Entrei na primeira aula de Umbridge com receio e expectativa. Não sabia muito bem o que esperar, mas tentei ser otimista. No entanto, minhas esperanças se partiram logo que ela começou a falar: não faríamos, de fato, nenhum feitiço. Saberíamos apenas o básico da teoria de cada um. Harry, com tudo o que tinha visto, não se conteve e acabou pegando detenção por todas as noites de uma semana.

              Fred e George, pelo visto, também conseguiram uma detenção com a tal mulher, mas por apenas uma tarde, já que não fizeram algo tão grave quanto Harry. Os sussurros e murmúrios eram a pior parte. Haviam alguns que acreditavam em Harry e Dumbledore, porém a maioria esmagadora se dobrou às vontades do Ministério e caíra em suas manipulações. Li em um livro, certa vez, que a forma mais eficaz de destruir um povo é negar e obliterar seu conhecimento da própria história, e era exatamente isso que o Ministério estava fazendo com o povo bruxo. Negando verdades que todos conheciam por experiência e convivência, tornando-nos massas para a mídia modelar.

              - Vamos embora daqui. Não consigo nem ouvir meus próprios pensamentos. – Murmurei para Harry e Ron na mesa de jantar. Os cochichos não paravam, e os dois sentiam o mesmo que eu. Nos levantamos e abandonamos o jantar mais cedo, e quando olhei para trás, distingui dois pares de olhos que nos encaravam entre os demais: os de Dumbledore olharam fixamente para as costas de Harry, com o que pensei ser melancolia, e os de Fred, que me olhavam com confusão.

              Fui para meu quarto para pegar meus pergaminhos e ocupar minha mente com qualquer coisa que não fosse a professora com cara de sapo e roupas cor-de-rosa. Peguei o máximo de deveres que consegui, e decidi tentar terminar tudo naquela mesma noite, ou talvez fazer metade a adiantar alguma coisa para Harry, já que ele começaria sua detenção. No entanto, quando voltei, vi Fred e George testando seus produtos em primeiranistas, e tive que agir rápido. Não sabia mais como convencê-los a não fazer esse tipo de coisa.

              - Fred, George! – Vociferei, puxando-os para um canto. – Eu disse que utilizar primeiranistas como cobaia é proibido!

              - Eles se voluntariaram! – Os dois protestaram em uníssono.

              - Eu não me importo. Parem com isso já ou vou ter que mandar uma coruja para a mãe de vocês. – Acho que Fred e eu sabíamos que eu jamais faria uma coisa dessas, principalmente sabendo que provavelmente acabaria com as chances dos dois realizarem um sonho, mas proferi minha ameaça como se fosse algo que eu faria em um piscar de olhos.

              - Sim, senhora... – Eles resmungaram, saindo.

              Harry saíra para sua detenção, levando uma bronca de Angelina, agora a nova capitã, por ter que perder os testes para apanhador por causa de sua detenção.

              - Nenhum sinal de Katie? – Angelina sussurrou para Alicia, que negou com a cabeça baixa.

              Katie não aparecera para os primeiros dias de aula, e comecei a temer pelo que poderia acontecer à ela. Tudo que aconteceu ano passado e tudo que descobri sobre ela criou um sentimento de afeição em mim com relação à Bell, e eu genuinamente me preocupava com ela.

              Comecei a trabalhar, tentando aliviar minha mente. Katie, Umbridge, Harry, Voldemort e sabe Merlin mais o quê rodopiavam em minha mente, e eu realmente temi que eu fosse explodir ou perder o controle de mim mesma. Escrevi até não aguentar mais, e consegui terminar tudo. Ajeitei algumas coisas nos pergaminhos de Harry e me estiquei no sofá.

              - Mione, você tá bem? – Fred perguntou, sentando-se ao meu lado. Suspirei, afirmativamente, mas ele não se deixou enganar. – Você sabe mentir tão bem quanto um peixe sabe voar.

              - Só... Tenho muita coisa na cabeça, acho. – Fred se sentou atrás de mim, me puxando de forma que minhas costas descansassem em seu peito e minhas pernas se aconchegassem entre as dele.

              - Bom, sou todo ouvidos.

              - Certo. – Resolvi começar por partes, e Fred traçou círculos em minha mão enquanto eu falava.  – Primeiramente, temos Umbridge, e como ela vai trazer problemas para a escola e para Harry. E é nele que eu não consigo parar de pensar. Ele viu tanta coisa, e nunca pediu para passar por nada disso, e ainda assim, todo santo ano parece que ele enfrenta mais intrigas, dúvidas e fofocas. E também tem Katie, que está sumida e estou com medo que algo tenha acontecido com ela... – Finalizei, aliviada.

