Ela Áries, Ele Escorpião escrita por kathe Daratrazanoff


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

GENTE, eu postei o capítulo hoje mais cedo só que apaguei, vi uns errinhos e quis corrigir.

Natty, recebi seu comentário por email depois, pensei que ninguém tivesse lido no tempo que apaguei, foi mal. Pode deixar, linda, assim que Par Perfeito for postado eu divulgo.

Dedico esse capítulo a

The Queen Sweet Natty
TéhCr
Menyna de Cristal
Lare
Mady
Gabi
Dama do Poente
Sabrinha

Leiam as notas finais, vai ter uma pequena explicação sobre um personagem que aparece nesse capítulo.

Beijooos

Ps : eu quase não ia postar hoje, porém lembrei da imagem que a Gabi mandou sobre o que faria se eu não att.



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Trevor segurava seu precioso relógio encharcado em uma das mãos, pasmo, e com a outra tentava ligar para o seu amigo. Ouvia Lúcia choramingando de dentro do quarto em que ela e Ariana tinham entrado, mas não conseguia ouvir toda a conversa.

— Ele mentiu, Ari. Foi tudo uma brincadeira pra ele.

Trevor resistiu a tentação de entrar lá dentro, Ariana tinha deixado claro que qualquer ajuda dele não seria bem-vinda com apenas um olhar. Não sabia o que fazer, e não queria piorar a situação.

Depois de três tentativas falhas Lucas finalmente atendeu, surpreso.

— Trevor? É você? - Lucas perguntou. - Por que está ligando?

— Que diabos está acontecendo? - Trevor foi direto ao assunto. - Lúcia chegou aqui chorando, o que você fez com a menina?

— O que?  Eu não... - Trevor ouviu o som de vidro se quebrando, e alguém gritou nos fundos. - Onde você está, Trevor? Está com a Lúcia?

Alguma coisa pesada parecia ter sido derrubada, e Trevor se perguntou se seu amigo tinha ido até aquele maldito bar de novo.

— Lucas, você não está a onde eu penso que está, está?

Lucas começou a rir, como se tivesse escutado uma piada, e terminou com um soluço. Provavelmente tinha bebido mais do que o ideal num dia de semana, mesmo que fosse sua folga.

— Lucas, se eu descobrir que você fez alguma coisa com aquela menina, eu juro que...

— Onde você ta, na casa delas? - Lucas indagou, parecendo assustado.

— Sim, Lucas, escuta...

— O que você está fazendo aí? - Lucas gritou, alarmado. - Sai já daí, essa garota é problema!

— O que você fez com ela? - Trevor repetiu.

— Eu? Eu não fiz nada, cara, essa garota que é toda doida. Acredita que só porque uma mulher passou pelo corredor em que a gente estava e me deu um selinho, a Lúcia simplesmente surtou? Tentei explicar pra ela que não era o que parecia, mas a maluca ameaçou me denunciar por abuso. Por abuso sexual, Trevor! Como se eu tivesse forçado ela a fazer algo.

— Lucas, eu juro que que se você tiver encostado num fio que seja sem a permissão dela...

— Você é surdo? Estou... que barulho é esse aí?

Trevor ouviu uma gritaria vindo do quarto das meninas, e Ariana saiu de lá. Parecia desolada, a princípio, como se estivesse perdida.

— Está tudo bem com ela? - perguntou, preocupado.

— Como eu vou saber se não estou aí? - Lucas perguntou.

Trevor ignorou o amigo, se concentrando em Ariana.

— Saia da minha casa. - ela exigiu, apontando para a porta. - Acho que isso nos deixa quites.

Trevor encarou a garota, sem saber o que dizer. Tinha sido ela pra começo de conversa que o chamou até ali.

— Trevor? Trevor! - Lucas praticamente gritava ao celular. - O que está acontecendo aí?

— Trevor, saia já daqui. Você e seu amiguinho já arranjaram problemas demais. - Ariana insistiu.

