Um Cupido Nem Tão Perfeito escrita por Vivs


Capítulo 19
Capítulo 19


Notas iniciais do capítulo

Oii pessoas! Desculpem a demora, andei trabalhando em outro projeto, ai ficou complicado continuar escrevendo esse aqui. Mas anyyway, voltei!
Esse capítulo vai ser um pouquinho diferente dos outros, então qualquer duvida é só deixar nos comentários, pode ter ficado um pouco confuso.

Esse aqui é para ler ouvindo Back to Black da Amy Winehouse (♥) ou Buy the Stars, da Marina and the Diamonds, vcs decidem!
Chega de enrolação,
Boa leitura! ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/663788/chapter/19

*Ivye

 

As memórias de Ivye.

Quando abri os olhos, vi um céu estrelado. Um céu que me era tão familiar, tão intimo que eu arquejei, emocionada.

Tentei me levantar, mas eu não tinha corpo. Olhei ao meu redor para as enormes casas e mansões antigas que eu conhecia tão bem. Era como se tudo ao meu redor fosse parte de um filme e eu uma expectadora que havia entrado dentro do universo daquela história. Minha função ali era simplesmente observar.

As memórias me atingiam em cheio, uma após a outra. Me dei conta de que estava em Veneza, a cidade em que eu vivi há muito tempo atrás. Houve um movimento e as portas da enorme mansão a minha frente se abriram, as portas da minha casa. E então eu sai pelas portas, em um enorme vestido negro, meus cabelos vermelhos muito mais longos do que são agora, lágrimas escorrendo por meus olhos. Me observei levantar a saia do enorme vestido e correr pela rua.

Finalmente, entendi o que estava acontecendo: Cupido estava me forçando a reviver minhas memórias. Me forçando a reviver toda um vida que eu deveria ter esquecido. Eu não estava ali de verdade, estava apenas mergulhada em minha própria memória, assistindo tudo o que me havia acontecido quando ainda era humana, antes de me tornar cupido.

Minha visão onipotente acompanhou a antiga eu que corria rua abaixo. Ela corria sem saber para onde estava indo. Percorreu os canais da cidade que já estava adormecida, caminhou pelas calçadas de pedra, entrou nos becos escuros.

“Ele não me entende”, a antiga Ivye pensava. “Ele não aceita. Eu não vou me casar com um estranho qualquer somente para que meu pai possa aumentar o poder e as propriedades de nossa família. Ao inferno com os DiTrovon!”

E observei meu eu passado correr cada vez mais, penetrando ainda mais nos becos escuros, as lágrimas escorrendo cada vez mais por seu rosto.

“Por que meu pai tinha de ser tão cruel?” ela pensava. “Por que ele não a deixava livre para seguir seu coração, encontrar seu verdadeiro amor? Ela sabia que sua alma gêmea estava em algum lugar por ai, esperando por ela. Mas ela nunca iria o encontrar se casasse com o homem errado! E Ricardo Esperanza, um velho soberbo e cruel era definitivamente a pessoa errada.”

Então ela parou, sem fôlego, cansada de correr e de lutar. Ela se apoiou nas paredes frias e cheias de hera verde do beco para recuperar o fôlego. O vestido era pesado, e o seu espartilho apertado demais. Por mais que puxasse o ar, seu peito ardia dolorosamente e ela parecia não conseguir absorver nada.

Então, antes que ela pudesse ver algo, ou perceber qualquer movimento, ela sentiu uma lamina gelada ser pressionada contra seu pescoço. Duas mãos agarraram fortemente seus braços, forçando-os contra suas próprias costas. Ela arquejou, assustada e sem fôlego.

—Quem é você, o que quer? –ela disse, com a voz quebradiça e fraca.

—Me dê suas joias. –a voz de seu predador disse, muito baixo. Ele soltou suas mãos e observei o meu eu do passado retirar o lindo colar de diamantes de seu pescoço, assim como os brincos de perola.

O tal assaltante agarrou as joias e quando ele se aproximou da luz, seu rosto ficou visível.

Era Dan.

Seus cabelos estavam mais longos naquela época, seus olhos mais ferozes. Era muito diferente do garoto que eu conhecia, que era meu melhor amigo. Ele era... selvagem.

Então Cupido não estava mentindo.

O meu eu do passado arquejava muito, lutando cada vez mais para puxar o ar, e eu me observei fraquejar e cair no chão, sem conseguir respirar.

O Dan do passado correu até o fim do beco, prestes a escapar, mas então eu soltei um arquejo terrível em minha tentativa fracassada de puxar o ar para meus pulmões, e ele não conseguiu. Não conseguiu simplesmente fugir e me deixar ali. Ele voltou e se ajoelhou ao meu lado, com sua faca em mãos. Ele cortou os laços de meu vestido negro e abriu sua frente, encontrando meu espartilho rosado por baixo. Ele cravou sua faca no espartilho e o rasgou até que eu estivesse livre dele.