              - Mione, você pensa demais! – Fred sorriu em meu ouvido. – Não tem muito o que você fazer com a princesa que é nossa nova professora, mas você pode ter certeza que Harry não vá enfrentar o sapão sozinho, certo? – Assenti, rindo. – E se o paradeiro da Bell te preocupa, por que você não manda uma coruja para ela?

              - Fred, você acabou de simplificar tudo... – Ri, recostando-me nele, que me recebeu com um abraço. – Obrigada.

              - Conselhos é só um dos inúmeros benefícios de namorar Fred Weasley, Mione.

              Me sobressaltei quando fui segurar sua mão. Ele retraiu-a, tentando escondê-la discretamente.

               - Fred...? – Levantei do sofá e me ajoelhei em sua frente. – Me dê sua mão.

              - Mione, já estamos namorando, você não precisa pedir de novo. – Ele riu, mas viu que minha determinação não iria embora tão facilmente. – Não é nada demais, deixe para lá.

              Calmamente, tomei suas mãos nas minhas com delicadeza. Nas costas da mão esquerda, sua caligrafia estava cravada na pele como um machucado, que dizia: “Não devo causar tumultos”.

              - Umbridge? – Murmurei, ainda estarrecida com o que estava diante de meus olhos.

              - É. Métodos criativos de detenção, não acha? – Fred bufou, irônico, revirando os olhos. Quando puxei minha varinha, Fred dispensou. – Já tentei. Acho que só sai com o tempo.

              - Você tentou magia. Eu sou sangue-ruim, lembra? – Brinquei. Beijei sua mão carinhosamente e corri para meu dormitório o mais rápido que consegui, buscando alguns curativos que trouxera para algum tipo de emergência. Sabia que sempre teria minha varinha, mas em tempos como esse, precaução nunca seria demais. Merlin sabe quantas vezes saí com Harry em missões secretas de noite, e se alguém se machucasse em uma delas, aparecer na enfermaria quem sabe daria muita bandeira.

              Quando limpei a ferida, Fred fez cara feia, como uma criança, e protestou.

              - Isso arde, Mione! Ai! Merlin! O que diabos é isso? Instrumentos de tortura de trouxas?

              - Fique quieto, Fred, me deixe limpar isso aqui. – Segurei sua mão com um pouquinho mais de firmeza, tentando mantê-la parada. Quando terminei, coloquei uma pomada e enfaixei-a. – Viu? Já acabou.

              Me ergui um pouco para alcançar seus lábios do chão, já que ele estava no sofá. Fred entrelaçou seus dedos em meu cabelo, e segurou meu braço com a outra mão. Foi um beijo leve, terno e que não demorou nem de longe o suficiente.

              Harry estava de volta, e Fred deu um beijo em minha testa em despedida, depois de murmurar um “Te vejo de noite” em meu ouvido discretamente. Não sabia onde exatamente ele iria me encontrar, mas ele indicou o sofá com a cabeça.

              Tentei ser sutil e esperar Harry me contar sobre sua punição, mas sabia que ele não o faria se eu não perguntasse. Fingi reparar em sua mão, quando na verdade já esperava que ele voltaria machucado. Eu e Ron insistimos que ele falasse com Dumbledore, mas Harry parecia ter algum ressentimento quando ao diretor esse ano, talvez pela frieza e distância com a qual ele vêm tratado meu amigo, ou pelo cargo de monitor dado a Ron. Harry decidiu que acordaria cedo no dia seguinte para mandar uma carta a Sirius, e o adverti a tomar cuidado e não mencionar Umbridge diretamente, já que a carta poderia facilmente ser interceptada por qualquer um. Meus amigos foram dormir, e subi ao meu quarto para tomar um banho rápido e escovar os dentes, e todas as garotas já estavam dormindo quando voltei. Desci de pijamas mesmo, e encontrei Fred me esperando, deitado no sofá.

              - Fred? – Sussurrei, e logo vi que ele estava dormindo. Era uma imagem muito fofa, e se eu tivesse uma câmera, iria querer tirar uma foto. Ele estava muito amável, e decidi pegar um cobertor no meu dormitório, já que não conseguiria carregá-lo para cima. Cobri-o e beijei sua testa, admirando a visão em minha frente. Subi as escadas e voltei para minha cama, e caí nos braços do sono.

