Black night town escrita por Xokiihs


Capítulo 1
Black Night Town


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Bem, essa fic faz parte do desafio das songs, do grupo mais foda de todos. A música foi proposta pela linda da Milla, que escreve Kaze (leiam!), e, bem, achei que fosse ser fácil escrever com essa música, mas acabou se tornando bem difícil. A inspiração me deixou, o tempo correu, e, no fim, não consegui escrever metade do que eu gostaria. Enfim, espero que gostem.
Música: Black Night Town - Akihisa Kondo



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Gozen renji akari kieta machi

É meia noite numa cidade sem luzes

Koyoi wa odore tipsy night

Hoje dançamos na noite embriagada

Se você pudesse escolher qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, como presente de natal, o que escolheria?

Durante anos fui conhecido como o Papai Noel, apesar de não ter sexo definido - pelo menos não da forma como os humanos veem o gênero. As crianças eram ensinadas, desde quando tinham capacidade de falar, a acreditar em mim; que eu era um bom velhinho, vestido de vermelho e com uma barba enorme e branca como a neve; que eu realizaria seus desejos, caso fossem bons durante todo o ano. Bem, tudo isso é mentira. Eu não sou um velhinho, na verdade, nem posso envelhecer. Não tenho corpo, não tenho alma. Sou apenas um espirito vigilante, que tem como incumbência vigiar os seres humanos - não só no natal, como sempre.

É um trabalho chato e cansativo, já que seres humanos não facilitam nem um pouco para mim. O tempo todo, a cada milésimo de segundo, alguém precisa ser vigiado. Durante milhares de anos, desde que fui criada, observei e observei, me metendo apenas quando necessário, já que não podemos interferir. E durante todos esses anos, poucas coisas que estes benditos seres, para não dizer ao contrário, fizeram eram boas. Percebendo o quão difíceis de acontecer eram, resolvi anotar tudo o que via de bom em minha mente.

Tsuki akari mo todo kame basho ni wa

Num sítio onde não se vê o luar

Kodoku sa remo utau machi ga aru

Há uma cidade que manifesta tristeza

Kurui so mona furue somo na itami dake ga

Uma louca e trêmula dor

Koware so mona na kushi so mona honseki ta

Uma joia perdida e quase partida

Um olhar, algumas palavras, uma ação. Virei uma colecionadora de boas ações. Depois de um tempo, resolvi recompensá-las. Por isso a fama de “Papai Noel”. Comecei a olhar dentro das almas de algumas pessoas, e ver o que elas realmente desejavam, mas que não tinham, e, com um toque de mágica, realizava-as.

Era bom ver a felicidade estampada nesses rostos, que muitas vezes estavam desgastados, envelhecidos pela falta de amor - um sentimento extremamente necessário para a sobrevivência dessa espécie- mas que, ainda assim, faziam algo bom. Em uma dessas observações minhas, encontrei uma pessoa que necessitava de meus cuidados.

Kurabe rareru koto nado ubawareru koto nado nai

Que não se pode roubar nem sequer comparar

Kimi wa kimi de I-sa awaratte misete

Não há problema em ser você mesmo, abra-me um sorriso

Seu nome era Sasuke, Sasuke Uchiha. Era um homem completo, jovem para mim, mas velho para os humanos. Tinha trinta e cinco anos, tinha perdido sua família inteira em uma guerra civil, e, sozinho e com medo, resolveu sair de seu país e se refugiou em outro. Apesar de sair de uma área em guerra, onde minha querida amiga morte espreitava a todo o momento, Sasuke ainda não encontrara sua paz. Pesadelos do que acontecera consigo, com sua família, o assombravam todos os dias, ao ponto de não deixa-lo dormir. Por isso, recorreu a remédios fortes, que o deixavam entorpecido, e apagavam os sonhos e sentimentos ruins. No entanto, assim que acordava, tudo começava novamente. Era um ciclo vicioso que, lentamente, o corroía e o matava. Apesar disso, Sasuke não desistia.

E isso, para mim, foi algo realmente impressionante. Entenda que esses seres que se acham autossuficientes, os donos da verdade, tem uma facilidade enorme de morrer. Uma vez, conversando com a morte, descobri que eles eram seus favoritos, mas que lhe davam muito trabalho. Sendo assim, esperei que Sasuke fosse desistir na primeira chance que tivesse, mas ele nunca o fez. Na verdade, a cada pesadelo que tinha, sua vontade de viver aumentava ainda mais. Nunca entendi o motivo, mas acredito que seja por ter vivido em meio a morte toda a sua vida; desistir, para ele, não era uma opção.

