Horóscopo do Amor escrita por kathe Daratrazanoff


Capítulo 4
Ele Áries, Ela Peixes


Notas iniciais do capítulo

Ta, eu sei, to repetindo signos. É que a Gabi tinha pedido Ela Áries Ele Peixes, só que aí eu tinha escrito o que estou postando hoje. Revendo meus rascunhos encontrei e decidi postar, por que não?

Conheçam Priscila e Cameron o/



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Ele é confiante, charmoso e muito sexy. Ardente, apaixonante e sensual, meu vizinho e melhor amigo é tudo o que eu poderia querer, exceto a parte em que ele me considera apenas como sua "querida" amiga.

Ele vive dizendo os motivos que o faziam ser demais. Acho que ouvi tanto que, de algum modo, acabei me convencendo deles. No início, eu achava muito egocêntrico da parte dele ficar fazendo listinhas com motivos para as garotas gostarem dele. Agora eu concordo com tudo, quase tudo, mas me contendo pra não falar em voz alta, ninguém precisa saber dos meus sentimentos.

– Não existe nada como eu, não acha Cila? - Cam me pergunta, sem desviar os olhos do celular.

– Claro - respondo, tentando soar o mais desinteressada possível.

Sei que, nesse exato momento enquanto faço um cafuné no cabelo dele, Cam está flertando com um monte de garotas ao mesmo tempo no whatsapp, o que pra ele é um dom divino.

–Tem que ter muita técnica pra não enviar uma mensagem errada - ele diz, todo convencido de si. - Eu sou muito bom mesmo, Cila. O mais difícil é quando elas tem o mesmo nome, mas nada como um bom apelido pra não esquecer delas.

Reviro os olhos, sentindo um certo incômodo. Sei que aquelas palavras que ele está escrevendo e mandando são falsas, ele diz o que as garotas querem ouvir. Cam tem o péssimo hábito de fazer uma garota se sentir única, mesmo quando ela é apenas mais uma naquela enorme lista. Coisas como "você é linda" ou "é a única do meu coração" nunca seriam verdadeiras saindo dele.

Dou uma espiada na tela dele, mesmo sabendo que vou me arrepender do ato. São palavras mentirosas, digo a mim mesma, Cam não ama nenhuma delas. Ele só gosta de brincar, apenas isso, e mesmo que seja um tremendo idiota por agir assim ainda é meu amigo.

– Johanna ruiva. - leio os nomes em destaque. - Johanna morena, Jô baixinha, Jooh lábios, Joana boa. Joana boa?

Cameron dá risada, achando graça dos próprios apelidinhos.

– Legal, ne? Hoje é o dia do J, só falo com garotas cujo nome comecem com a letra J. Fica mais fácil de organizar.

Sinto vontade de dizer umas poucas e boas, mas me esforço pra não abrir a boca. Ele é meu amigo, não posso... Ah, esquece. Isso não está certo.

– Cam, você não acha errado ficar mentindo desse jeito? - pergunto, escolhendo bem as palavras que devia usar. Pensei no meu nome, que começava com P, e senti certa tristeza.- Então você não devia falar comigo, não tenho J nem no sobrenome.

Cam não responde de imediato, está muito ocupado digitando sem parar. Quando ele abre a boca pra falar, meu coração dá um triplo mortal carpado.

– Mas você é excessão, baby, sempre será.

Suspiro, mais pra dentro que por fora. Friendzone estava grudado permanentemente na minha testa, e sentia que nunca me livraria dela. Não podia me deixar iludir por esses momentos, esses momentos em que ele dizia ou fazia algo que me fizesse pensar que Cam tinha sim interesse amoroso em mim.

Tirei a cabeça de Cam do meu colo ignorando a reclamação dele e me levantei do sofá. O que eu precisava fazer pra ele ficar comigo? Um beijo que fosse, qual a dificuldade disso? Ele pegava o número de telefone de cada desconhecida bonita que achava na rua. Esse era o meu problema? Eu era uma conhecida e feia?

Fui até o espelho da parede, procurando encontrar defeitos em mim. Meu cabelo era daquele castanho escuro comum, que a maioria parecia ter. Alisar meu cabelo talvez não tivesse sido a melhor das ideias, porque os cachos pelo menos davam algo de diferente no meu rosto. Olhos comum, boca comum, tudo comum. Eu era um tédio de pessoa.

– O que está fazendo? - Cam perguntou, se levantando. - Procurando por marcas de insônia? Bem aí, debaixo dos olhos. Essas linhas mostram que você não tem dormido muito bem.

Saí da frente do espelho, indo arrumar a louça na cozinha. Sim, eu vinha dormindo muito mal, porque ao invés de simplesmente fechar os olhos e dormir, imagens de um certo cara flertando ou transando com qualquer uma de quem sabe Deus que lugar ele achou aparecia na minha mente.

