O teto da casa estava limpo. Deve ser a única coisa limpa nesse lugar asqueroso. Era branco,com um ventilador embutido na lâmpada de cima e era só isso. Ao meu redor,milhares de lençóis jogados no chão. Não tive coragem de me deitar naquele sofá,vai saber o que já passou ali em cima.

Nico estava jogado,roncando em dos lençóis que encontramos ainda empacotados no ármario de cima. Apropósito,se eu achava o primeiro andar asqueroso,prefiro não descrever o de cima.

Eu posso literalmente vomitar só de lembrar.

Nico deitou-se tem vinte minutos. Ou foram duas horas? Eu não sei,não preguei os olhos ainda. Mas assim que ele se deitou,ele começou a roncar.

Como que eu não havia percebido seus roncos antes?

Ah sim,eu não precisava ouvir à ele. Só ela.

Ele roncava alto mas eu estava feliz por vê-lo descansar por ele e por mim,já que a única coisa que eu queria fazer era sair correndo dessa casa e ir atrás de Annabeth.

E eu teria feito se não soubesse que Nico precisa de mim. E,honestamente,eu preciso dele. Talvez,mais do que ele precise de mim. Todo barco precisa de uma âncora,certo?

Se não...afunda. E eu não posso afundar,não agora. Não sem Annabeth.

Só de lembrar em como seus olhos fixaram-se nos meus quando ela pediu que eu fosse atrás dela.... como se fosse preciso pedir!

Como eu fui tolo.Ah,como eu fui!

Quando eu achei que seria capaz de largá-la na igreja. Ou quando pensei ser capaz de machucá-la se ela me irritasse demais. Quando eu quis lar Annabeth com Nico e ir embora....Ah não,isso não aconteceu. Ou aconteceu? Quando foi que eu me dei conta de que estava apaixonado por Annabeth?

Eu sinto dor de cabeça só de pensar em não encontra-la .

Virei-me para o lado da janela da casa. Era uma bela casa antes,eu aposto. A parte esquerda era de vidro de cima a baixo,dando uma vista bonita da luz e uma vista horrorosa do lado de fora. Aquelas coisas nojentas andavam procurando algum movimento,mas a janela era opaca por fora. Eu aposto que poderia dançar Macarena ali e nenhum deles perceberia.

 Ele era um pouco mais alto que eu. Eu diria uns dois ou três centímetros. O cabelo,eu deveria ter notado. Loiro como os dela. Na verdade,eu devia ter notado quando ele só se dirigiu a ela. Na verdade da verdade,eu deveria saber que o pai desaparecido de Annabeth,iria aparecer. Eu deveria saber.

Por que ele não poderia ter morrido? Ou....morrido mesmo? Ia ser ótimo.

E pelo o que ele disse,o irmão dela deve estar vivo também.

“Tem alguém que te espera ansiosamente.”

 Eu espero que seja o irmão dela.

E eu já não gosto de nenhum dos dois.

O problema que insiste em ficar na minha cabeça,fazendo um batuque como se um adolescente estivesse aprendendo a tocar bateria,é que eu não sei qual é a do pai dela.

Não sei se você se lembra,mas ele tentou matar a minha menina antes. O que me garante que ele não enlouqueceu de vez e tente de novo? Exatamente : absolutamente nada.

Ele pode nesse instante estar encravando uma faca na barriga dela.

Esse pensamento fez meu estomago vazio se revirar.

Tanto quanto ele pode estar fazendo isso quanto pode estar tentando se redimir. Mas cá entre nós....com o que eu vi,ouvi e lembro : ninguém enfia uma garota sozinha em um ônibus ,atira nos amigos dela e essa história tem um final feliz.Não tem. E nesse caso,o final dele não vai ser nada bonito. Na verdade,vai ser bem sujo de vermelho. Se depender de mim,pelo menos uns 6 litros de vermelho.

6 litros visto que ele deve pesar uns 75 quilos. Mas ele é esbelto,não me lembro de ter visto uma barriga grande. Não me lembro nem de ter reparo tão bem nele,fazendo as minhas notas mentais.

Nico se remexeu do meu lado,suspirou e voltou ao seu sono.

Ele estava bem armado. Não tinha visto ninguém tão bem armado depois que tudo isso começou. E eu me deparei com algumas pessoas antes de Annabeth,mas isso não vem ao caso agora.  Bem,pelo menos pelo que eu vi. Vai saber quantas mais armas ele tinha naquele ônibus.

O ônibus era do Jornal de San Francisco. Pela placa e pela listagem óbvia atrás.

Não tinha como não ser ele.

Agora as perguntas que tiram o meu sono : como diabos ele sabia onde estávamos?

