Taciturn escrita por Hitsatuke


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Essa one é para o desafio de songs do gp mais legal do Whats!!!
Uhul!!
Sem mais delongas, quero agradecer à criatura super legal que me deu essa música incrível! Taciturn, do Stone Sour. Ouçam e viciem!
Obg, Agatha Kastell e Boa leitura, minna!



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Todo o palácio estava em polvorosa. Criadas corriam por todos os lados carregando pratos previamente polidos até a exaustão e travessas de ponche. As damas, em seus aposentos, emplumavam-se com toda a pompa cabível à época. Usavam de vestidos bufantes, apertados em seus corpos franzinos até quase a extinção do ar de seus pulmões. Mas os rostos estavam naturalmente corados pela empolgação. Do mais baixo servente até o senhor daquele palácio. Apenas um rosto não estava feliz. Apenas um rosto temia que a noite pudesse acabar em completo desastre.

Sakura estava esplêndida. Quando sua mãe bateu à sua porta e entrou sutilmente nos aposentos da filha, uma criada acabava de dar os toques finais nos cabelos de Sakura. Os olhos verdes viraram-se para a mãe através do espelho da cômoda ricamente ornada em tons de ouro. Lágrimas encheram os olhos da senhora daquele palácio. Sua menina era, finalmente, uma mulher.

A senhorita se levantou segurando as saias e deu uma pequena volta comedida para que a mãe a analisasse. Após os elogios que Sakura sabia que viriam, pode mirar a si mesma no espelho. Agora seus cabelos estavam cor de rosa. E seria assim até o final da primavera. Ela era a nova Sakura da família. A que marcava a prosperidade daquela casa e daquele sobrenome.

- Os convidados começam a chegar. – a senhora falou por fim. – O senhor seu pai espera que o ajude a recebê-los.

- A senhora da casa não deveria fazer as honras? – Sakura perguntou com um sorriso. Sua mãe sorriu e deu leves tapinhas no ar.

- Teremos convidados realmente ilustres hoje. Você será a coisa mais linda que eles verão.

- Mamãe, seja honesta comigo. Diga-me que não espera que um deles me despose. – Sakura não queria deixar transparecer a aversão que sentia com relação àquilo. Alguns meses antes tinha conversado com seus pais a respeito. Não aceitaria um casamento arranjado. Não aceitaria casar-se com um homem a menos que nutrisse algum sentimento por ele. Seus pais eram compreensivos. Amavam-na acima de tudo e jamais a casariam por interesses políticos e comerciais. Não precisavam. Eram uma das famílias mais influentes e abastadas de toda Konoha.

- Querida, lhe demos nossa palavra de que a esperaríamos. É nossa flor mais do que preciosa. – sua mãe passou os dedos com carinho pelo rosto perfeito da filha e sorriu. – Acredito que um casamento ideal, com amor e respeito é construído com tempo. Um dia vai conhecer um rapaz e vai apaixonar-se perdidamente. Então é você quem me prometerá que não será precipitada. Paixões baseadas em beleza são tão efêmeras quanto a própria beleza.

Os olhos de senhora Mebuki estavam fixos nos da filha e Sakura assentiu. Sabia que perder-se na beleza era uma idiotice. Mas não preocupava-se. Jamais encontrara uma beleza tão arrebatadora a ponto de fazê-la perder a razão. E, mesmo se um dia encontrasse, deveria haver mais do que apenas isso para fazê-la interessar-se.

- Pode deixar, minha mãe. Confie em sua criação.

- Eu confio, querida. Confio tanto que jamais a pressionaria. Agora, quero que preste atenção aos convidados esta noite. Haverá figuras interessantes.

- Por figuras interessantes a senhora se refere aos piratas?

- Corsários, querida. Corsários. Oh, Sakura, pense! Vivemos uma vida tão segura e sem emoção. Que histórias esses bravos homens não teriam para nos contar?! – Mebuki bateu palmas e Sakura obrigou-se a sorrir.

- Não fique tão animada, mamãe. Provavelmente suas histórias são sangrentas e bárbaras. Eles são bárbaros.