Nani mo kangaezu tomo soto ni riyu ga na kutomo

Sem razões ou necessidade de pensar

Sore koso ga subarashi hajimari

Isso é um grande começo

Sa ah, yoakeda

Olhe, está a amanhecer

Contudo, Sasuke sobrevivia de forma sôfrega e triste. Sua vida era solitária, vazia. Trabalhava como entregador de pizzas, o único trabalho que conseguira com sua “deformidade” - ele tinha perdido um dos braços em uma explosão, em seu país, quando era apenas um adolescente; vivia em um apartamento pequeno, em uma área pobre da cidade onde morava, Londres. Ali, naquele prédio, já tinha observado muitas pessoas parecidas com Sasuke. No entanto, todas estavam desistindo, portanto não me interessaram.

Passei anos o vigiando, pensando no que poderia fazer para aliviar o seu coração pesado. Contudo, Sasuke não demonstrava desejar nada. Ele era como uma página em branco, amassada e rasgada, mas, ainda assim, em branco. E, para mim, aquilo era frustrante.

Um dia, no entanto, tudo mudou. Com todo o meu foco virado para Sasuke, não tinha percebido a pessoa que acabara de chegar ao prédio, como nova moradora. Só fui percebe-la no dia em que Sasuke a ajudara.

Era um domingo, frio e chuvoso, como sempre era em Londres. Sasuke estava dormindo no sofá de sua sala, depois de assistir a um filme que, segundo ele, era muito ruim. O relógio da cozinha marcava três horas, um horário em que, geralmente, os humanos dormiam. Mas esse não era o caso da vizinha de porta de Sasuke.

Uma gritaria o acordou de supetão, e, sendo assustado como era, correu para ver o que era. Seu coração desacelerou quando viu que era apenas uma briga de casal. Já ia voltar a dormir, ou pelo menos tentar, quando viu o homem levantar a mão em direção ao rosto da mulher, que gritava ainda mais com ele. Sem pensar duas vezes, sendo bom como ele era, saiu do apartamento, pronto para ajudá-la.

Naquele dia, Sasuke conheceu Sakura, a prostituta da porta ao lado. Era uma mulher jovem, com seus vinte e cinco anos, mas era bem vivida. Tinha cabelos rosados, o que para os humanos era considerado “estranho”, e um rosto comum, apesar dos olhos verdes. Ela usava aquilo que os humanos chamavam de maquiagem, o que para mim era horrível. Ela era vulgar, usava roupas vulgares e falava de maneira vulgar. Ainda assim, apesar de tudo isso, Sasuke se apaixonou por ela.

Curiosa como eu era, e tendo um grande carinho por Sasuke, resolvi observar a mulher, também. Descobri que era órfã, e que vivera num orfanato até completar seus dezoito anos. Sem lugar para ir, ou onde viver, teve que se entregar a vida na rua. Tornou-se prostituta, a única forma que encontrara para sobreviver. Por anos, teve mais parceiros do que podia contar, e tivera mais doenças do que gostaria. Apesar disso, dentro de si, ela tinha a chama do que os humanos chamam de esperança.

Ela, assim como Sasuke, lutava com todas as forças para sobreviver naquele mundo enorme e cruel, onde nenhum dos dois significava alguma coisa. Eram dois coitados, sem perspectiva de vida, mas que ainda se agarravam ao fio de vida que tinham.

Entendi, então, o porquê de Sasuke ter se apaixonado por ela. Ele viu nos olhos verdes dela, o mesmo brilho que via no seu todos os dias, ao olhar-se no espelho. Ele viu nela a força de vontade que ele mesmo tinha, e, por isso, quis abraça-la e conforta-la.

Aquele, então, tornou-se o desejo de Sasuke. O meu amigo, o qual nunca me conheceu, começou a pensar em Sakura cada vez mais. Ficava acordado até de manhã, na esperança que pudesse falar com ela, ou vê-la. Muitas vezes, conseguia. Outras, ela não voltava até tarde. Quando se viam, trocavam poucas palavras, mas, para ele, significavam muita coisa. Era um novo sopro de vida.

Resolvi, então, dar-lhe aquele presente, que há muito tempo prometi.

Era noite de natal, e Sasuke estava sozinho em casa, como sempre. Já Sakura estava na rua, trabalhando. Estava frio, flocos de neve caiam do céu, e a promessa de uma nevasca era ouvida nos noticiários. Sasuke se preocupou com ela, e resolveu procura-la. Colocou o casaco surrado que tinha, e saiu em meio a neve, sem se importar com o vento cortante, nem os lábios trêmulos.

