O Testamento escrita por Cecília Mellark


Capítulo 3
Capitulo 3


Notas iniciais do capítulo

Preparados? Vejo vocês lá embaixo!



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Começo a preparar o jantar no piloto automático, pensando sobre a melhora do meu relacionamento com Peeta. Relacionamento ainda parece uma palavra muito grande pra definir, convivência seria melhor. E minha vida não estaria essa confusão de lembranças e sentimentos se o pai dele não tivesse resolvido que amava como filha, deixando tudo para minha filha. Ainda não tenho coragem de contar para Peeta que Cecilie os chamava de vovô e vovó. Tenho certeza que isso o deixaria extremamente chateado, assim como eu fiquei no começo.

Quando estou colocando o frango recheado de laranjas no forno eu ouço a porta abrir e meu trio favorito estoura casa adentro. Effie e Hay carregam uma Cecilie imunda entre as mãos!

– Deus, o que é isso Cecilie? Você rolou no barro? – até mesmo nos seus cabelos loiros tem terra!

– Siim! Vô Hay me levou na praia e no parque, e foi muito divertido!

– Ok, mocinha depois conversamos, já pro banho que teremos visitas no jantar!

Assisto enquanto ela sobre as escadas, lamentando o rastro de poeira que ela está deixando, e quando me viro Hay está com o sorriso mais irônico no rosto.

– Nem pense nisso!

– Oh, docinho, visitas pro jantar? É quem eu estou pensando?

– Bem é sim, digamos que hoje conseguimos melhorar nosso relacion... convivência – corrijo tarde demais. – E, por favor, não torne tudo mais difícil ok? Sem piadinhas sem graça.

– Quer dizer que eu estou convidado pra jantar também? Olhe só querida, Katniss nos convidou pra ficar e jantar!

– Como se você já não fizesse todos os dias não é querido?

– Bem, Effie, você pode dar uma olhada no ponto do frango? Eu realmente preciso subir e dar um jeito naquela menina.

Quando desço as escadas com Cecilie limpa e brilhando ouço a conversa animada que rola na sala sobre minhas habilidades culinárias, e agradeço mentalmente minha habilidade de tomar banho junto com minha filha e me arrumar enquanto arrumo-a, coisa que adquiri com maternidade. Não que seja uma ocasião especial, coisa que eu acho que eu nunca soube o que era afinal, mas é um senador jantando na minha casa, um amigo querido do passado. Foram bem essas palavras que eu usei para Cecilie entender porque tinha que se arrumar ao invés de colocar pijamas e usei a mesma desculpa quando ela me viu de vestido. Coisa rara de se ver.

Quando entramos na sala todos cessam rapidamente a camaradagem.

– Bem para o seu conhecimento Mellark, eu aprendi a cozinhar sim! O que minha filha iria comer se eu não soubesse?

– Bem senhor senador, a minha mãe não cozinha tão bem quanto a vó Elise, mas tem dia que ela acerta e fica gostoso.

Eu senti o sangue correr do rosto do Peeta assim como do meu quando minha filha mencionou o nome da mãe dele junto a palavra “vó”. Ele me olhou friamente, mas se recompôs a abaixou para pegar o rosto de Cecilie onde depositou um beijo.

– Eu acho que concordo com você, ninguém cozinha como minha mãe. Com certeza já somos amigos pequena.

Resolvo voltar pra cozinha, e terminar o jantar e de lá eu ouço Cecilie dando todos os detalhes da vida dela para Peeta, e Hay preenchendo o ambiente com as histórias mais engraçadas sobre a infância da minha pequena. Sinto que estou sendo observada enquanto estou na pia lavando algumas louças antes de servir o jantar e me viro para encontrar Peeta parado na porta.

– O jantar já vai sair Peeta, imagino que esteja com fome.

– Não mais do que estou curioso para saber como mesmo sua filha chama meus pais de avós!

– Peeta, eu também achei ruim e cheguei a brigar com sua mãe por isso, mas quando descobri ela já estava falando e seus pais não me permitiam mais corrigi-la pedindo para ela os chamassem de Sr. e Sra. Mellark. – fiquei surpresa com a facilidade das palavras.