- Ainda assim é interessante sair um pouco da monotonia dessa vida glamorosa. - Mebuki deu de ombros. Um gesto extremamente deselegante, mas a que Sakura já estava acostumada. A mãe era uma plebeia. Seu pai, filho de um importante comerciante, havia se apaixonado pela bela e diferente Mebuki e não hesitara em casar-se com ela. Mesmo com todos lhe dizendo que não era um bom negócio. Mas Kizashi não queria conveniência para um casamento. Queria felicidade. A conveniência ele deixava para os negócios que não envolvessem pessoas como moeda.

Aquela era uma visão extremamente modernista para a época. Seus pais o criticaram. Seus amigos o criticaram. Mas Kizashi nunca se importara. E passara isso para a filha. Sabia que tinha tido sorte. Ter um casamento com muito amor era uma excepcionalidade. Poucos tinham acesso àquela felicidade. Sakura crescera, então, sabendo que ou teria sorte de amar e ser amada, ou morreria sozinha. As coisas não deveriam ser tão preto no branco para uma menina como ela, mas eram. E Sakura não entendia por que.

- Pelo menos garantiremos algumas risadas com o comportamento bárbaro desses homens. – Sakura falou e Mebuki sorriu. Ofereceu o braço à filha e ambas deixaram o quarto.

O baile seria de máscaras. Assim que chegou ao salão, recebeu de seu pai um beijo carinhoso na cabeça e uma máscara negra com detalhes em dourado que ressaltaram maravilhosamente seus olhos verdes luminosos. Seu vestido era branco. Todo seu colo estava nu e um decote em forma de coração deixava muito para a imaginação. As mangas de um tecido transparente e longo caíam por seus braços até próximo ao pulso. A cintura estava apertada em um espartilho e as saias redondas e bufantes completavam a vestimenta. Sakura olhou para as poucas mulheres que já andavam por ali com seus pares e pais, e percebeu que era a mais sóbria de todas. Enquanto as demais deram às roupas as cores da primavera, Sakura era a primavera em si. Cabelos cor de rosa, olhos límpidos e verdes, pele branca e reluzente, o cheiro mais agradável. A primavera estava personificada naquela bela criatura que fazia as vezes de anfitriã.

A massa dos convidados começou a chegar. E Sakura fez seu papel como uma verdadeira dama. Mebuki estava orgulhosa da filha e fazia questão de deixar isso claro cada vez que uma senhora elogiava Sakura e dizia o quão bem ela regeria sua casa no futuro. Então os primeiros jovens começaram a chegar e os músicos receberam o sinal de que a festa tinha que ser animada. Logo Sakura foi convidada para dançar.

As máscaras vinham em diversos tamanhos e formas. Mas Sakura era, não muito raramente, capaz de dizer quem estava por trás. Não que tivesse muitos amigos ou amigas. Não conseguia sentir prazer em conversar banalidades com as mulheres fúteis de seu círculo de convivência. Gostava de ler. O que era uma excentricidade também. Mulheres não eram ensinadas a ler. E não era só isso. Sakura sabia não só ler, como tinha opiniões próprias. Sempre que seu pai a introduzia em alguma conversa em que só havia homens, Sakura surpreendia a todos com seus conhecimentos acerca de tudo. Muitos a olhavam torto, outros a achavam ainda mais bela. Sakura não se importava. Todos aqueles homens eram sem conteúdo.

Suportaria aquela noite. Seria cortejada por toda sorte de homens e rapazes. Todos lhe diriam o quão bela estava. Todos lhe fariam juras de amor eterno e nenhum deles estaria falando a verdade. Possivelmente diriam o mesmo para qualquer outra mulher ali naquela noite.

Exatamente à meia-noite, as portas do palácio foram abertas para as três figuras mais esperadas. Sakura os viu entrar e não pode conter sua surpresa. Os três trajavam vestes elegantes e seu andar era confiante. Passos sutis por todo o caminho até o anfitrião. Sakura os observava de longe. Os três usavam máscaras e tinham quase a mesma altura. A máscara do que estava no meio cobria apenas seus olhos. O que o flanqueava do lado direito tinha uma máscara que cobria três quartos de seu rosto. O terceiro, do lado esquerdo, estava completamente oculto atrás de sua máscara negra com detalhes em prata. Sakura viu a pequena mesura que fizeram para seu pai e esperou ser requisitada. Não aconteceu. Continuava olhando fixamente para o trio interessante. Quem seriam? Duvidava que fossem eles os corsários. Todo o salão tinha parado para observá-los. O porte era altivo, os modos contidos e elegantes. Ninguém ali tinha dúvidas que os rostos por trás das máscaras seriam deslumbrantes.

