Opostos que se Atraem escrita por paular_GTJ


Capítulo 4
Capítulo 4




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– Oooooh. – Nessie debochou atrás de mim. – Agora sim eu estou com pena dessa porta. O que será dela depois que o Jacob-Tora Black resolver usar sua super força contra ela?


Reprimi a volta de mandá-la para aquele lugar e puxei a maçaneta.


Nada.


Coloquei toda a minha força naquele ato.


Nada.


Mais cinco vezes, nada.


Estava realmente trancada.


Ouvi o risinho de deboche dela atrás de mim e suspirei fechando os olhos. Ao que parece, a noite será longa!




– Então, senhor máster tora... - Nessie debochou atrás de mim com evidente sarcasmo. - Não conseguiu dar conta dessa portinha singela?


Virei-me em sua direção sentindo a raiva me invadir ao encarar seu rosto - que estava com aquele insuportável sorriso de zombaria.


"Não bata numa mulher. Nunca bata numa mulher". – Repetia para mim mesmo, afastando-me daquela garotinha metida.


Sentei-me na mesa da secretaria, apoiando meus cotovelos nos joelhos e tapando meu rosto com as mãos. Tentei pensar coerentemente no que fazer agora.


Claramente não haveria ninguém na escola, uma vez que já eram sete horas da noite e eu sabia que o zelador sempre ia embora as seis. Ao mesmo tempo, contudo, eu não podia ficar no mesmo lugar que aquela garota sem perder a paciência e, provavelmente, fazer alguma besteira que poderia me arrepender depois. O que fazer agora então?


– Eu só posso ter jogado pedra na cruz. - Ouvi Nessie murmurar em algum canto da sala. Eu ainda tapava os olhos com as mãos. - Eu só posso ter sido a pior pessoa do mundo na vida passada e agora estou pagando meus pecados!


Suspirei fundo e levantei a cabeça. Nessie estava sentada no chão, apoiada na porta de saída abraçando os joelhos.


– Eu não estou gostando dessa situação também, Swan. - Murmurei, ignorando a sensação incoerente que tomou conta de mim ao ver seu rosto desolado. Eu queria tirar dela aquele semblante nervoso e tenso, ao mesmo tempo em que me sentia irritado com sua fraqueza. - Mas, pelo menos, eu estou tentando pensar em uma solução para isso, ao em vez de ficar me lamentando para os quatro cantos.


– Vou deixar essa tarefa com o gênio. - Falou com aquele tom desdenhoso que eu tanto odiava.


Revirei os olhos, cansado. Ela me consumia muita paciência para uma pessoa tão pequena. Meus olhos pousaram no telefone em cima da mesa da secretaria e a luz se fez na minha cabeça. Porque eu não pensei ainda em ligar para alguém? Eu só posso estar muito atordoado com a presença dessa garota para não pensar com mais rapidez em coisas óbvias.


Antes que eu pudesse, simplesmente, mexer um músculo se quer, as luzes se apagaram e eu ouvi um gritinho de Nessie perto da porta.


– Ah, não! - Resmunguei querendo me convencer que aquilo não estava acontecendo.


Faltar luz agora? Esse dia estava me saindo pior do que eu podia esperar.


– ARGH! Era só o que me faltava! - Nessie bufou ali perto.


Ergui minhas mãos tateando a mesa, a fim de encontrar o telefone. Eu sabia que ele não estaria funcionado por conta da falta de luz, mas sempre há uma esperançazinha, não é? Tirei-o do ganho e coloquei o fone na orelha. Ele estava mudo.


– Ótimo! - Resmunguei, recolocando o telefone no lugar com mais força que o necessário. - Isso é simplesmente maravilhoso! Perfeito, eu diria.


E agora? Sem luz e trancado em uma sala com Renesmee Swan! Eu não mereço tanta tortura. Aliás, falando na garota, ela está muito quieta para o meu gosto.


Antes que eu pudesse perguntar, com algum deboche de preferência, o que ela estava fazendo, ouvi o toque do meu celular na salinha onde eu estava trabalhando há poucos minutos atrás.


Meu celular!


Como foi que eu me esqueci dele? Eu estava ficando muito lerdo ultimamente.