– Sabe o que parece? Que você viveu uma vida como se tivesse me escolhido, você desfrutou de tudo que teria se tivesse ficado comigo! – Fúria e dor, era isso que continha seu olhar e suas palavras.

– Eu não tinha a intenção, eu...

– Mamãe? Porque vocês estão gritando?

Ambos olhamos aflitos para Cecilie parada próximo de nós. Olhei suplicante para Peeta.

– Mais tarde, por favor! – O vi concordar com um leve acenar de cabeça e passar as mãos nos cabelos deixando-os uma confusão só, coisa que ele fazia quando era daqui, claro porque um senador não pode bagunçar os cabelos na frente do seu eleitorado. Creio que ele também percebeu, pois sorriu e repetiu o gesto.

– Ei isso é bom, acho que tinha me esquecido.

– O que é bom Sr. Mellark?

– Bagunçar os cabelos, o que você acha disso?

– Minha mãe fica uma fera quando eu bagunço o meu – contou minha filha sussurrando pra ele alto o suficiente pra que eu ouvisse.

– Chega de bagunçar cabelos, vamos jantar!

O jantar estava sendo um sucesso, arranquei elogios de Peeta que se viu surpreso com a receita de frango recheado de molho de laranja, e Cecilie arrancou muitas gargalhadas com a inocência da sua infância, dizendo que o frango estava gostoso desse jeito porque Peeta teve sorte de principiante.

A noite estava tão feliz e animada, que por um momento me permiti fantasiar que poderia ter sido assim. Ou poderia ser se eu encontrasse alguém que me aceitasse com uma filha. A imagem da minha filha esfregando os olhos de sono enquanto pedia mais sobremesa foi o que me tirou do mundo paralelo. Abri mais uma garrafa de vinho, me permitindo ser adulta e beber mais um pouco, era engraçado o efeito quente que a bebida causava nas minhas veias, enchendo-me de vida, me deixando colocar de lado meus demônios e tragédias e sendo apenas jovem. Vi que Peeta estava no mesmo embalo, ficando cada vez mais solto e relaxado, cada vez mais próximo do menino fantástico que ele costumava ser, gentil, engraçado fazendo piadas a custa de ninguém. No momento que ele começou relatar seu jantar com o presidente eu pedi licença e levei Ceci pra cama, fiquei lá até que ela estivesse dormindo profundamente. E senti uma tristeza morna quando percebi que Hay e Effie estavam se despedindo, isso significa que minha noite feliz estava acabando.

– Gente é tão cedo ainda, acabei de abrir o vinho, vamos ao menos terminar este!

– Peeta você poderia aparecer mais vezes, geralmente ela nos expulsa de casa.

Sem o álcool eu teria corado, e cavado um buraco para entrar. Mas devido a quantidade da bebida que já estava nas minhas veias eu apenas mostrei uma careta para Haymitch e gritei enquanto ele ia pro carro.

– Bom mesmo você ir embora Hay, nesta idade não faz bem ficar acordado até tarde.

Senti Peeta me puxar pra dentro, e animei com a possibilidade de ainda ter companhia.

– Quero te ajudar com a louça, venha.

– Mas você é o convidado Peeta, eu não posso fazer isso. Aposto que no jantar do presidente você não lavou louças!

– Com certeza não, mas aqui é sua casa, e você é minha amiga então eu vou...

Mesmo alta pela bebida eu não pude deixar de registrar a facilidade com que ele me chamou de amiga, e a perplexidade que seguiu após isso.

– Fico feliz que sejamos amigos novamente Peeta. - eu disse pra quebrar o clima.

– Eu também - ele disse friamente com um sorriso que não alcançou seus olhos.

Depois da louça lavada nós fomos pra varanda levando o vinho junto pra terminar.

– Está é uma ótima safra, não vamos desperdiçar – disse ele enquanto carregava a garrafa debaixo do braço.