– Ei, algum bicho te mordeu? - ele perguntou, indo atrás de mim. - Você ta com um mal humor dos infernos.

Senti a culpa me corroendo, droga. Não queria descontar minhas frustrações nele, a culpa era minha. Quem mandou eu acabar gostando dele? Sabia quem e como Cam era desde que o conheci, um aventureiro nato sem dono. Cameron não era do tipo que se prendia muito tempo em um lugar, e deixava isso bem claro pra quem quissesse ouvir. A camisa que ele usava era uma indireta, "Não tente prender aquilo que vive solto". Ele podia ser um canalha sim, que dizia que você era a única e especial. Mas fala sério, qualquer retardado sabia que aquilo era mentira. Como que um cara que é visto toda noite com uma mulher diferente teria apenas uma no coração?

– Impressão sua, Cam. Só estou agitada por causa das fotos - expliquei, guardando copos e pratos no armário. - Tenho que terminar tudo até o fim da semana, e posso ter pegado mais pedidos do que consigo fazer.

Cam me olhou desconfiado, mas voltou a se concentrar nas suas mensagem. Passei um pano no chão, guardei os restos de comida e esperei pelo momento em que ele sairia dali.

– Cam? - chamei, querendo que ele entendesse o recado - Você não tinha um lugar pra ir hoje?

– Provavelmente sim. - ele respondeu, guardando o celular. - O que vamos fazer hoje?

Franzi a testa, confusa.

– Eu vou arrumar meu guarda-roupa, faz semanas que não limpo aquilo. E você?

Cam me olhou com desgosto, como se eu tivesse acabado de dizer que ia passar a tarde andando por um esgoto.

– Vai passar uma tarde toda arrumando roupa? Cila, você realmente não tem jeito.

Claro que não tinha, uma parte de mim achava que talvez, lá no fundo, Cameron sentisse algo por mim quando meu lado racional dizia "sem chances".

– Tem algo melhor em mente? - perguntei, indo em direção ao meu quarto.

– Está flertando comigo? - ele perguntou, me seguindo de novo.

Parei um pouquinho, fingindo pensar na minha resposta e me virei, dando de cara com ele.

– Hum... -tentei recuperar o fôlego, Cam estava perto demais. - Não, tenho certeza que não.

Cam colocou as duas mãos nos meus ombros, se aproximando mais ainda. Eu sentia de perto aquele hálito de balinha de hortelã com energético.

– Mas eu percebi um duplo sentido na sua frase, Cila - mais uma vez fiz cara de confusa, dessa vez sem entender o que ele tinha dito. Ele deve ter visto que não entendi porque tratou de se explicar.-Você perguntou se eu tinha algo em mente, e logo em seguida foi para um cômodo que tem uma cama.

Dei um meio sorriso, fingindo que aquilo não tinha me afetado. Cam brincava comigo desde que o conheci, dizendo que um dia eu cederia e ele me levaria pra cama. Isso meio que aconteceu, mas o máximo que ele fez foi me por pra dormir uma vez quando peguei no sono no sofá.

– Você vê duplo sentido em quase todas as coisas, Cam, isso não conta. Sabemos que qualquer coisa pra você tem apelo sexual, mas nada que saia da minha boca vem com essa intenção.

Cam tirou as mãos do meu ombro, para a minha decepção, e passou uma pela minha cabeça, desorganizando o meu já bagunçado cabelo.

– Eu sei, Cila, só estou brincando. Acho isso muito fofo. Lembra daquela vez em que você disse que queria chupar meu pirulito, lembra? Quem vê pensa que era daquele tamanho. Cila, só você pra fazer as coisas mais inocentes parecerem sujas.

Cam estava rindo de mim, e uma certa irritação me pegou. Por que ele tinha que caçoar de mim assim? Joguei uma almofada nele, tentando camuflar minha vergonha. Por que Cam tinha que brincar assim comigo? Não percebia como me afetava?

– Vou indo nessa, Cilazinha. - ele disse, me jogando a almofada de volta. - Boa sorte com... isso aí.

Assim que Cam passou pela porta me joguei na minha cama, empurrando as roupas que ali estavam no chão. Eu devia mesmo arrumar aquilo, mas Cam fazia parecer que a tarefa era tão chata que nem valia a pena olhar, e eu concordava.

Queria sair com ele, seja qual fosse o destino. Onde ele estaria indo? Provavelmente, pra um lugar mais interessante.

Eu queria conquistá-lo, mas não sabia como e nem tinha disposição pra isso.