Observei aquela Ivye respirar fundo, como se houvesse saído da água, tossir um pouco, tentando recuperar o fôlego. O Daniel feroz se deixou ficar no chão, encostando suas costas na parede cheia de hera do beco, tentando recuperar o fôlego como se ele próprio também tivesse acabado de quase desmaiar.

—Nunca entendi o porquê de vocês, da nobreza, fazerem esta crueldade consigo mesmos. Tais espartilhos são mortais. –ele disse, com uma voz profunda.

E a Ivye do passado, por incrível e mais absurdo que pareça, riu. Ela riu do comentário do homem que há apenas alguns instantes atrás estava disposto a mata-la.

Eu era maluca.

—Acredite em minhas palavras: Nós não tomamos nenhum prazer com isso. –ela disse, ainda tentando recuperar o fôlego. O Dan do passado riu e a Ivye do passado o acompanhou.

Ele a olhou, nos olhos, e pareceu maravilhado. Como um homem que passa muito tempo no deserto e finalmente vê água. Como se depois de muito tempo, finalmente conseguisse ver a luz.

Ele ergueu os dedos muito trêmulos com as joias e os estendeu até a outra Ivye.

—Tome. Parece-me ser o mínimo que posso fazer depois de tudo isso. –ele disse cautelosamente, como se ele mesmo não conseguisse acreditar no que estava fazendo.

A Ivye do passado ergue sua mão, também tremula e agarrou seu pertences. Suas mãos se encontraram e logo em seguida seus olhares. De alguma forma, eu consigo saber o que o meu antigo eu está sentindo. Ela sente seu coração acelerar e seu peito se encher de um calor que aquece, mas que ao mesmo tempo a preenchia de medo.

—Obrigado. –ela diz, recolhendo sua mão. Ela se livra do resto do vestido negro, absurdamente grande, restando apenas sua camisola por baixo. Ao se desvencilhar do vestido ela se sente desvencilhar das garras do pai autoritário, da família que não a amava, e do futuro noivo que temia. Ela se ergueu, frente a frente com o Dan do passado e perguntou:

—Por que fazes isto? Por que tomas das pessoas o que pertence a elas?

É, eu definitivamente era maluca.

O Dan do passado toma fôlego e parece pensar. Um sorrisinho surge e ele responde:

—Porque sou um criminoso. Um fugitivo. Tenho um coração repleto de magoas e mãos ágeis e fortes. Sou simplesmente uma pessoa ruim. –ele conclui, num sussurro envergonhado, sua voz cheia de arrependimento, mágoa e talvez, apenas talvez, medo.

A Ivye do passado se aproxima e posiciona uma mão tremula e gentil em uma das bochechas de Dan, erguendo seu olhar até ela.

—Só se quiseres. –ela sussurra. –Pode mudar.

—Por que mudar agora? Agora que cheguei tão longe? –ele pergunta, com um olhar hipnotizado.

—Porque há sempre a esperança de que algo melhor o aguarda no futuro. Uma felicidade, uma amizade, e talvez que sabe um amor. –a antiga Ivye sussurrou em resposta e se aproximou lentamente daquele Dan feroz que eu mal conseguia reconhecer.

Ela pressionou seus lábios gentilmente contra os dele, que surpreso demais, não teve nenhuma reação. Então minha maluca eu do passado se vira e vai embora, deixando o Dan do passado parado ali, com um vestido negro jogado no chão e um espartilho rasgado.

A memória então avança, e os dias se passam diante dos meus olhos. Eu vejo o Dan do passado procurar a Ivye do passado na noite seguinte. A vejo escapando, noite após noite pela saída de criados da mansão para se encontrar com seu amor criminoso. E vejo uma empregada espiar os dois por detrás de uma arvore robusta. A vejo contando para o pai da Ivye do passado e ela a trancando em seu quarto.

A memória para de avançar nesse ponto, com aquela Ivye chorando em sua cama, por não poder estar junto ao seu amado. Do lado de fora da mansão, Daniel está escondido, lamentando também a falta da amada que foi capaz de afastar toda a escuridão que havia em seu coração e preenche-lo com esperança, sonhos, e amor.

No outro dia, o pai severo do meu eu passado convida o homem com quem eu deveria noivar para um jantar. Minhas criadas me vestem em meu melhor vestido, mas nem a beleza dele consegue esconder a tristeza de meu rosto.

Na hora do jantar, quando Ricardo, o velho que meu pai havia planejado me oferecer apareceu, aproveitei o momento de distração de todos em sua chegada e fugi.

Vejo a Ivye do passado sair as pressas de casa, correndo até que uma mão a força a se virar para trás. É o antigo Daniel, seu olhar feroz agora preenchido por outro sentimento bem diferente: amor.

