Keep u Safe. escrita por Liids River


Capítulo 1
Finding.


Notas iniciais do capítulo

Oláaa meus brotos
como vocês estão?
eu tô de férias,então eu não poderia estar melhor ♥
Eu vim aqui agrdecer todos os comentários lindos na minha ultima One aqui,eu não achei que vocês fossem gostar tanto ♥
Infelizmente,essa One não é relacionada à ultima , MAS eu já estou providenciando as ones interligadas indiretamente SAUHSAUHSAUHSA
Ok,vamos as explicações: o perfil (amor de perfil) Jujuba Verde ou Ciça como ela mandou que eu a chamasse,é doida por The Walking Dead. E doida por mim e por PJO ( palavras dela).
Então,ela me obrigou a unir os dois. E eu o fiz,porque ela recomendou minhas ones e porque ela é meio maníaca e eu tenho medo dela ( just kidding♥). Eu espero que você goste e espero que todas as meninas gostem também!
É um pouco diferente do que eu costumo escrever,mas eu achei legal. Na verdade,eu deixei em aberto pra,bem,quem sabe....

Outra coisa linda pra contar pra vocês : EU ENCONTREI UMA MENINA AQUI DO NYAH NA COMIC CON EXPERIENCE ( de Maceió? Pará? Não me lembro ;c) ♥
Foi lindo. Tanto meu encontro com ela quanto a CCXP ♥
Mais alguém estava lá?



Então vamos a esta história. Espero que vocês gostem e nos vemos logo logo - antes da estréia de Star Wars.
( PODE CRER LOGO LOGO LOGO LOGO MESMO,EU TO DE FÉRIAS MEUS DEUSES) ♥




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/664338/chapter/1

– Ai! – reclamei,caindo no chão logo em seguida.

Porcaria de menina. Que droga. Era tão mais fácil quando era apenas eu e ,bem..eu mesmo.

Foi bem difícil no inicio,não vou negar. Acordei em casa,mais especificamente no quarto bagunçado e ouvi coisas quebrando e gritos.

Eu levantei e vi coisas que um cara na minha idade não deveria ter visto.

Vi meu pai comendo minha mãe.

Não,não assim. Literalmente comendo o estômago da minha mãe.

Antes fosse do outro jeito.

E desde então,fomos eu e minha irmã mais nova. Até eu perde-la também. Mas isso não é coisa para inicio de narrativa.

Eu sou Percy Jackson um ex-estudante de Medicina (é,você leu certo.). Acho...acho que tudo que éramos antes pode ser considerado “ex” agora.Eu estava no terceiro semestre da faculdade. Tinha uma bolsa 80% ( não me pergunte como) e pagava o resto. Era obvio que não era de longe o que eu gostava de fazer.

Eu gostava de ficar em casa assistindo a grade de filmes do Netflix. É,eu gostava. E não,se você procura algo para fazer que envolva você,seu sofá e a assinatura mensal de R$ 15,99 do netflix,isso não existe. Eu procurei bem antes de começar a fazer aquilo que meu pai gostava.

Como estudante de medicina ( ou neste caso “ex” estudante de medicina), eu nunca fui muito bem em relações sociais. Nunca tive que me relacionar com alguém que não fosse minha família. Os estudantes de medicina da minha cidade não tinham vida. Não generalizando.

Mas éramos eu e meu livro sobre corpos e mais corpos. Não era o que eu gostava – como eu já deixei bem especificado em cima – mas eu acabei me acostumando.

Nas aulas mais legais – as que eu geralmente estava acordado – eu ouvira boatos. Eu sabia que era viagem da cabeça dos médicos e químicos mais loucos. Eu sabia que era coisa de Resident Evil,coisa de The Walking Dead, Zumbilândia (ótimos filme,tem no netflix e eu recomendo),mas quando aconteceu,eu percebi que o viajado era eu.

Eu fiquei sentado vendo o meu pai comer a minha mãe...

Eu vou precisar achar outro jeito de falar isso.

..até me dar conta de que não era uma série da AMC,ou um filme trash sobre zumbis.

