O Testamento escrita por Cecília Mellark


Capítulo 5
Capitulo 5


Notas iniciais do capítulo

Oi meu amores!
Aqui está mais um pedacinho desta historia....



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– Katniss, eu terminei tudo por aqui. Você acha que Peeta vai querer essa faxina semanal? Eu posso reservar as quintas feiras.

Viro-me para encontrar Greasy Sae, uma mulher de meia idade que é a diarista oficial da pequena cidade, o problema é que as pessoas só a contratam para quando precisam de uma grande limpeza, eu a emprego nas terças, e tenho certeza que Peeta não vai reclamar de encontrar sua casa impecavelmente limpa todas as quintas.

– Claro Greasy, por favor, reserve a quinta para Peeta. Aqui está o seu pagamento – estendo para ela o envelope que contem mais do que o combinado, mas eu gosto de ajuda-la.

– Katniss posso perguntar uma coisa? É meio pessoal sabe, mas todos na cidade estão comentando. – ela me olha envergonhada, e eu assinto com a cabeça, já prevendo a pergunta por que eu ouvi os comentários no varejão há dois dias. – É verdade que Peeta vai voltar por você?

Sorrio, imaginando que no fundo eu adoraria que fosse verdade e apesar do que rolou entre a gente quando ele estava aqui há duas semanas, eu sei que ele vem por que quer um tempo para reorganizar a vida, e para se tratar.

– Não Greasy, a volta dele é por outros motivos mais sérios e sem nada de romântico. Ele quer organizar os negócios do pai e se recuperar do choque de perder todos de uma vez. Combinamos apenas que ele manterá meu emprego. É isto, viu como não tem nada de romântico? – eu sorri fracamente para ela.

– Por isso que eu queria perguntar pra você, você sabe como as pessoas aqui são maldosas. Logo começarão a inventar coisas. Mas não se preocupe que eu vou contar isso, que ele vai organizar os negócios do pai. Rapidinho se espalha. Mas você sabe o que outras pessoas pensam não é?

– Não eu não sei – digo sinceramente e tenho vontade de acrescentar que não me interessa, mas resolvo ser educada já que ela está quase na porta e esta conversa com certeza está para acabar – Qual é a outra face da história que inventaram?

– Bem, dizem que ele jamais voltaria por você que tem uma filha de Gale.

Ela sai porta afora deixando no ar suas palavras. Tenho que me conter de vontade de ir até ela e dizer que eu concordo com a outra face da história, eu sei que Peeta nunca irá me separar de Gale porque existe minha filha entre nós para provar os erros que cometi, mas para mim basta que meu coração saiba disso, não preciso que isso vire conversa de feira.

Tomo um momento demorando-me na ali parada na sala para me recompor e volto para o jardim, para encontrar Haymitch enchendo mais balões cor de rosa. Pego a caixa com ovelhinhas de pelúcia e volto a me concentrar na decoração das mesas e do ambiente todo. Minha filha está vivendo a fase de encantamento por ovelhas, então todo o tema do seu aniversário tem os bichinhos peludos, desenhado nos talheres e no chapéu, e pelúcias neste formato decorando a mesa do bolo. São tantos detalhes em vários tons de cor de rosa que parece ser uma cena de um livro.

– Ei docinho, eu vou embora, já está ficando tarde.

– Ok Hay, pode ir, obrigada por tudo, eu vou terminar de colocar os doces nas embalagens e montar as sacolinhas de surpresa. Passo lá mais tarde para pega-la ok?

– Não se preocupe, se ficar tarde, pode deixar ela dormir lá.

– Espero não ser necessário, mas se for eu ligo.

Depois que Haymitch vai embora eu entro e começo a enrolar os brigadeiros que preparei e coloca-los nas embalagens. Penso em como Ceci cresceu forte e saudavel apesar a ausência do pai e ter perdido tantas pessoas queridas logo nos seus primeiros anos de vida. Penso em seu rosto fino e angelical como o rosto de Prim, os meus olhos cinzas e um cabelo fino loiro claro que é exatamente como da minha irmã quando era criança.

