No Mundo Das Séries escrita por Biah Costa


Capítulo 32
Em Guerra


Notas iniciais do capítulo

Obrigada por todos os comentários ♥ Vocês são demais ♥
Enjoy!



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O apartamento de Matt era realmente escuro. Ele colocava sua bengala próximo à parede, enquanto eu observava os contrates que a luz de fora fazia com a sua parede. Como já estava escuro, as sombras eram grandes na parede. O sofá grande parecia confortável, se bem que eu estava tão cansada que qualquer coisa seria confortável para mim.

Matt tirou seu terno e pendurou no cabide. Então veio na minha direção e parou ao meu lado, como se também observasse as sombras na parede. Ficamos em silêncio. Eu retirei meu casaco e o coloquei em um dos cabides.

— Quer uma camisa emprestada? – Ele perguntou, sem me olhar.

— Sim, por favor – eu pedi.

Ele saiu da sala e entrou em seu quarto. Quando voltou, me entregou uma camisa. Como ele não podia ver, não me importei de me trocar em sua frente. Tirei a calça e a camiseta que eu usava e coloquei a camisa que ele havia me entregado.

Sentei-me no sofá e ele fez o mesmo. Apesar de não querer dizer, havia uma certa tensão no local. Matt Murdock, o advogado, era uma pessoa boa demais. Pessoas como ele não existiam em Nova York, muito menos em Hell’s Kitchen.

— Obrigada – quebrei o silêncio estranho que havia se formado. – Geralmente as pessoas não confiam em quem não conhecem.

— Digamos que eu sei dizer quando alguém está mentindo ou não – ele suspirou. – Vou pegar alguns lençóis para você.

Então ele se levantou novamente e foi pegar os lençóis. Enquanto ele procurava, eu fui até a janela para observar a rua. Alguns carros passavam, pessoas andavam rapidamente pelo fato de estar escuro e Hell’s Kitchen ser bastante perigosa.

Eu não pude evitar pensar no que Oliver estaria fazendo naquele momento. Talvez estivesse abraçado com Felicity, assistindo a um filme e dando boas risadas. Então os olhos dos dois encontrariam uma ao outro e eles diriam aquelas famosas três palavras e se beijariam, porque era o que casais felizes deveriam fazer.

Quando Matt voltou, eu já estava um pouco menos abatida. Ele posicionou os lençóis no sofá e colocou as mãos no bolso. Seu óculos o deixava um pouco mais misterioso do que já era. Ele parecia pensar em algo. Parecia concentrado em algo.

— Você mora aqui há muito tempo? – Perguntei, quebrando o silêncio.

— Nasci em Hell’s Kitchen e nunca consegui deixar a cidade – ele respondeu, se recostando no braço do sofá. – Mas você não parece ser aqui.

— Não sou – sorri.

— E é de onde?

— É complicado – suspirei.

— Imaginei que fosse – ele sorriu. – Quer comer alguma coisa?

— A menos que você tenha uma garrafa de vinho tinto muito bom, nada vai entrar nessa boca aqui hoje – brinquei e logo fiquei vermelha. – Ai meu Deus, isso não saiu como eu esperava.

— Você é engraçada – ele riu. – E eu tenho vinho. Vamos tomar vinho então.

Ele se virou e foi para a cozinha, pegar o vinho. Não pude deixar de sorrir com a minha idiotice. Eu falava cada coisa...

— Aqui está – ele estendeu uma taça com vinho na direção que eu não estava.

Ajeitei sua mão e a coloquei na minha direção, o que o fez sorrir, então peguei a taça de vinho.

— Um brinde às decepções – eu disse, erguendo a taça.

Ele sorriu e ergueu a taça, então viramos o líquido ao mesmo tempo e, devo admitir, aquele era um ótimo vinho.

— Você já sofreu muitas decepções? – Ele perguntou.

Sentei-me no sofá e ele ficou ao meu lado.

— Acho que estou na média, sabe? Todo mundo já sofreu uma decepção amorosa, então... – dei de ombros.

— Bom, acho que as decepções nos fazem mais fortes – ele olhou para o chão.

(...)

Quando acordei, Matt já não estava mais em sua casa. Então, eu me troquei e sai pela porta, deixando um bilhete onde eu agradecia a ajuda que ele havia me prestado. Então fiquei vagando pelas ruas de Hell’s Kitchen até que a noite caiu. Eu andava perto das docas, quando ouvi um tiroteio. Como uma super-heroína, eu deveria ter ido verificar. Mas eu estava me escondendo, por isso, abaixei-me e fiquei observando de longe enquanto um homem só, matava vários. Era brutal e sanguinário. Eu senti uma reles vontade de vomitar.

Mas meus instintos de super-heroína me fizeram seguir o homem até o topo de um prédio, onde vi ele acorrentando um homem em uma fantasia vermelha à uma chaminé.

