. Quando olhei para ela e vi-a com muita neve sobre o cabelo e os ombros, percebi o motivo da indignação.

- Desculpe, eu disse que não deu pra controlar. – Jack desculpou-se novamente, beijando minha bochecha logo após.

Abracei-o forte, sentindo sua temperatura fria controlando meus batimentos cardíacos.

- Eu vou voltar, Faith. – ele murmurou contra meu ouvido fazendo-me arrepiar novamente.

- Promete? – murmurei também contra seu ouvido.

Jack afastou-se um pouco para olhar em meus olhos e eu hipnotizei-me com seus olhos azuis.

- Prometo. – ele disse, e seus olhos faiscaram. – Eu sempre voltarei para você. – afirmou, para logo em seguida puxar-me para mais um beijo inesquecível.

Eu não queria deixá-lo ir, mas eu precisava. Por isso, quando ele foi levado pelo vento, tudo o que eu e Caitlin fizemos foi correr até o parapeito da janela.

- Sabe que esse foi meu presente, não sabe? – ela disse e eu a olhei confusa.

- O que?

- Meu presente para você. – ela sorriu para mim, enquanto abraçava minha cintura. – Eu demorei um tempão para convencer o Jack a finalmente se declarar para você!

Fiquei tão surpresa que tudo o que fiz foi rir, enquanto abraçava-a pelos ombros e voltava a olhar o horizonte.

- Ele vai voltar, Faith. – Caitlin disse ao seguir meu olhar. – Ele vai voltar por você, mana.

- É, ele vai. – abri um sorriso sincero. Havia muito que eu não abria um.

Permaneci olhando para a silhueta que sumia ao longe e finalmente percebi o quão maluco havia sido o Natal daquele ano e o quanto minha vida mudaria.

Jack Frost mudou minha vida.


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