A noite estava tranquila, mas a tristeza causada por Sin dominava Kilika. Dominava Yuna que, mesmo após realizar o envio para Farplane, sentia-se inútil.

Como pode deixar Sin destruir tantas vidas? Como concluiria o caminho, com tantas mortes nas costas? O que Braska, seu pai, faria no lugar?

— A culpa não é sua, Yuna. — Ouviu Lulu repreendê-la. — Sabe disso.

Yuna baixou a cabeça e sorriu triste. Com seus olhos desiguais, fitava os moradores trabalhando na reconstrução do vilarejo e, junto deles, Tidus. Um resquício de alegria tomou conta de Yuna, ao ver o rapaz ser tão solicito em um mundo desconhecido para ele.

Como Jecht faria. Jecht e Braska.

— Sim, mas...

Estavam em um quarto no segundo andar de uma pousada. Descansava, enquanto os outros trabalhavam...

— Você não é Lord Braska — Lulu foi firme em suas palavras. — Ninguém espera isso de você.

Muitos pensariam que a black mage fora rude, mas não Yuna. A summoner compreendia. Palavras diretas eram a forma de Lulu ser gentil. Uma forma de proteção, visando eliminar os problemas quando estes surgem, antes que se tornem um fardo pesado demais para carregar.

Yuna acenou para os moradores, despedindo-se. Muitos retribuíram o gesto, desejando bons sonhos para ela. Tidus também. O loiro agitou os dois braços de forma espalhafatosa. A summoner levou as mãos à boca, escondendo o riso que surgiu ao presenciar a cena.

O rapaz balançou a cabeça negativamente, voltando a trabalhar.

Rapidamente, Yuna fechou a janela do quarto. As mãos tremiam e o coração estava acelerado. O que Tidus vira de errado?

Zanarkand devia ser tão diferente de Spira, mesmo nos pequenos gestos... ainda assim, Tidus ajudava, como Jecht ajudou Braska.

Yuna voltou-se para Lulu, que estava sentada.

— Eu quero chamar Tidus para ser meu guardião — confessou Yuna.

Lulu levantou-se, ficando na frente da protegida. Yuna percebeu que seu desejo não foi bem recebido.

— Já lhe falamos que esta não é uma viagem de férias, Yuna — disse Lulu. — Além disso, terá de contar para ele sobre... o fim. O garoto só irá nos atrapalhar. Te atrapalhar. Ele não saberia te proteger.

Yuna baixou a cabeça. Era a vontade de Yevon que Tidus fosse junto, tinha certeza. Como Jecth fora guardião de Braska.

Foi quando Yuna percebeu o teor das palavras de Lulu. Nos atrapalhar, te atrapalhar.

— Você precisa descansar — aconselhou Lulu. — Vou preparar sua cama.

— Espera um minuto. Você está com ciúmes? — perguntou Yuna.

Lulu arregalou os olhos, parecendo surpresa. Rapidamente, voltou-se para a cama da summoner.

Yuna segurou o pulso da amiga, impedindo-a de realizar a tarefa.

— Lulu, eu te amo — declarou-se Yuna.

Lulu sempre escondia os sentimentos, agora seu rosto estava cheio delos. Mesmo assim, Yuna não pode ler o que passava na mente da maga. Alegria, amor, tristeza... talvez todos juntos.

A maga voltou-se para Yuna, abraçando-a de forma carinhosa e romântica. Como sempre fazia; como Yuna sempre gostou.

— Eu também te amo, Yuna. Agora não tenho mais ciúmes — admitiu Lulu.

Beijaram-se. Um beijo de alegria, amor, tristeza... talvez todos juntos.