Sakura estava preparada para dar as costas para aquelas figuras quando os olhos do da esquerda se viraram diretamente para ela. A máscara cobria completamente seu rosto, mas os olhos negros e profundos pareciam ser o bastante para que ela sentisse vontade de saber tudo sobre aquela pessoa. Jamais passara por situação semelhante. Muito menos em apenas um olhar. Seu coração bateu mais forte e ela sentiu uma gota de suor escorrer por entre os seios. Não conseguia desviar o olhar. Estava afogando-se naquele mar negro que emanava perigo. Não precisava de mais confirmações. Com certeza estava de frente para o corsário.

- Querida, venha cá. – Mebuki salvou a filha ao envolver seu braço e puxá-la para próximo da mesa de bebidas. Seu rosto estava sério e empolgado ao mesmo tempo. – Meu Deus, não imaginava que eles pudessem ser tão cavalheiros!

- São os corsários. – Sakura afirmou e Mebuki sorriu.

- Sim. O do meio é o senhor Fugaku, o pai. O da direita é o jovem senhor Itachi e, o da esquerda, o jovem senhor Sasuke. São Uchiha. E agora servem ao Rei cuidando dos mares ao redor de Konoha, garantindo que piratas não ataquem os navios mercantes. São agradáveis, apesar de nossos preconceitos. Exceto pelo jovem Sasuke. Não ouvi sua voz nem por um segundo. Aparentemente, cada um possui seu próprio navio. Eles guardam o mar de pontos diferentes. Possuem naus pequenas e com poucos homens. Todos devidamente letrados e educados para passar longos períodos em terra. – o coração de Mebuki batia com empolgação e Sakura podia sentir os olhos sobre si. Aqueles olhos intensos. O suor continuava a escorrer por seu espartilho. – Sente-se bem, querida?

- O salão está quente e dancei demais. Ficarei bem. – Sakura sorriu para acalmar a mãe.

- Estranhei apenas a falta de interesse dos homens em conhecê-la. Estava tão esperançosa em exibir nossa mais preciosa joia. – Mebuki falou com um sorriso terno e beliscou as bochechas de Sakura, que estavam um tanto pálidas.

- Não faltarão oportunidades, mamãe. A festa mal começou. – Sakura a tranquilizou.

- É claro, querida. Quer subir um pouco para tomar um ar? Sua aparência está começando a preocupar-me.

- Preciso apenas de um pouco de ponche. – Mebuki sorriu e segurou as mãos da filha. Kizashi fez um gesto comedido, a atraindo para si, e Mebuki disse para Sakura que voltava logo.

Assim que foi deixada pela mãe, Sakura voltou seu olhar para os recém-chegados. Sasuke não estava mais junto do pai e do irmão. Por um momento, Sakura sentiu decepção. A música recomeçou e logo a jovem senhorita foi tirada para dançar. Dessa vez ela sequer escutava o que seu par lhe dizia. Estava concentrada em não pensar no homem oculto pela máscara negra.

De repente, sentiu um toque sutil em suas costas e sua dança foi interrompida. Seus olhos se abriram com surpresa quando o homem que pedia sua mão era nada mais nada menos que o homem em que ela pensava e tentava não pensar.

- Permita-me. – ele foi educado em tomar Sakura do outro rapaz e a puxou para si devagar. Ao contrário dos demais homens que dançaram com ela naquela noite, Sasuke apoiou sua mão na base das costas de Sakura. Ela poderia ter questionado sua ousadia, mas estava mais preocupada em não se deixar abalar pelo toque que incendiou todo seu corpo. – Está belíssima, senhorita Sakura.

- Não fomos devidamente apresentados, senhor. – Sakura apoiava a mão esquerda no braço do Uchiha enquanto a direita era segura pela mão esquerda de Sasuke.

- Sasuke Uchiha, a seu dispor. – Sasuke se afastou e a reverenciou antes de levantar a máscara apenas o bastante para beijar sua mão e permitir que Sakura visse apenas seu queixo e parte dos lábios. Sentiu o toque provocante em sua mão e o calor pareceu dobrar.