A cidade é grande. Agora,é bagunçada também. E vinte vezes mais perigosa do que em qualquer outra época. As casas são enormes,os prédios não são mais luxuosos. É escuro a maior parte do dia.

Então como ele nos achou com tanta facilidade?

Outra pergunta que não me deixa descansar : o que ele quer com ela? E porque só ela?

Se ele tentou matar Annabeth,nada impede que ele queira fazer isso novamente. Mas nenhum psicopata deixa a filha ir embora sem armas para um apocalipse e volta apenas para tentar mata-la. Ele deixa que o universo mesmo faça isso.

Pela janela transparente,vi uma daquelas coisas caindo igual um coco no chão,e vários outros caindo por cima. Idiotas.

O pior de não conseguor dormir,é não conseguir parar de pensar nem por um segundo. Parece que durante o dia inteiro – e que dia! - você precisa de um descanso,mas seu cérebro apita dizendo : Opa,vamos trabalhar. E te direciona para o armazenamento de lembranças.

Virei-me de costas , voltando a  fitar aquele teto mais limpo que o chão onde estávamos deitados.

Geralmente as pessoas fecham os olhos e imediatamente as imagens daquela pessoa lhe veem à cabeça. Eu não precisava fechar os olhos para lembrar de Annabeth. E isso,porquê faz menos de 24 horas que estamos longe um do outro.

É diferente. Completamente diferente ser apenas você e ser você e a garota que te mantinha no chão. Se não fosse por Annabeth,eu roubaria apenas besteiras do marcado.

Eu encontrei um brócolis na minha mochila.  Um brócolis?! Quem diabos rouba um brócolis em pleno apocalipse?

Annabeth Chase.

Só de pensar em como ela é mandona e irritante,me dá vontade de gritar e matar o máximo de coisas que vierem em minha direção.  É irritante e mandona,mas deveria ser isso ao meu lado. Não do lado de um psicótico.

Deveria contrariar tudo o que eu falo,ao meu lado. Juntos.

Segurando a minha mão.

Olhando pra mim.

Mas eu deixei que ele levasse ela.

Senti uma dor nos meus dedos,e me dei conta de que as minhas mãos estavam fechadas com força. Eu queria bater em alguém.

Mas era covardia bater em Nico, estando ele quase desmaiado.

Respirei fundo,tentando resolver o meu problema sem envolver Nico. Mas tudo levava à Annabeth. Até mesmo olhar pra mim mesmo,me levava à Annabeth.

Quando ela cozinhou pra mim. Quando nos demos conta de que não conseguiríamos dormir sem o outro. E nada disso tinha segundas intenções – anda –nada disso. Era só ter alguém que pudesse confiar.

Srta.Ninguém. Minha Srta.Ninguém.

Quando passei a me preocupar mais com ela do que comigo mesmo. Deuses,como eu tinha raiva disso!  Se qualquer pessoa me dissesse que Percy Jackson,estava colocando a vida de outra pessoa-  depois de Paine acontecer - em cima da dele,eu diria para essa pessoa se internar. Sem dúvidas nenhum,eu diria.

Mas ela se tornou especial tão rápido de um jeito tão intenso que eu mataria seu próprio pai se ela me pedisse que isso acontecesse. Agora,sem nem mesmo ela pedir,eu faria de qualquer jeito.

De alguma forma ela conseguir tomar toda a parte do meu maldito coração que estava sem vida nenhum – figurativamente falando. Literalmente falando,eu levantaria agora mesmo e se encontrasse o pai dela,comeria o fígado dele sem sal e nem ketchup.  – e reascendeu todas as válvulas de preocupação e ... que droga,e amor.

Que droga. Eu amava mesmo Annabeth.

Eu amo. Ela não se foi.

Não ainda.

Shiu.

As piores lembranças não eram sobre as nossas discussões ou nossas preocupações exageradas um com o outro. Eu jamais admitirei para ela,mas eu adoro quando ela se preocupa exageradamente comigo. Faz com que eu tenha o mínimo de prudência comigo mesmo. Saber que ela estava preocupada comigo,fazia com que eu tivesse prudência.

Ela se preocupa comigo agora? Porque o meu nível de prudência desceu para quase – 190%.

A lembrança dos sorrisos dela para Nico não me incomodam mais. Na verdade,eu gostava do sorriso que ela dava para o Nico por ser tão diferente do sorriso especial para mim. As bochechas levantadinhas como se Nico fosse um filhote de cachorro. Os lábios tão abertos como se ela fosse obrigada a sorrir e mesmo assim...era o sorriso mais bonito do universo.

Deitando-me de bruços eu afundei minha cabeça nos meus braços e suspirei,tentando descansar. Se nós iríamos atrás dela,era para eu estar bem disposto.