Trevor se dirigiu até a porta, sem saber ao certo o que fazer. Tentou dizer alguma coisa, qualquer coisa, mas não conseguia fazer nada sair da boca. Ariana ajudou, o empurrando através da porta, e batendo ela em sua cara.

— O que está acontecendo, Trevor? - Lucas insistiu.

Trevor reaproximou o celular da orelha, pasmo.

— Eu não faço ideia.

Voltou a olhar para a porta, e reaproximou o celular da orelha.

— Lucas, o que exatamente aconteceu depois que vocês dois saíram ontem daquela balada?

Lucas começou a falar da sua noite, que incluía o carro parando de funcionar na estrada e um motel regular. Parava apenas pra tomar um gole de alguma bebida que estava tomando, e a situação era tão descabida que Trevor não falou mais nada sobre Lucas estar em um bar.

— Eu tinha dito pra ela através das redes sociais que tinha um carro, e ela ficou chateada pelo meu ter estragado. Isso azedou o clima, literalmente. Ela só ficou feliz quando eu disse que traria um outro, mas ficou reclamando da demora e querendo ver a amiga. Nunca pensei que ela fosse assim, se soubesse antes... Totalmente pirada, precisava ver o escândalo que ela fez no saguão. Quero ficar o mais longe possível de confusão, já bloqueei ela em tudo que é lugar. Sai fora daí e foge, pra bem longe. É o conselho que te dou.

Trevor sentiu uma ligeira irritação, afinal, não era pra ter nada haver com isso. Era Lucas quem sempre o arrastava pra esse tipo de confusão com essas ficantes dele.

A última coisa que chegou a fazer por culpa das mulheres de Lucas foi ter que trocar de número de telefone, já que o amigo não gostava de mandar o próprio número, agora essa?

— A loirinha jogou meu relógio num vaso de água. - desabafou. - É bom que tenha conserto, Lucas, porque senão...

— Ah, cara, o relógio? Aquele relógio?

— É, aquele relógio. - falou, olhando mais de perto para o objeto.

— Espera um minuto, quem mandou você dar pra ela? - Lucas questionou. - Como você dá um objeto tão importante pra uma desconhecida?

— Eu não... - Trevor tentou explicar, mas não queria ter que contar a história. Suspirando, começou a descer os degraus da escada pra sair dali. - Só quero saber o que vou fazer com ele. Sabe de algum lugar que conserta objetos?

— Olha, eu conheço uma loja de antiguidades, minha irmã foi uma vez lá. Eles consertam qualquer coisa, e não é muito longe. Não custa nada ir lá.

Lucas passou o endereço e encerrou a chamada. Trevor entrou no carro, cansado. Tamborilou os dedos no volante, sentindo a cabeça começando a doer. Não era hora do rush e o trânsito estaria bom, resolveu ir até lá.

Deixou o relógio no banco ao seu lado e começou a dirigir. Aquele relógio foi o último presente que sua avó lhe dera antes de morrer, e a velha senhora não era de dar coisas. Era antipática, carrancuda e vivia mal-humorada, só sabia se queixar das pessoas. O relógio podia não ser daqueles de marca ou que estavam na moda, mas o significado por trás dele era o que importava. Enquanto tivesse aquele relógio, teria uma lembrança da avó pra tocar.

Não demorou muito pra chegar ao local. A rua estava praticamente vazia, e a loja era dessas que passaria despercebida pra qualquer um desatento. Estacionou na entrada, conferindo o endereço pelo celular e entrou no local.

Viu um senhor de idade por trás de um balcão, e foi direto ao ponto.

— Esse relógio é um tanto antigo e foi molhado. Tem conserto? Os ponteiros não estão girando, e as peças dele ainda estão com água.

O senhor colocou um óculos, pegou o relógio na mão e o olhou minunciosamente. Depois, o depositou debaixo de uma luminária, e aproximou uma lupa por cima pra ver melhor.