Sai correndo na direção da música. Tropeçei em várias coisas por conta da minha rapidez, contudo, não importei-me. Eu só desejava que fosse Quil para poder me tirar daqui o quanto antes. Meu pai estava viajando, então nem para ele eu poderia recorrer.


Minha alegria por um ser humano estar me ligando desapareceu assim que eu li no visor o número de quem era. Que saco, será que ela não se toca?


– Oi. - Atendi seco ao celular.


Oi amor. – Leah murmurou com sua voz melosa do outro lado da linha. Fechei os olhos com força quando ela disse a palavra amor. - Onde você se meteu? E por que demorou tanto para atender? Você está em casa? Saiu mais cedo? Está tudo bem?


Credo!


Ela fazia mais perguntas que a minha irmã quando eu resolvia sair de casa e ir para uma festa.


– Eu estou... Em casa sim. - Não sei porque não contei a ela, mas a idéia de Leah vir me buscar e se grudar em mim como uma parasita não era nada agradável. Surpreendentemente, eu preferia ficar com a arrogante mirin. - Estou bem, só um pouco cansado... Acho que vou dormir mais cedo. - Encenei um bocejo falso convencê-la.


Ahhhh, meu amorzinho tá cansado?– Não respondi. Além de tudo ela me trata como um bebê. - Vou deixar você dormir então! Bons sonhos e dorme bem! Eu te ligo amanhã, ok? Te adoro!


– Ahm... - Tentei pensar em uma resposta para todas aquelas declarações. - É, tudo bem. Tchau!


Desliguei o telefone pensando que talvez eu a tenha magoado. Bom, isso foi tudo que eu consegui pensar, e, além do mais, ela teria que se tocar mesmo eu não ficava com uma garota por mais de uma semana. Ela conhece minha fama.


Virei-me para ir até a sala da secretaria. Aquela garota estava muito mais quieta do que eu estava achando normal. Dei dois passos e esbarrei em alguma coisa um pouco mais baixa que eu, parada no meio do corredorzinho fora da sala onde eu estava.


– Ai! - Nessie reclamou enquanto eu a segurava para não cair no chão em conseqüência ao nosso encontrão.


– Qual é seu problema garota? - Perguntei depois que ela já estava de pé. - Fica aí parada em silêncio no escuro.


– Eu só... Eu queria ver... O que foi aquele barulho. - Ela gaguejou um pouco.


Pela luz que refletia da janela ali perto, eu conseguia ver seu rosto. Sua expressão não estava como sempre. Não era aquela frieza toda. Não, era mais parecida com amedrontamento. Ri alto com um pensamento que me veio à mente.


– Tem medo do escuro, senhorita Swan? - Debochei.


– O quê? Hahaha. - Tentou parecer irônica, mas sua face entregava-a.


Quem diria... A garota que sempre tem uma resposta para tudo, na grande parte das vezes carregada de sarcasmo e autoridade, com medo de escuro? Essa é nova!


– Não se preocupe. - Sussurrei, aproximando-me de sua figura no escuro. - Eu protejo você! - Soprei em seu ouvido e senti Nessie estremecer.


POV NESSIE



– Não se preocupe. - Jacob aproximou-se. - Eu protejo você. - Sussurrou no meu ouvido. Senti todos os pêlos do meu corpo se arrepiarem e meu coração deu marteladas mais fortes que o normal em meu peito.


– Cai fora, Black. - Retruquei, dando dois passos para trás e ignorando as reações estranhas do meu corpo.


Como sou estupidamente destrambelhada, bati meus pés em alguma coisa que me fez perder o equilíbrio. Senti os braços de Jacob, pela segunda vez, me aparando de uma queda quase certa.


– Quer mesmo que eu caia fora? - Zombou.


Alguma coisa dentro de mim percebeu que ele estava MUITO próximo agora, e inesperadamente, eu desejei que ele rompesse aquela mínima distância entre nós.


Que pensamente idiota Nessie! - Pensei comigo mesma. - Esse é o arrogante e metido Jacob Black! Pare de pensar besteiras!


– É a segunda vez que eu aparo você de uma queda. Deveria, no mínimo, me agradecer.


– A culpa das minhas quase quedas foram suas, ok? Não fez mais do que sua obrigação! - Falei indiferente, retirando suas mãos de cima me mim e ignorando mais uma vez aquelas reações que meu corpo insistia em proporcionar-me, assim como aqueles pensamentos incoerentes e sem sentido que eu estava tendo.