Meu pai nunca foi um cara violento ou algo do tipo. Eu...eu também acho que nunca passou pela cabeça dele dar uma devorada nos rins da minha mãe.

Meu pai – Poseidon – era engenheiro mecânico. Não,não qualquer engenheiro mecânico.

Meu pai estudou na IME. Instituto Militar de Engenharia. Isso mesmo,meu pai fabricava armas para o exército americano. Ele era mais do tipo,colocar a mão na massa.

Minha mãe sempre brigou com ele por deixar parte das coisas que ele usava no sótão de casa. E os caras para quem ele trabalhava,também.

Papai sempre foi muito extrovertido. Sempre foi o brincalhão e muito muito criativo.Quando eu o vi comendo os rins da minha mãe,eu soube que as coisas estavam acontecendo de verdade.

E que eu tinha perdido as duas pessoas mais importantes do mundo pra mim,de uma só vez.

Como bom telespectador de séries,eu segurei o choro e a repulsa e subi as escadas de volta para o andar de cima,sem fazer barulho. Entrei no quarto da minha irmã - Paine Jackson – e a carreguei – ainda adormecida - para o sótão de casa.

Se tinha um lugar seguro naquela casa,era aquele sótão.

Apesar de trabalhar na montagem de armas para o exército, meu pai também desenhava seus próprios projetos. Quando eu era mais novo,e a minha única preocupação era atravessar a rua olhando para ambos os lados,papai desenhava algo “inovador”.

Ele dizia que armas de fogo um dia acabariam. Que um dia,essas coisinhas que colocamos dentro dessas máquinas iriam nos trair. E papai tinha razão.

Então ele era adepto à espadas. No sótão de casa,tínhamos o projeto mais longo e trabalhoso de Poseidon.

Na época,eu achava a coisa mais idiota do mundo também. Papai era muito fã de jogos de RPG,e o seu favorito era Castlevania.

Então é,ele fez uma réplica exata do que seria um Crissaegrim. Era só uma espada estúpida,aquilo não teria utilidade nenhum pra mim,certo?

Errado. Foi com ela mesmo que eu matei a minha irmã.

Era um gume único,reta,afiada com a guarda quadrada para posicionar apenas uma mão. Não era pesada,e se acomodava suavemente na bainha das minhas costas.

E como eu sei disso tudo? Porque é ela quem está machucando as minhas costas nesse exato momento em que tenho essa garota incrivelmente suja olhando pra mim.

Ela quem me derrubou no chão. Ninguém me derruba no chão.

–Quem é você o que você está fazendo aqui ? – ela sussurrou.

Aqui outro fato sobre mim : eu não confio nas pessoas. Não depois de ver meu pai comer...bem vocês sabem.

–Isso machuca,sabia? – reclamei,sentando direito no chão de madeira da igreja. – Apropósito,eu não acho que o dono desse lugar aprova o jeito que eu fui recebido...

–Cala a boca.

Amais o próximo...

– Cala a boca!

– ...como a ti mesmo.– inclinei a cabeça de lado e sorri – Percy Jackson e você?

Minha mãe costumava dizer que dar o seu nome primeiro,é dar o voto de confiança à alguém.

“Conquistar a confiança de alguém,é mais importante do que confiar em alguém” ela costumava dizer.

Isso nunca fez muito sentido pra mim.Mas era uma tática boa.

A garota vestia uma camiseta cinza e uma jaqueta de coura por cima. A calça jeans rasgada nos joelhos certamente não era algo da moda,algo do tipo. Os cabelos dourados presos em um rabo de cavalo bagunçado e cheio de folhas. As botas cheias de poeira e seus olhos eram de um toque especial. Uma mistura de : “ eu odeio você” e “ eu realmente odeio você”. Cinzentos como o dia lá fora.

Srta. Ninguém pra você –ela sorriu irônica.

–Olha,eu acho que se você-

–Cala a boca.

–Você é bem mandona para uma garota que estava bem perdida lá fora se não fosse eu.

–Cala-

–Você não deveria falar assim na casa do Senhor.

