31/12/2015

Um ano. 365 dias. E dentro deles nada mudou.

Depois de um ano longe, Ethel sente medo e um turbilhão de sentimentos ao desembarcar naquele aeroporto. Afinal, quantas lembranças essa cidade não guarda?

“Onde estaria ele?”

Allen não se sente animado. Além de um ano que se passou e ele continua vivo, também faz um ano que Ethel se fora.

“Onde estaria ela?”

Apesar de nada animado, Allen sabe que passar a virada em casa não irá ajudar. Por isso é que ele aceita o convite de seu amigo para a festa na casa dele. Possuía outras opções, mas Ethan é seu único amigo que não conheceu Ethel, e não lhe perguntaria nada sobre ela quando a noite virasse e mais um ano se iniciasse.

Então ali naquela casa, com vários colegas e amigos se divertindo, ele observa o céu da sacada, até que uma garota aparece a seu lado.

– Olá – ela diz sorridente.

– Oi.

– Você por acaso sabe me dizer que horas são? – ela perguntou, observando-o.

– Já são dez e quarenta – ele responde olhando o relógio.

– Ai, meu Deus. Obrigada. – e já ia saindo com pressa.

– Ei, calma. Por que a pressa?

– Tenho que buscar uma amiga no aeroporto, acabei perdendo a hora. É melhor eu ir se quiser chegar a tempo da virada. – e saiu correndo, se desviando dos inúmeros corpos presentes no recinto.

Ethel andava de um lado a outro esperando por Camile. Conheceu a garota quando visitou a cidade, cerca de dois meses depois de ir embora, para visitar os pais. As duas acabaram se tornando amigas, e Camile a convidou para uma festa de Ano Novo de um amigo dela.

Ethel pensou em recusar o convite, mas acabou apenas perguntando se Camile conhecia alguém chamado Allen, ao que a garota respondeu prontamente que não. Se não tivesse ido, estaria agora em casa, assistindo tv e comendo.

Depois de minutos que pareceram horas, Camile chegou correndo, com muita presa. Entraram no carro e partiram, a amiga falando o tempo todo que não chegariam a tempo. Enquanto isso Ethel só pensava no frio que estava sentindo. Seus cabelos coloridos, antes longos, agora estavam curtos, e o vento penetrava seu pescoço.

Chegaram exatamente às 23h55. Camile saiu correndo, mas Ethel gritou:

– Entro daqui a pouco – ela percebeu a hesitação de Camile em abandoná-la ali, mas a mesma entrou, sabendo que não adiantaria discutir.

A casa parecia cheia. Ouvia-se nitidamente a música e as vozes agitadas. Ethel puxou seu sobretudo mais para si, tentando espantar o frio e lembrou-se de Allen. Na verdade apenas permitiu que ele penetrasse seus pensamentos, pois ela nunca o havia esquecido para ter de se lembrar dele. Um ano e ainda doía. Lembrar-se do rosto dele quando ela partiu, doía tanto que era inexplicável. Ainda o amava. O sentimento que deveria se esvair com o tempo continuava ali, preenchendo cada célula de seu corpo. Olhou as estrelas, pensando em como ele adorava observar o céu. E sentiu a lágrima solitária descendo.

23h59

Alguns segundos separavam Ethel e Allen do próximo ano. Ambos já pensavam se valeria a pena refazer a promessa.

Então a porta se abriu e Ethel se virou. E nesse instante souberam que não poderiam refazer promessa nenhuma, pois a haviam quebrado. Haviam se reapaixonado. Um pelo outro.

E enquanto a contagem regressiva acontecia lá dentro, Allen olhava para os inconfundíveis cabelos coloridos de Ethel, agora curtos.

– Oi – disse Ethel.

E à meia noite daquele dia, se reencontraram. O “oi” de Ethel sendo a primeira coisa dita por eles naquele novo ano que se iniciava. E apenas conseguiam pensar que, amar um ao outro, era inevitável.