Sasuke pôs a máscara de volta e voltou a tomá-la para a dança. Giravam pelo salão e se olhavam. Sakura tentava tirar qualquer coisa daquele olhar, mas só havia uma profundidade calma e sedutora.

- Fale-me do senhor, senhor Uchiha. – Sakura rompeu o silêncio. – Deve ter uma vida deveras emocionante.

- Ela nunca foi tão emocionante até hoje.

- E o que há de diferente na noite de hoje?

- Eu ainda não posso lhe dizer com certeza, senhorita. – Sakura podia jurar que Sasuke sorrira por trás da máscara. Ele estava flertando. Mas até seu flerte era diferente dos demais. Ele não esperava que ela se sentisse a mais querida das damas ali presentes. Seu toque era firme, quase possessivo. E, a despeito dos modos polidos, transparecia em cada olhar e gesto sua indômita personalidade.

- É melhor conter-se, senhor, ou podem achar que não é tão distinto quanto aparenta. Um homem não deve se dirigir a uma mulher com segundas intenções.

- Não deve ter conhecido muitos homens vivendo como uma boneca de porcelana, senhorita. – Sasuke usou o mesmo tom. Debochava dela.

- Aposto como sua ideia do que é ser um homem está associada à ferocidade.

- Me toma por um bárbaro.

- E não é do que vive? De ser um bárbaro?

- Isso bem poderia ofender-me. Se eu não soubesse que não faz ideia do que está dizendo. – havia uma pontada de contrariedade na voz de Sasuke. Sakura sentiu-se contente por desestruturá-lo por apenas aqueles segundos.

- Oh, mas não sinta-se assim, senhor. Não falei por mal. – Sakura sorriu com simpatia e ouviu um rosnar baixo escapar dos lábios de Sasuke.

- Sua língua é inofensiva como uma serpente venenosa, senhorita. Mas isso só me encanta mais. Posso falar-lhe de minha pretensão?

- À vontade, senhor. – Sakura estava empolgada. Homem nenhum jamais tinha despertado tal interesse nela.

- Eu chegaria ao palácio. Veria algumas dúzias de dondocas e cavalheiros sem graça. Beberia, socializaria apenas pelo tempo conveniente, e arrumaria uma desculpa para deixar este lugar abafado.

- O que o fez mudar de ideia e tirar essa dondoca sem graça para dançar?

- Primeiro o fato de a senhorita não se tratar de uma dondoca sem graça. Segundo porque jamais vi olhos tão expressivos e lindos. Compartilhamos do mesmo tédio por estar aqui. Decidi, então, que eu precisava entretê-la.

- E como exatamente o senhor faria isso? – Sakura sentiu a mão de Sasuke apertar mais sua cintura.

- Talvez alguma de minhas histórias lhe agrade.

- Talvez. Mas a música e tudo aqui não me faria envolver.

Sasuke parou de dançar devagar, mas continuou segurando a mão de Sakura. Ela achou que ele se afastaria e estava pronta para usar de qualquer desculpa para mantê-lo por perto. Ao invés disso, Sasuke olhou ao redor e encontrou os olhos do irmão. Uma conexão se fez ali por apenas um segundo e o mais velho assentiu quase imperceptivelmente. Logo captou a atenção dos senhores daquele castelo e os fez darem as costas para o local em que sua filha estava.

- Gostaria de tomar um ar?

- Acha que seria prudente da minha parte sair acompanhada de um homem que sequer conheço o rosto? – Sakura falava calmamente, mas Sasuke sentia o desafio em cada palavra sua. Ela queria ser convencida.

- Eu poderia lhe contar uma história, senhorita Sakura. Poderia levá-la para conhecer meu navio. Prometo-lhe que serei um perfeito cavalheiro.

- Não posso negar que acabou de atiçar minha curiosidade, senhor. Nunca estive em um navio pirata.

- Então vamos? – Sakura olhou para os pais, entretidos com senhor Itachi e mordeu o lábio para conter o arrebatamento daquela proposta.

- Tudo bem, senhor. Vamos conhecer seu navio.