–Cala a boca. –ela gritou. – Você...me deixa pensar.

Suspirei e levantei-me. A menina – Srta.Ninguém – estava cercada por aquelas coisas sem cérebro. Ela carrega apenas um taco de baisebol e uma adaga dourada. E eu estava apenas,vocês sabem,roubando casas quando eu a vi.Vi o olhar perdido e desesperador e no mesmo instante sabia o que fazer.

Correr e não ver o desfecho da vida dela.

Mas eu não consegui. Corri até lá e a ajudei.

E é assim que ela me agradece...

–Você estava saqueando casas por aí – ela resmungou – Não acredito que você estava saqueando casas por aí!

– Escuta,docinho – suspirei – Você não percebeu ainda que ninguém está vendo?

–Isso é feio!

–Sabe o que é feio? – sorri cínico – Meu reflexo nessa vidraça de igreja.

A menina fechou as mãos em punho e grunhiu.

–Não me chame de docinho!

– Ahn pelo amor de Deus – resmunguei –Olha,eu salvei você,você não foi mordida,tá claramente em estado de choque,mas um obrigado cairia bem agora.

–Você é muito intrometido! Eu tinha tudo sob controle!

–Tinha mesmo,docinho? – resmunguei –Olha,eu estava procurando um lugar pra ficar. Você vem comigo ou fica ai sozinha e provavelmente cercada dessas coisas. – peguei minha jaqueta que ainda estava jogada no chão,ajeitei Paine (minha espada) nas minhas costas e suspirei,olhando para aquela menina sem graça.

–Eu nem conheço você – ela suspirou e gemeu de raiva – Eu..eu nem conheço você!

–Você conhece alguém lá fora? – perguntei.

–Minha melhor amiga tá lá! –ela gaguejou – Ela tentou me morder mas eu sei,é ela. Ela tá lá! Não é como se ela nunca tivesse tentado me morder antes...ela só –ela suspirou – Ela é a única coisa que eu tenho agora.

–Não tem mais – suspirei – Ela...ela não quer só te morder.

–Eu... –ela soluçou.Os olhos cinzentos – e agora brilhantes por conta das lágrimas – circulando pela igreja como se ela estivesse mesmo considerando voltar e tentar conversar com a sua amiga – Eu não posso deixar a Thalia lá. Eu não posso.

–Eu não posso te deixar aqui – admiti – Você é a única pessoa nesses tempos que não tentou comer meu cérebro ainda.

–Ela é minha melhor amiga – ela sussurrou – Eu não posso. –ela balançou a cabeça e fechou os olhos.

–Ela não é mais sua melhor amiga,Ninguém. – brinquei,arrancando-lhe um sorriso triste. –Vem comigo.

–Não posso –balançou a cabeça e suspirou a cabeça convicta – Não posso.

–Então isso vai doer um pouquinho. – ela abriu os olhos só a tempo de me ver derrubando-a no chão e deixando-a inconsciente.Peguei seu corpo pequeno e magro,jogando-a no ombro direito e abrindo a porta lateral da igreja – Desculpa Ninguém...mas você é a única pessoa em três semanas que pronunciou mais do que “grrrrh”.

–x-

Depois de circular com a Ninguém no meu ombro por mais três quarteirões inteiros,eu encontrei um lugar para ficar e passar o resto do fim de tarde. Bem,após passar três semanas circulando pela cidade,eu percebi algumas coisas :

Andar a noite é muito mais perigoso.

Parques,florestas,praças....perigoso.

Casas mais antigas...perigosas.

Andar desarmado....eu sei que parece obvio mas é bem perigoso.

E não menos importante.... não confiar em ninguém. Absolutamente ninguém.

Deixei a garota largada no sofá principal da casa relativamente grande,e fui fazer a vistoria. Nada no andar de cima e nada no banheiro de baixo. Nada na cozinha e nada na varanda e no quinta de trás.

Tirei a bainha e a Paine das minhas costas e deixei ao lado da garota desacordada.Passei as mãos pelo cabelo e levantei-me atrás do que comer.

