Abri a porta e praticamente me joguei para dentro do meu apartamento. O dia tinha sido muito cansativo e meu salto estava matando meus pés lentamente. Tirei meus sapatos e suspirei aliviada com a sensação do chão frio na sola dos meus pés. Era bom estar em casa.

Lancei a bolsa para algum canto e fui tirando as roupas pelo caminho até a cozinha. Não me importei em deixa-las jogadas no chão de mármore, ninguém nunca me visitava então eu me dava o luxo de deixar algumas bagunças pelos cantos. Eu arrumaria quando tivesse tempo, passei pelo arco da cozinha e caminhei até o armário. Coloquei água no fogo para fazer um chá e fui ao meu quarto vestir alguma coisa. Meu quarto tinha a sua maior parte ocupado pela minha cama e um pequeno guarda-roupa que ficava de fundo. Um tapete que já teve dias melhores se estendia pelo chão e meu abajur colorido estava firmemente plantado no chão porque infelizmente minha cômoda tinha sido corroída por cupins um tempo atrás. Peguei uma blusa branca comprida que ia até os meus joelhos e que estava pendurada atrás da minha porta e voltei para a cozinha.

Fiz meu chá calmamente e levei minha xicara para a janela onde eu tinha colocado uma poltrona muito confortável para fazer minhas leituras e espiar meu vizinho da frente. Ia fazer um ano que meu vizinho havia se mudado e nesse tempo todo eu não havia perdido nenhuma de suas ações.

Observei o relógio e calculei que esse deveria ser o momento que ele ia aparecer. Não tive que esperar por muito tempo e logo meu show particular começou. Ele estava abrindo as cortinas verde-escuras e quase me engasguei com o meu chá ao notar que ele só estava de cueca. A boxer preta colando perfeitamente em seu quadril e o cabelo bagunçado. Esqueci como se respirava por alguns instantes.

Ver ele era a melhor parte do meu dia. Eu tinha ficado indecisa se eu deveria invadir a privacidade dele assim no começo, mas quando lembrei que ele nunca iria descobrir relaxei. O Sr. Músculos, o nome que eu dei para ele, era um homem de cabelos castanho e um abdômen que fazia minha boca salivar. Infelizmente, eu não conseguia enxergar a cor de seus olhos daqui, mas eu imaginava que eles possuíam a cor mais bonita do mundo. Seus braços eram cheios de tatuagens coloridas e eu sonhava com o dia que eu iria correr os dedos pelas linhas em sua pele.

Meu vizinho era um grande contraste com os meus namorados anteriores, mas aí eu lembrava que só tinha namorado eles por interesse. Ingressos para um show, viagens de graça, entrada vip para a balada. Eu nunca realmente tinha sentido essa atração que estava presente sempre que eu olhava para o meu vizinho.

Sr. Músculos estava agora debruçado na sacada olhando para a movimentação na rua. Aparentemente tínhamos um hábito comum, olhar as pessoas exercia um efeito calmante em mim. Nunca quis tanto que meu apartamento possuísse uma sacada também, mas o prédio onde eu morava era de baixa renda e eu ainda não podia ter o luxo de morar em um lugar melhor. Um lugar tipo o prédio do meu vizinho. Imaginei morar no mesmo andar que ele, minha imaginação foi um pouco longe demais quando a imagem que surgiu na minha cabeça era de nós dividindo um apartamento. Meu cérebro exigiu minha mente de volta.

Ele voltou para dentro e me permiti afundar na minha cadeira impaciente com o fato de espera-lo. Meus olhos pousaram em uma foto de família antiga e eu virei minha cabeça para longe. Certas coisas não deveriam ser lembradas agora. Encarar a sacada não era tão ruim assim em comparação a pensar na família. Se é que eu pudesse chamar de família. Espantei esse pensamento rapidamente.

Tomei mais um gole do meu chá e repassei a conversa que tive com a minha companheira de trabalho mais cedo. Ela estava me convidando para uma viagem para a Riviera Francesa e ficou muito surpresa por eu ter negado. Falei que eu estava ocupada, mas meu consciente sabia que não era verdade. Eu estaria mentindo se falasse que o Sr. Músculos não teve sua parte na decisão, mas ele não foi o motivo principal.