— O problema não foi é sério, só vou precisar secar de dentro pra fora. Provavelmente vou ter que trocar algumas pecinhas, mas vai ficar novinho em folha. - o velho explicou.

— Ótimo, que maravilha. Quanto tempo pra ficar pronto?

— Trinta minutos no máximo.

Trevor se acertou com o senhor e resolver andar um pouco. Caminhou até uma pracinha que ficava próxima e se sentou em um dos bancos, aproveitando do silêncio. Gostava de ficar assim, sozinho e sem nenhum barulho o incomodando porém, sentia um vazio dentro de si, um vazio que vinha se arrastando a um tempo dentro dele. Sentia que algo estava errado, que faltava alguma coisa, só não sabia o que era. Esperava que, quando se vingasse de Margareth as coisas fossem melhorar.

Foi só pensar nela que o seu celular tocou. Pensou em ignorar sua chamada, mas a vontade de saber o que ela queria -e provavelmente de fazê-la calar a boca- ganhou.

— O que você quer? - perguntou.

Ouviu um soluço do outro lado da linha e se irritou com isso, não era a primeira vez que ela fazia isso.

— Margareth, se acha que ficar de choro vai me convencer...

— Eu sinto muito, Trevor, sinto mesmo. - ela disse. - Se eu pudesse voltar no tempo e...

— Vai se danar.

Trevor encerrou a ligação e deixou o celular em modo avião, não queria falar com ninguém. O passado não voltava, e pedir desculpas não consertava um erro. Algumas peças até podiam ser trocadas, mas tinha que gostar muito pra tentar fazer funcionar, e sua raiva por Margareth o fazia querer jogar fora seu coração e comprar outro. O ódio o cegava dos momentos bons e do que eles tinham sido.

Não queria juntar pedaços, não queria reparar nada. Só queria pegar uma vassoura, varrer a sujeira e jogar no lixo. Aliás, Margareth já tinha feito isso, jogado os sentimentos dele como se fossem nada. Trevor acreditava que Margareth fosse a pessoa certa, sua eterna companheira. Via nela mais que uma namorada, via uma amiga. O fim do relacionamento entre os dois provou que precisava ser mais seletivo, não iria se magoar de novo. Aprenderia com seus erros, e tiraria disso tudo uma grande lição. E um dia, iria fazer com que Margareth realmente se arrependesse. Ela ainda não sentia na pele o que era ser traída por alguém em que se confiou sua vida, não sabia o que era ser rasgado de dentro pra fora.

Uma mulher se sentou ao lado dele e Trevor a observou. Usava um vestidinho branco até o joelho, e por cima do vestido usava um casaco jeans aberto. Era bonita, tinha um sorriso doce. Mas não estava afim daquilo no momento.

Voltou a olhar para o celular, checando mais uma vez sua agenda da semana. A mulher, porém, não parecia ter se tocado de que ele não estava afim.

— Oi. - ela disse, cruzando as pernas.

— Oi. - Trevor respondeu, seco.

— Eu e minhas amigas te vimos e resolvemos vir falar com você. Estamos sentadas bem ali na frente. Não sabia se você ia querer ser abordado por tantas meninas ao mesmo tempo, então decidi vir sozinha.

A menina apontou para o outro lado da praça, onde um grupo de meninas da idade dela estavam rindo e cochichando. Trevor não levou nem dois segundos pra olhar pra elas e voltar para o celular. Provavelmente elas tinham discutido e muito pra ver qual delas iria abordá-lo.

— Então... - a garota continuou, mesmo com o sorriso dela. - Acontece que te achamos muito bonito, e eu queria saber se você não quer ficar com a gente. Pode escolher qualquer uma se quiser.

Trevor olhou para a garota, estressado. Será que o pai dessas meninas sabiam o que elas faziam em grupo? Se fosse pai, cuidaria pra que suas filhas não se tornassem umas oferecidas desse jeito. Detestava quando elas se rebaixavam a tão pouco. Escolher? Eram animaizinhos pra serem escolhidas e usadas?