Quando a encontrou, viu-a sentada numa calçada, com um cigarro entre os dedos nus, e os olhos vidrados no céu escuro. Ela vestia um vestido preto, apertado, um sobretudo e saltos altos. Seus cabelos, longos e lisos, caiam por sobre sua face, assim como a neve caia sobre sua cabeça. Ele a achou linda, mesmo que estivesse roxa de frio.

- Sakura? - chamou-a, hesitante. A moça, como se tivesse acordado de um sonho, olhou-o com olhos arregalados. Assim que o reconheceu, suspirou aliviada.

- Que susto, Sasuke. Achei que fosse Jiraiya, aquele velho maldito. - ela respondeu, sorrindo logo após. - O que faz aqui?

- Bem...- ele começou, coçando a cabeça, sem saber o que dizer. Resolveu que dizer a verdade era a melhor coisa a se fazer. - Vim comprar chá, e acabei te encontrando. - Mas não o fez.

Ela ficou desapontada por alguns segundos, mas logo retomou a alegria de sempre.

- Quer companhia? Acho que hoje ninguém mais vem... meus clientes estão com as famílias, provavelmente. - levantou-se com dificuldade, sentindo as pernas nuas tremerem com o frio. O salto da sandália afundou na neve, e quase a levou ao chão. Mas Sasuke foi mais rápido e a ajudou.

- Bom, acho que é melhor voltarmos para casa. Ouvi no noticiário que cairá uma nevasca daquelas. - ele disse, lembrando que nem mesmo dinheiro tinha levado. Sakura sorriu e assentiu.

- Claro.

Juntos, foram caminhando até o prédio onde viviam. A neve caia com mais força, o vento mais gélido, mas nenhum dos dois se importava muito.

- Então, o que fará hoje, nessa deliciosa noite de natal? - ela perguntou, depois de abraça-lo pelo braço, numa forma de se esquentar. Mas ele estava tão gelado quanto ela.

- Nada. - ele deu de ombros. - Nunca comemorei o natal, sabe... não era costume da minha família.

- Entendo. O que vocês comemoraram?

- Nada.

- Hm...que pena. Quer dizer, eu não sou religiosa nem nada, mas eu sempre gostei do natal.

- Por que?

- Bem, no natal, lá no orfanato, nós recebíamos doações de presentes, roupas, brinquedos... também recebíamos comida, então era um dia bom. Todos nós esperávamos por esse dia ansiosamente, sem nos ater ao significado dele. Para nós, era apenas o dia comer bem e receber presentes.

Chegaram até o prédio, e, juntos, subiram.

- E hoje em dia? O que você faz? - Sasuke queria continuar a conversa, com medo de que eles se separassem.

- Eu dou presentes e comida para as crianças do orfanato. Depois, vou trabalhar, como sempre. - ela sorriu, como se não fosse nada demais. - Geralmente, eu tenho um ou dois clientes. Mas hoje ninguém veio. Deve ser por causa da nevasca.

Assim que chegaram ao andar de seus respectivos apartamentos, ficaram se encarando. Sasuke, sem saber o que dizer, e Sakura sorrindo.

- Bem, acho que vou para casa tomar um banho e acender a lareira. - Sakura disse, saindo do abraço dele. Sasuke ficou desapontado, mas deixou-a ir. - Sabe, já que vai ficar sozinho e eu também, gostaria de vir a minha casa? Podemos abrir um vinho, comer alguma coisa...

Sasuke, surpreso, mal pode falar. Não esperava por aquilo, já que, depois de meses que se conheceram, ela nunca o tinha chamado para sua casa. Sakura, percebendo que ele estava sério, achou que ele não fosse aceitar ficar com uma prostituta, e perdeu o ânimo. Já ia desfazer o pedido, antes que fosse rejeitada, quando ele respondeu.

- Tudo bem. Tenho batatas fritas na minha casa.

E assim, os dois, finalmente, puderam se juntar. Sasuke foi correndo até sua casa, enxugar os cabelos, e passar desodorante, enquanto Sakura fora tomar banho, e organizar um pouco sua casa. Era engraçado vê-los, dois desesperados por amor, com medo de perder a chance de ficar com alguém naquela noite fria e escura.

Naquele dia, concebi o desejo de Sasuke, que era ficar com Sakura, e, consequentemente, concebi o dela, que era não ficar sozinha. No fim das contas, os dois ficaram felizes. Riram juntos, compartilharam suas histórias e fizeram amor.

Gozen renji akari kieta machi

É meia noite numa cidade sem luzes

Furikaereba sasou black night town

Se olhar pra trás será convidado pela escura noite da cidade


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!
Link da música: https://www.youtube.com/watch?v=7_AuZ79QAx4



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