Afastei-me dele, mas não o tirei do meu campo de visão. Era verdade. Eu odiava o escuro e fora por isso que eu vim para essa maldita salinha no final das contas. Não gostei nenhu pouco de ficar na secretaria sozinha e na total escuridão.


Minha obrigação! – Ele repetiu bufando. - Vai ficar aí parada ou tá com medo demais pra andar até a outra sala?


Revirei os olhos, e comecei a andar de volta, um pouco menos apreensiva por sentir ele me seguindo logo atrás.


– Que saco! - Ouvi a voz rouca de Jacob murmurar um tempo depois ali no escuro.


– Que é? - Perguntei entediada, preparando-me para ouvir discursinhos de como ele estava odiando ficar aqui comigo. Não que eu estivesse gostando, claro!


– Aquele imbecil do Quil! Não sei porque tem celular se nunca deixa ligado. - Disse me fazendo lembrar de uma coisa.


– Ahhhhh! - Exclamei animada achando, enfim, uma solução para a maldita situação que eu me encontrava. - Me da seu celular! - Falei mais como uma ordem do que como um pedido.


– Eu não! - Jacob murmurou imediatamente.


– Me da ele logo. - Cheguei mais perto da sua figura escura parada um pouco afastado de mim. - Eu sei como tirar a gente daqui.


– Como? - Indagou curioso, enquanto eu arrancava o celular da sua mão sem cerinômias.


– O Quil pediu meu celular emprestado quando estava indo para a aula antes de eu vir para cá. - Expliquei já discando meu número no celular de Jacob. - O dele estava sem bateria e Claire deixou o dela em casa, mas eles devem estar com o meu, de qualquer modo!


Eu já estava esperando com o telefone na orelha e desejando muito que eles não estivessem tão ocupados para ouvir meu celular tocando. Ouvi chamar duas vezes e depois ficou mudo.


– Alô? Quil? - Chamei com um sorriso no rosto, sentindo um alívio imenso. Ouvi um suspiro leve vindo da pessoa ao meu lado.


– Alô? - Perguntei mais urgente, uma vez que não obtive resposta.


Olhei para o celular, mas como estava escuro eu não conseguia ver o visor.


– O quê? O que foi? - Jacob perguntou urgente.


– Não sei... Não falam nada. Silêncio absoluto! - Cliquei nas teclas do teclado para que a luz se acendesse, mas nada.


– Ah, não! - Jacob suspirou derrotado ao meu lado.


– Quê?


– Acho que acabou a bateria! - Disse frustrado, fazendo toda a minha animação de momentos atrás fosse embora rapidinho.


Agora sim estávamos perdidos: trancados em uma sala, sem luz, sem telefone, sem comunicação nenhuma com nada, e sem ninguém ter a mínima idéia de que estávamos ali. Acho que só nos resta esperar o dia amanhecer e o pessoal abrir o colégio.


Suspirei fundo e lhe estendi o celular. Jacob o colocou no bolso bufando consigo mesmo.


– Por que não falei para a Leah? Sou um idiota mesmo!


– É, quem sou eu para discordar. - Murmurei, sentando-me no chão e tentando não me desesperar. Tudo em vão, lógico. - Se não tivesse ficado de papinho furado com sua garota da semana, poderíamos ter usado o que faltava da bateria em alguma coisa útil.


– Agora não, Swan, por favor! - Jacob resmungou, cansado.


Ficamos em silêncio total.


Duas horas depois, o silêncio continuava, agora apenas interrompido por barulhos, ora do meu estômago, ora do de Jacob.


– Eu comeria um boi nesse momento. - Ele falou de repente.


– Eu também. - Concordei, tentando não pensar na fome e no frio que estava sentindo. - Droga! Eu bem que podia ter trazido um casaco!


Eu deveria começar a escutar minha mãe e levar a sério quando ela me diz para levar um casaco na mochila. Eu estava de olhos fechados, perdida em pensamentos e deitada no chão da sala. Inesperadamente, senti uma mão no meu ombro.


Sentei-me rapidamente, encarando a figura escura de Jacob próxima a mim, um pouco apreensiva. Por que meu corpo reage desse jeito sempre que ele toca em mim, por menor que fosse o contato?