Sentamos nas cadeiras, mas elas pareciam mal ajustadas ao nosso corpo adulto agora, acabamos no chão deitados na grama em cima de um cobertor da Ceci que estava por ali.

Meu corpo estava leve como nunca, efeito do álcool, e uma alegria imensa tomou conta de mim fazendo-me rir do nada e ouvir a risada de Peeta acompanhando a minha trazia tudo para um ângulo diferente. Juro que eu não abri completamente a porta das memorias onde eu o guardava, eu apenas espiei pela fechadura, mas foi o suficiente para toda saudade que eu senti dele nos anos, misturados com o arrependimento de ter feito o que eu fiz tornaram-se grossas lágrimas escorrendo pelos meus olhos enquanto eu tentava analisar se estava rindo ou chorando.

Com meus sentidos lerdos, eu demorei perceber que ele tinha parado de rir e agora sustentava o corpo apoiado no cotovelo enquanto me observava. O meu riso também sumiu e isso fez com que as lágrimas aumentassem seu fluxo tornando a imagem de Peeta destorcida na minha frente, e tive uma súbita vontade de toca-lo. Com muito esforço alcancei seu cabelo, que ainda tinha a mesma textura, assim como sua pele, eu senti falta dele, verbalizei antes que pudesse processar o efeito que teria nele.

E com certeza não teve o efeito que eu esperava. Eu imaginava que ele fosse fugir do meu toque, acusando-me de ser a pessoa fria que eu fui com ele uma vez, mas ao invés disso só registrei o calor dos seus lábios, devorando os meus.

Eu queria voltar no tempo enquanto eu o beijava, eu queria tirar o atraso, desejei ter beijado os lábios dele todos os dias nos últimos 7 anos. Enquanto eu lutava para demonstrar meu arrependimento por tudo que fiz, Peeta foi mais ágil tirando meu vestido ou rasgando eu não sei, eu não conseguia registrar muita coisa. Apenas meu desejo de uma nova chance. Uma única noite quem sabe, e amanhã de manhã que verdades ele jogará na minha cara? Congelo com o pensamento da nossa primeira, única e ultima vez.

– Peeta, pare! – eu tentava pedir só para ser calada com seus lábios. Meu desejo era tamanho no momento que eu resolvi comigo mesma que se amanhã de manhã ele me esculachasse seria apenas uma volta do que eu fiz com ele e estaríamos quites pelo resto de nossas vidas.

Não sei em qual momento entre beijar, morder meu pescoço ou sugar meus seios com volúpia que eu ouvi ele dizer “eu te amo, mulher, é um maldito amor que não consigo tirar de mim”. Só registrei meus lábios formando as palavras que meu coração nunca ousou “eu também te amo Peeta, me deixe ser sua”. Seus olhos queimavam de desejo quando ele me disse “você é minha” e tomou-me para si, unindo nossos corpos. Sem lembrar de Cecilie no andar de cima eu me permiti urrar de dor e prazer ao mesmo tempo. A última vez que estive com um homem foi com Gale, antes mesmo de descobrir que estava grávida, ou seja, tem muito, muito tempo.

Peeta mesmo delirante parece ter percebido, pois esperou até que meu corpo se acostumasse com o dele antes de começar o movimento lentamente, como se quisesse me torturar, não demorou muito para sermos velhos conhecidos do corpo do outro, e agora mais velha e madura eu pude apreciar melhor o homem maravilhoso que Peeta é, cuidando de cada detalhe do meu prazer, levando-me a borda do precipício e então me puxando de volta. Vi-me choramingando, pedindo para ele me deixar ir, e ele sorria no meu ouvido, dizendo que este era um castigo por eu ter sido tão má. Por fim, o movimento tornou-se frenético e eu sentia Peeta chegando na ponta do seu próprio precipício e sem nenhum esforço eu pulei com ele.

A exaustão me venceu por fim e adormeci ali mesmo onde estava, escutando o coração de Peeta bater forte enquanto ele acariciava meu cabelo.


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Notas finais do capítulo

E então meu queridos? Gostaram? Espero que sim!
Desejo a todos um Feliz Natal!

Beijos



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