Ele a beija, como se seus lábios fossem ar e ele não conseguisse respirar. O Dan do passado a beija de um jeito que o Dan do presente nunca havia beijado Kate.

A memória avança mais uma vez, e agora eu vejo apenas flashes do que aconteceu. Vejo os dois fugindo juntos para uma pequena capela, os dois roubando um lindo vestido de noiva, contando uma ou duas mentiras para o padre e logo em seguida se casando.

Após os dois terem dito “Aceito”, o rosto de meu eu do passado se abriu na expressão de felicidade mais sincera que eu já vi. Assim como o de Dan.

Os dois voltam escondidos para a mansão, onde entram escondidos no quarto da antiga Ivye. Aquele Dan larga a faca que ainda carregava consigo por costume no canto do quarto e toma aquela Ivye em seus braços. E justo quando eles pensam que está tudo certo, que agora podem viver felizes ao lado um do outro e ninguém tem como impedir isso, justo quando seus lábios estão prestes a se tocarem a porta do quarto se abre.

Ricardo entra no quarto, com uma garrafa de vinho na mão, cambaleando, claramente bêbado, os olhos cheios de fúria. Ele agarra a faca que Dan havia largado e cambaleia até a Ivye do passado gritando:

—Se não serás minha... não serás de mais ninguém!

Ele empurra Daniel com força e apunhala meu eu do passado. Uma, duas, três vezes. E mais uma vez. E mais uma vez.

Eu sinto a dor que ela sente, facada por facada. A sinto lutando por sua vida, apenas para a sentir se esvair de si ainda mais. E cruelmente, sem nenhuma chance de salvação, sem mais nenhuma esperança ela para de lutar. Deita a cabeça no chão e olha uma última vez para Daniel, uma última vez para seu amado. Uma única lágrima escorre por sua bochecha e acabou.

Ela morre.

Eu morro.

O Dan do passado, abalado demais para fazer qualquer coisa, cai de joelhos diante de meu corpo apenas para sentir a faca de Ricardo cortar sua garganta, seu sangue esguichando por cima de meu corpo caído no chão.

E então está acabado.

Eu abro os olhos mais uma vez, agora para valer. Estou deitada no chão do escritório de Cupido, livre daquela lembrança cruel.

—Gostou do seu passeio? –eu ouço a voz fria de Cupido dizer. Me levanto e olho para seu rosto cínico, com o sorriso implicante. –Isso foi só para lembra-la, que não importa quão fraco eu esteja, continuo mais forte que você. –ele conclui e eu sinto toda a raiva, toda a fúria, do meu eu passado e do meu eu presente se acumular meu peito e antes que eu perceba o que estou fazendo corro até Cupido, batendo loucamente em cada pedaço de seu corpo que eu consiga atingir, gritando debilmente, sentindo o fluxo de lágrimas escorrer pelo meu rosto.

Quando termino, Cupido está no chão e eu estou com as mãos em seu pescoço e para meu horror, ele ri. Uma gargalhada fria e enorme que faz todos os moveis de escritório e mim mesma tremerem. Ele não está nem um pouco machucado e de alguma maneira eu sei que não posso feri-lo, não importa quão forte eu bata.

Então digo as únicas palavras que sei que podem machuca-lo de alguma maneira:

—Eu nunca... Nunca vou separar Dan e Kate. Não me importa o que você faz com Lucy, com Luke, comigo, eu não vou erguer um dedo enquanto assisto você tentar, de todas as maneiras por um ponto final neles, sem nunca conseguir. –eu digo, embriagada por minha raiva, meu ódio por Cupido ter me obrigado a reviver as memórias mais dolorosas de um passado que deveria ter permanecido esquecido.

Seus olhar encontra o meu, e vejo estampado nele o mais puro ódio. É tão intimidador que concentro todas as minhas forças em ir para outro lugar, qualquer lugar, bem longe de Cupido. E quando sinto que meus pensamentos e minha energia estão prontos para me levar, sinto a mão de Cupido como uma garra apertar meu braço. Se aproximando, ele diz, muito baixo, muito ameaçador, como um rosnado:

—Você não vai ir a lugar nenhum por um bom tempo, Ivye.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Oii de novo! Então, afinal não foi o Dan que matou a Ivye, mas sim, eles tiveram um passado complicado. Tem uma pegada meio Romeu e Julieta nisso tudo né, ahuahsuahuahsuah, pode ser por influência do meu novo projeto, mas enfim. O que acharam? Ficou muito confuso? Altera os shipps de vcs? O que acham que o Cupido vai fazer com a Ivye? COMENTEM, COMENTEM, COMENTEM!!!!

Muuito obrigado por ler até aqui!
Até o próximo :3
Xoxo