Era o mais difícil nesses tempos. Não sucumbir à falta de saniedade também.

Foi difícil ver meu pai acabando com os rins e o estomago da minha mãe. Foi difícil perder a minha pequena irmã Paine. Foi difícil atender ao seu último pedido e é difícil estar sozinho.

Mas o pior disso tudo,é ver a humanidade se perdendo.Pouco a pouco.

E é quando eu percebo que nada disso vale a pena. E é quando o ultimo pedido da Paine volta pra mim e eu não posso realizar aquilo que eu tenho em mente.

Nada disso faz sentido agora e nunca vai fazer. Eu acho que é a fome falando mais alto.

Vasculhei os armários brancos e quase fiz a dancinha da alegria ao me deparar com um pacote de bolachas.

Seria muito pedir um belo e delicioso copo de Coca Diet,então me contentei em fazer um café.

É a história da minha vida.Na casa de um estranho,com uma garota completamente estranha e desacordada,comendo bolachas e fazendo um café enquanto o apocalipse acontece lá fora.

Concentrei-me em não olhar para a garota no sofá e terminar de fazer o que comer em silêncio. Pelo o que eu observei – e como ex estudante de medicina,eu posso dizer que sou bem observador – a garota é completamente leiga nos assuntos. Leiga ao manejar aquela adaga e completamente leiga no que diz os tempos atuais.

Fala sério,qualquer pessoa que já viu The Walking Dead sabe que não tem como argumentar com um zumbi.Pelos Deuses.

Ela tinha o nariz arrebitado e a boca levemente aberta...quanto tempo aquela menina ficou sem dormir? A expressão descansada,a boca vermelha e as bochechas coradas por conta do sol. Deuses,como ela precisa de um banho e-

E esse sou eu falhando miseravelmente no quesito “não olhar para ela”.

Terminei meu café sem o menor ânimo. Esse negócio de dormir era horrível também.Muitas vezes eu acordava com barulhos inexistentes. Coisas da minha própria cabeça.

Mas ela dormiu.

Ela não teve opção,você desacordou a garota!

Touché.

Estava ficando escuro lá fora,e parecia que ia chover. Risquei um fósforo na lareira- que por algum motivo tinha carvão e pão dentro- da casa,e sentei me no chão de frente para a Srta.Ninguém.

Comendo minhas bolachas e suspirando ao sentir o gosto de velho,porém tinha gosto de alguma coisa.

Pra quem ficou com ar dentro do estômago por três dias,eu não tinha do que reclamar.

Não tinha percebido a mochila da menina jogada aos seus pés. Assim como não tinha percebido o colar pequeno seu pescoço,com a escrita “Hope”.É um belo nome.

Mas eu prefiro Ninguém.

Ninguém – suspirei,testando. É engraçado – Ninguém –sussurrei baixinho e segurando o riso.

Eu juro que não estou sob o efeito de drogas.

–Meu nome não é esse,você sabe... –ela murmurou meio grogue.

Ela tinha os olhos semicerrados e um sorriso tímido no rosto. Os cabelos ainda mais bagunçados.

– Olha quem acordou – sorri.

–Olha quem me derrubou – ela mordeu o lábio e suspirou – Porquê fez aquilo comigo?

–Você queria sair de lá e ir atrás de um monte de zumbis! – cruzei os dedos,perdendo a fome – Se você quer se suicidar,os cadarços das botas fazem uma ótima corda.

–Como você sabe disso? –ela perguntou,deixando-me desconfortável.- Não importa....você não sabe como eu estou me sentindo agora – a Srta.Ninguém sentou-se e colocou as mãos no cabelo – Eu deixei minha amiga pra trás.

–Eu já deixei muita gente pra trás. – pigarreei. – Você supera.

Ninguém me olhou assustada e balançou a cabeça em negação.

–Você não tem escrúpulos.

–Disse a menina que queria voltar e abraçar a amiga que queria comer o seu cérebro. – rebati.

Ela era uma menina mais aceitável quando estava inconsciente no sofá. Ninguém observou a casa com os olhos atentos,e cruzou os braços em frente ao corpo.Suspirou diversas vezes e me olhou por fim.