POV JACOB


– Eu também! - Nessie concordou comigo, e eu ouvi seu estômago roncar quase instantemente. - Droga! Eu bem que podia ter trazido um casado! - Acrescentou com a voz um pouco trêmula.


Claro que ela deveria estar sentindo frio, já que usava apenas uma regatinha fina. Levantei de um canto da sala onde estava sentado e me aproximei do monte escuro sobre o tapete que eu sabia ser ela.


Nessie não pareceu perceber que eu havia me aproximado, por isso toquei em seu ombro para que ela me notasse ali. A garota quase deu um pulo quando eu encostei minha mão em seu ombro desnudo, que de fato estava muito gelado. Ela deveria estar congelando.


– Veste isto aqui antes que você morra de hipotermia. - Falei lhe estendendo meu casaco de couro.


– Mas e você? - Ela perguntou... Preocupada?


Eu conseguia ver seu rosto vagamente pela luminosidade da janela. Ela era tão linda que eu me perdia facilmente em suas feições perfeitas.


Devo admitir que fiquei um pouco frustrado hoje cedo quando vi seu cabelo diferente. Eu gostava dele comprido até sua cintura, porém, esse novo corte era muito mais parecido com ela. Combinava bem com sua personalidade e a fazia ficar ainda mais digna de admiração.


Meu Deus, acho que estou convivendo demais com o Quil.


– Eu não estou com frio. - Dei de ombros, sentando-me ao seu lado.


– Obrigada, Jacob. - Agradeceu, aceitando o casado e já tratando de vesti-lo.


Não pude evitar um sorriso de brotar em meus lábios, e, apesar da escuridão, ela o notou.


– Qual é a graça?


– Você me chamou de Jacob. - Falei olhando-a com um sorrisinho singelo.


– Algum problema? Prefere que eu te chame de Black? - Pareceu um tanto incerta.


– Não, não. - Respondi rápido demais, e eu vi um sorriso presunçoso se formar em sua face. É, estava demorando. - Eu só quis dizer que você não deve estar irritada comigo ou alguma coisa do gênero, se não, me chamaria pelo sobrenome. - Expliquei, ignorando sua expressão.


– A situação já está bastante complicada para somar com discussões sem fundamento. - Deu de ombros.


– Concordo plenamente. - Sorri para seu rosto vagamente iluminado. - Trégua?


Ela encarou para minha mãe estendida e pareceu refletir um pouco. Depois de dois segundos, porém, sorriu e apertou-a.


– Trégua!


Aquela corrente elétrica que eu havia sentindo quando a toquei pela última vez, voltou a me invadir. Eu nunca havia sentido isso antes e estava com a leve sensação que não significava nada muito bom.


Ficamos em silêncio por alguns momentos, até que Nessie bateu na testa com as mãos e falou um pouco mais animada.


– Ah, lembrei que tenho barrinhas de cereais na minha mochila. - Levantou-se e começou a andar em direção a outra sala, tropeçando inúmeras vezes e resmungando para si mesmo: Como eu fui tão imbecil de esquecer? Morrendo de fome e com comida na mochila!


Só para ter um pouco de noção da fome que eu estava sentindo, eu não fiz cara feia quando ela falou barrinhas de cereais que eu odeio mais do que salada.


Nessie retornou ao meu limitado campo de visão depois de uns minutos, tropeçando mais que o provável para um ser humano normal. Tive que rir dessa sua descoordenação.


– Podia ter pedido para eu ir buscar sua mochila. Você, pelo menos, não ganharia roxos por todo seu corpo. - Repri o riso para ela não me esbofetear. Para a minha grande surpresa, porém, Nessie riu. Uma risada linda que eu nunca havia ouvido antes e que fez meu humor ficar, instantemente, mais leve.


– É, eu sei. Se com luz já é difícil imagina no escuro? - Vi sua sombra se sentar na minha frente. - E essa maldita secretária resolveu colocar uma bugiganga em cada canto desse lugar.


Ri com ela enquanto a mesma me passava um pacotinho retangular, e já abria o seu.


– Não sei qual sabor é, mas vai servir para enganar o estômago.