Despentear o cabelo dele na altura da nuca, arranhar suas costas. Mostrar a paixão que tenho por novidades e pelos meus ideais. Mantê-lo interessado intelectualmente e sexualmente - indiretamente existia uma atração entre nós, não podia ser só impressão minha. Cam tirava proveito disso pra brincar, fazer piada. Como eu desprezava isso nele.

Eu preciso dele e ele sabe disso, na verdade Cameron gosta de saber que pode me ajudar. Se eu esqueci de comprar algo no mercado ele é o primeiro a notar e a repor o que está faltando. Se preciso de uma carona, de conselhos, ou um simples cafezinho pra repor as energias, lá estava ele me dando.

É, mas eu sou a droga da amiga dele, a-m-i-g-a e nada mais. Acho que ele não me vê como mulher, me vê como uma garotinha, a irmã mais nova. Não tenho estilo definido, mudo com muita frequência roupas. Cam já disse que gosta disso, porque assim nunca fico numa só. Ele gosta de mudanças, de constantes alterações, e eu sou boa amiga por isso. Segundo Cameron, tenho mil personalidades em uma, mil utilidades. Pena que a utilidade de esquentar a cama dele não vinha no pacote.

Ele é fã de si mesmo, e pode ser egoísta por conta disso. Como eu fui gostar disso? Cam não precisa de ninguém para elogiá-lo, o infeliz faz isso pra si mesmo. Mas necessita ouvir dos outros também, principalmente de mim. Tenho que dizer pelo menos uma vez por semana o quanto ele é charmoso, senão ele entra em "crise existencial" e diz que vai se matar. Haha, grande piada.

Incontrolável, seguro de si, criativo. Cameron tinha as mais diversas ideias, e quando saíamos juntos era uma aventura atrás da outra. Ele conseguia fazer uma ida a um museu de antiguidades engraçada.

E eu amava quando ele ficava todo esquentadinho, mesmo que quando o fogo estivesse quente eu me afasto pra não queimar. Como da vez em que fomos pra uma boate, ele queria muito que eu conhecesse o local. Chegando lá, o miserável me deixou sozinha pra ir atrás de duas gêmeas ruivas. "Não é todo dia que se encontra esse tesouro", ele havia dito. Até parece que aquele alaranjado não era tinta.

Fiquei sentada no balcão, desolada, vendo os três dançando na pista. Então chega um cara querendo me pagar uma bebida e lá está Cameron, dando um soco no cara e mandando ele se afastar. Tudo bem, o cara não estava apenas querendo me pagar uma bebida, ele tocou nos meus seios por sobre a blusa. E tudo bem, eu fiquei assustada pra caralho e num primeiro momento achei que Cameron estava com crises de ciúme, mas ele só estava me defendendo como qualquer cara faria por uma garota. Se bem que, no fim da noite, Cameron me chamou pra dançar, deu uma mordidinha no lóbulo da minha orelha e disse as palavras que escrevi na parede por trás de onde agora fica o guarda-roupa :

– Você apaga o meu fogo, baby, e eu preciso dele.

O que ainda não sei se foi elogio ou uma crítica. Eu apago o fogo dele? Faço a libido dele cair? Por isso Cam não fica comigo, por que eu brocho ele? E em pensar que um dia, achei que aquela frase fosse a maior declaração de amor do mundo.

Tenho que deixar ele vir atrás de mim, e esperar um pouco. Foi o que li num site, mas ninguém vai correr atrá de mim e muito menos Cameron. Não posso me afastar completamente, caso contrário ele vai partir pra outra. Se eu fizesse uma espécie de greve dele e parasse de ser sua amiga, Cameron me esqueceria do dia pra noite. Preciso estar perto pra saber se estou conseguindo algo, e pra monitorar as ficantes dele. Pelo menos Cam não está namorando nenhuma, é o que penso pra me consolar, ele só as usa e descarta.

Abri a terceira gaveta da cômodo que ficava ao lado da minha cama e peguei alguns papéis. Estava tudo desorganizado, sem ordem, e minha letra não ajudava muito. Mas eu entendia a maior parte, afinal, eu mesma tinha escrito.

PROJETO C.A.M

1) Apesar de gostar de um bom debate, não é bom provar que Cameron está errado. Ele pode ficar bravo com isso, pois além de trocar argumentos, ele gosta de vencer.

2) Ele é temperamental e pode ser bem infantil. Tenho certeza de que quero investir?

3) Nunca, jamais sugerir um programa que inclui um filme depois do jantar. Ele vai me olhar com aquela cara de deboche, recusar e ir para uma balada, para o que ele chama de "atividade estimulantr".

4) ele é esforçado, seguro, carismático e esperto. Se eu deixar pequenas pistas, talvez ele venha atrás. Mas que pistas?