Foi tão difícil no começo, trabalhei tão arduamente para cuidar da minha filha e para não deixar que ela sentisse falta do pai. Engoli todos meus medos e receios, tranquei dentro de mim meu orgulho e minhas dores, tudo para dar a ela o meu melhor. Quando menos percebo estou chorando, vejo a lagrima pingar em cima da embalagem de papelão, borrando os pequenos pontinhos brancos que compõe o poá. Eu sei que faço um bom trabalho por Ceci, mas nisso tudo eu me abandonei e é esta constatação que me faz chorar.

– Não sabia que as crianças gostam de brigadeiros com lágrimas!

Pulo quando ouço e acabo escorregando e chegando ao chão antes mesmo de vê-lo. Ótimo, tudo que faltava era cair e bater o cóccix na véspera do dia do aniversário de Ceci.

– Katniss me desculpa! Não queria te assustar e este ponto? – ele disse já em cima de mim.

– Sério? Você achou o que? Eim? Peeta você não pode fazer isso com as pessoas, ir entrando em casa assim sem fazer barulho nem nada! Olha o que você fez! Justamente hoje! Você nunca foi a um aniversário de criança? Você não sabe quanto tempo terei que ficar de pé amanhã? – eu sentia meu rosto queimar de raiva, não era simplesmente raiva pelo tombo, era uma raiva misturada que eu não conseguia identificar suas origens.

Percebo que o tombo foi mais grave do que eu calculei quando Peeta tenta me colocar de pé e eu não consigo me manter.

– Céus, está doendo muito! E agora?

– Fique calma. Em primeiro lugar me perdoe, eu achei que não tinha ninguém em casa e eu fiz barulho pra entrar sim, mas você estava muito distraída, faz pelo menos 3 minutos que eu estou parado ali na porta vendo você fazer brigadeiros e chorar. Agora você quer que eu te leve para o pronto socorro?

Imaginar Peeta chegando comigo no pronto socorro me fez rir, isso daria asas a toda população de Campina e ele não precisa saber disso ainda.

– Não, acho melhor tentar uma compressa de agua e algum analgésico se você tiver. Eu realmente preciso terminar antes de ir pra casa. Aliás, quantas horas?

– São quase 11 horas, pelo seu estado você está aqui o dia todo não é? Porque não pediu ajuda?

– Hay estava aqui até umas 7, ele foi embora e eu não vi o tempo passar tão depressa. Eu realmente quero terminar hoje, porque marcamos a festinha para as 3 da tarde e amanhã terei visitas chegando em casa.

– Ah é? Quem vem? – ele parecia desinteressado.

– Johanna! Ela é a madrinha de Ceci. Chega por volta das 10 horas, acho que agora eu quero tentar ficar em pé de novo.

Gentilmente Peeta enlaçou seus braços fortes na minha cintura e me levantou. O contato pareceu tão intimo apesar de cordial, e ele estava tão perto. Tão perto e tão longe, minha mente gritou. Consegui me manter em pé, mas sem sucesso de conseguir andar.

– Olha vamos fazer o seguinte – ele disse puxando uma cadeira – você fica aqui sentada, com a compressa e eu termino o que precisar combinado?

– Você não precisa sabe, deve estar cansado da viagem me de alguns minutos que eu vou melhorar e termino. – ele passa as mãos pelo cabelo puxando como se estivesse bravo – Ou se você preferir eu posso ir pra casa, esqueci que estou na sua, devo estar atrapalhando não é? Deixe-me ligar para Haymitch – fiz apenas a menção de levantar e senti suas mãos segurando meus ombros mantendo-me sentada.