– Eu topo qualquer coisa pra enganar meu estômago agora. - Murmurei, dando uma dentada na barrinha. Não era tão ruim assim, ou minha fome já havia superado a barreira da preferência de sabores.


Comemos rapidamente e em total silêncio. Eu, às vezes, me pegava olhando-a de forma interessada, e me perguntava constantemente por que eu me admirava tanto por essa garota.


– Perdeu alguma coisa aqui? - Ela resmungou com um quê do seu tom antigo, porém agora um pouco menos áspera, quase como se fosse uma brincadeira.


– Eu só estava me perguntando o que lhe fez cortar seus cabelos.


Não era exatamente isso que eu estava me perguntando, mas eu nunca falaria para ela o que eu tinha em mente no momento.


– Ah, isso! - Nessie passou de leve as mãos nos fios cor de cobre. - Meu pai falou para eu manter ele comprido, então resolvi cortar.


Eu tive que rir com o tom de lógica que ela implicava em suas palavras. Na verdade, eu estava um pouco surpreso que ela parecesse não ser muito amiga do seu pai, um grande ídolo para mim. Percebi isso nas suas reações ouvindo as musicas dele e quando ele anunciou na rádio sobre seu casamento.


– Você não é muito fã dele, não é? - Perguntei querendo entender o porquê daquilo.


– Ele já tem fãs demais... Não precisa de mim para somar na sua listinha! - Deu de ombros, indiferente. Contudo, pude notar certa mágoa em sua voz.


Franzi a testa para ela, mas como estava escuro, ela não viu.


– Posso lhe fazer uma pergunta? - Indaguei depois de uns minutos em silêncio.


– Depende. - Nessie respondeu virando a cabeça para o meu lado no escuro.


Revirei os olhos. Era óbvio que ela não me daria uma resposta direta.


– Eu percebi que você não gosta muito de casamentos... Sabe, depois daquele showzinho que fez quando soube que seu pai se casará novamente. - Fiz uma pausa e Nessie não falou nada. Eu não sabia qual era a sua expressão, mas o fato dela não ter levantado sua mão e me dado um tapa, fez com que eu me estimulasse a continuar. - Isso é só por causa do casamento dos seus pais?


Nessie respirou pesadamente e eu a vi apoiar o cotovelo na perna e depois descansar a cabeça na sua mão, antes de responder a minha pergunta.


– Também. Eu passei minha infância inteira vendo meus pais brigar dia e noite. Meu pai praticamente nunca parava em casa por causa das suas tornes idiotas e com isso minha mãe teve que criar praticamente eu e Bella sozinha. - Ela falava rapidamente como se estivesse com medo de parar. - Não é que eu não goste do meu pai, e é só que ele me passou uma imagem de como homens não parecem se importar realmente com as mulheres, e, além disso, eu odiava ver minha mãe chorando pelos cantos quando ela achava que ninguém estava por perto.

E ainda teve minha irmã com seus tantos namorados, que eu perdi a conta do número que fora apresentado a nós, e que eu sempre os via brigando. Logo depois, ela estava chorando para lá e para cá.


Fiquei em silêncio considerando tudo que ela havia me dito.


– Sua irmã também viveu no mesmo lugar que você e ainda assim vai se casar. - Falei sem pensar.


Eu não estava entendendo o porquê da minha súbita curiosidade pela vida dela.


– Bella é uma idiota! - Nessie deu de ombros no escuro. - Quer aprender pelos próprios erros em vez de tomar como lição os dos outros!


– Você não acha que TALVEZ ela tenha encontrado uma pessoa que fique com ela por toda a vida, assim como seu pai agora? - Ok. Quando comecei a ser tão gay assim? Quil realmente estava me influenciando com aquela sua viadagem nova.


– Ah, eu não acredito! - Nessie falou segurando o riso. Eu não entendi qual foi a piada que eu contei até que ela continuou. - Eu estou realmente ouvindo Jacob Black me dizer que o amor existe?


Agora ela começou a gargalhar alto e eu fechei a cara. Ei, quem era a desiludido nessa questão ali era ela, não eu!