— Você poderia fazer isso? – O homem na camisa preta perguntava para o homem acorrentado.

De onde eu estava, conseguia ver os dois e um equipamento militar potente. O homem na camisa preta parecia irritado om algo, por isso fiquei atrás de algumas caixas, observando todos os seus movimentos.

— Poderia ir embora? – O homem na camisa preta segurava uma arma enorme em suas mãos.

O sino de uma igreja próxima soou, fazendo com que o homem acorrentado virasse seu rosto levemente.  

— Que horas são? Meia-noite? – Ele perguntou.

Pude notar que o homem acorrentado usava uma espécie de fantasia vermelha que lembrava vagamente um demônio por causa de seus chifres.

— Igreja de São Mateus – o homem ignorou a pergunta.

— Você é católico? – O homem-demônio perguntou, como alguém que faz uma piada.

— Já fui.

— É de Nova York?

— Já fui.

— Ainda vai à missa?

— Pode parar, vermelho – o homem de preto se irritou.

— Parar? - O demônio parecia um pouco confuso.

— Parar com as perguntas.

— Uma coisa engraçada sobre Nova York, poucas pessoas são daqui. As que são, não saem. Elas não podem. Sentem como se a cidade fosse uma parte delas. Sabe? Até que um dia, algo muda. Talvez fiquem mais velhos. Então eles têm de sair, têm que ir embora. Talvez ver mundo. Talvez se alistar? Para onde te mandaram? – O homem de vermelho interrogava.

— É psiquiatra, Vermelho? – O homem ironizou. - Ora, deve ter uma profissão quando não está fantasiado, né?

— Eu sou só um cara – o “Vermelho” suspirou.

— Nunca esteve na guerra? – O homem questionou.

— Não.

— Então não fale sobre isso.

— Já vi lutas.

— Claro que viu – o homem deu uma risada sarcástica.

— Eu quase te derrotei – Vermelho se gabou.

— Fala de socos em um telhado, Vermelho. Eu falo de merda, certo? Merda que você não vivenciou – o homem se irritou.

— Eu sei de uma coisa.

— O que? – O homem fingiu estar interessado.

— A guerra muda as pessoas. Às vezes, elas veem coisas que não podem deixar de ver. Voltam para casa e ela já não está mais lá. Mudou. Ou talvez eles mudaram.

— É justo.

— Só estou dizendo que sei que pode ser duro – Vermelho suspirou.

— Sabe? Sabe que pode ser difícil? Anda pela cidade com pijama de criança e uma máscara. Vai para casa à noite, certo? Tira a máscara e talvez pense que não foi você que fez aquelas coisas, talvez tenha sido outro. Soldados não usam máscaras. Nós não temos esse privilégio – o homem de preto segurava a arma com força.

— Sabe o que eu acho?

— O que?

— Você ainda está em guerra.

— Pelo amor de Deus. Cobra por hora doutor? – O homem ironizou.

— Por que estou aqui? – Vermelho estava irritado.

— Tudo o que faz nas ruas, Vermelho, não funciona. Sabia disso?

— E o que você faz é melhor? – Vermelho deu uma risada sarcástica.

— Eu apenas faço o que faço. Por necessidade.

— Qual é – Vermelho se irritou. - Você sabe que não é o único, certo? Quem você perdeu? Alguém que você amava? Deixe-me lhe dizer uma coisa, amigo. Todo mundo perdeu alguém. Não precisa fazer isso.

— A perda não funciona do mesmo jeito para todos, Vermelho – o homem tentou se justificar.

Estava ficando um pouco frio. Eu iria até eles e salvaria o homem, mas algo me dizia que aquele tal de Vermelho queria estar ali. E eu estava sentindo uma certa dor na cabeça. Não era algo alarmante como quanto eu ainda estava na base, mas era algo que incomodava.

— Isso mesmo. Você não sabe lidar com ela.

— Talvez não. Não escolhemos aquilo que nos cura, Vermelho. Que nos faz sentir bem, nos dá proposito. Meu momento de clareza? Veio do lugar mais estranho – o homem olhou para o chão, como se lembrasse de algo ruim. - Que tipo de nome é Demônio de Hell’s Kitchen? Sério?

— Não pedi esse nome – Vermelho bufou.

— Não o vejo negando ele.

— Não faço isso para ferir pessoas.

— É um benefício da profissão?

— Não mato ninguém.

— É por isso que acha que é melhor do que eu? – Frank se levantou e começou a andar de um lado para o outro, como se esperasse alguma coisa.

— Não.

— É por isso que acha que é um herói? – O homem estava irritado.

— Não importa o que eu penso ou o que eu seja. As pessoas não precisam morrer.

— Qual é. Acredita nisso? – O homem parecia indignado. 

