“Quantas vezes nós pensamos em desistir, deixar de lado o ideal e os sonhos? Quantas vezes batemos em retirada com o coração amargurado pela injustiça? Quantas vezes sentimos solidão, mesmo cercado de pessoas? Quantas vezes lutamos por uma causa perdida? Quantas vezes aquela lágrima teima em cair justamente quando precisamos nos mostrar mais forte? Inúmeras vezes...”.

Quando pensamos em desistir, algo dentro de nós grita em oposição e, na maioria das vezes, acaba se tornando o combustível para tentar novamente. Mas como todo combustível ele acaba, a cada tentativa inútil e frustrante.

E o que estava acontecendo com Juvia não era diferente, pelas contas da azulada, só até a metade do dia, recebera doze foras de Gray (sem contar os fora que recebeu desde que o conheceu), isso só parou pelo fato do mesmo ter ido a uma missão com Natsu, Happy, Erza e Lucy. A partir desse momento ela ficou no balcão observando Mira que servia drinks para os outros membros da guilda.

A albina notando que a magaa não estava com seu costumeiro sorriso no rosto, não perdeu tempo em perguntar, afinal, não era feitio de Juvia ficar tão calada e pensativa.

-- No que tanto pensa, Juvia? Gray não vai demorar tanto dessa vez. – sorriu gentilmente, enquanto entregava um copo d’água para a mulher.

-- Nada de importante, só algumas coisas que Juvia vem pensando demais. – bebeu um gole do líquido no copo, logo após deixando sobre o balcão. -- Juvia vai para casa. – levantou-se da cadeira e acenou. – Até mais, Mira-san!

Juvia saiu da guilda e tomou o caminho mais longo para sua casa, estava um belo dia, apesar de frio. Olhou para o céu e, de imediato, lembrou-se de certo moreno, que tinha o coração mais frio do que aquele vento gelado que estava sentindo. Balançou a cabeça, livrando-se de qualquer pensamento sobre ele.

Há um tempo ela vinha sentindo a mesma chuva que habitava em seu coração, antes de conhecer Gray, apossar-se dela novamente. Ela sabia que não seria fácil lidar com o moreno, mas não sabia que se machucaria tanto.

Todas as tentativas de se aproximar eram inúteis, mesmo persistindo, ele não a notava, não lhe dava nem um pingo de esperanças, não a via além de uma companheira de guilda. Será que ele ainda achava que era apenas uma paixonite passageira? Que não passava de uma fantasia criada por ela mesma? Ou fora ela que não conseguiu alcançá-lo? Quando Juvia achava estar derretendo aquele coração gelado, repentinamente, ele decidia se afastar mais ainda. Chegando a fazer pouco caso dos seus sentimentos. Isso doía, e ele não parecia saber o quanto.

Seus pensamentos perduraram até a entrada do seu quarto, pois em diante ela apenas tomou um banho, colocou um pijama – mesmo estando um pouco cedo para isso – e deitou-se pelo cansaço, caindo em um mundo totalmente a sua mercê.

G&J

Na manhã seguinte, quando a azulada entrou na guilda animada, sabia que Gray já teria chegado de sua missão, mas a cena que presenciou foi de fazer seu coração dar uma falhada. Mesmo sabendo que eles eram bons colegas, ela não conseguia conter seus ciúmes. Gray estava acariciando o topo da cabeça carinhosamente de Lucy, e a loira inflava as bochechas de um jeito extremamente fofo. Apesar de aquela cena ser algo tolo pra ter ciúmes, ela tinha. Por que ele nunca lhe direcionou um sorriso carinhoso ou brincou com ela como brincava com a loira?

Ela não podia culpar Lucy, muito menos Gray. Ninguém manda nos sentimentos, assim como ela não conseguia parar de amá-lo.

Olhando aquela cena, Juvia não sabia se continuava a adentrar ou saia correndo da guilda. Ela estava em um grande conflito dentro de si.