– Eu acho que amor existe sim. - Nessie parou de rir na hora em que eu pronunciei aquelas palavras, fazendo-me desejar que a luz estivesse acesa para poder ver qual era a sua expressão. - Quer dizer, não para mim... Mas para pessoas como Quil e Claire. Eu posso dizer que aquele imbecil do meu amigo gosta muito da sua amiguinha. Nunca vi ele assim por nenhuma outra garota, e olha que nós conhecemos há anos.


– Hum, sei. E por que o amor não existe para você? - Nessie inclinou um pouco a cabeça, provavelmente tentando me analisar naquela penumbra.


– Não seria justo com o mundo. - Dei de ombros.


– Como é? - Podia jurar que ela estava me olhando com a testa franzida. Abri um sorriso antes de responder.


– Não seria justo com as meninas do mundo se eu me prendesse apenas em UMA, entende? Quer dizer, seria um desperdício e tanto!


Nessie gargalhou quando eu terminei de falar, colocando a mão na barriga e se inclinando para frente. Fechei a cara novamente.


– Qual foi a piada? - Perguntei irritado.


– Você! - Ela conseguiu pronunciar ao meio de risos.


Depois de um tempo, parou e passou as mãos nos olhos como se estivesse secando lágrimas de tanto que riu. Fechei mais ainda minha cara diante disso.


– Ai, ai, Jacob... Você é uma comédia! - Murmurou, empurrando meu ombro de leve.


Revirei os olhos e recuperei meu tom pomposo.


– Não estou falando nenhuma mentira.


– Ah, está sim. - Havia um tom divertido na voz. - Você é muito soberbo, sabia? Tem garotas que não curtem muito isso, então, por mais que você seja lindo e tudo mais...


Nessie calou-se e, imediatamente, tapou a boca com as duas mãos para evitar que mais alguma confissão saísse de lá. Eu senti um sorriso vitorioso brotar em meu rosto. Ah, então ela me acha lindo?


– Eu não... Eu.. Ahm. - Ela gaguejava enquanto, mesmo no escuro, eu percebia uma coloração nova surgir em seu rosto. Ela ficava tão linda constrangida.


– Tudo bem Ness, - Levantei minha mão até sua face quente, afanando-a. - Eu sei que eu sou irresistível.


– Jacob? - Nessie sussurrou com um tom doce, aproximando-se um pouco de mim. Meu coração disparou no meu peito quando me dei conta do que ela iria fazer.


– Sim? - Peguei-me falando enquanto me aproximava dela também, louco para que aquela distância idiota, que impedia-me de tocar seus lindos lábios carnudos com os meus, terminasse.


– CALA A BOCA! - Rugiu, praticamente na minha cara, e deu um tapa na minha mão tirando-a de seu rosto e se sentando normalmente.


– Por que não cala? - Retruquei um pouco frustrado pela sua reação, mas nunca perdendo a pose.


– Você é mesmo um... - Mas o que eu sou realmente eu nunca cheguei a ficar sabendo. Antes de Nessie terminasse de falar, todas as luzes se acenderam e nós ficamos temporariamente mudos.




POV NESSIE



– Ah, que bom! Agora podemos ligar para alguém. - Falei levantando em um salto depois de ficar um pouco paralisada no mesmo lugar.


Eu não conseguia entender por que uma parte de mim não estava assim com muita vontade de ir embora, era a mesma parte idiota que QUASE me fez beijar aquele metido do Black a segundos atrás. Eu só tenho que agradecer por minha parte racional ter se posicionado a tempo antes dessa catástrofe acontecer.


– Vai ligar para quem? - Jacob perguntou e eu percebi que ela havia me seguido até a mesa da secretária.


– Minha mãe, eu acho... - Eu realmente não fazia idéia de para quem eu deveria ligar, mas minha mãe deveria estar surtando em casa pela minha demora.


Disquei o número de casa e coloquei o fone no ouvido. Não deu nem mesmo dois toques e ouvi a voz de minha mãe aflita do outro lado.


Alô?


– Mãe?


Ahhhh Nessie graças a Deus - Murmurou com alívio na voz antes de ficar furiosa - ONDE VOCÊ SE METEU?


– Calma mãe, é uma longa história. Eu fiquei trancada em uma sala aqui no colégio e faltou luz, então eu não consegui ligar antes.


Oh. – Minha mãe ficou em silêncio por um momento - E seu celular? Eu liguei uma vinte vezes para ele e ninguém atendeu.