— Qual o seu nome, menina? - perguntou, tentando soar o mais paternal possível.

— Amélia. E o seu?

— Amélia, por que não faz um favor? Se manda daqui, você e suas amigas.

A garota de levantou, indignada.

— Nossa, moço, se não queria nada era só dizer. Só queria seu número de telefone, nada demais. Desculpa se falei algo errado.

— E por que acha que eu daria meu número de telefone? Se eu não quero ouvir sua voz pessoalmente, imagina por celular.

A menina ficou vermelha de vergonha e se afastou, pisando duro no chão. Esperava que da próxima vez que ela pensasse em abordar um estranho se lembrasse que nem sempre a pessoa pode estar interessada, e que nem sempre as pessoas tinham boas intenções.

Mal a garota se afastou uma outra se sentou ao lado dele. Dessa vez era uma morena, provavalmente na casa dos quarenta. Não tinha nada contra mulheres mais velhas, mas realmente era um saco quando queria ficar sozinho e elas apareciam.

— Pois não? - perguntou, não querendo enrolações.

— Não pude deixar de te olhar, querido, você tem um magnetismo... - a mulher mordeu a o lábio inferior da boca, o olhando de cima a baixo. Trevor se sentia incomodado com esse tipo de olhada, mas com o passar dos anos foi se controlando pra não se queixar a todo momento. - Vi que a garotinha ali não te agradou. Pensei que fosse querer uma mulher mais... experiente.

A mulher colocou a mão na coxa dele e apertou. Faltava muito pouco pra Trevor perder o controle e mandar a mulher pra um lugar que ela não iria gostar, mas precisava ser educado. Por alguma razão, as mulheres se sentiam atraídas por ele, e as mais corajosas não perdiam tempo para assediá-lo.

Retirou a mão da mulher de cima dele, e deixou que sua carranca viesse á tona.

— Não sei que imagem te passei, senhora, mas não estou interessado.

— Entendo - a mulher respondeu, claramente perturbada pelo termo "senhora". - Vou deixar meu número, para o caso de mudar de ideia.

Antes que ela encostasse no seu celular, Trevor o colocou no bolso e se levantou, desistindo da praça.

— Não precisa, moça, não perca seu tempo. Eu não vou ligar mesmo.

Saiu andando de volta pra loja, e no caminho sentiu alguns olhares em cima dele. Geralmente era assim, as pessoas nem o conheciam mas achavam que conseguiriam algo. E o pior é que não olhavam para o que ele era, mas para sua aparência.

Voltou a entrar na loja, e parou pra prestar atenção no interior dela. Era apinhada por estantes lotadas com os mais diversos objetos, e havia alguns quadros pendurados.

— A restauração está pela metade. - o senhor avisou assim que o viu.

— Sem problemas. - Trevor falou, se interessando nas imagens das pinturas.

A maioria era retratos de pessoas que nunca tinha visto. Um quadro chamou mais atenção do que as demais, pois parecia uma cópia exata de Ariana. Era loira, tinha a mesma expressão facial e incrivelmente bonita.

— De quem é esse retrato? - perguntou, curioso.

O velho tirou os olhos do relógio que remontava e fitou o quadro.

— Ah, esse é bem antigo. Ninguém sabe ao certo o nome verdadeiro dela, apenas seu nome artístico. Valetina Pernábili. Fez sucesso no início do século XX por se envolver com homens famosos da época. Foi uma dessas celebridades que são esquecidas com o tempo e que ninguém se lembra mais.

— Esse quadro não parece ter um século de existência. - Trevor comentou. - Parece recente.

O velho deu risada.

— Você não imagina o que temos em lojas de antiguidade que parecem novos. O que chama a atenção dos clientes, além do objeto ser antigo, é o estado em que ele se mantém conservado. Nós, restauradores, trabalhamos muito pra isso.