– Olha Kat, eu sei que você fez tudo sozinha nos últimos anos, não quero tirar seu mérito. Mas por minha culpa você caiu e se machucou. Posso ajudar nos preparativos do aniversário da sua filha, ou isso vai te deixar incomodada demais?

– Peeta é que... – ele estava sendo sincero, ele queria e podia ajudar, a minha relutância em negar ajuda era justamente o ponto que ele tinha falado, eu fiz tudo sozinha sempre – Bem, tudo bem combinado! Me coloque próximo a mesa, eu vou terminar as sacolinhas de surpresa. Os brigadeiros já estão praticamente prontos, falta só o bolo.

– Onde está o bolo e a massa para decorar? – ele perguntou depois de me instalar na mesa com tudo a minha volta para facilitar a montagem das sacolinhas.

– Está tudo na sua geladeira.

– O que você tinha pensado para o bolo? Qual é o tema do aniversário?

– Dê uma voltinha lá fora e inspire-se.

Fiquei sozinha por uns 5 minutos, separando brinquedos, balas e doces. Vi Peeta retornar e subir, por um instante imaginei que ele estava chorando. Na meia hora seguinte a teoria do choro foi reforçada porque ele não voltava, e quanto ele apareceu finalmente estava com o rosto vermelho e olhos inchados, mas eu não sabia se era de choro ou do banho já que o cabelo dele declarava um banho recém-tomado.

– Acho que já encontrei minha inspiração – ele declarou por fim – você precisa de alguma coisa?

Olhei para o relógio que denunciava quase meia noite e lembrei de Ceci.

– Bem avise o Haymitch que pego Ceci amanhã cedo, e me leve até meu carro. Vou deixar você trabalhar em paz, terminei por aqui.

Ele fez que não ouviu a última parte e ligou para Hay, depois me ajudou a organizar os chocolates e as sacolinhas e quando eu pensei que finalmente iria embora ele me estendeu uma bolsa com compressa de agua morna e alguns comprimidos.

– Te levo pra casa depois, agora quero sua opinião sobre minha inspiração. – apenas concordei.

Enquanto Peeta exercia sua magia de confeiteiro no bolo de Ceci eu o atualizei sobre a contratação de Greasy e sobre alguns pontos que eu via que poderia ser melhorado na padaria. Falamos sobre algumas pessoas na cidade, e sobre seu afastamento do cargo. Quase uma hora da manhã ele tinha sobre a mesa o mais perfeito bolo de dégradé cor de rosa que eu já vi na minha vida!

– Peeta! Ficou lindo! Obrigada! – eu disse esticando minhas mãos para alcança-lo – com certeza se não fosse por você este bolo seria muito diferente! – eu disse rindo. E ele riu também alto, despreocupado, feliz. E eu notei o brilho que ele tinha nos olhos por estar ali fazendo isso. Acho que eu concordo com Dr. Aurelios, Peeta precisa ficar perto de seus pais. Das coisas que eram dos seus pais.

– Eu comprei um presente pra Ceci, e já sei que você não quer, por isso antes de ficar brava eu quero dizer que o presente dela vai morar aqui comigo.

– Peeta eu não acredito que você fez isso! Você sabe que ela vai se apegar não é? E depois quando você quiser trazer alguém pra sua casa? Ou quando você tiver família e tudo mais?

– No momento a única pessoa diferente que vai frequentar esta casa é Annie, minha advogada, e fique tranquila não estou pensando em casar e ter família, nem em trazer companhia pra cá. Aqui é a casa dos meus pais Katniss, um lugar de respeito.

– Compreendo. – Sim, eu compreendi tudo que ele me disse que traduzindo seria: Se eu quiser dormir com alguém não será aqui, e não pretendo casar nunca, você me estragou pra sempre.

– Além do mais, você é mais do que bem vinda aqui. Pela quantidade de fotografias que encontrei lá em cima, vocês duas eram de casa. E eu pretendo que continue assim.

