Recomeço escrita por Katherslyn


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Gostaria de dedicar esse capìtulo ao João Victor, o mais novo leitor da fic. Obrigado pelo comentário divoso e por me apontar aquela falha que nem ateus conseguem responder



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O causador da aids é o vírus HIV. AIDS é a Síndrome da Imunodeficiência Humana. Recebe esse nome porque destrói o sistema imunológico de uma pessoa. A aids se caracteriza pelo enfraquecimento do sistema de defesa do corpo e pelo aparecimento das doenças oportunistas.

Todo cidadão brasileiro tem direito a ter consultas em algum posto de saúde, auxílio médico e remédios grátis em se tratando da AIDS.

Nenhum médico ou profissional envolvido no seu exame pode revelar seu estado. Não importa se é um psicólogo, uma recepcionista. Se você tem AIDS, tem o direito de manter isso em sigilo, desde que cumpra com os devidos cuidados. Não só para você, como para os outros. Não tenha medo de fazer exame, ninguém vai te caguetar, é crime.

Se alguém te demitir só porque você tem essa doença, se ameaçarem ou qualquer coisa similar, denuncie. Não seja uma vítima calada, se imponha. Cedo ou tarde, as pessoas podem começar a subir em cima de você. Não deixe que elas pisem em quem você é, se possível, impensa qud tentem.

É, eu sei um monte dessas coisas. A gente acaba tendo que saber mais sobre essas coisas, e detalhadamente. Como conviver com algo do quão nem sabemos o que é? Cheguei a ter matérias extracurriculares na escola, quase como uma aula particular. O professor Quirrel ensinava o básico de várias áreas da saúde, e ia se aprofundando. Não só sobre a AIDS, mas sobre o câncer. Eu tinha aula os mais variados alunos.

Me lembro de um garoto, o Crebbly. Ele era careca, e toda vez que eu o via, ele estava com algum tubo conectado em alguma parte do corpo.

Ele morreu faz uns dois anos. Me lembro do medo que ele tinha, da forma que ficava afastado do restante. No começo, a maioria era assim. Então, com o tempo, a gente se aproxima.

Lembro de quando Crebbly começou a sorrir, e a partir disso, não parou mais. Vivia contando piadas, se tornou o oposto daquele garotinho assustado que conhecemos.

Gosto de pensar que ele morreu feliz, sabendo que fez tudo o que estava em seu alcance.

Eu recebi uma carta dele. Bom, mais ou menos. Ele tinha deixado uma cartinha pra cada um de nós, do grupo, e pediu pra sua mãe que nos entregasse quando morresse. A carta dele está guardada junto a outras que recebi ao longo do tempo.

Quando eu descobri que tinha AIDS, fiquei bem assustada. A reação pode ser diferente pra cada um.

No grupo de apoio que frequento, tem dos mais variados casos. Vou mudar os nomes, para proteger a identidade deles, mas vou contar um pouquinho como foi de cada um.

Jason : Ele descobriu quando tinha uns 23 anos, e pelo que nos contou, desespero resume o que ele sentiu.

Na época, ele trabalhava de garçom, e namorava um cara. Acontece que o Jason pegou AIDS por ter relações sexuais sem camisinha. E o problema é que ele traiu o companheiro, com vários outros homens.

Como contar ao seu namorado que você está com AIDS? Ele vai ficar desesperado, querendo fazer o exame, com medo. Como contar que você, talvez, tenha pegado de alguém na rua? Como admitir a traição dessa forma? Como contar aos seus pais que você estava com AIDS e que era gay? Não era assim que ele queria se assumir, não era assim que Jason pretendia confessar as traições.

Isso foi o que mais o abalou, porque ele não sabia como contar e quais seriam as reações das pessoas que amava.

Não adianta esconder um segredo, por mais doloroso que seja. Uma hora, você vai ter que contar e se demorar muito, pode acabar tendo que se confessar de uma forma bem difícil.

O namoro de Jason com esse cara durou uns seis meses. O garoto tinha perdoado as traições, porém, as brigas foram constantes.

Num momento de conflito, acabamos dizendo coisas que machucam. Jogar a traição e os erros de Jason na cara dele era uma coisa. Mas chamá-lo de "sujo", "imundo', "contaminado" ? Não importa como ele se "infectou", isso não é algo que se diga numa conversa civilizada, jamais.

Marília : Ela descobriu com 18 anos, e não conseguia acreditar. Marília tinha iniciado sua vida sexual aos 16, com o namorado, e começou a ter suspeitas de que tivesse contraído algo aos 17.

Seu namorado era um galinha, havia boatos de que ficava com qualquer garota. E ele não usava camisinhas, não tinha medo de pegar algo, achava bobagem esse tipo de coisa.

Marília o confrontou certa vez, e o rapaz acabou admitindo as suspeitas dela, mesmo que indiretamente.