— Acredito que não é sua decisão e nem a minha – Vermelho tentava reforçar sua opinião.

— Alguém pediu que vestisse uma fantasia ou foi ideia sua? Sabe o que acho de você, herói? Acho que é ineficaz. Acho que é um cara que não consegue terminar o trabalho. Acho que é um covarde. Sabe o que não consegue ver? Você está há um dia ruim de ser como eu – o homem soltou.

— Alguém vem vindo – Vermelho ouviu uma porta ser aberta ao longe.

— Merda. Acho melhor eu fugir – o homem fingiu preocupação

— Não o machuque – Vermelho tentou se livrar das correntes.

— É? Espero que ele não me dê um motivo para isso – o homem disse.

— Que barulho é esse? Se forem vocês, moleques, juro que vou chamar a polícia! – Um senhor de idade anunciou. Ele era quem havia aberto a porta.

— Vou dizer isso só uma vez, Vermelho. Se fizer um pio, vou espalhar os miolos dele pelo telhado – Frank soltou a arma enorme e pegou uma pistola.

Ele andou em direção a porta que havia sido aberta, deixando Vermelho sozinho. Aproveitei a chance para ir até o homem de Vermelho. Quando me aproximei dele, pude notar alguns machucados na boca e na bochecha. Com sua máscara, era difícil ver seus olhos.

— Lucy? – Ele sussurrou.

Franzi o cenho, como ele sabia o meu nome?

— Como você sabe o meu nome? – Perguntei, enquanto tentava arrebentar as correntes.

— Você... bem... – ele tentava explicar.

— Olha, isso não é importante agora – eu suspirei. – Vou usar meus poderes para arrebentar as correntes, faça silêncio.

Então ele ficou calado. Concentrei-me nas correntes e, usando meus poderes, as quebrei. Segurei elas no ar, para que não fizessem barulho.

— Pronto – sussurrei. – Vamos sair antes que ele volte.

Como eu estava agachada, me levantei, mas ele não me seguiu.

— O que? Você quer morrer? Já deu para ver que esse homem não é do tipo que poupa a vida dos outros – adverti. – Eu tenho poderes, mas não sou à prova de balas e você também não.

— Não posso ir, preciso leva-lo até a prisão – ele sussurrou de volta. – Obrigado pela ajuda, mas essa é a minha luta.

— Agindo como um herói – revirei os olhos. – Não podia esperar menos. Demônio de Hell’s Kitchen? Nome estranho...

— Na verdade, me chamam de Demolidor – ele teve uma certa dificuldade para ficar de pé. – Mas você me conhece como Matt.

Arregalei os olhos.

— Matt?! – Sussurrei. – Então você também é um super-herói? Claro que é, se não fosse, porque teria abrigado uma desconhecida.

— E você? É o que? – Ele perguntou.

— Vingadora – respirei fundo. – Aquela vingadora perdida.

— Nossa, então eu abriguei uma Vingadora? Isso é com certeza o ponto alto da minha semana – ele sorriu.

Ouvi a porta sendo fechada, o que indicaria que o homem logo estaria de volta.

— Frank já está voltando, então é melhor você ir – Matt disse.

— Esse é o nome dele? – Perguntei, arqueando as sobrancelhas.

Ele apenas assentiu e tomei isso como um adeus. Tomei um impulso e voei para longe daquela briga. Como Matt havia dito, não era a minha luta.

No entanto, tenho que desabafar: minha tentativa de sair de perto dos super-heróis foi totalmente falha. Talvez, por isso, eu devesse parar de tentar fugir. Foi ali, que decidi voltar para a base.

(...)

Dois meses depois

— Damon? – Chamei seu nome para que ele acordasse.

Seus olhos se abriram instantaneamente e um sorriso se formou em seus lábios. Ele me deu um leve selinho e abraçou minha cintura. O contraste de sua mão gélida com minha pele nua me fez arrepiar. Aproveitei o contato para subir minha mão pelo seu peito nu, sentindo cada parte de seu abdômen. Então acabei meu trajeto e cheguei em seu rosto. Toquei em sua nuca e o aproximei ainda mais.

— Foi sua primeira vez? – Damon perguntou, quando nos separamos, com a voz mais doce que eu podia já ter ouvido.

— Infelizmente não – suspirei. – Mas eu gostaria que tivesse sido.

E eu realmente sentia que ele deveria ter sido o meu primeiro, mas eu já havia me entregado a alguém antes. Se eu não tivesse sido burra, se eu tivesse esperado por outras pessoas, se eu tivesse aceitado o meu instinto de que amar Oliver era uma maldição, talvez Damon tivesse sido meu primeiro e eu nunca me arrependeria. Ele sorriu de lado.

— Eu te amo – ele sussurrou.

— Eu também te amo – respondi de volta.


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Notas finais do capítulo

E então? Gostaram do final??



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