– Obrigada Peeta – eu disse com um sorriso fraco, me sentia tímida e envergonhada por lembrar como terminou nossa última noite. De repente eu lembrei que era mais de meia noite, e que durante o dia enquanto eu estava animada e ansiosa com nosso reencontro eu preparei um presente pra ele. Olhei em volta e encontrei o presente em cima da geladeira.

– Ei, você pode pegar aquela tupperware verde ali em cima da geladeira?

– Claro – ele disse já de pé e estendendo ela pra mim segundos depois. Eu abri com cuidado e coloquei a pequena vela por cima do pequeno bolo de baunilha perfeitamente envolvido na embalagem de cupcake azul. E quando olhei pra ele, eu vi o efeito que isso poderia ter, eu queria demonstrar o quanto senti da falta da amizade dele.

– Parabéns Peeta, já é seu aniversário! Eu sei que costumava fazer isso de manhã, mas já estamos bem crescidos para isso. Acenda a vela e faça um desejo!

Por um instante eu vi seus olhos brilharem de felicidade e reconhecimento, mas uma sombra amarga passou pelos seus olhos. E ele endureceu olhando enquanto decidia se pegava o não o bolo estendido.

– Eu não acredito mais em pedidos de velas Katniss, mas obrigada pelo bolo! – senti seu beijo na minha bochecha, porém meus sentidos ainda estavam procurando entender como isso aconteceu e não falo do fato de que ele não acredita mais em desejos, oras! Isso é realmente bobo. Só não precisava verbalizar isso diante da minha frágil tentativa de recuperar sua amizade. Embora em outros momentos ele se demonstre amigo, eu sei que nunca será como antes e eu preciso parar de comparar de comparar aquele Peeta com este, antes que eu me machuque além do reparo, ciente disso, eu engulo o choro e espero as lágrimas que brotaram secarem, voltando para os olhos sem cair.

– Por favor, não diga isso perto de Ceci, ok? Para ela desejos de aniversário ainda são como cartas para o Papai Noel! – foi tudo que eu consegui pensar pra dizer.

– Oras, não sou mau a este ponto. Eu nunca tiraria os sonhos de uma garotinha inocente! Agora venha, vou te levar pra casa.

Apesar de morar apenas duas ruas da casa de Peeta, este foi o percurso mais longo da minha vida. A vontade de ficar sozinha e continuar o choro que eu tinha começado lá na casa dele era enorme e pesada no meu peito a ponto de me impedir de respirar. Quando Peeta me pegou para descer eu recusei, já estava melhor, queria apenas que ele se retirasse dali. Claro que eu não podia brigar com ele nem nada, mas vê-lo estava abrindo todas as portas dentro de mim e eu sentia meu coração rachando com as lembranças e arrependimentos que eu luto todos os dias para esquecer.

– Não seja teimosa Katniss. Você está pálida e com a respiração artificial, se você não me deixar carrega-la para dentro eu vou leva-la a força para um hospital.

– Não, hospital não! Por favor. – eu estava a beira de uma crise histérica. Eu não queria que Peeta visse ou percebesse isso. Mas quando ele começou a subir a escada para me levar para meu quarto era tarde demais, eu me lembrei de todas as fotos que eu tinha dele lá, cortando Gale cuidadosamente de cada uma, isso era muito intimo, algo muito meu. O pânico me invadiu e eu senti o controle do meu corpo sumir.

– Katniss! Katniss! Acorde, por favor! Por Deus, ajudem! – eu posso ouvi-lo de longe gritando estas palavras.

– É só uma crise de pânico Sr. Mellark, não é a primeira vez que acontece. Temos tudo sobre controle.

Ele me levou para o hospital afinal.


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Notas finais do capítulo

E ai, gostaram?
Não sei se volto este ano, por isso quero desejar-lhes um Feliz Ano Novo!!!
Que seja repleto de sonhos e alegrias!

Muitos beijos



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