Mas a diaba tirava o meu sono até quando não estava aqui.

A pior lembrança é aquela em que somos só nós dois. Sem Nico,sem os idiotas que querem comer os nossos órgãos. Só eu,Annabeth e o lençol empoeirado da minha antiga cama.

Como ela sorriu e me beijou. Como ela entrelaçou os dedos nos meus. Como ela ficou envergonhada.

— Você é linda – sussurrei. Ela estava completamente desprovida de vestes e , por tudo que pode ser considerado sagrado agora , é a pessoa mais bonita que eu já havia visto no universo. As bochechas coradas enquanto ela olhava para o teto do meu quarto,tentando ficar tranquila.

—Eu... eu acho que você... a gente tá pertinho né? –ela sussurruou quase sem voz. Eu poderia beijar as suas bochechas vermelhas,mas isso só deixaria Annabeth mais vermelha.

—Pertinho –concordei encarando-a. Fiquei assim,até que ela suspirasse por mais 30 vezes e tivesse coragem de olhar para mim.

E de imediato,as pupilas  dos olhos cinzentos dilataram e ela entreabriu a boca. Por estarmos tão perto,senti seu coração batendo contra o peito de forma tão rápida quanto o meu.

Ela estava tão na minha quanto eu na dela.

— Você – beijei-lhe de leve nos lábios – é – na bochecha esquerda – linda. – terminei beijando-lhe a bochecha direita.

E ela voltou a ficar vermelha.

É irônico pensar que o melhor momento da minha vida não foi a minha formatura. Não foi presenciar a formatura da minha irmã ou uma promoção de trabalho do meu pai. Não foi todas as vezes que a minha mãe havia me posto para dormir – esses momentos foram bons,mamãe me dava biscoitos antes de dormir. É irônico pensar que o melhor momento da minha vida,foi na minha cama empoeirada com a melhor garota do universo.

É pior lembrança de todas.

Ela beijou cada espacinho do meu peito. Com as mãos trêmulas,ela tirou o edredom de cima do próprio corpo e deixou que eu desfrutasse do calor dela. Tão bonita e tímida.

—Você não para de me encarar – sussurrou,entrelaçando os dedos nos meus,enquanto eu acariciava seu nariz com o meu.

—Isso é porque você é linda – sussurrei de novo.

—Para com isso –ela fechou os olhos,beijando meus dedos juntos dos seus – Ou eu vou desistir de tudo e realmente me casar com você.

—Nós podemos fazer isso depois – sussurrei,beijando a parte avantajada dos seus seios -  Eu poderia pedir a permissão do Nico.

—Ele diria que não –ela riu baixinho,empurrando minha cabeça para a sua barriga para que eu deixasse uma trilha por lá também – Percy. – suspirou.

— Eu sei – murmurei,antes de vê-la fechar os olhos.

Ela era quente. Muito quente.

Os dedos dela se apertaram aos meus com tamanha força,que quase – eu disse quase -  me fez reclamar. Annabeth mordeu o lábio inferior e eu não conseguia para de vê-la absorver a admiração que eu tinha por ela.

—Percy –sussurrou,abrindo os olhos e inclinando a cabeça de lado,como se não soubesse o que dizer – Eu-

—Tudo bem? –perguntei baixinho. Ela era tão quente que eu tive que me conter para não toma-la de uma vez para mim.

Annabeth balançou a cabeça,os cabelos bagunçados ao redor do rosto angelical e perfeito. Se inclinou para me beijar e puxou minha mão para a dela,apertando com força.

Droga Annabeth....por que você soltou a minha mão?

— Percy – Annabeth choramingou baixinho,puxando-me pelos ombros e inclinando a cabeça para trás.

— Agora –sussurrei.

Ela era obediente quando queria.

— Tá tudo bem?  Você tá tremendo – sussurrei,puxando seus braços – Eu apertei você? Tá tudo bem? Annabeth?

—Me deixa respirar – ela sussurrou,sorrindo de lado – Seu bocó.

—Você me assustou – murmurei baixinho,deitando minha cabeça entre seus seios – Ficou quieta,tremendo aí sem dizer nada .

Ela colocou as mãos nos meus cabelos,bagunçando-os mais do que antes.

— Esse deve ser o efeito Percy Jackson,hun? – ela sussurrou,fazendo-me levantar a cabeça e sorrir.Ela ainda tinha os cabelos numa zona,e o pescoço estava vermelho devido a minha falta de senso.

—Tudo bem? –perguntei receoso,apertando sua mão,

Ela apertou de volta e sorriu. A mão ainda trêmula.

— Tudo bem,bocó – sorriu,beijando-me nos lábios.

E logo depois,foi levada para longe de mim.