Credo, aquele dois estavam mesmo ocupados!


– É, eu emprestei para um amigo e acabei não vendo ele de novo para pegar de volta.


Ah! – Reneé ficou quieta considerando tudo que eu falei. - Espera ai, você ainda está nessa sala trancada?


– Sim, poderia fazer o favor de me tirar daqui? - Perguntei tentando não gritar para ela vir logo e passar em algum lugar e comprar uma pizza para eu comê-la inteira.


Certo, darei um jeito filha. Em que sala do colégio você está trancada?


– Secretaria. - Respondi sentindo o alivio tomar conta de mim ao me dar conta que eu finalmente sairia dali.


Tudo bem, fique calma meu amor. Já, já estarei ai.


Ouvi o telefone ficar mudo e coloquei-o de volta no gancho. Virei-me para a outra porta da sala e vi Jacob encostado na parede ali próxima me analisando.


– Estamos salvos. - Falei abrindo-lhe um sorriso enorme.


Ele não falou nada, apenas continuou me olhando com certa admiração.


– Que? Quer uma foto? - Tentei ser sarcástica, mas aquele olhar estava me constrangendo.


– Não. - Jacob sorriu para mim. Perdi-me um pouco naqueles lábios antes dele continuar. - Ficou bonita!


– Como? - Perguntei incerta de quanto tempo da conversa eu parara de prestar atenção por causa daquele sorriso perfeito. Foco garota!


– Seu cabelo... Ficou bonita. - Jacob passou as mãos nos cabelos negros em sinal de nervosismo. Não, Nessie. Claro que não era nervosismo! Jacob Black não ficava inseguro quando estava mandando cantadas para as garotas.


– Sem cantadas baratas Black. - Resmunguei em tom de deboche, mas um pouco contente dele ter reparado em mim.


– Quem disse que eu estou te cantando Swan? - Sua voz estava carregada de desdém agora. Idiota! - Você é muito convencida sabia?


– E você é um metido. - Cruzei os braços o olhando com raiva.


Jacob abriu um sorriso maior ainda que o de antes me fazendo parar de respirar por um momento. Ele começou a se aproximar com passos lentos e eu fiquei estagnada no mesmo lugar com os olhos arregalados. O que ele ia fazer?


– Calma, garota. - Jacob falou parando ao meu lado e sorrindo com zombaria. - Não irei te agarrar ou algo do tipo. Vou apenas fazer uma ligação.


Bufei e fui para a outra sala pegar minha mochila e me preparar para finalmente sair daquele lugar com aquele garotinho insolente. Quando voltei para a salinha Jacob falava animadamente com alguém pelo telefone. Devia ser garota pela animação dele e eu não entendi porque alguma coisa em mim quis que eu fosse até lá e arrancasse o fone do seu ouvido.


– Não é sério, daqui a pouco eu estou em casa e eu te explico tudo o que aconteceu. - Ele ia dizendo.


– Qualquer coisa, Rach, desde que seja comestível eu tô feliz. 


Falei que era garota. E ele falando o apelido da menina só aumentou o meu desejo anterior


- Também te amo, tchau.


TE AMO? Jacob Black acabou de dizer te amo para uma menina? Uma raiva tomou conta de mim incontrolavelmente e eu me repreendi mentalmente por essa reação idiota. E daí se ele disse isso? Ele não tem nada a ver comigo para que essa reação minha tenha fundamento.


– Não acha que agora você iludiu a moça demais, não? - Perguntei sem pensar.


– Iludi quem? - Jacob perguntou sem se virar e recolocando o fone no gancho.


– A garota do telefone, Black - Falei o óbvio. - Dizer eu te amo é um pouco demais, não acha não?


Jacob se virou lentamente em minha direção. Sua expressão inicial era de quem não estava entendendo nada, mas, então, ele mudou seu semblante- e eu não gostei nem um pouco dessa mudança.


– Hum. - Ele começou a andar na minha direção e mais uma vez eu não me mexi, um pouco incerta se estava fazendo o certo. - Está com ciúmes senhorita Swan? - Ele estava com aquela expressão metida e insuportavelmente irritante.