**

O coche os levou por ruas vazias e ambos continuavam com as máscaras. Mantinham uma distância adequada dentro do veículo, mas podiam sentir a presença um do outro, o que já os deixava nervosos. Sasuke não achou que seria tão cativado por alguém que acabara de conhecer. Chegaram ao porto e Sasuke ofereceu a mão a Sakura.

Seus saltos estalavam na madeira do cais e Sakura foi guiada gentilmente pela mão de Sasuke na base de sua cintura. Caminharam em silêncio, sentindo o vento frio da madrugada. Sakura preferia infinitamente aquele silêncio aos sons agitados do palácio. Sasuke exibiu uma nau de tamanho mediano. Sakura não entendia muito de barcos, mas arriscava que aquela tinha sido feita para a velocidade. Expôs aquilo em voz alta.

- É muito observadora e entendida, para uma mulher. – Sasuke zombou.

- É muito cavalheiro e educado, para um bárbaro. – ela retrucou.

- Touchèt. – Sasuke deixou que Sakura analisasse ainda o casco do navio. Ela olhou com muita atenção, mas não conseguia ver o nome naquela escuridão.

- Como se chama?

- Taciturn. – Sasuke viu o pequeno sorriso desenhado no rosto da bela mulher.

- Apropriado.

- Acha?

- Reflete seu capitão. – se observaram por algum tempo e Sasuke se aproximou. Seus dedos não tocaram a pele de Sakura, apenas a máscara.

- Permita-me. – ele pediu sem deixar de olhar em seus olhos e Sakura soltou o fio de seda que mantinha a peça presa a seu rosto.

Sasuke jamais vira algo tão belo em toda a sua vida. Desdenhava da beleza. Achava apenas uma vantagem natural quando se tratava de negócios. Mulheres não precisavam ser bonitas. Precisavam ser úteis. Tudo aquilo foi esquecido naquele momento. Sakura era de uma beleza forte. Não conseguia ver aquela jovem como uma dama de corte. Imaginava-a no meio do oceano, com os cabelos soltos e revoltos voando para todas as direções. Imaginava-a com os olhos fixos no horizonte, empolgada com a aventura. Mal sentiu quando os dedos finos de Sakura seguraram sua máscara. Ela mesma soltou o laço que a prendia. Olhou para Sasuke sem surpreender-se. Sabia que o homem que veria por trás da máscara seria à imagem de Adônis. Não ousou correr os dedos pela pele de Sasuke. Não seria tão ousada. Mas não podia evitar que seu coração batesse descompassado. Estava incorrendo no erro que sua mãe lhe alertara tão incisivamente. Tinha se apaixonado pela beleza. Não pela beleza que via no rosto daquele homem, mas a que achava ver em sua alma.

- Podemos? – Sasuke abriu caminho para que Sakura subisse a bordo de seu navio. Sua vontade era tomar-lhe os lábios para sentir sua doçura. Mas conteria seu ímpeto. Não estragaria a noite.

Sakura conheceu o navio e, por fim, pararam à proa. O vento já tratara de desalinhar o penteado da mulher, mas nenhum dos dois se importava.

- Creio que tenha uma história para me contar. – Sakura incitou.

- Sim, claro. Não é uma história tão empolgante. Não acontece como nos livros. Corsário é apenas um eufemismo aceito para que o rei consiga deitar sua cabeça no travesseiro sem que a culpa o assole.

- Então é uma história sanguinária e bárbara? – Sakura perguntou com uma sobrancelha erguida.

- Não tanto quanto um dia já foi. Poucos ousam nos enfrentar. Eu poderia dar-lhe os detalhes, mas a assustaria.

- Não sou tão impressionável.

- Provou isso mais de uma vez esta noite, senhorita. – Sasuke se permitiu sorrir. Sakura gostou daquele sorriso. Aqueceu seu coração.

- Então me conte coisas mais reais, senhor. Sua vida é realmente no mar? Não tem casa em terra firme? Nada que o prenda?

- Nada nunca me fez querer ficar na terra, senhorita. – o olhar que Sasuke lhe dirigiu dizia que aquilo podia mudar.

- E quanto ao seu pai? Um dia ele conheceu alguém que o fez ficar em terra, não foi?

