Something like love 2.0 escrita por Boca de Netuno


Capítulo 3
capítulo dois.




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   Nunca uma quinta-feira passou tão rápido por mim quanto aquela. Sorrindo, respirava o ar quente de um dia de outubro, rumando para a biblioteca do colégio. Agradeci internamente pelo fim do burburinho quando passei pelas portas do prédio, saboreando o silêncio. Parecia que as pessoas ficavam mais barulhentas conforme o verão chegava.

 

   “Lill, tem certeza de que vai ficar por aí?” Katie me perguntou novamente, ajeitando a mochila em seu ombro, um pé para fora da biblioteca. Ashley a esperava alguns passos para trás.

 

   “Sim, sim, pode deixar.” eu sorri “Quero ver se eu acho esse um livro.” continuei, a puxando para um rápido abraço antes de elas partirem.

 

   Subi as escadas dois degraus de cada vez, deixando a mochila no balcão, como as regras do lugar pediam. Estava praticamente vazio, assim como todas as vezes que eu aparecia lá. Eram poucos os estudantes que tinham interesse em passar mais tempo no colégio do que eram obrigados. Andei com confiança, virando na terceira estante, já sabendo o que pretendia pegar emprestado. Meus olhos varreram as sessões, nem dando atenção às pessoas que passavam por trás de mim. Não achando o título certo, deixei meus dedos percorrerem a estante, murmurando os nomes dos livros.

 

   “Qual você está procurando?” uma voz desconhecida soou ao meu lado.

 

   “…Estou tentando achar o livro ‘X’… Mas não acho em lugar algum.” falei distraidamente.

 

   A voz serena calou-se por um momento, ponderando. “Ah! Sim. Você não vai achar.” Abandonando minha procura, me virei para fitar a pessoa que estava me ajudando. Um calafrio subiu minha espinha, e eu por pouco não perdi o chão. Juro que não esperava que fosse Patrick. Quase me repreendi por não ter reconhecido sua voz, mas eu sinceramente não lembrava da última vez que trocamos palavras. “Uma garota tirou esse livro hoje pela manhã. Rose alguma coisa.” disse, colocando os livros que estava segurando na estante. Ele parecia… Diferente. Mais desinibido, para dizer o mínimo. Usava um boné mostrando seu (talvez irônico) amor por bingo. Me fitou novamente antes de perguntar “Lillian Greylock, certo?”

 

   “Hah, sim.” Sorri grande, incapaz de me conter. “Que pena. Se a Katie tivesse vindo comigo na hora do intervalo, eu teria conseguido pegar a tempo. E com certeza a Rose não vai devolver em menos de uma semana.” lamentei, mais para mim mesma do que para ele. “Mas obrigada, Patrick.” disse, perfeitamente ciente de que estava ruborizando. Precisava urgentemente aprender a manter minha temperatura corporal perto desse garoto.

 

   “Hmm” ele começou, antes que eu tivesse chance de me virar para longe. “Se você quiser o livro, eu posso lhe emprestar a minha cópia.” proferiu, olhando para a estante de livros. “Posso trazer para você amanhã.” ele me encarou e sorriu.

 

   Não conseguia achar minha voz por um momento. “Sério?” eu definitivamente estava carmim nesse ponto. “Estou querendo ler esse livro faz tempo, mas acabo nunca o achando quando tenho tempo livre. Seria incrível se você pudesse me emprestar, obrigada mesmo!” exclamei, talvez rápido demais. Ele expandiu o sorriso, ainda tímido. Quando notei que ele não diria mais nada, voltei a falar, a voz meio tremida “A-aah, então, te vejo amanhã.” Dei alguns passos para trás, parando antes de me virar. Ele ainda me fitava, esperando. “Sabe, estava começando a achar que você não falava.” eu falei, sentindo meu coração quase na boca.

 

   Patrick riu, abaixando a cabeça um pouco. “Aqui é meio que meu habitat… Um lugar mais isolado deles,” disse, acenando em direção às salas de aula “então eu tendo a me soltar um pouco.” parecia nervoso. “Sou voluntário para cuidar da organização dos livros.” explicou, uma vez que percebera que ainda não o tinha feito.

 

   “Nem sabia que podia se voluntariar no colégio.” falei num claro tom de surpresa.

