A Menina Que Beijava Monstros escrita por Kaito


Capítulo 3
Prisioneiro do Desejo


Notas iniciais do capítulo

A primeira parte foi tão pequena ;3;



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/666126/chapter/3

Dessa vez, o dito cujo tinha os cabelos cor-de-rosa e era um duque. Sorria educadamente, mas parecia frio; Len não entendia como podia sua tão doce irmã se apaixonar por tal sujeito.

Ele correu pelos longos corredores do castelo, passos apressados ecoando indiscretamente. Alguns servos se viravam para olhar, curvando-se sem receber sua atenção, mas estes já deviam estar se retirando.

Roeu as unhas. Estava procurando alguma coisa. Tendo encontrado, apenas apertou-lhe firmemente contra os dedos e tornou a subir, dirigindo-se aos seus aposentos.

Já era noite. Passando por um quarto de porta entreaberta, ele ouviu aquele som que, ainda que angelical, soava desgraçado nos ouvidos de Len. Rin e seu novo marido estavam fazendo sexo. Eles mal haviam se casado, e já estavam querendo filhos. A menina gemia docemente. Len parou abruptamente pela porta do quarto, seus dois pés pregados firmemente no chão e sua expressão morta, encarando o vazio á frente.

Seja quem for, é sempre desagradável ouvir a sua irmã, sempre tão pura, inocente e gentil, gemendo o nome de um qualquer. Len mordeu o lábio, e antes que percebesse, estava batendo o pé contra o chão.

Para não chamar atenção, ele simplesmente ignorou e dirigiu-se ao seu próprio quarto.

Ele não tinha ideia do que podia sua faca, presente do avô, estar fazendo na sala de música, mas, agora, desejava nunca ter ido procurá-la. Não se fosse para dar de cara (e ouvidos) com essa cena grotesca. Ele cerrou seus punhos, chegou a doer. Suas unhas cortadas pareciam cravar na pele da mão, e ele logo se levantou, respirando como se estivesse prendendo o ar por todo esse tempo. Talvez estivesse.

Não havia nada com o que se preocupar: a maldição sempre, sempre vinha. Ela nunca falhava. Qualquer homem por quem Rin se apaixonasse, morreria.

Len respirou fundo. Ouviu passos depois de algum tempo. Yuuma, seu novo cunhado, andava calmamente pelos corredores. Len decidiu acompanhá-lo.

– Boa noite. – sorriu. Yuuma continuou olhando para a frente.

– Boa noite. – respondeu.

– Procurando algum quarto específico? Posso te ajudar. Este lugar é grande.

– Eu sei onde estou indo.

Insatisfeito com a falta de reação do homem, e também por pura curiosidade, Len decidiu mudar de assunto bruscamente.

– Você não tem medo da maldição? – perguntou. Continuava sorrindo como se não fosse lá grandes coisas.

– Eu não acredito em maldições. – Yuuma parou repentinamente. Segurava uma vela para iluminar os corredores escuros, e o fogo balançou, para quase se apagar com a brisa leve. – Len.

O menino levantou as sobrancelhas em resposta, desejando ouvir mais. Olhou para cima; era significativamente mais baixo do que o outro.

– Sua irmã está em perigo, não eu. – anunciou.

A expressão descontraída de Len enrijeceu. Parecia – e estava – mais sério, mais atento do que antes.

– O que quer dizer?

– Você não acha essa maldição um pouco suspeita?

– Como?

– Poderia me reportar todas as mortes?

– São tantas que não me lembro. Kaito, Alfred, Kiyoteru, Minato…

– E como morreram?

– Por que a pergunta? – Len engoliu em seco.

– Nenhum dos príncipes adoeceu; nenhum foi sequer atingido por um raio. – começou Yuuma. – Eu fui abordado por alguns servos antes de vir para cá. Todos me contaram sobre mortes grotescas. Aquele menino, Kaito, foi envenenado, não foi? E Alfred foi encontrado decapitado. Kiyoteru, por sua vez, foi enforcado…

– Kiyoteru cometeu suicídio. – remarcou duramente, como se estivesse bravo.

– Por favor, Len. Não veja as coisas por este lado. Kiyoteru não tinha motivos para se suicidar, assim como nenhum dos ex-maridos de Rin tinham quaisquer inimigos. Kaito era conhecido no mundo inteiro por sua bondade. Alfred, por sua força incomparável. Quem faria uma coisa dessas? Diga-me, quantos servos mais vocês pretendem decapitar, quando o culpado é, definitivamente, apenas uma pessoa…?

– Quem o faria? – cerrou os dentes. – É claro que é a maldição!

Rin se levantou. Estava cansada, apoiou seu corpo sobre a parede. Yuuma dissera que iria buscar uma água para os dois, se vestira e a deixara, e ainda não voltara. Vítima de uma tal maldição, as piores hipóteses lhe corriam pela mente, até que escutara sua voz e a de Len, que se levantavam como se estivessem discutindo. Moveu-se para longe da cama, apoiou seu peso sobre a parede mais próxima da porta, querendo escutar.

– Uma maldição que faz com que todos os maridos de Rin sejam assassinados?