- Minha mãe foi a luz que meu pai precisava. O farol dele. Não encontrei o meu. Mas aquela luz se apagou há muito tempo. – Sasuke falou com um sorriso tranquilo. Sua mãe era a lembrança mais feliz que possuía.

- Sinto muito. Não pretendia lembrá-lo disso.

- Tudo bem. Fazer com que eu lembre-me de minha mãe só torna minha noite mais feliz. – continuaram observando um ao outro e Sakura sorriu de alívio. Sasuke era um homem interessante em todos os sentidos.

- O que faz para se divertir em alto mar?

- Nada. Não vejo diversão em muitas coisas.

- E quando volta para o mar?

- Amanhã. Permaneceremos por um mês antes desembarcarmos na capital para ter com o Rei. – Sakura sentiu uma decepção intensa assomá-la. Mal conhecia o homem e já sofria por ouvi-lo dizer que partiria. – Não me sinto satisfeito com isso também.

- Eu não disse nada. – Sakura resmungou. Pela primeira vez naquela noite ela não tinha tentado controlar o que dizia. – É o seu trabalho. E temos que voltar. – Sakura deu as costas a Sasuke e ele segurou seu pulso.

- Espere. Dito isso, acho que poderia ajudar a tornar minha viagem mais agradável. – Sasuke sorriu de lado e Sakura estreitou os olhos para ele de maneira divertida.

- Não entendo aonde pretende chegar, senhor Uchiha. Quero que se lembre de que me prometeu portar-se como um perfeito cavalheiro.

- E não quebrei a promessa até agora. Como prêmio, poderia conceder-me um favor.

- E que favor seria?

- Quero um beijo. – Sasuke pediu e a puxou para perto. Seus rostos estavam próximos e as mãos de Sakura estavam apoiadas em seu peito.

- Que ousadia. – Sakura reclamou em tom de flerte. – Homens vêm me cortejando durante toda a semana apenas para conseguir dançar comigo na noite de hoje. E o senhor, que acabei de conhecer, já quer um beijo?

- Não sou como as outras pessoas que a senhorita insiste em chamar de homens. Minha vida será posta em risco a partir de amanhã e não quero morrer pensando que hesitei em lhe pedir um beijo. – um arrepio correu pelo corpo de Sakura e ela sorriu. Beijou o canto dos lábios de Sasuke. Se demorou cinco segundos ali e então se afastou.

- Então eu o nego, senhor. O nego para que tenha um incentivo a mais para voltar vivo daqui a um mês. – sorriu em desafio e Sasuke passou as mãos nos cabelos, resignado, e considerando o desafio aceito.

- Feito, senhorita. – ofereceu seu braço a Sakura e puderam voltar para o palácio.

**

Sakura fechou a porta de seu quarto com um suspiro. Seus pais tinham lhe perguntado onde se metera e ela lhes dissera que tinha ido dar uma volta com Sasuke Uchiha, mas que ambos podiam ficar tranquilos. Suportou mais alguns minutos de festa, mas não dançou com mais ninguém. Tão logo um homem aparecia para tirá-la para dançar e Sasuke se interpunha entre os dois. Nunca tomando-a como par, mas desviando a atenção do homem em questão com assuntos aleatórios. Quando a noite começava a dar lugar ao dia, os convidados começavam a ir embora. Os Uchiha deram início às despedidas. Sakura foi apresentada ao irmão mais velho e ele era tão elegante quanto o mais novo. Conheceu o pai, igualmente encantador, e recebeu um beijo longo em sua mão de Sasuke. Antes de se afastar, ele se aproximou de sua orelha e lhe sussurrou algo. Seus olhos se cruzaram e ele se foi.

Aguarde notícias minhas.

Uma semana depois e um pássaro pousou em sua janela. Era lindo. Um falcão. Ele trazia um pequeno rolo de papel preso na pata e alçou voo assim que a Sakura o livrou daquele peso. Era um bilhete. De Sasuke.

O oceano de repente me parece tão pequeno. Faz exatamente uma semana que não a vejo, Sakura. E achei que aquela sensação perturbadora que tive em sua presença arrefeceria. No entanto sinto que cresce cada vez mais em meu peito. Estou escrevendo isso sob o céu noturno. Se eu considerar as estrelas como o brilho do seu olhar, a noite deixa de ser fria e escura. E a senhorita torna-se presente. Acredito não ter o direito de lhe pedir isso, mas me espere.