A viagem seria da minha companheira de trabalho e do irmão dela, com quem eu tive um pequeno affair em prol de um passe para o acesso do camarim da minha cantora favorita. Eu não tinha contado isso para a minha colega de modo que eu neguei rapidamente o seu convite. Não sei como a nossa amizade ficaria quando ela descobrisse que usei seu irmão, mas eu me importava mais com a nossa eficiência no trabalho então eu esperava que ela se mantivesse como minha parceira. Eu não poderia arcar com as despesas da clinica sozinha.

O único cara que eu desejava parecia não saber na minha existência. O único momento que eu tive para falar com ele me fez fugir como barata tonta. A festa do bairro tinha ocorrido e eu tinha juntado toda a minha pouca coragem para ir falar com ele, recuei imediatamente ao ver que sua atenção estava presa ao uma loira alta com um grande par de seios.

Eu sabia que eu era bonita, tive muito homens querendo a minha atenção, mas uma morena pequena e de pouco peito não poderia ganhar uma competição se o cara disputado tivesse preferência por loiras peitudas. Recuei estrategicamente admitindo minha derrota. Pode-se dizer também que eu fui covarde.

Sr. Músculos voltou e concentrei minha atenção nele, eu podia me arrepender das minhas ações mais tarde. Finalizei meu chá de uma só vez e apoiei a xicara na mesa ao meu lado. Peguei o livro que havia sido abandonado na mesma mesa e procurei a página onde eu havia parado, eu fiz um lembrete mental para comprar um marca página quando eu fosse às compras. Mantendo um pouco de atenção no livro e o resto do meu vizinho, tive que reler o parágrafo várias vezes até as informações entrassem na minha mente. O livro que eu estava segurando caiu com um baque surdo no meu colo quando vi que o Sr. Músculos estava se exercitando na sacada. Observei fascina como seus músculos pareciam se contrair, eu precisava ver mais de perto.

Corri desesperada até o meu quarto, tropeçando no tapete no caminho, vasculhei o meu guarda-roupa até achar meu binóculo antigo. Eu tinha ganhando de algum ex-namorado que tinha me levado para observar pássaros. Fiz minha volta para sala e escancarei a janela junto com as cortinas, me inclinei o máximo que eu podia sem que eu caísse da janela. Coloquei o binóculo em frente os meus olhos e mirei na direção do meu vizinho.

Puta merda! Eu conseguia ver ele claramente agora e tive que colocar uma grande força nos meus joelhos para evitar cair. Eu podia notar claramente algumas de suas tatuagens, mas minha atenção estava focada em seu abdômen, eu jurava que podia contar quantos gominhos ele possuía. Tomei a liberdade de olhar mais embaixo e me senti corar com a minha ousadia.

Quando eu dei uma escorregada e tive que usar uma das mãos para me segurar percebi que era hora de parar. Eu poderia espia-lo mais no dia seguinte. Eu queria dar uma última olhada antes de ir então mirei meu binóculo nele novamente e me deparei com um par de olhos me olhando seriamente. Contive uma exclamação e me abaixei imediatamente, me xingando de idiota várias vezes, levantei e olhei novamente, mas meu vizinho não estava mais lá. Eu vi movimento na porta e presumi que ele estava vindo para minha casa.

Desesperada, fechei a janela e a cortina e desliguei as luzes para parecer que eu tinha ido embora. Fiquei parada no meio da minha sala pensando o que fazer, fugir parecia minha única opção. Corri para o meu quarto e puxei uma mochila de trás da minha porta, enfiei uma muda de roupas dentro, reuni meus utensílios de higiene, desliguei as luzes e o gás da cozinha. Peguei meu livro que ainda estava jogado na poltrona e fui em direção à porta para ir embora.

Abri ela rapidamente e antes que eu tivesse a chance de ver alguma coisa, dei de cara com algo sólido e duro. Fiquei parada alguns instantes e coloquei minhas mãos no objeto estranho em que eu tinha me chocado. Tateei habilmente tentando identificar o que tinha bloqueado minha passagem e notei que além de duro era quente. Muito quente.

Levantei minha cabeça e quase tive um ataque cardíaco quando vi o rosto do Sr. Músculos na minha frente. Percebi que ainda tinha minhas mãos neles e antes de tirar, passei rapidamente elas em seu abdômen tentando contar os gominhos, mas era muitas sensações para meu cérebro contar algo. Parei de respirar ao ver que ele ainda estava de cueca.

Senhor me ajude! Meu vizinho gostoso está na minha frente!