– Você parece saber bastante sobre o assunto. – a expressão de Len morreu. Ele não mostrava emoção em seus olhos. Ainda tinha a faca do avô em seu cinto. – Mas eu sei muito mais.

Yuuma cuspiu sangue. Agora ele sabia a resposta, e agora era tarde demais para compartilhá-la. Quem desconfiaria do nobre príncipe, o próprio irmão de Rin?

Ele tentou falar alguma coisa, mas a vida lhe deixou muito rapidamente. Caído no chão, com uma faca que lhe rasgara o estômago ao peito, o belíssimo rosto de Yuuma descansava.

Len engoliu em seco, olhou para o lado. Pensou ter visto um bocado de cabelos louros voando pela porta, para dentro do quarto. Sorriu.

Rin se encolheu, tomando todo o cuidado do mundo para voltar para a cama sem fazer nenhum barulho. Estava pálida, respirava pesadamente. Seus olhos arregalados olhavam para cima e seu peito subia e descia com sua pesada respiração. Rezou uma, duas, três vezes. Tentou dormir, tentou implorar. Era tudo uma mentira. Nunca desejou tanto ter mesmo uma maldição sobre ela.

Na calada da noite, ela se levantou. Apenas acalmara, ainda não processando tudo que vira.

Dirigiu-se ao quarto do irmão.

– Len? – chamou fracamente. Era tudo só um sonho.

– Rin. – ele sorriu. – Entre.

A porta rangeu e ela entrou. As janelas estavam fechadas para que nem mesmo a luz da lua pudesse iluminar a cena, e apenas a silhueta de seu irmão era visível. Estava ajoelhado sobre a cama, como se estivesse rezando.

– Yuuma está morto. – ela fechou a porta atrás de si.

– Venha aqui. – ele disse. Agora, tinha certeza de que ela presenciara toda a cena. Não estava em choque; estava apenas apavorada. Mas obedeceu, caminhando até a cama e abraçando-se a Len, como faziam desde pequenos; cabeça no peito, ouvindo seus batimentos, e as mãos dele fazendo carinho no cabelo dela.

Ela sentiu o quão pegajosas eram aquelas mãos, melando seus cabelos com algum líquido. Ela olhou para cima, os olhos cheios d'água.

– Você sabe que eu sou o único que continuará sempre do seu lado. – ele pronunciou-se, parecendo quase triste.

Vendo aqueles olhos azuis, que pareciam ser as únicas fontes de luz naquele quarto, Rin podia quase se apaixonar, como da primeira vez. Mas aqueles olhos não eram dóceis como sempre. Estavam perturbados, insanos.

– Eu quero acabar logo com essa maldição… – sussurrou.

Para sua surpresa, Len soltou-se do abraço. Ele tinha cheiro de sangue, e Rin soube o que estava em suas mãos quando ele as passou no seu cabelo. Ele segurou a irmã pela cintura, agora a uma certa distância, e a beijou. Rin não recuou, trêmula. De que outra prova da culpa do irmão ela precisava?

Ele abraçou a menina com mais força, Rin tremeu em seus braços, e ele percebeu, logo desfazendo-se do abraço e direcionando-se a uma das gavetas. Rin chorou quando viu a faca em suas mãos, ainda suja do sangue de Yuuma. Passou-lhe pela cabeça que o sangue nas roupas de Len não era dele próprio.

Ela se encolheu, abraçando o próprio corpo. Não iria implorar; sequer conseguia falar. Mas ao invés de um golpe, Len lhe estendeu a faca sobre duas mãos, como se fosse um presente.

– Então acabe. – ele sorriu, encorajando a garota. Ela olhou para cima, para o rosto de Len. – Com as suas próprias mãos. Rápido.

Rin tremeu. Seu próprio irmão.

– Len…

– Não podíamos desde o começo, Rin. - ele falou, a loucura clara em seus olhos. Será possível que ele mesmo pensava que Rin correspondia seus sentimentos?

Rin engoliu em seco, balançando a cabeça.

– Len, eu…

De repente, o menino riu.

– E esse Yuuma nem foi o mais idiota! – gargalhou. – Você tinha de ter visto… os outros…! Mas não se engane, não! Aquele cozinheiro matou mesmo o Kaito. Eu subornei. – disse orgulhosamente. – Ainda prometi que ele sairia ileso.

Algo queimou no peito de Rin, enquanto o irmão ria. Relatou o quão idiotas foram todos os outros, como eles tinham olhares retardados em seus rostos enquanto morriam. Era péssimo ouvir aquilo. Maldição parecia uma palavra ridícula agora; Rin não era maldita. Ela não nasceu assim, mas esteve sempre na desgraçada companhia de alguém que parecia querer arruinar sua vida.

Queimava e doía. Ódio; era isso. Rin se levantou, quase que em um impulso, e jogou-se sobre o corpo do irmão, que se debatia, se contorcia, ria, ria, ria, e ainda teve a força de levantar a mão para apertar a bunda de Rin, levantando seu corpo como se estivesse prestes a devorá-la.

A faca cravou o pescoço de Len.

AMOR DE IRMÃOS X OBSESSÃO = ?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Ó que lindo.
Comentários? :3



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Menina Que Beijava Monstros" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.