Trevor admirava os olhos da jovem da pintura, era tão idêntico aos de Ariana que se sentia vendo uma fotografia dela. Aquele mesmo olhar de alguém que está aprontando, que sabe de um segredo que mais ninguém sabe, o olhar de uma garota travessa.

— Se interessou no quadro? - o senhor perguntou.

— A mulher na pintura é igualzinha a uma que conheci ontem. Ela foi a responsável pelo estrago no relógio.

O senhor ergueu as sobrancelhas, divertido.

— Tenho informações dessa mulher da pintura, caso tenha interesse. Gosto de procurar por histórias do passado, principalmente as que envolvem mulheres tão belas. Tenho um pequeno recorte sobre ele, espere um pouco.

O velho passou por uma porta dos fundos e retornou, trazendo consigo o que parecia ser um antigo pedaço de jornal.

— Aqui está - entregou a Trevor. - Só tome cuidado pra não sumir com ele.

O pedaço de papel estava plastificado, e algumas palavras Trevor teve que fazer um esforço pra ler.

"Valentina Pernábili era o nome artístico de mais uma jovem famosacesquecida pelo tempo. De acordo com jornais preservados da época, Valentina usava do charme e da perspicácia para se manter nos tablóides e ser um dos assuntos mais comentados do cotidiano. Dentre os homens de destaque com a qual foi vista citamos Charlie Chaplin, Henry Fonda, Freid Aisteri, e a lista dos que ela disse que teve algum lance é maior do que o braço de uma criança.

Apesar de ter gostado de aparecer nos principais jornais em colunas de fofoca, pouco se sabe da vida de Valentina antes da fama. Ela gostava de falar de si mesma, mas nunca de onde veio ou de quem era, o que fez um certo rebuliço por um tempo. Qual era o mistério por trás dela? Escondia um grande segredo ou era apenas marketing? Era só fazer uma dessas perguntas que ela tirava o enorme sorriso do rosto e ia embora.

O maior escândalo que esteve envolvida, além daqueles como ter sido vista nua por um padre e se relacionado com homens casados, foi um suposto "aborto" que fez.

Na época, ela estava noiva de um senador, Franklin Turman, que negou veemente os boatos de que era o pai do bebê, e que o fato dela ter engravidado foi o motivo de separação dos dois, já que ela o traiu.

Valentina morreu três décadas depois do escândalo, nunca negando nem afirmando o fato de ter traído o ex noivo, e foi quase que esquecida.

Durante a 2° guerra mundial, um livro que supostamente foi escrito por um amigo de infância dela foi publicado, mas no meio de tantas guerras e mortes, quase ninguém quis saber da vida de uma mulher que um dia namorou alguém famoso ou rico.

Segundo o autor desse livro, Valentina teria sim traído o noivo Franklin, e o motivo da separação foi de que ela não abortou coisíssima nenhuma, quis ter o bebê e seu noivo não quis se responsabilizar por uma criança que não era dele. Franklin foi descrito como um homem de aparências, egoísta e egocêntrico, que nunca se manteve fiél em nenhum relacionamento e nunca cobrou fidelidade de ninguém.

A criança teria nascido e sido criada pelo pai biológico, um antigo amor de Valentina, que ela teria largado para ir atrás de fama e dinheiro.

Não se sabe como Valentina morreu ou como foram seus últimos dias, foi uma dessas figuras que apareceram, brilharam e que sumiram do mapa."

Depois de ler a matéria Trevor colocou o papél com a matéria por cima da mesa, pensativo. A história o tinha feito pensar em algumas coisas, e não estava gostando disso.

— Existe ainda alguma cópia desse livro que escreveram dela? - perguntou, curioso.