S.U

Sakura gostaria de poder responder. Seu peito estava comprimido e as lágrimas de saudades se derramaram por seu rosto, marcando a pele branca. Sua mãe entrou naquele momento e Sakura teve que lhe explicar o que estava acontecendo. Contou sobre a noite no navio de Sasuke, contou de suas palavras, de seu pedido. Contou do sentimento que pesava em seu peito cada vez que lembrava o rosto daquele homem. Contou da saudade torturante que sentia naquele momento e a vontade de ir atrás dele, onde quer que ele estivesse. Mebuki limitou-se a secar as lágrimas da filha e a olhá-la com ternura.

- Meu amor, você o ama.

- Mas a senhora disse que eu deveria tomar cuidado com o amor pela beleza. Mamãe, o que há comigo? – Sakura se agarrava às saias da mãe como quando tinha cinco anos de idade. Precisava que ela lhe dissesse que aquilo passaria. Precisava ouvir que tinha apenas se encantado por um homem diferente dos inúmeros que Sakura conhecia.

- Sakura, é uma mulher sábia. O que seu coração lhe diz?

- Não está ajudando, mamãe! Meu coração não deve mandar na razão!

- Ora, Sakura! – Mebuki sorriu e repreendeu a filha. – Meu amor, essa sua indecisão só deixa mais claro o que sente pelo senhor Uchiha! No amor as coisas nunca são tão simples e certas, Sakura.

- Mamãe, só conversamos por algumas poucas horas. Não posso amar uma pessoa que mal conheço.

- Seu pai e eu conversamos por exatas três horas. Duas semanas depois o encontrei na sala da minha casa, pedindo minha mão em casamento ao meu pai.

- Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar.

- Como sabe? Só porque nunca aconteceu não significa que não seja possível. – Mebuki falou com um dar de ombros.

- Mamãe…

- Espere. Disse que ele ficará fora por um mês. Então tem um mês para saber o que sente por esse rapaz.

Mas esperar não ajudou. Dali a duas semanas lá estava o pássaro novamente. E desta vez Sakura não o deixou ir embora. Não até trocar o bilhete de Sasuke por um seu. Em algum lugar do oceano, Sasuke leria o quanto Sakura pensara nele naquelas semanas.

Enquanto isso, Sakura sentou-se em sua cama para ler o novo bilhete.

Hoje o céu está limpo e azul. O mar está calmo e imagino que você está um pouquinho mais perto cada vez que olho para o horizonte. O que fez comigo, Sakura? Como foi capaz, em apenas algumas horas, de me fazer querê-la tanto a ponto de me sentir vazio sem você? Espero que esteja sofrendo com a saudade tanto quanto eu. Já a odiei por noites a fio, imaginando que estaria cedendo à corte de outros homens. Noites e mais noites a única coisa que consigo pensar é em vê-la. Não deixo transparecer. Não seria inteligente. Sou o capitão de meu navio e um nome a ser respeitado. Uma vez lhe fiz um pedido e espero ansiosamente pelo dia em que ele me será concedido. E então lhe farei outro pedido. Só não gostaria de ser recusado novamente. Então dê-me um sinal. Dê-me uma luz. E, talvez, eu te diga algo quando nos encontramos.

Sakura sentia o ar estagnado em sua garganta. Seu coração batia desesperadamente e a voz lhe faltou. Seus dedos pareciam congelados e os olhos estavam fixos na letra caprichosa mas masculina. Queria gritar pelo quarto como uma menininha apaixonada. Queria abrir as janelas e gritar para o mundo que enfim aceitava. Amava Sasuke Uchiha.

As cartas continuaram a chegar, mas traziam apenas uma frase.

Dê-me um sinal. Dê-me uma luz. E, talvez, eu lhe diga tudo.

Sasuke sorriu ao ver a resposta de Sakura, mas ainda havia muitas semanas pela frente. E ela precisava entender o que sua pergunta significaria. Ele estava decidido. Avisara ao pai e ao irmão. Informara à tripulação que as coisas poderiam mudar bruscamente quando voltassem àquele porto. Não se arrependia. Cada vez que sentia a fita que prendera a máscara de Sakura, - a qual ela sequer percebera que ele tomara posse ao final da festa, quando as máscaras foram finalmente depostas – e sentia o resquício do cheiro de seus cabelos, tinha certeza do que queria. Assim como sua mãe fora o farol de seu pai, Sakura era o seu.