              Harry acordara cedo no dia seguinte para escrever uma carta para Sirius, e nos encontrou na mesa do café da manhã, onde descobrimos que Stúrgio Podmore fora preso e sentenciado a passar seis meses em Azkaban, por tentar invadir o Ministério. Ele teria sido o acompanhante de Harry até a estação no primeiro dia, e era um dos participantes da Ordem. Logo depois, Harry e Ron tinham que praticar Quadribol, e decidi ir estudar enquanto isso.

              Mas quem sabe eu poderia estudar no campo.

              Desci um pouco depois que eles, e surpreendi-os quando cheguei no campo. Fred saiu do vestiário em seu uniforme de Quadribol, e sorriu de orelha à orelha quando me viu. Ele me jogou um beijo, todo brincalhão, me fazendo rir. Eu tinha que admitir, ele ficava muito atraente naquela roupa. Depois de o time da Sonserina fazer uma breve aparição para pegar no pé do time, e principalmente de Ron, o treino começou. Fred e George rebatiam os balaços a todo vapor, e eu não conseguia me concentrar nas letras do pergaminho à minha frente com aquela visão em minha frente. Fred, sempre que um balaço vinha em sua direção, Franzia as sobrancelhas em concentração, mordia o lábio e acertava a bola com o bastão com toda a força. Os ângulos de seu corpo, seu cabelo caindo em sua testa.... Merlin.

              Resolvi parar de olhar o jogo e tentar me concentrar no que eu realmente tinha que fazer. Logo que comecei a escrever, Fred parou em minha frente, fingindo secar o suor com a barra da camisa, mostrando bem mais do que deveria e mordendo seu lábio em um sorriso. Piscou para mim e voou para perseguir um balaço.

              Ele estava me provocando!

              Me sentei mais reta, com as bochechas vermelhas. Quando olhei para ele, tentei passar com o olhar uma ordem exasperada para que ele parasse com aquilo. Em resposta, recebi um sorriso malicioso em um dar de ombros.

              Durante todo o treino, Fred parecia incrivelmente concentrado em me fazer perder a linha e pular naquela desgraça de campo.

              - Weasley! – Angelina gritou, atraindo os olhares de Fred, George e Ron. O time todo riu discretamente, mas a capitã continuou com sua bronca. – Fred, quando você quiser parar de flertar com a Granger e jogar de verdade, me avise!

              Revirei os olhos, envergonhada, e fingi estar concentrada demais em apertar meu casaco para notar que eu tinha algo a ver com o puxão de orelha que Fred recebera. O resto do treino passou sem maiores eventos, e Fred, todo suado, indicou a porta do vestiário com a cabeça, sorrindo.

              - Dá para o coral calar a boca por favor? – Dino Thomas berrou para Fred e George, que não paravam de cantar no banho.

              - Já desisti de tentar calar os dois em casa. – Ron resmungou.

              - Aceitamos gorjetas na saída! – Fred e George cantarolaram.

              Um a um, todos os integrantes do time saíram.

              - Te encontro na Sala Comunal? – Ron perguntou, constrangido, e assenti com a cabeça.

              - Ah, Mione, não precisava ter me esperado... – George saiu, sorrindo. – Mas obrigada mesmo assim, adorei o gesto.

              - Hermione? Com meu próprio irmão? Como você pode fazer uma coisa dessas comigo? – Fred exagerou, com caras dramáticas e voz chorosa. Seus cabelos ainda estavam molhados, e gotas que pingavam deles molhavam sua camisa.

              - Quem sabe ela goste de caras maduros que sabem secar o cabelo. – George passou os braços em meus ombros.

              - Não é minha culpa se eu fico extremamente sensual dos dois jeitos. – Fred revirou os olhos.

              - Tá, tá, ela é toda sua. – George disse, me soltando e cruzando os braços. – Mas Mione, meu quarto está sempre aberto para você. – E com uma piscadinha, o gêmeo de Fred foi embora.

              - Foi mal por ter dormido ontem. – Fred riu, passando as mãos pelo cabelo.

              - Não foi nada. A visão compensou. – Sorri para ele, lembrando de como ele era bonito dormindo. E acordado também, diga-se de passagem.

              - O cobertor foi bom, mas você faria um trabalho bem melhor em me esquentar, sabe? – Ele brincou, e empurrei-o de leve quando ele riu da cor das minhas bochechas.

              Fred beijou minha testa, e me deu um abraço esmagador antes de me puxar pela cintura para um beijo carinhoso, lento e quase casto. Suas mãos corriam por meu cabelo livremente, e sua boca percorreu meu pescoço, minha mandíbula e minha bochecha até voltar para a minha. 