 

   “Bem, tem muita coisa que a gente descobre lendo os murais quando não se tem com quem conversar.” eu ri baixinho. Ele fixou seu olhar no meu por alguns segundos, para depois dizer “Então, tenho que voltar ao serviço.” e olhou por cima do ombro para uma mesa empilhada com vários livros de capas e tamanhos diversos.

 

   “É, eu… tenho que ir.” apontei para trás. “Hm, até amanhã.” disse, não sabendo como encerrar a conversa propriamente.

 

   “Até amanhã.” ele acenou brevemente. Virei-me e fui embora, mordendo o lábio, contendo-me para não gritar. Peguei minha mochila e jogando-a nas costas, desci silenciosamente as escadas, sorrindo tanto que não sabia se meu rosto agüentaria. Tinha que me lembrar de agradecer imensamente a Katie por ter me abandonado na saída.

 

   Passando pelas catracas, olhei pelo estacionamento vazio. Mamãe demorou para chegar, então fiquei sentada no chão, encostada num poste próximo, observando as pessoas passar. De longe enxerguei Seth vindo em minha direção. Seth era a única pessoa a continuar sendo meu amigo depois que mudamos de escola. Talvez porque ele mudou comigo, e porque estudamos na mesma sala há anos, mas eu agradecia por ter ele como uma constante na minha vida. Sem querer ser melosa nem nada, mas ele era meu melhor amigo, e me entendia como ninguém. Ele se sentou ao meu lado, batendo no meu tênis vermelho repetidamente. Eu sorri. “Onde você estava que ainda não foi embora?” indaguei.

 

   Ele deu de ombros, concentrado no ritmo que tecia na borracha do bico do sapato. “Na biblioteca.” Congelei, e tentei não dar bandeira. Talvez Seth não tivesse visto nada, talvez ele nem tivesse notado que eu também estava lá. Talvez ele tivesse visto, mas não comentaria sobre nada. Ele me olhou de relance, sem demonstrar muita emoção. “Desde quando você conversa com o Stump?” Droga.

 

   Eu ri, mantendo minha calma. “Hmmm, se ele vier falar comigo amanhã, desde hoje.” balancei a cabeça, sarcástica, mas sabendo que as perguntas viriam. Sempre tivemos essa ligação, os dois excluídos, e eu nunca menti para ele. Não que eu conseguiria mentir para o Seth, o desgraçado tinha esse sexto sentido que detectava minhas mentiras a uma milha de distância.

 

   “E… você quer?… que ele venha falar com você?” perguntou como quem não quer nada, sem nem me olhar. O encarei, sem realmente querer começar aquele assunto bem ali. Fui salva pela buzina do carro da minha mãe, soando momentos antes do bombardeio que Seth planejava lançar em mim.

 

   “Má sorte, Seth, Tiff chegou.” me levantei, puxando a mochila comigo. Como o esperado, ele se levantou junto.

 

   "Posso sempre pegar uma carona com você e continuar essa conversa na presença da Tiffany.” ele sorriu, malicioso, e eu realmente esperava que estivesse brincando. A última coisa que minha mãe precisava era ter mais munição para me envergonhar, e talvez deixar escapar certos fatos para pessoas demais.

 

   Assim que eu entrei no carro, mamãe baixou meu vidro e se apoiou em mim. “Oi, Seth” ela sorriu “precisa de uma carona, querido?”

 

   “Não precisa, não, tia.” ele retribuiu o sorriso “Hoje é o Ed quem vem me buscar, ele já deve estar chegando. Pode deixar.”

 

   “Okay, então. Diga à sua mãe que mandei um beijo.”

 

   Seth assentiu, acenando. “Tchau, Lill.”

 

   Eu havia escapado do interrogatório. Mas conhecendo o Seth, seria apenas uma questão de tempo. Talvez fosse a hora certa de lhe contar sobre essa paixonite que eu alimentava há alguns anos. Decidi que abriria o jogo da próxima vez que ele me perguntasse.


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Notas finais do capítulo

eu tirei o nome do livro, mais pelo fato de que a obra é irrelevante para a história, e o que eu precisava era da fisicalidade (talvez eu esteja traduzindo erroneamente essa palavra do inglês) de um livro. então a partir de agora o título do livro é 'X'



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