Quando estava próximo o bastante do porto e já podia ver os navios de seu pai e irmão, pegou novamente o pássaro e prendeu um novo bilhete em seu pé.

Espero que tenha guardado meus bilhetes. Não há palavras que eu poderia compartilhar com qualquer um que não fosse você. Cruzei os mares, cruzei o mundo. Meu navio tinha um destino, mas eu estava à deriva. Não há razão aqui. E sei que percebeu. As horas não significaram nada. Desafiou-me a voltar por apenas um beijo. E o sol brilhou tão intensamente todos esses dias que reforçava ainda mais o quanto ele abençoava aquele encontro. Estou partido, Sakura. E parte de mim ficou em terra, com você. Dê-me um sinal. Dê-me uma luz. Devolva-me a promessa. E, talvez, essa noite eu te diga tudo.

Sakura leu e sorriu. Obviamente guardara os bilhetes. Absurdamente, achava que conhecia Sasuke como ninguém mais. O que vira na única noite em que conversaram foi um homem taciturno, calado. Um homem que não precisava de palavras para se justificar porque não precisava se justificar. Mas ali estava ele, escrevendo para ela. Colocando no papel palavras que provavelmente jamais usaria pessoalmente. Ou usaria. Ela não poderia dizer. Sasuke não era previsível. Era espontâneo, seguro de si. Um homem pelo qual valia a pena esperar. E ela esperara. Esperara por muito tempo. Mas, naquela noite, ele lhe diria tudo.

Quando o barco atracou no cais, ela estava lá. Seus pais estavam atrás, cientes do que aconteceria. Sasuke sentiu o coração saltar em seu peito, mas permaneceu sério. Seus homens guiavam a pequena nau com maestria enquanto os olhos de seu capitão são deixavam os olhos verdes de uma linda mulher que esperava no cais.

A respiração de Sakura estava acelerada. O calor era quase insuportável. Ela não queria sorrir abertamente. Não queria entregar a todos os observadores o sorriso que guardara para ele. Virou-se sutilmente para os pais no momento que Sasuke desceu a pequena rampa para o cais e suas botas tocaram a madeira. Ele parou. Fugaku e Itachi vinham logo atrás e também pararam. Itachi tinha um sorriso tranquilo no rosto enquanto Fugaku olhava para o filho lembrando-se de seu próprio passado. Sua esposa amada teria adorado aquela cena.

Os pais de Sakura assentiram e ela se virou para Sasuke. Andou devagar os primeiros passos. Com medo de ser traída por seus pés. Sasuke deu apenas um passo e também parou. Sakura esqueceu-se dos modos quando viu a fita que ele trazia na mão direita. Levantou as saias com ambas as mãos e correu. Abriu o sorriso mais luminoso que Sasuke já vira em toda sua vida e só parou de correr quando sentiu os braços de Sasuke em volta de seu corpo.

- Está aqui seu sinal, senhor Uchiha. – Sakura sussurrou contra seus lábios e o beijou. Todos pararam para ver aquela cena. O choque foi imediato. Mas, quando a alegria daquele casal contagiou a todos, todo o porto irrompeu em gritos e ovações. Palmas batiam com força e gritos de felicidade ecoavam por metros e metros de oceano. Os pássaros pareciam gritar com os humanos. O vento parecia contribuir para o eco. Sasuke abraçou Sakura com toda a sua força quando o ar lhes faltou e enterrou seu rosto nos cabelos pelos quais tanto ansiara sentir o cheiro. Sentiu o corpo de Sakura tremendo de alegria e a apertou mais. Seus peitos palpitando de felicidade.

- Quer ser minha para sempre, senhorita Haruno?

- Eu ia te perguntar isso agora, senhor Uchiha. – ela retrucou e ele voltou a beijá-la. Aquele beijo disse tudo.

“Give me a sign, show me the light. Maybe tonight, I tell you everything.”


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Notas finais do capítulo

Não perdi minha veia fofa? Gostaram?? hahahahaha