Ela..ela era uma criaturazinha curiosa.

–Me dá um biscoito? – pediu baixinho.

Suspirei levantando-me e sentando ao seu lado. Entreguei-lhe o pacote de bolachas e mostrei-lhe a minha xicara de café.

–Você quer?

–Quero – ela engoliu em seco – Faz tempo que eu não tomo café.

–Vou trazer pra você – sorri – Hope.

Ela inclinou a cabeça para a direita,os olhos –pela primeira vez – divertidos. Um meio sorriso no rosto revelando o quão bonita ela ficava sorrindo.Não..não bonita forçada,ou...bem,o que eu quero dizer é que em três semanas de apocalipse,e se eu tivesse que dar um novo significado à palavra “bonita”, com toda certeza seria o sorriso de Ninguém.

–Esse também não é o meu nome.

–x-

–Você podia me dizer seu nome logo – reclamei,enquanto entregava-lhe a xicara com o café

–É engraçado ver você tentando –ela riu baixinho.

–Eu estou sem nome para descrever você – reclamei.

–Descrever aonde? – ela perguntou curiosa. Os olhos cinzentos brilhando e o meio sorriso lá.Eu queria que ela mantivesse o meio sorriso lá.

–Aqui. –apontei para a minha cabeça. –Não sei o que...bem,eu não sei do que chamar você.

Ela riu mais alto dessa vez e balançou a cabeça.

–Você é engraçado.

–Que bom que eu divirto você,docinho – sorri,encostando minha cabeça no encosto do sofá.

Ela bateu com o cotovelo na minha costela e fez careta.

–Pode me chamar do que quiser,menos de docinho!

–Então é disso mesmo que eu vou chamar você – virei de lado e suspirei. Eu estava tão cansado. Tinha tanto tempo desde a minha última dormida de verdade.Na verdade,eu me lembro bem.Isso,isso mesmo...me lembro de acordar e encontrar meu pai comendo – ah vocês sabem.

Ficamos em silêncio por um tempo,apenas ouvindo a garoa lá fora, e os dentes de Ninguém mastigando a bolacha.

–Você acha que é seguro ficar aqui? – ela perguntou baixinho.

–Não precisa sussurrar,você sabe... –brinquei,vendo-a revirar os olhos – Não é como se você fosse acordar alguém.

–Percy! –ela me repreendeu.

–Olha – sorri –Você lembrou meu nome.

–Não é um nome comum. –ela pigarreou – Acha seguro?

–Por enquanto – suspirei e cocei os olhos – Mas é melhor ficar de olhos abertos.

–Você não vai conseguir –ela riu – Porquê...você não deita ai e dorme? Eu fico de olho

–Não.

Ninguém parou de mastigar o biscoito e olhou para mim ofendida.

–Você-

–Não.

–Você nem pensou!

–Não. – repeti – Fim de papo.

–Você...-ela franziu as sobrancelhas – Não é como se eu fosse usar meus cadarços em você.

–Não interessa.

–Se eu quisesse te matar,eu já tinha feito – ela suspirou – E o mesmo pra você.Você ficou vigiando enquanto eu dormia!

–Não.Interessa.- repeti calmamente. –E eu não fiz de propósito...você estava caída e inconsciente por minha causa. Acredite,docinho...se eu pudesse ter deixado você sozinha aí e dado o fora,eu teria feito –pisquei para ela e cruzei os braços.

Eu disse pra vocês : não confiar em ninguém.

A garota tinha a boca aberta em surpresa,as sobrancelhas arqueadas e as bochechas mais vermelhas que nunca. Se eu pudesse...teria tirado uma foto. Essa cara de Ninguém era a minha nova definição de “Como assim cara?”.

–Então porque não me deixou na igreja? Babaca Estúpido –ela jogou a xícara na mesa de centro,quebrando-a em pequenos caquinhos. –Você não precisa ficar agindo como se...-ela suspirou,levantando-se e jogando o quadro de paisagem da parede no chão – Como se me salvar tivesse sido sua obrigação! Eu nem sequer chamei você,eu nem sequer sabia da sua maldita...-ela jogou a almofada do outro sofá em mim - ..existência!