Lucy notando a presença da azulada que carregava aquele olhar um tanto vago, não deixou de se sentir culpada. Imediatamente a loira se afastou de Gray, o que fez o moreno estranhar e olhar para onde a maga olhava.

-- Juvia! Sente-se conosco, acabamos de chegar! – acenou a loira alegremente.

-- Tsc. – murmurou o moreno, voltando ao seu costumeiro olhar frio.

Juvia notando a reação de Gray deixou um triste e pequeno sorriso escapar de seus lábios. Ela tinha que colocar de uma vez por todas na cabeça que ele nunca a veria de outra forma, e também sabia que era hora de dar espaço para Gray, parar de sufocá-lo com seus sentimentos excessivos.

Ontem à tarde, antes de conversar com Mira, Juvia já estava refletindo sobre isso. Pensando se devia deixá-lo livre de suas perseguições, pois a indiferença que ele a tratava cada vez mais trazia aquela chuva de volta pra si. A mesma chuva que ela tinha em seu coração antes de conhecer o Fullbuster. Então será que não era o momento para parar de se prender naquela ilusão, aquele sentimento que apenas ela alimentava? É... talvez fosse, mas não seria tão fácil enterrar algo assim do nada. Ela teria que ser firme a partir de agora.

-- Juvia agradece o convite Lucy-san, mas Juvia só passou para pegar uma missão, e Gray-san não parece querer a companhia de Juvia na mesa. – sorriu, desmoronando por dentro. Aquilo doía tanto, tratá-lo de forma diferente era algo que ela pensou ser impossível.

-- Juvia... – foi a única coisa que a loira conseguiu falar após ver a azulada seguindo para o quadro de missões.

Quando Lucy olhou para Gray, o mesmo estava encarando Juvia um tanto surpreso. Talvez a mudança do sufixo o tenha deixado mais surpreso do que ela ter agido diferente do normal, sem exageros e sem seus grudes.

Erza que até o momento estava apenas observando, levantou-se e se dirigiu para o quadro de missões, sendo seguida pelos olhares de seus companheiros. Até Natsu e Happy observavam em silêncio aquele estranho clima pairando no ar.

-- Já escolheu a missão? – perguntou a ruiva.

-- Olá, Erza-san. – sorriu gentilmente. – Juvia está indecisa entre essas duas. – disse mostrando os cartazes.

-- Parecem ser missões fáceis, mas de boa recompensa.

-- Sim, Juvia precisa pagar o aluguel. – mentiu.

-- Na qual escolher irei te acompanhar, Juvia. – afirmou, lançando um olhar fraterno.

Notando a intenção de Erza, Juvia não pode deixar de sorrir. Apesar de não passarem a maior parte do tempo juntas, Erza sempre lhe confortava, parecia como uma mãe, sempre gentil e protetora.

-- Obrigada, Erza-san. – sorriu sinceramente.

Após escolherem a missão, as duas foram arrumar suas coisas para a viagem, levando o necessário para uma semana, e não demorou muito para partirem. Enquanto isso na guilda, em uma mesa específica, o silêncio predominava desde a saída das duas companheiras.

-- Conseguiu o que queria, gelinho. – disse Natsu com um tom de ironia.

-- Não me enche, Natsu. – falou ríspido.

-- Está querendo apanhar, floco de neve?! – perguntou o rosado comprando uma briga, e subindo em cima da mesa.

-- Dessa vez a Erza não está aqui para te defender, tocha humana! – retrucou o moreno, tentando se ocupar para não ficar remoendo a cabeça, pensando nos motivos de Juvia ter mudado de uma hora pra outra, mesmo eles estando visíveis.

Agora que conseguiu afastá-la por que ele estava tão incomodado? Por que queria que ela tivesse usado o costumeiro “sama”? Não era isso que ele queria? Afastá-la foi mesmo o certo a fazer? Esperava que sim, pois a culpa já estava pesando sobre seus verdadeiros sentimentos... E não era de hoje.