— Não, acredito que não. Poucas edições tinham sido publicadas na época, e pelo que sei quase ninguém comprou. Se ainda existir um, deve estar bem escondido. Mas minha neta sabe um pouco mais da história, ela é... - o senhor olhou para ambos os lados, e continuou em tom de cochicho. - bom, não sei se o senhor acredita em coisas sobrenaturais. Ela tem um dom, sabe, um dom divino. Ela olha pra uma pessoa e consegue dizer coisas dela que ninguém mais saberia. Também funciona com fotografias, só não com tantos detalhes quando pessoalmente. Vou chamar ela.

Trevor tentou impedir o senhor, mas este já tinha passado pela porta chamando por uma garota chamada Wanda. Em poucos minutos ele retornou, trazendo consigo uma garota.

Trevor esperou ver uma criança, mas a menina já devia ser maior de idade. Ela o olhou atentamente, mas não do jeito que estava habituado. Era como se ela estivesse lendo sua alma, e não gostou da sensação. Eles eram espíritas? Não que tivesse algo contra a religiões ou misticismo ou magia, mas não se sentia bem próximo dessas coisas.

— Conte a ele o que descobriu sobre a pintura, Wanda, aquela da mulher loira. Ele se interessou pela história de Valentina.

Wanda torceu os lábios, como se não estivesse confortável com a situação. Olhou pra o avô com um olhar de repreensão, deu de ombros e começou a falar.

— Não tem muita coisa que eu possa dizer, é só uma pintura. O nome dela era Anne Besant, e quem escreveu o livro foi seu marido, George Bernard quando ela faleceu. Eles eram melhores amigos desde a infância, mas ela sempre se lamentou por ser pobre. Assim que atingiu maioridade, foi para a capital em busca de uma vida melhor, contudo, sempre que tinha oportunidade ela o via. Os dois mantiveram um relacionamento durante anos, sem que ambas as famílias ou a mídia sequer suspeitassem. Quando ela engravidou, se afastou por um tempo alegando estar abalada com o cancelamento do casamento com o tal governador, e assim que as crianças nasceram ela os entregou ao pai. Voltou para as rodas de fofoca por um tempo só pra não chamar muita atenção para os seus gêmeos, que foram cuidadosamente escondidos, e foi se afastando aos poucos daquela vida. Ela não foi esquecida, só fez as pessoas a esquecerem pra viver em paz.

Trevor não soube o que dizer depois disso. Era um tanto quanto cético, escutava mais por interesse do que por acreditar em tudo aquilo.

— Não tem que acreditar se não quiser, claro. - Wanda se justificou. - São só histórias, além do mais.

— Como sabe de tudo isso? - Trevor perguntou, desconfiado.

— Eu te disse, ela sabe de coisas que ninguém mais sabe só olhando pra elas - o senhor interrompeu, ganhando um olhar furioso da neta. - Ah, desculpe, falei o que não devia?

— Não se preocupe, não acredito nesse tipo de coisa. - Trevor deixou claro.

— Sua vida vai se tornar um inferno por causa de uma loira, e o pior é que você vai gostar - Wanda falou com raiva, se retirando. - E você, vô, pare de falar do meu... problema com desconhecidos, mesmo que eles não apresentem nenhum problema.

O senhor entregou o relógio consertado, e Trevor o pagou. Saiu da loja o mais rápido que conseguiu, querendo distrair os pensamentos. Não aprovava o bar em que Lucas provavelmente estava, mas sentia que precisava encher a cara lá.


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Notas finais do capítulo

Wanda vai ser protagonista da minha nova história chamada Par Perfeito, que está prevista pra março. Ela consegue "receber" informações das pessoas, como deixei claro aqui, e sabe o Par Perfeito de cada um.

Ela não vai ser personagem regular nessa fic mas como todas elas se passam no mesmo universo (Diário Virtual/Garota Imperfeita/Recomeço/Você Pertence a Mim/Horóscopo do Amor/Ela Áries-Ele Escorpião e agora Par Perfeito) pequenos crossovers podem acontecer.

O que não atrapalha em nada na leitura individual deles.

Até domingo o/