Deixei as folhas sobre a minha cama e me levantei, não dava pra ficar deitada esperando. Enquanto trocava de roupa e penteava o cabelo, lembrei das primeiras conversas que tive com ele.

Cam sempre gostou de admiração e atenção. Dizia que queria ser meu cavalheiro de armadura, mas um cavalheiro nunca me deixaria pra trás. Um cavalheiro não iria pedir pra que eu fosse na frente só pra poder admirar minha bunda. Cam nunca seria o tipo certo de príncipe encantado, mas eu ainda estava disposta a tentar ser sua princesa.

– Sabia que Cam significa quente? Queimado pelo sol. Você me acha quente? Nunca te ouvi dizer isso.

Beijos frequentes na minha bochecha. Abrir as portas com frequência para mim, pagar a conta. Isso tinha que contar pra alguma coisa.

Saí do meu apartamento com pressa, esperando que Cam não estivesse muito longe. Assim que saí na rua, um sorriso se instalou na minha boca ao vê-lo do outro lado. Um sorriso que morreu assim que percebi que ele estava sorrindo pra uma garota que não era eu.

Droga, droga, droga, por que eu tinha que demorar tanto? Cam me convidava, eu recusava e quando caía em pleba consciência do que tinha feito, lá estava ele com outra.

Ele não era de esperar, ele era de ir em frente. Dei as costas rapidamente, torcendo pra que Cam não me visse. Tentei ter ânimo e subir as escadas, mas não demorou muito para as lágrimas saírem e eu me sentar em um degrau.

Lembranças continuavam me invadindo. Cam Tentando ser educado com os meus amigos, mesmo que isso tenha exigido dele mais do que o esperado. As xícaras de café quente que me entregava logo cedinho, sabendo que eu iria ter um longo dia de trabalho. O fato dele colocar minhas músicas favoritas durante um jantar, de ser meu amigo mesmo que eu fosse carregada de uma carga emocional.

E quando ele tinha comprado ingressos pra que a gente fosse assistir a um filme que, segundo ele era puro romance, e eu imaginei que ele fosse se declarar pra mim nas na verdade o filme era Deadpool? Eu ainda não tinha certeza sobre isso, se era bom sinal ou um ruim. Mas nós dois tínhamos rido tanto juntos.

E sempre que eu estava de TPM ele me perguntava como eu estava me sentindo, e quando eu pedia pra ele ir embora Cam.respondia :

– Você tem uma tonelada de sentimentos, Cila, e não consegue controlar. Uma uma montanha russa, baby. Pra sua sorte, eu venho com um cinto de segurança.

Só que ele me deixava com tanta raiva, tanta. Eu não conseguia esquecer, meu lado rancoroso guardava. Cam se elogiando constantemente e me pedindo ajuda com mais verbos, seria assim? Até o fim da minha vida?

–Cila? - Cam chamou meu nome, me assustando. - O que você... Ei, você ta chorando?

Passei a palma da mão tentando limpar meu rosto, isso era o fim do mundo.

– Não. - neguei, me levantando. - Caiu um cisco.

Cameron me olhava atentamente, sério. Aquele olhar era pior do que levar um fora. Eu podia lidar com o lado brincalhão e engraçado dele, não com isso.

– Priscila... - ele continuou e eu corri pra cima, não queria continuar encarando ele. - Ah, não, você não vai fugir mocinha.

Cameron me pegou, prendendo os braços dele na minha cintura. Eu sabia que não ia conseguir me soltar, mas meu lado imaturo continuava me fazendo chutar.

– Me... Solta! - pedi, tentando morder um braço dele.

Cameron me soltou, o que me deixou desorientada por alguns segundos. Antes que eu pudesse entender o que estava acontecendo, Cam se aproveitava da minha confusão e me beijava, tão lento e suave que parecia um sonho.

Quando ele se afastou me senti paralisada, como se uma parte do mundo estivesse desabando.

–Ahn... - tentei falar algo, mas sentia minha garganta seca. Tentei de novo, tentando fazer a voz sair. -Vo... você... Por quê?

Cam deu de ombros, colocando as mãos no bolso da calça.

– Achei que faria você parar de chorar. Deu certo.

Funguei uma vez, controlando pra não fazer minhas comportas.se abrirem.

– Olha, seja lá o que te deixou chateada, quer sair comigo? -meu coração deu um pulo forte. - Acabei de falar com uma garota que disse que um parque vai abrir hoje. Não sei onde ele fica, mas estou disposto a procurar. Quer ir?

Revirei os olhos, conformada.

– Claro, eu vou sim.

Um dia, eu conseguiria algo com Cameron, algo mais do que sair pra procurar um parque. Quem sabe se eu chorasse de soluçar ele transasse comigo?


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