Ela terminou com ele, e queria fazer um exame. Ficou com medo de contar qualquer coisa aos pais, ou que eles descobrissem. Afinal, ela era menor de idade. Não sabia se podia ir sozinha fazer o exame, não sabia se, mesmo que fizesse o exame, se seus pais não acabariam recebendo o resultado pelos médicos.

Esperou chegar aos 18 anos, fez o teste e ao ver o resultado positivo, entrou em choque.

No começo, ela não aceitava, se recusava a acreditar na realidade. Só que uma hora, você não tem pra onde correr. Ou desiste da vida, ou luta por ela.

Entrou em depressão, só sabia se culpar. Nessa altura, nem se importava mais se sua família iria aceitar ou não, achava que morreria a qualquer momento.

Marília tem uma lista de sonhos que deseja realizar durante sua vida, criou essa lista com 15 anos. Seu maior medo era não cumprir os itens dessa lista, não se realizar.

Com o auxílio de alguns amigos próximos, aos quais ela desabafou, resolveu encontrar ajuda médica, e descobriu que não era só porque tinha pego AIDS que não poderia realizar seus sonhos.

O tempo era menor? Talvez. O que ela aprendeu com isso, é que não precisava levar anos pra criar coragem e fazer o que queria, ela podia fazer cada dia um sonho novo.

Alfredo : Ele descobriu por acaso, quando fazia um exame de rotina. De acordo com o relato dele, o médico ficou bem sem graça ao contar o que tinha visto nos registros. Afinal, como chegar em um paciente e dizer :

– Você sabia que tem AIDS?

Ele nem pediu por um segundo exame, apenas aceitou o fato. Procurou se informar mais a respeito do assunto, e começou a tomar as devidas precauções.

Aos 45 anos, e descobrir que tinha AIDS, não o surpreendeu. Alfredo faz parte daquele grupo que segue em frente, porque de acordo com ele, não adianta se lamentar pelo que está feito.

E esses são apenas alguns exemplos. Não importa a idade, o sexo, ninguém está imune. E vou usar o caso de Marília para dar um alerta.

Sempre desconfie daquela pessoa que transa sem camisinha. Infelizmente, tem algumas pessoas que pegam AIDS e não estão nem aí para o que vai acontecer com elas ou com quem se relacionam. Até parece que eles não tem nenhuma chance de pegar DST ou coisa pior.

Eles não sentem remorso por estar expondo outros a isso. Fazem por raiva, por vingança. Então vem essas garotas, que ficam se gabando do boyzinho que pegaram na balada e que dormiram com ele ou com fulano e ciclano.

Não sabe quem o rapaz é, da onde ele vem, as reais intenções dele. Acabam não usando proteção, muitas vezes porque o cara as influencia a isso, e se expõem a tantos riscos.

É o tal do chaveco. "Sem proteção é melhor" , eles dizem. "Sem camisinha é mais gostoso", eles falam, e usam da persuassão.

Eu vejo anúncios sobre proteção, principalmente na época carnaval. Na televisão, em rádios, nos jornais. Eles não trazem tantos detalhes sobre os riscos, mas afirmam que tem e incentivam o uso de preservativos. E mesmo assim, todo ano, aparece um monte de vítimas da farra. Acabar ganhando um bebê é lucro, em vista do resto.

Eu procudo entender a razão dos jovens em tudo isso. Sabe, nessas "curtições". Agem como se nada fosse acontecer com eles, como se fossem imortais. Eles não sabem a sorte que tiveram.

Se eu tivesse chance, e se esses meus colegas pudessem voltar no tempo, iríamos fazer algo diferente das nossas vidas, algo melhor, e com juízo e responsabilidade.

Primeiramente, tomaríamos cuidado com muita coisa. Nada de sexo sem proteção, nada de usar objetos pessoas de pessoas que tenham a doença, tomar todas as devidas precauções.

Só que agora, pra nós, não tem linha pra voltar. E não é como se fosse um Game Over. Você descobriu que tem uma doença desse tipo?

Sei que assusta, que apavora, que dá medo. Você se sente sozinho, mas não está. Não é o fim do mundo, é só um recomeço.

A gente tenta viver como sempre viveu. As coisas não voltam a ser como era antes, mas dá pra se adaptar.

É como mudar de casa. Os estabelecimentos são diferentes, os vizinhos mudam. Uma hora você se acostuma. Uma hora, você segue em frente.

Até os mais fortes choram, ocasionalmente. Ainda choro. É difícil pra mim, é difícil pra eles. Se tornaria mais fácil se certas pessoas não nos acusasse, não nos atacasse.

Já temos muita coisa pra lidar, idiotas nem deveria aparecer na lista.

Dor, morte, culpa, raiva, enfrentamos todas essas coisas. Não precisamos de alguém que atrapalhe, precisamos de ajuda.


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Notas finais do capítulo

Alguns errinhos podem aparecer porque to digitando tudo pelo celular ta.



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