Ah Ninguém!

– Você vai acordar os vizinhos,docinho –levantei-me pegando em seu pulso – Senta aí.

–Não! –ela se debateu – Sai daqui!

–Eu falei pra sentar,que...-peguei em seu outro pulso que me socava (apesar de magrela,a menina era forte ) – Que droga.

–Sai! –ela gritou –Eu não vou ficar com você! Você fazer igual à ele e ficar colocando a culpa das coisas em mim!

–Ninguém! – gritei,jogando-a no sofá e prendendo suas pernas com as minhas – Ei,presta atenção em mim.

–Eu não aguento mais – ela chorou debatendo-se – Eu não quero mais.Não!

Passei seus pulsos para minha mão direita e prendi em cima da sua própria cabeça.Ela se debatia e chorava baixinho.

O que ... o que fizeram com a Ninguém? O que fizeram com você,docinho?

Ei – usei minha mão esquerda para aquietar seu rosto fino- Ei,tudo bem. Presta atenção em mim.

–Você vai me machucar – ela sussurrou –Eu sei que vai.Você vai perder a paciência igual à ele e vai me machucar.

–Ei – abaixei até ficar à altura do seu rosto –Vai ficar tudo bem.Respire.

–Ele matou minha mãe –ela suspirou e mordeu o lábio – E ela..ela era gente como a gente ainda!

– Ei – pousei suas mãos para fora da minha – Tá vendo? Não vou machucar você. Respira e se acalma.

Ela suspirou e fechou os olhos,tentando acalmar a própria respiração. O rosto já machado pelas lágrimas e as bochechas rosadas. Nem parecia menina que estava comendo bolacha à menos de dois minutos.

–Eu achei que fosse me bater –ela sussurrou.

–Não é porque eu me aproximei de você que eu vou bater em você – murmurei incrédulo – Eu sou esquentadinho mas não é pra tanto.

Ela deu aquele meio sorriso,e passou a mão pelo cabelo,abrindo os olhos tristes.

–Me desculpa – ela sussurrou – Eu fiquei nervosa.

–É assim que você fica nervosa? Eu geralmente acabo com as minhas unhas. –brinquei,fazendo-a rir de verdade agora.

Isso. Volta pra mim,menina dos biscoitos.

–Não vai mais acontecer –ela murmurou e suspirou,desviando os olhos.

–Olha... – peguei sua mão direita , entrelaçando meu dedo mindinho no seu – Eu nunca vou machucar você.Promessa séria!

–Você é tão crianção! – ela riu –Eu..fazia isso com meu irmão mais novo.

–Eu também – sorri.

A Srta.Ninguém sorriu também. Mostrando os dentes e aquele sorriso que chagava aos olhos. Ela era realmente bonita.

E sabia como prender a minha atenção.

E como me distrair também.

Eu nem me dei conta de que ainda estava em cima dela,até ela gemer baixinho e me xingar.

–Sai logo,cabeçudo .

Sentei-me aos pés dela e descansei a cabeça no encosto novamente. A vontade de dormir completamente esquecida.

Ninguém era uma garota especial agora.

De alguma forma,ela parecia ter passado pela mesma coisa que eu. E isso...junto com o fato dela ter o sorriso mais encantador desde as três semanas,fez com que eu percebesse que eu ...talvez pudesse confiar nela.

–Quantos anos você tem,Percy? – ela perguntou,apoiando-se para se sentar.Eu gostava do jeito que ela pronunciava meu nome. Não era igual minha mãe quando estava sendo carinhosa.Ou como um professor pedindo minha atenção.

Era doce e firme.

– Vinte e um– murmurei – E você,docinho?

Ela revirou os olhos.

– Vinte. – ela suspirou – Pra sempre.

Olhei para ela e sorri. Que criaturazinha curiosa...

–Pra sempre?

–É,não é....ou você acha que a gente sobrevive até o ano que vem?