– Vai sonhando, garoto! - Ri com desdém revirando os olhos enquanto recuava um pouco porque ele estava ficando cada vez mais próximo. Senti a parede fria atrás de mim ao recuar mais um passo e Jacob abriu aquele sorriso torto que eu tanto amava, se aproximando um pouco mais.


– Olha aqui Black. - Apontei o dedo para ele, e ignorando aquela parte irracional que me fazia ter pensamentos incoerentes e um tanto indecentes. - Se você der mais um passo eu juro que eu... – Perdi um pouco o raciocínio quando ele seu sorriso ficou maior, mostrando seus dentes brancos.


– Que eu? - Jacob levantou uma sobrancelha parando de andar, agora nós estávamos a dois passos de distância.


– Vou lhe dar um tapa nesse seu precioso rostinho. - Falei convicta e Jacob deu uma risadinha me fazendo sentir mais raiva ainda.


– É mesmo? - Ele perguntou dando mais um passo e agora ficando perigosamente perto.


Sem pensar duas vezes levantei minha mão direita em direção a seu rosto implicando toda a minha força naquele ato. Antes, porém, da minha mão tocar em seu rosto eu senti a mão esquerda de Jacob segurar meu pulso, provavelmente um segundo antes do meu tapa lhe atingir em cheio na bochecha.


Mais uma vez, agi sem pensar, e minha mão esquerda voou em direção a seu rosto. Ele era realmente rápido porque mais uma vez agarrou minha mão antes dela tocar em sua face, com sua mão direita. Agora ele segurava, com suas duas mãos, meus braços que estavam muito perto do seu rosto e eu inutilmente tentava desfazer aquele aperto incomodo.


– Além de ser mais forte sou mais rápido que você, Swan. - Falou baixinho e sorriu radiante para mim.


Tive que me controlar muito para não me deixar perder por sua beleza e pensar em um meio de sair daquela situação.


– Será que é tão forte assim? - Perguntei abrindo um sorriso ingênuo e lançando um olhar sugestivo para baixo de sua cintura.


Acho que Jacob sentiu o que eu pretendia fazer e que seu amiguinho estava possivelmente em perigo.


Sem dar tempo para eu mexer um músculo, Jacob deu mais um passo para frente colando seu corpo no meu e me prensando na parede atrás. Não largou minhas mãos; ele as segurou em cima da minha cabeça me deixando completamente imóvel.


Eu sentia sua respiração quente no meu rosto e me perdi completamente naquele olhar penetrante. Meu coração martelava descontroladamente no peito me dando a impressão de que pularia para fora a qualquer segundo.


– Não ouse... - Comecei a falar mas Jacob me interrompeu selando nossos lábios me deixando completamente vulnerável.


Ao sentir seus lábios quentes e macios nos meus, aquela parte minha que dizia para tirá-lo de perto de mim, foi totalmente bloqueada pela minha parte irracional.


Eu parei de debater minhas mãos e retribui seu beijo, movimentando minha boca na sua. Senti Jacob sorrir contra meus lábios diante minha reação inesperada. Ele pareceu achar seguro largar minhas mãos e as soltou, levantado as suas a minha cintura e me prensando contra a parede com mais força que antes. Abaixei meus braços e os envolvi em seu pescoço, puxando-o para mais perto de mim.


Eu não conseguia me entender: o que eu estava fazendo? Eu estava BEIJANDO aquele canalha? Estava me entregando a ele de bom grado, e pior, gostando disso? Deve ser a falta de comida no organismo, faz a gente delirar!


Senti sua língua quente pedir passagem entre meus lábios e eu cedi instantemente. Quando sua língua invadiu minha boca, eu senti um arrepio por todo o corpo e meu coração chegava a doer tamanha era a força que batia no meu peito.


Suas mãos passeavam nas minhas costas e meus dedos se prenderam em seus cabelos com desejo nítido. Eu estava completamente mole e sem reação. Se não fosse suas mãos me segurando com força eu já teria perdido o equilibro há muito tempo. Sua língua passeava pela minha boca me proporcionando sensações desconhecidas. Aquele era o melhor beijo do mundo!


No meio de tudo aquilo eu consegui ouvir o barulho da chave sendo girada na porta e Jacob pareceu se dar conta disso também, fazendo com que nós nos separássemos bruscamente ofegando como loucos enquanto várias pessoas adentravam na sala pela porta da frente.




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