              - Vamos? – Fred murmurou entre nossos lábios.

              - Vamos.

              Depois de sabe-se lá quanto tempo, subimos de volta ao castelo.

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              Merlin, se eu apenas soubesse onde eu estava.

              O Caldeirão Furado. Era a última coisa de que me lembrava. Acho que estava no meu quarto ali. Me levantei da minha cama, com uma marca de baba seca na minha bochecha. Meu cabelo estava com as pontas... Verdes? Até que não estava nada mal, ainda que não me lembrasse de como elas ficaram assim. O alto de minha orelha também doía, o que me fez presumir que eu tivera a brilhante ideia de colocar um piercing ali, que também não ficou nada mal.

              Estava pronta para chamar meus pais, mas me lembrei que estava ali justamente porque fugira de casa.

              Lembrava de ter ficado amiga da tal Lerianna, que me ajudou na minha primeira noite. Parecia o verão perfeito, viajamos, fugimos da cidade, acampamos... Até que o maldito namorado dela apareceu e a tirou de mim. Acho que eu era a distração. Ou ela era a minha. Talvez fosse uma distração que nós duas precisávamos.

              Que merda.

              Era meio triste, acho. Nunca conseguia fazer com que as pessoas permanecessem na minha vida por tempo o suficiente. Mas eu também era muito boa em afastá-las, então era compreensível até que elas se distanciassem.

              Desci as escadas, meio trôpega, e fui para a sala principal daquele lugar.

              - Com licença, senhor? – Tentei me aproximar de um velho, que me dispensou com um gesto emburrado.

              - Você sabe como vou para Hogwarts? – Perguntei.

              - Olhe, menina, as aulas de minha filha começaram lá faz algum tempo... Você deve ter se perdido no tempo. – O homem que limpava o balcão das bebidas riu. – Mas posso aparatar na frente, e você fala com o tal do Dumbledore.

              - Certo então. – Pedi uma dose de Vodka de Cristal Negro, só por motivos de coragem, e aparatamos. Não foi uma boa ideia fazer isso logo depois de beber, mas agradeci ao homem e parei na frente do grande castelo, olhando os portões com os javalis alados.

              Definitivamente, era um lar melhor do que a porcaria do Caldeirão Furado.

              Entrei, e consegui pegar a hora do jantar, logo depois de falar com McGonagall e falar que estive em uma viagem prolongada. Ao abrir a enorme porta do Grande Salão, senti os olhares de todo o time de Quadribol da Grifinória se iluminarem.

              Por que eu me sentia tão sozinha se haviam tantas pessoas que se importavam comigo?

              Não queria sentar com Alicia e Angelina, não ainda. Quando vi Granger sorrindo e acenando para mim, perguntei aliviada se podia sentar com ela.

              - Onde você esteve, Katie? – Ela perguntou quando me sentei ao lado dela, recebendo um cumprimento constrangido de Potter e uma tentativa de “Oi” vindo do irmão caçula de Fred e George, que estava com tanta comida na boca que fiquei com medo de ele vomitar tudo na minha cara se tentasse falar mais.

              - Viajando. Como foi seu verão? – Mudei de assunto rapidamente, evitando falar do tempo louco que passei com Leri, sabendo que Granger não aprovaria minhas experiências com álcool.

              - Normal. – Hermione parecia querer evitar mencionar algo, e resolvi deixar quieto. – Gostei do cabelo. E do brinco. – Ela riu, e parecia realmente sincera. – Doeu para furar?

              - Para falar a verdade, não me lembro direito. – Ri, constrangida. – Mas e aí, você e Fred ainda estão passando a língua um no outro em salas escondidas? – Brinquei, e percebi que o Weasley mais novo quase cuspiu sua bebida, e Potter riu discretamente, tentando não dar na cara que queria explodir de gargalhar. – Tá tudo bem aí, cenoura júnior?

              - Tudo... Tudo certo. – Ronald respondeu, com o rosto da cor do seu cabelo. Percebi que ele lançou um olhar fulminante para Hermione, que ou não percebeu ou resolveu ignorar.

              - Estamos bem, Katie. – Granger respondeu, vermelha como um pimentão. Eu ri.

              - Calma, Granger. Katie faz essas coisas às vezes. Você acaba se acostumando com a falta de filtro dela. – Angelina chegou, sorrindo com a mão no meu ombro. – Bem-vinda de volta, Kat.

              Abracei-a, dando graças a Merlin que Alicia teve o bom senso de não vir junto.

              - Obrigada, Ange.

              É, o ano realmente tinha começado.