–Você não acha?

–Eu não sei.

–Tenha um pouco de fé,docinho.

–Foi por ter fé que eu perdi as pessoas.

Olhei novamente para o seu rosto,agora franzido e confuso.

–Eu confio em você – ela disse baixinho – E eu costumava confiar apenas em Thalia.

–Eu sou especial – sorri.

–Não –ela riu – Você me salvou.

–Quem não salvaria?

– Meu pai –ela abaixou novamente o olhar – Ele matou a mamãe e me deixou com ela.

Continuei em silêncio.Eu estava com pena da Ninguém.Há quanto tempo ela andava por aí com isso entalado ao topo?

–Sem armas,sabe? –ela riu sem humor. – Foi quando eu descobri que tava tudo um caos.

–Seu pai matou a sua mãe antes disso tudo acontecer? – perguntei chocado.

–Ér...-ela traçava linhas imaginárias na minha mão – Imagine a minha surpresa quando ela acordou e estava com fome.

De todas as coisas tristes – incluindo séries inacabadas e séries canceladas – que eu já tinha ouvido...essa foi a pior.

–Eu sinto muito – murmurei. –Eu..eu nem imagino.

–Imagina sim –ela fixou seus olhos em mim. –Você disse.

Suspirei. Talvez fosse a hora de olhar no fundo dos olhos de alguém –em meio ao caos – e dizer tudo o que eu queria. Literalmente tudo. Tudo que havia acontecido comigo e como eu estava ali ainda,vivo. Como eu estava ali ajudando à ela quando ninguém me ajudou.

Mas eu não podia voltar lá. Não podia,e não deveria. Não queria contar como eu encontrei minha mãe depois de descer daquele sótão com Paine – minha irmã – que mais tarde seria Paine a minha espada. Não queria dizer à ela o que houve com Paine. Não queria dizer à ela como encontrei Sr.Rose,nossa antiga vizinha de 70 anos. Não queria dizer quantas vezes eu pensei em acabar com tudo isso,mas não consegui em respeito ao último pedido da minha irmã. Não queria dizer como me senti quando precisei matar meus antigos colegas de faculdade.

Eram eles ou eu.

Acho que fiquei naquele estado de transe , olhando para o nada porque senti as mãos de Ninguém ao redor do meu rosto e ela sorrindo triste.

–Você não precisa me contar agora,Percy.

Porquê ela tinha que falar o meu nome daquele jeito?

E porquê toda vez que ela falava a porcaria do discurso de confiança da minha mãe vinha na minha cabeça?

– Eu sinto muito –sussurrei novamente.

Ela balançou a cabeça e pegou minha mão esquerda,unindo nossos mindinhos em uma promessa silenciosa.

– Você pode confiar em mim – ela sussurrou.

Olhei em seus olhos limpos e brilhantes. As pupilas dilatadas por conta do escuro,eu acho.

Eu não tinha motivos suficientes para deixar de lado tudo aquilo que eu estava sustentando à semanas. Minhas regras de sobrevivência,as memórias da minha família,tudo. Não tinha.

Mas ao olhar nos olhos daquela garota,eu sabia. O discurso idiota da minha mãe,fez sentido pela primeira vez.

Eu tinha alguém ali.

Eu confio,Ninguém. – murmurei e sorri.

Pela primeira vez em muito tempo,um sorriso genuíno. Eu não sei se ela tinha gostado tanto do meu sorriso quanto eu tinha gostado do dela,mas eu sorri.E,bem...o sorriso dela em resposta , era a minha nova definição de “perfeição”.

Ela passou uma mecha do cabelo para trás da orelha,passando o dedo indicador nos lábios,ainda sorrindo e disse :

–Annabeth.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O que vimos nessa fic : Um Percy com sérios problemas de confiança.Uma Annabeth cheia de problemas também.Vocês perceberam as pontas abertas? Eu acho que volto aqui qualquer hora pra fechar essas pontas.Essa fic tá cheia de referências à RPGs ♥até semana que vem!ou amanhã.(não revisei ainda bju)